Dahlia: A Garota Lunar Reencarnada - Capítulo 1
O dia começou como sempre, fomos todos acordados pelo sino da igreja e descemos para o refeitório. As crianças estavam mais animadas que o normal… e ainda mais barulhentas. Porém, não me irritava tanto, afinal hoje era o dia da avaliação.
— Ei! Parem de correr! — gritou uma das cuidadoras. — Os avaliadores estão chegando… Desce da mesa! Anda!
Esse lugar “maravilhoso” era a Escola de Aspirantes de Nova Roma, um lugar construído para cuidar dos filhos de soldados que foram mortos em batalha. Ou seja, na verdade isso era apenas um nome bonito para um orfanato para crianças indesejadas.
Hoje fazia três meses desde que lembrei de ter me encontrado com a deusa, lembrando as memórias da minha vida anterior.
Apesar de ter todas as ter todas as lembranças dessa vida, as memórias de uma criança de dez anos não eram de muita ajuda. Tudo que sabia era que esse mundo era bem parecido com a idade média do meu antigo mundo, além de ser o lugar onde os mitos existiam.
Deuses, criaturas míticas, monstros e magia faziam parte do senso comum deste mundo. Até agora só tinha tido contato com magia, mas o resto também não deve ser conto de fadas.
Ah… Vim parar em um lugar problemático…
No entanto, quando parava para pensar, essa era a chance que tinha para um novo começo. Em minha antiga vida, era apenas uma estudante normal de história, que tinha começado a minha especialização em mitologia há pouco tempo, quando… aquilo aconteceu.
Vamos nos concentrar em outra coisa. Talvez essa avaliação fosse uma oportunidade. Posso entrar no exército, ouvi falar das irmãs que soldados ganhavam muito dinheiro.
— Eiii, Zoe… — Escutei a voz de uma garota cochichando.
Olhei para os lados, mas ninguém estava olhando em minha direção. Bem, não é como se eu fosse muito popular. Apenas uma pessoa falava comigo.
Senti alguém cutucando minha perna. — Aqui embaixo, aquiii
— Lív? O que você está fazendo aí?
Embaixo da mesa estava uma garota de cabelo ruivo e cacheado, abrindo um sorriso sem um dos dentes. Essa era a única amiga que tinha nesse mundo, minha “parceira de crime”.
Lívia era considerada uma criança problema. Tínhamos sido pegas inúmeras vezes enquanto tentávamos fugir do orfanato para dar uma voltinha na vila.
— Os soldado tão lá fora — disse apontando para a porta. — Vamo lá!
Senti meu estômago roncando e meu prato ainda estava pela metade, mas… Por um momento podia jurar que a comida se mexeu. Essa gororoba parecia ainda pior do que o normal, pensei que era impossível. Não vou perder nada dando uma olhada.
Procurei as cuidadoras; todas estavam ocupadas fazendo as comidas comerem e tentando pegar um garoto que corria por cima das mesas.
— Vamos. — Devarinho, fui pra baixo da mesa e fomos de fininho pra porta.
O refeitório era enorme, afinal quase uma centena de crianças viviam aqui, então foi bem fácil sair do lugar sem que ninguém nos percebesse.
Apesar de ser um “orfanato”, ficávamos dentro de uma pequena cidade. Era um lugar meio deserto, mas do lado de fora havia sido montado um grande campo de treinamento do lado de fora. Soldados passavam de um lado pro outro.
— Zoe, como é o teste? — Lív parecia animada, era boa em esportes, então eu tinha certeza que seria escolhida para entrar no exército. — Será que vamo lutar com os soldado?!
— Até parece, devem apenas nos fazer balançar as espadas ou alguma coisa assim.
Diferente da minha amiga, meu corpo era menor do que o das outras crianças. Minha única habilidade era ser rápida, treinada nas diversas fugas das cuidadoras.
Passamos um tempo assistindo os soldados arrumando as coisas, quando o sino da igreja começou a tocar outra vez. As portas foram e as crianças começaram a sair. Parece que já está na hora. Precisava fazer de tudo para passar.
Fomos divididos por idades, com a fileira das crianças com dez anos sendo o das mais novas — o exército não aceitava pessoas mais jovens. Do lado desses pirralhos, ficava ainda mais evidente a minha falta de altura. O mesmo azar nas minhas duas vidas…
Um soldados nos avisou que o primeiro teste era para descobrir quem tinha mana, ou seja, para ver quem poderia se tornar um mago.
Poder usar magia era muito raro, algumas das mulheres que cuidavam de nós podiam usar magia de cura, mas em um nível muito baixo, completamente inútil em um campo de batalha.
Preciso surpreender eles com as espadas. Não tinha muita esperança em ter mana ou coisa assim, o motivo era simples: Crianças que possuem poder mágico costumam ser mais fortes que as outras da mesma idade, pois de alguma forma a magia afetava seus corpos.
Soldados passaram entregando pílulas para cada um.
— É prazer conhecê-los. — Uma mulher tomou a frente dos soldados. — Eu sou a Capitã Ambra, responsável por examinar vocês hoje.
Sua armadura era completamente negra, diferente das outras que pareciam apenas armaduras romanas comuns. Eles ficam com as pernas expostas assim? Não me parecia muito prático aquela sainha que eles usavam…
Ambra não se destacava apenas pela armadura, tinha quase dois metros de altura, fazendo qualquer um dos seus soldados parecerem pequenos. Não estava usando o elmo, deixando seu longo cabelo acinzentado solto.
— Essa… não é a dama de aço? — Alguns garotos estavam cochichando atrás de mim. — É ela! Tenho certeza. Vamos ser avaliados por ela?!
Tentei buscar algo nas minhas memórias, mas… Inútil como sempre, essa garota simplesmente ignorava suas aulas ou qualquer coisa que não parecesse interessante.
Ambra bateu as mãos duas vezes, fazendo todos ficarem em silêncio. — Ainda não terminei minha explicação — disse pegando uma pílula e colocando na boca. — Esse medicamento que entregamos para vocês irá afetar sua mana.
Uma fina camada de luz avermelhada começou a cobrir o seu corpo. Alguns soldados, que estavam atrás dela, deram alguns sorrisos zombeteiros.
— A mana de vocês ficará visível desse jeito. — A luz desapareceu logo em seguida.
Assim que Ambra terminou de falar, várias crianças jogaram as pílulas dentro da boca. Alguns segundos se passaram e… não aconteceu absolutamente nada.
Como esperado. Ter magia é algo raro.
— Não vai usar? — Lív se aproximou. Percebi que ainda estava segurando o comprimido na mão. — Tô com medo de não funcionar. Vamo tomar juntas?
Suspirei. — Certo. No três, certo? Um, dois e… três! — Joguei dentro da boca.
Ficamos em silêncio por alguns segundos… Olhei para as minhas mãos, mas nada aconteceu. Era o esperado, mas ainda é decepcionante.
— Acho que não deu certo…
Quando me virei para falar com Liv, uma forte luz dourada saiu do seu corpo, brilhando várias vezes mais do que a luz que tinha coberto a capitã Ambra.
— Você tem talento, Lív. — Não pude deixar de sorrir. Não consegui, mas pelo menos a minha única amiga tinha conseguido. Provavelmente iria ser contratada como maga, tinha que fazer de tudo para conseguir me tornar pelo menos uma soldado.
— Zo-oe! — O brilho no corpo da garota havia desaparecido e, por algum motivo, ela estava com uma expressão surpresa. — Cê tá brilhando! Seu corpo tá… tá que nem o da moça cinza!
Brilhando? Olhei para baixo, mas…? Será que é visível apenas para as outras pessoas?
— Nois conseguimo! — Lív pulou em minha direção, mas…
Uma pessoa entrou entre nós duas, pegando a garota no colo. Era a Capitã Ambre.
— Cuidado, cuidado. — Ela começou a mandar as crianças se afastarem. — Isso ao redor do corpo dessa garota não é mana. Você quase se queimou.
Assim como da outra vez, não entendi o que aquilo significava.
— Vocês não precisam se preocupar com isso agora — disse, colocando Lív no chão. — Tudo o que vocês precisam saber e que as duas passaram no teste.
— Isso! Passamo! — Liv deu um grito.
Abri a boca para comemorar também, mas minha voz não saiu… O quê? Minha cabeça começou a doer e minhas pernas começaram a ficar fracas.
Eu finalmente te encontrei, intrusa.
Olhei para os lados. Não tinha ninguém perto de mim… Minha respiração começou a ficar mais pesada e senti como se estivesse perdendo todas as minhas forças de uma vez.
Você vai ser o meu peão, então esteja preparada.
Senti como se meu peito estivesse queimando. Tentei gritar, sair correndo, tentar fazer qualquer coisa, mas meu corpo estava preso naquele lugar.
Mate o Falso Herói!
A queimação passou… Meu corpo ficou leve… Tudo ao meu redor escureceu…