Conflagratus: Dever e Direito - Capítulo 7
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- Capítulo 7 - A capital é gloriosa, deslumbrante, fulgente. A capital tem thermae: - parte 1
Capital: Primus. Casa Real: Primus. Líder: Constantinus Primus. Império… Primarius.
Às vezes isso me irrita profundamente. Não, não, irrita-me sempre!
Foram cerca de 3 horas em estrada da Província de Conflagratus até a capital. Há rotas mais curtas, rotas alternativas, mas prefiro não usá-las agora. Quem sabe num futuro distante?
Ao sair da minha carruagem eu dispenso os meus servos, não há mais a necessidade deles aqui. Ao ouvir a minha ordem eles se contentam e seguem de volta para casa.
Não sou mais uma criança há muito tempo para ficar a andar com cuidadores por todo onde… E muito menos eu sou a minha irmã Cecilia que se perde dentro da própria casa.
Dizer que o palácio é grande demais então é normal perder-se lá dentro não é uma desculpa aceitável, Cecilia. Há quantos anos tu já moras aí dentro? Cecilia?!
Apenas pisar no chão da capital me dá uma sensação totalmente diferente, eu diria que o motivo é porque a capital do Imperium Primarius é a cidade mais desenvolvida de todo o mundo de Salvatoris.
Suas ruas são pavimentadas com um tipo especial de cimento, iluminadas por pedras mágicas ativadas em Ignis, abastecidas por gigantes aquedutos que levam água a todas as casas e retiram seus esgotos.
Como eu sei dessas informações? Bem, apesar do nome da cidade agastar-me eu não posso deixar de ficar maravilhado com ela. Nem se eu quisesse.
Por quê? Simples: a cidade de Primus é o pináculo do desenvolvimento tecnológico humano ou não humano. Não consigo pensar que os anões, mesmo com todo o conhecimento tecnológico que possuem, tenham feito alguma cidade subterrânea mais desenvolvida do que a nossa.
As maravilhas da capital atacam os teus olhos e mente na medida em que adentras e exploras, é fascinante.
Se bem que eu nunca visitei cidade anã alguma. Talvez eu receba uma surpresa ao vê-la, apesar de achar que isso seja difícil. Afinal, nós obtivemos todos os conhecimentos úteis das outras raças há tempos.
Elfos e homens bestas não precisam de comentário, a não querer ser rude em hipótese alguma, apesar de ser possível vê-los de vez em quando por aí, ambos são raças mais tribais do que civilizadas em retrospecto geral.
Quando estudei sobre eles, vi em livros que eles costumam fazer casas rústicas em florestas, cavernas ou lagos. A depender de qual tipo específico de raça eles são.
Bem, agora vamos ao que interessa. Ao estar aqui o primeiro local de visita não pode ser outro: o Collegium Audacis, onde todos os magos se reúnem, trocam, vendem ou compartilham informações sobre o que os alísios trazem.
Não é muito longe, uma pequena caminhada será o suficiente para chegar ao meu destino.
Costumo vir aqui em busca de informações sobre missões especiais que possam contribuir em meu conhecimento mágico ou minha vida como um todo, contudo há vezes que também venho conversar. Uma fofoca entre magos pode ser algo extremamente útil, eu diria.
Apesar disso é verdade dizer que esse meu passatempo de ser um aventureiro é incomum entre os nobres, ainda mais em casas nobres da alta aristocracia.
Na minha família eu sou o único registrado no Collegium Audacis. Nem mesmo o Milan ou a Beatrix, nobres da baixa aristocracia, são registrados aqui.
Desprezar aventuras e aventureiros é o comportamento mais típico dos nobres. Para eles os aventureiros nada mais são do que arruaceiros mercenários que fazem tudo por dinheiro. E isso é extremamente irônico…
Nobres nada mais são do que os descendentes dos descendentes dos aventureiros de quando tudo era terra roxa. Os grandes aventureiros de outrora que criaram todos os países, reinos e cousas que nós tivemos ou temos até os dias de hoje.
E mesmo assim a maioria desses nobres nutre um sentimento de desprezo e preconceito por aventureiros, a não ser em situações nas quais eles necessitam de seus serviços para acabar com monstros.
Mas é claro, não é? Na hora do aperto e da necessidade eles não recorrem aos outros nobres, mas os tais arruaceiros que tanto odeiam.
Eles ignoram o próprio passado e o sangue que corre em suas veias quase entupidas de gorduras…
Só que eu seria injusto em apenas criticá-los. Ao menos o estudo de magia e sua prática ainda são necessários na nobreza. Se eu fosse apostar quem são mais fortes de maneira bruta: aventureiros ou nobres, eu diria que nós, nobres, levamos a vantagem nessa.
Entretanto, obrigo-me a dizer que, devido à experiência única que é uma aventura, não é impossível visualizar um aventureiro utilizar de sua malandragem para derrotar um nobre mais forte que ele.
Vulgarmente nobres chamam aventureiros para resolver perrengues como «enxame» de monstros mais por preguiça e arrogância de realizar tal trabalho do que por incapacidade em fato.
Ao chegar perto da entrada do colégio percebo que ela está cheia. Seus grandiosos portões de madeira parecem não ser grandes o bastante para consentir a entrada de tantas pessoas.
Uma fila se forma do portão até as calçadas e cercas ornamentadas ao redor, a fila é tão grande que facilmente poderia tornar-se um espiral. Alguém não comum a essa situação acharia que algum evento especial está a acontecer.
— Ficar numa fila gigante em um Sol tão forte como o de hoje? Mas que tortura…
Uma festa? Uma missão extremamente especial? Não. É só mais um dia normal entre aventureiros. Até me impressiona o fato de que eles estão comportados em fila. Aventureiros definitivamente não sabem comportar-se como um ser civilizado.
Fico a observar por um tempo eles em pé enfileirados, como belas crianças educadas na fila da pré-escola, meio que a desejar ver alguma confusão boba para alegrar o meu momento, só que nada acontece para a minha infelicidade.
O jeito é entrar mesmo e ver quais são as novidades da cidade. E reportar as malditas quimeras que eu vi mais cedo…
Felizmente eu não terei que esperar um tempo indeterminado nessa fila, é-me permitido entrar por uma porta que há ao lado do grande portão de madeira de antes.
É uma pena a eles, mas um privilégio e direito para mim: devido ao meu nível social e nível classificatório do colégio me é permitido entrar por uma entrada especial, sem ter que passar pela enorme multidão que se encontra ao redor do ambiente. Fá-lo-ei então, por que não?
— Seja bem vindo, marquês de Conflagratus — o porteiro que cuida da porta especial me cumprimenta.
Apenas aceno cordialmente com a cabeça e ele me permite a passagem.
Em meu entrar pela porta eu consigo sentir olhares de raiva e xingamentos direcionados para a minha pessoa. «Nobre maldito!», «Esses nobres acham que podem fazer o que eles querem, não acham?», «Aposto que ele não sabe nem manusear uma espada corretamente!» e outras frases do gênero.
É o comum nesta situação, mas não tenho culpa alguma. Até sinto vontade de olhar para trás e rir das caras furiosas deles às vezes, só para provocar e rir um pouco, todavia não seria um ato nobre de fazer-se…
Mas… como eu adoraria! Adoraria!