Deckard - Histórias de outro mundo - Capítulo 09
Diane guardou o medalhão em seu pano e o colocou sobre a mesa. Depois, colocou um livro sobre a mesa e se virou para Deckard.
— Eu já te disse sobre a afinidade elemental. Então, vou falar agora sobre afinidade com sub elementos, que são os casos mais raros — ela então puxou um pergaminho, em um canto da mesa. — Aqui, veja.
Ele pegou o pergaminho e abriu, olhando as ilustrações, atribuídas aos elementos.
— Temos cinco elementos e cada um deles tem um sub elemento. O fogo tem o relâmpago, a água tem gelo, a terra tem o metal, a planta tem veneno e o ar tem a fumaça — ela resumiu o conteúdo do pergaminho brevemente. — Esses sub elementos são muito raros. Uns um pouco mais que os outros.
— Ok. E qual a minha afinidade? — Deckard perguntou, expressando a impaciência que estava começando a lhe afligir.
— Você é um dos casos ainda mais raros do que aqueles que têm afinidades com sub elementos. Veja no fim do pergaminho — ela lhe indicou um dos últimos parágrafos. — Você tem uma dupla afinidade e, como se não fosse suficiente, uma dupla afinidade com dois sub elementos. Você pode dominar o relâmpago e o metal.
— Então, quer dizer que sou um gênio, entre os gênios? — ele perguntou, se sentindo orgulhoso de suas habilidades.
— Isso depende só de você. Caso você não faça valer seu talento, seria como jogar uma moeda de ouro no meio do lixo.
Ouvir isso foi meio que um balde de água fria para Deckard. Em sua cabeça, já esperava ela dizer que seria muito mais fácil para ele, devido à sua dupla afinidade.
— Você tem um bom talento e pode se focar em técnicas de ataque e defesa — ela lhe mostrou uma nova parte do pergaminho, enquanto falava. — Cada elemento e sub elemento tem habilidades voltadas para ataque e defesa. Mas, uns são mais voltados para um e outros, para o outro.
Enquanto Diane falava, ele foi vendo as ilustrações no pergaminho, que explicam exatamente o que ela havia dito.
— No seu caso, o relâmpago tem maior potencial ofensivo e o metal, maior potencial defensivo. Então, você terá maiores opções de habilidades, do que o normal.
— E como eu faço para treinar essas habilidades? Como já vimos, eu não sei usar magia.
Nesse momento, ele pôde ver um sorriso nascer nos lábios dela e, por algum motivo que ele ainda desconhecia, isso lhe deu um arrepio.
— Não se preocupe com isso. Eu vou te treinar e te ensinar tudo que você precisa saber.
Enquanto falava isso, Diane sorria maliciosamente para Deckard e estalava os dedos, como se estivesse se preparando para fazer algo.
— Você nunca mais irá se esquecer do que eu te ensinar.
E, por um segundo, ele se arrependeu da pergunta feita. Mal sabia ele que ainda iria se arrepender muito mais, antes de aprender qualquer coisa.
— Vamos. Agora, vamos dormir e amanhã vamos começar seu treinamento, na primeira luz do dia.
Ele seguiu Diane para fora do quarto e de volta para a sala em que estavam antes.
— Você pode dormir aqui mesmo, enquanto eu vou dormir no quarto ao lado. Aproveite bem essa noite de sono, a partir de amanhã você irá treinar pesado.
Ele se deitou e já foi se preparando para dormir, enquanto Diane saía em direção ao quarto, seguida por Argenti. De algum modo, o lobo havia comido o restante da carne sem que percebessem, enquanto estavam no outro quarto.
Deckard virou para o lado e começou a encarar o fogo. De repente, sua mente divagou e ele se pegou pensando nas pessoas que havia deixado para trás e em como elas estariam, o que estariam fazendo agora. Decidiu deixar isso tudo para lá e fechar os olhos para dormir, afinal teria um longo dia pela frente, ao que parecia.
— • — • —
Na manhã seguinte, ele acordou de sobressalto, com uma mão segurando seu ombro com firmeza. Levou algum tempo para se localizar e lembrar que estava na casa de Diane. E ao olhar para o lado, pôde perceber que a mesma estava segurando seu ombro.
— Espero que tenha dormido bem, pois iremos treinar duro hoje.
Deckard se levantou e se espreguiçou. Ele pôde perceber que ela estava vestida de forma um pouco diferente. Usando roupas um pouco mais leves.
— Venha, não vamos perder tempo — Diane disse, já saindo, sem esperar que ele a seguisse.
Ele se apressou em ir atrás dela. Argenti os acompanhou de perto, como se fosse a própria sombra de Diane. Enquanto seguia ela para fora, Deckard ouviu ela explicando como fariam aquilo.
Ela iria aproveitar o próximo mês para lhe ensinar o básico a respeito de magias e, depois que ele estivesse pronto para treinar combate, ela iria mesclar combate e estudos sociais. Segundo ela, tão importante quanto suas habilidades, seria conhecer esse mundo e o funcionamento dos reinos que estavam em volta, pelo continente.
Quando saíram pela porta grossa de madeira na entrada, ele pôde perceber que a casa dela havia sido esculpida nas rochas de um paredão, como se fosse uma caverna. Pôde notar também que este lugar não tinha nenhuma semelhança com o lugar em que estava antes de ser atacado.
— Onde estamos? — ele deu voz à sua dúvida.
— Na Floresta Fracti, a mesma em que você estava antes. A diferença é que estamos em um ponto mais para dentro da floresta. Onde você dificilmente sobreviveria sem minha ajuda.
Os dois caminharam durante mais alguns minutos, até chegarem em uma clareira, onde havia uma pequena cachoeira.
— A primeira parte do seu treinamento será feita aqui. Aqui, será muito mais fácil para você do que seria em meio à floresta.
— O que eu tenho que fazer? Meditar embaixo da cachoeira?
— O que? Não! — Ela o olhou como se ele fosse um idiota. — Você vai aprender a sentir, reunir e controlar mana e isso é mais fácil nesse lugar, devido à concentração de mana natural aqui.
— Como exatamente? — Deckard quis saber.
— Sente-se aqui. Primeiro você vai precisar sentir a mana à sua volta. O que pode levar algum tempo — ela mostrou uma pedra grande, ao lado da água. — Você vai sentir como se fosse uma camada cercando os seres à sua volta, isso é a mana. Depois que sentir, você vai focar no seu interior e começar a absorver essa energia. O terceiro passo será controlar essa energia, em um ponto em frente ao seu corpo.
— Falando assim, não parece que seja tão difícil assim — Deckard não estava vendo muita dificuldade, baseado na explicação dela.
— Então, tente e veremos. Uma pessoa normal leva cerca de seis ou sete dias para começar a sentir essa energia, depois que passa a treinar para usar mana. Se você conseguir em cinco, pode ser considerado um gênio. Se você for capaz de me surpreender, vou te ensinar uma técnica de luta épica.
— Cinco dias? — Deckard estava surpreso por algo que parecia ser simples requerer tanto tempo — Vou levar tanto tempo assim?
— Se for um gênio. Boa sorte! — ela respondeu, com um leve desdém na voz.
Ele se sentou sobre a pedra com as pernas cruzadas e ela se preparou para ir para outro lugar. Quando estava para entrar em meio às árvores outra vez, ela se virou.
— Ah, até que você consiga controlar a mana, você deve caçar e se virar por conta própria. Ter contato com a natureza irá te ajudar. Só tome cuidado, aqui podem aparecer alguns animais realmente fortes.
Enquanto ele tentava descobrir se ela realmente estava falando sério, ela voltou para a floresta e desapareceu. Deckard resolveu não se preocupar por agora e voltou a fechar os olhos e tentar se concentrar em sentir a mana.
No começo, o silêncio à sua volta foi meio desconcertante. Levou algum tempo para ele conseguir realmente se focar na sua tarefa.
Ele ficou sentado pelo que pareceram horas, sem perceber mudança alguma. Deckard já estava começando a pensar que tinha sido alvo de alguma pegadinha da Diane quando, de repente, começou a sentir algo à sua volta, como uma presença. Ele se apegou à essa sensação e tentou ampliar ela, sentir com mais clareza. Quando estava a ponto de alcançar seu objetivo, foi interrompido por um barulho.
RONC…
— Bem, a fome não espera — ele comentou, para si mesmo.
Então ele se levantou e decidiu ir em busca de algo para comer, para não correr o risco de ir até a caverna e descobrir que a Diane realmente estava falando sério.
Escolheu uma direção e seguiu, na intenção de encontrar alguma árvore frutífera ou algum animal para caçar.
Após andar por alguns minutos, ele não encontrou nenhuma árvore com frutos, nem planta comestível. Para sua sorte, encontrou o que pareciam ser rastros deixados por algum animal. Não haviam pegadas, somente o mato revirado, então Deckard assumiu que seria outro javali.
Ele sacou sua velha faca e a capa do seu inventário e se preparou para seguir o animal. Ele foi andando, mas sem sinal de encontrar o javali quando, de repente, foi surpreendido por um outro barulho.
GRRRRRR…
Um rosnado que lhe causou calafrios.
Talvez ele não tenha tido sorte ou talvez Diane estivesse falando sério quanto aos animais.