Dahlia: A Garota Lunar Reencarnada - Capítulo 2
— Mãe, cheguei! — Entrei e joguei minha mochila em um canto.
A casa estava completamente em silêncio. Acho que ela saiu. Deitei no sofá… Meus ombros ainda doíam de ficar andando com aquela mochila.
Fazia dois anos que tinha entrado na faculdade. Sair pela manhã para trabalhar e trabalhar até de noite era cansativo, mas ainda precisava ajudar nas contas de alguma forma, ainda mais… Senti um cheiro forte de álcool.
Me sentei. — Pai? O senhor tá aí…?
Levantei e fui até a cozinha. Nossa casa era pequena, então tinha passado pela cozinha quando cheguei. Que estranho… Podia jurar que não tinha visto ninguém.
— Não percebi que o senhor… — disse enquanto ligava a luz.
Não, não, não, não. De novo não, de novo não! Minha mãe estava jogada em um canto. Havia uma poça de sangue embaixo da sua cabeça.
— Mãe! — Corri em sua direção, mas alguma coisa segurou meu braço. — Me solta!
Tentei me debater, usei todas minhas forças… Eu preciso… Estendi minha mão na direção dela. Preciso ajudar minha mãe… Por favor…
Nesse momento algo frio acertou minhas costas. Toda a força que tinha antes, foi desaparecendo aos poucos. Por um momento, senti meu corpo esquentar, porém em um piscar de olhos… Estava tudo gelado.
Não consegui me manter de pé. Ainda tentava me arrastar em direção a minha mãe. Aos poucos, estou quase chegando. Só… mais um pouco…
Estendi minha mão em sua direção. — Mãe…
— Sinto muito, mas não sou sua mãe. — Escutei a voz de uma mulher, junto com o toque de uma mão um pouco áspera no meu rosto.
Pisquei um pouco mais forte. O cenário de antes desapareceu por um breve momento e no lugar consegui ver o rosto de uma mulher. Sua pele era branca como a neve, em contraste com seus cabelos e olhos que eram negros como o carvão.
Era Ambra, a instrutora que tinha nos entregado aquela pílula antes. Então era tudo um sonho… Fechei os olhos novamente e quando abri novamente estava completamente sozinha.
Estava em uma cama… mas não reconhecia o lugar. — Onde eu estou?
Meu corpo… Por algum motivo, meu corpo estava dolorido; sentia como se tivesse passado o dia correndo por aí. Ainda assim me arrastei na cama e fiquei em pé.
O lugar parecia uma enfermaria, as paredes eram completamente brancas, tinham várias camas enfileiradas dos dois lados e alguns armários cheios de frascos com pílulas. Vazio e escuro desse jeito parece até um filme de terror.
Escutei o som de duas pessoas conversando do outro lado da porta, que estava entreaberta, deixando entrar a única fonte de luz do lugar.
Não conseguia escutar o que estavam falando, então me aproximei um pouco. Não era bisbilhotar, apenas aconteceu de estar passando por perto e acabar escutando — sem intenção alguma — o que estavam falando.
— … estamos levando ela para a outra unidade. — Era a voz de um homem. — Quem iria imaginar, uma garota com esse nível de magia em uma espelunca dessa.
O orfanato era administrado completamente por freiras, não tinha nenhum homem no lugar além de um padre velho que estava perto de bater as botas. Porém, aquela voz era de uma pessoa mais jovem. Devia ser algum soldado.
Outro homem soltou uma risada. — Ainda conseguimos um novo bichinho de estimação para Ambra. Um mago que não consegue usar magia, parece que as falhas se atraem.
Os dois começaram a rir mais uma vez, mas foram interrompidos por outra pessoa.
— Vocês pretendem ficar fazendo barulho a noite inteira? Tem uma paciente aí dentro. — Olhei pela fresta da porta por um instante, era uma mulher vestida de branco.
Um deles estalou a língua e começou a falar: — Estamos apenas conversan…
— Talvez da próxima vez que se machucarem. — Ela abriu um sorriso macabro. — Vocês poderiam se curar sozinhos, o que acham? Afinal, magia de cura é tão fácil de usar. Tenho certeza que magos de elite como vocês devem conseguir usar facilmente.
Por um segundo, podia jurar que meu olhar cruzou com o daquela mulher e ela piscou para mim. Deve ser minha imaginação, nesse escuro…
O sermão pareceu fazer efeito, pois os dois começaram a sair.
Merda! Tenho que voltar para cama. Não sabia onde estava ou quem realmente eram aquelas pessoas, então não sabia o que podia acontecer se fosse pega bisbilhotando os outros.
Corri para a cama, deitei, peguei o lençol e me cobri até a cabeça.
Depois de alguns segundos, a porta foi aberta devagar e escutei o som de alguém caminhando. — Da próxima vez tenta não errar a cama. Você estava na do lado.
Sério mesmo… Abaixei o cobertor o suficiente para conseguir ver a mulher.
Vestia um jaleco branco por cima de um terninho negro, parecia ser um uniforme de oficial do exército, pois conseguia ver algumas linhas na altura do peito — a patente.
Tinha longos cabelos castanhos, que terminavam perto da sua cauda que… Uma cauda… Parando para pensar, também haviam dois montinhos acima do cabelo. Caso não prestasse muita atenção, provavelmente pensaria que era uma tiara ou alguma coisa assim.
—- Uma mulher-gato…! — Acabei deixando minha voz escapar.
Sua expressão fechou. — Cuidado com o que fala, você teria sido atacada se fosse outra pessoa — disse encostando em dos armários e tirando um cigarro do jaleco.
— Ah, desculpa… Beastkin… Eu só fiquei surpresa, nunca tinha visto alguém de outra raça.
A mulher acendeu o cigarro e começou a fumar. Eh, moça… Essa não é a enfermaria?! Onde está o respeito com o paciente que você falou agorinha?
Ficamos em silêncio por alguns minutos, enquanto a sala era tomada pelo cheiro do cigarro.
— Ah! — Ela procurou algo no seu jaleco e caminhou em minha direção, estendendo sua mão. — Esqueci de perguntar, tá afim de fumar um também?
— Eu só tenho dez anos! — gritei. Que tipo de pessoa oferece cigarro para uma criança?!
Sua expressão foi de completo choque. — Mas… tem idade para começar a fumar? Onde eu nasci deixavam as pessoas fumar por volta dessa idade.
Onde está o Conselho Tutelar do Mundo Mágico?!
— Eeeeh… — Procurei seu nome no jaleco. — Senhora… Doutora Mingsun?
— Pode me chamar só de Ming — disse andando até uma mesa que ficava no canto da sala. — Costumam me chamar assim.
A beastkin puxou uma cadeira e se sentou.
— Então, Doutora Ming. Onde é que nós estamos?
— Não estamos mais no orfanato, se é isso que você quer saber. — Apontou para a janela. — Em alguns dias você pode se despedir das outras crianças, se quiser.
Fui até a janela e abri a cortina. Ainda havia um pouco de luz do lado de fora, conseguia ver um grupo de homens correndo de um lado para o outro enquanto carregavam suas espadas. Eles estão treinando essa hora?!
Apesar de querer fazer mais algumas perguntas, Ming me mandou descansar pelo resto da noite. Disse que na manhã seguinte tudo seria explicado.
Apesar de relutante, fui vencida pelo cansaço.
❀
Acordei na manhã seguinte com o toque da alvorada. A porra de uma sirene às cinco da manhã. Assim que levantei da cama pelo susto, a porta da enfermaria quase foi arrombada.
— Temos um longo dia pela frente, recruta! — Ambra entrou na sala enquanto carregava uma grande bolsa preta. — Venha, esses são os seus equipamentos.
Ela jogou a bolsa no chão, que fez um barulho alto de metal.
Quê? Me aproximei e abri a mala, havia algumas mudas de roupa preta, parecidas com as que Ming usava outro dia, mas tinha alguma coisa errada… Correntes?
Haviam correntes e pesos, algumas eu podia jurar que eram mais grossas que meu tronco.
— Essas correntes são… — Olhei em sua direção e…
Que tipo de expressão era aquela? Que medo! Ainda mantinha o rosto sério de sempre, mas podia jurar que consegui ver um demônio sorrindo por um segundo.
Dei alguns passos para trás. — Acho que colocaram aqui sem querer, né? Ha… Ha…
— Claro que não, esses pesos fazem parte do seu uniforme. — A mulher pegou dois pesos e colocou nos braços. — A partir de hoje você vai usar esses pesos o dia todo e essas correntes… Bem, apenas digamos que fazem parte do seu treinamento.
Nem consegui curtir o meu cosplay — uniforme — pesos de dois quilos foram colocados nos meus braços e pernas. Podia ser pouco, mas para aquele corpo infantil… Socorro…
— Se tiver leve podemos colocar outros? Talvez os de cinco quilos…
Ainda conseguia me movimentar relativamente bem ou foi o que pensei. Depois do terceiro passo minhas pernas começaram a tremer.
— Acho… que já é… o suficiente…
Ela bateu as mãos. — Bom, agora vamos falar sério. A partir de hoje você é uma Recruta do Exército Romano, alocada ao Esquadrão de Combate Mágico.
Então aquilo que aconteceu comigo foi por causa da minha mana. Que estranho.
Algum tempo depois de ter acordado como Zoe, encontrei alguns livros sobre magia na biblioteca do orfanato. Minha conclusão: Não tinha habilidade alguma.
Meditação, métodos de ativação de mana, até tentei descobrir meu tipo de magia com umas pedrinhas que tinha encontrado. Inútil, nada funcionou.
— Eu sou uma maga? — perguntei.
— Sim… e não. — Ambra coçou a cabeça. — É meio difícil de explicar, melhor te mostrar como funciona. Vamos para o centro de treinamento.