Crônicas dos Caídos - Capítulo 9
Ao ouvir os gritos, eles correram o mais rápido pque conseguiram até o lugar em que as garotas haviam ido. Eduardo corria na frente, quase deslizando nas pedras escorregadias ao longo da margem. Eles chegaram a uma passagem repleta de pedras do tamanho de carros, onde o rio fazia uma curva. Ao dobrá-la se depararam com uma visão espantosa. Leticia e Carmen estavam sendo atacadas por criaturas pequenas, verdes, caminhando sobre duas pernas.
— Que diabos é aquilo? — perguntou Caio.
— Goblins? — Theo disse, levantando os ombros como quem não sabia.
— Isso não é coisa de desenho?
Theo maneou a cabeça em resposta, como quem não sabia.
Havia ao menos uma dúzia deles. Eles a atacavam com o que pareciam ser bastões de madeira, tentando mirar em suas pernas ou em sua cabeça. Leticia havia tomado uma clava, batendo nos monstros cada vez que um se atrevia a avançar contra ela. Já Carmen parecia uma lebre esquivando de um bando de cachorros. Pulando e desviando o tanto que fosse necessário. Eduardo, no entanto, se preocupou com outro detalhe, ele não vira Júlia.
Carmen gritou quando um dos monstros a pegou pelos cabelos, a puxando para o chão. Outros seguraram suas pernas e braços, tentando segurá-la.
— Vamos — Caio bradou, correndo com a espada na mão.
Eduardo o seguiu.
Com um grito histérico, que serviu apenas para atrair a atenção de alguns dos monstros, Caio se jogou em direção aos goblins que atacavam Carmen. Ele sacudiu sua espada arrancando um pouco de sangue do goblin mais próximo, que fugiu assustado. Caio tentou persegui-lo, mas foi impedido pelo ataque de outro monstro. Carmen aproveitou a oportunidade para escapar de suas garras, enquanto os monstros voltavam sua atenção em Caio, batendo-o com os bastões. Um acertou suas costas, outro, sua perna esquerda. Caio suportou os golpes, e, girando o seu corpo, sacudiu sua espada novamente, mas cortou apenas o ar quando os goblins pularam para trás.
Eles esperaram até que o corpo de Caio terminasse de girar por conta do movimento, e avançaram novamente. Um deles ergueu o bastão para o alto, mirando na perna a qual Caio se apoiava. Iria acertar sua panturrilha, derrubando-o no chão. Logo após, outros dois pulariam sobre ele, atacando sua cabeça em seguida. Ou, ao menos, era isso o que pretendiam até que Eduardo colocasse a ponta da sua lança no espaço entre os olhos do monstro, antes que este desferisse o golpe. Ela perfurou sua cabeça redonda, abrindo um buraco em sua carne gosmenta. Quando Eduardo a puxou, o monstro caiu com um pequeno baque.
Ele estocou novamente, acertando a barriga mole de outro, que se aproximava pela sua direita. Puxou a lança rapidamente, assim que sentiu a ponta atravessar a carne. A criatura soltou um guincho miserável antes de cair no chão, com as mãos sobre as entranhas.
Os monstros pareceram hesitantes em atacar após verem dois dos seus serem derrubados. Apenas se limitando a cercar Caio e Eduardo.
— Meninos — gritou Leticia, acertando a cabeça de um monstro com um bastão —, ajudem a Júlia.
Ela apontou para uma direção onde quatro goblins arrastavam algo em direção a floresta. Algo não, alguém, Eduardo percebeu. Ele tentou abrir caminho através dos monstros quando percebeu ‘quem’ eles arrastavam. Ele os espetou com a ponta da lança instigando-os a sair da frente. Quando um avançou, batendo com o bastão contra sua costela. Eduardo deixou um pouco de ar escapar com o peso do golpe, mas continuou em pé. Reagindo rapidamente, acertou o goblin com o cabo da lança. A criatura se abaixou, pulando logo em seguida para desferir outro ataque, mas Leticia o chutou, erguendo a perna no ar a uma altura incrível. No momento em que o monstro caiu no chão, Caio o abateu com a espada.
Eduardo aproveitou a oportunidade para tentar socorrer Júlia. Ou fora isso que pensou quando sentiu uma pancada forte atingir seu peito, fazendo-o cair de costas no chão. Tentou se levantar apoiando-se em um dos joelhos, sentindo uma grande dor no corpo. Ele olhou desnorteado para sua frente, até perceber o que lhe atingira. Uma pedra, atirada por um goblin usando uma espécie de corda. Ele pôs outra pedra na corda e a girou em grande velocidade até soltá-la. O projétil errou por poucos centímetros a cabeça de Eduardo, que se agachou ao senti-lo passando.
Em pouco tempo já havia outros três goblins sobre ele, o batendo com seus bastões. Tinha derrubado a lança e só podia se proteger dos golpes com os braços. Ouviu um grunhido, e, ao mesmo tempo, os golpes cessaram. Ele ergueu a cabeça para ver Caio sacudindo sua espada, afugentando os goblins. Leticia o ajudou a se levantar.
Eduardo se virou na direção em que os monstros arrastaram Júlia. Que já havia desaparecido entre as árvores.
— Temos que salvá-la, rápido — Leticia gritou.
— Eu sei, mas essas porras não saem da frente — disse Caio atacando os goblins a sua frente —, não consigo passar… — Ele desviou de outra pedra lançada pelo goblin da corda.
— Merda — praguejou Eduardo.
Ele não sabia o que fazer, seu corpo doía, estava difícil ficar em pé. Caio e Leticia, também não pareciam nada bem. Fazia tempo que Julia fora arrastada para a floresta, e mais goblins haviam surgido de entre as árvores, formando uma espécie de barreira entre eles e ela, os impedindo de alcançá-la. Enquanto o outro, que estava com a corda de arremesso, lhes alvejava constantemente com pedras. Caio desviava facilmente, mas Eduardo e Leticia eram obrigados a recuar para não serem acertados enquanto lutavam com os outros goblins. Já haviam chegado ao limite.
— Saiam da frente — Ouviram alguém gritar, era Theo.
— Que? — gritou Caio de volta.
— Apenas saiam da frente, porra — berrou ele de novo— Eu resolvo isso.
Theo estava a uns dez metros de distância, com as mãos juntas como se estivessem segurando algo.
— O que você vai… — Eduardo quase mordeu a língua de surpresa.
Seus olhos se arregalaram, pasmos, quando Theo separou as mãos, revelando uma esfera vermelha do tamanho de uma bola de vôlei entre ambas.
— Lá vai — declarou.
A esfera disparou até eles, a uma velocidade espantosa. Eduardo e Leticia se jogaram no chão, podendo sentir seu calor enquanto ela se aproximava. Ele ouviu um som parecido com o de óleo fritando na panela, seguido do que julgou ser o lamento esganiçado das criaturas, quando ela os atingiu. Em seguida, um odor de carne queimada encheu seu nariz. Ao olhar, viu que o lugar onde, antes, os goblins se encontravam, estava envolto em chamas, com o que pareciam ser corpos carbonizados, sendo tragados por elas. Alguns dos monstros atingidos, que ainda estavam vivos, agonizavam de dor, tentando se jogar no rio para sobreviver. Outros que conseguiram desviar, fugiram para a floresta.
— Vão — Theo gritou, caindo de joelhos —, salvem ela, vão rápido
Leticia obedeceu, disparando floresta adentro. Caio, que havia se jogado no rio para escapar da bola de chamas, também atendeu ao pedido, correndo na mesma direção. Eduardo também tentou correr, mas sentiu sua perna ruir. Pôs a mão em suas costelas, onde uma forte dor o incomodava, e se dobrou, amaldiçoando a si mesmo.
As chamas começaram a se apagar, deixando apenas corpos carbonizados cercados por uma mancha enegrecida. Ainda podia ouvir o som dos goblins que pularam no rio, se afogando enquanto eram puxados pela correnteza. Ele Olhou para Theo, que estava deitado no chão, ofegante.
O que diabos havia sido aquilo?