Deckard - Histórias de outro mundo - Capítulo 10
— Devia ter dado ouvidos ao aviso antes, mas agora já é tarde para pensar nisso.
Deckard olhou em volta assustado, procurando por algum sinal de um animal, mas não encontrou nada. Decidiu virar de costas para a maior árvore que encontrou, decidido a tentar enfrentar o problema de frente e evitar ser atacado pelas costas.
— Que droga! — ele esbravejou. — Se eu tivesse a chance de procurar alguma informação antes de lidar com isso, mas ainda nem vi que animal que é.
CRAC…
Assim que ouviu o barulho, ele se virou na direção e se vi encarando um lobo prateado, da cor do luar. Uma versão em miniatura do Argenti.
— Ainda bem que não chega nem perto do tamanho daquele lobo, senão eu já estaria morto.
Enquanto o lobo o encarava, ele preparou a sua faca e esperou. Ele sabia que não seria uma boa ideia tentar fugir, pois a chance da velocidade dele ser maior que a de Deckard era bem grande e ele não estava disposto a pagar para ver.
— Vamos lá, vamos resolver isso de uma vez.
Ele não saberia dizer se o lobo havia entendido, se ele se cansou de esperar ou se estava confiante de seu ataque, mas o lobo avançou, tão logo ele terminou de falar.
Ele pulou com toda a sua agilidade e preparou a pata para atacar Deckard. Apesar de não ser um guerreiro dos melhores, ainda assim Deckard sabia uma coisa ou outra sobre lutar.
Assim que o lobo pulou, Deckard esperou ele se aproximar. No último segundo, Deckard se jogou no chão e atacou com a faca, acertando um golpe de raspão na lateral do corpo do lobo. Assim que ele caiu no chão, se preparou para investir novamente. Mas, quando foi se preparar para pegar impulso, acabou mancando por causa do ferimento que havia sofrido.
Deckard aproveitou que ele não atacou de imediato e ficou de costas para outra árvore novamente. O lobo começou a se aproximar novamente e se preparar para atacar. Deckard se preparou para o ataque e esperou, com a faca pronta.
Aproveitou o pouco tempo, preparou a capa e a segurou com as duas mãos, para tentar repetir o que havia feito contra o javali antes.
— Vem pra cima. Assim que você atacar, eu acabo com sua raça — ele disse, enquanto encarava o lobo.
Assim que o lobo pulou, ao invés dele se jogar pro chão, ele deu um passo largo para o lado e jogou a capa contra o focinho do lobo, enrolando sua cabeça.
Como não estava disposto a medir forças com o animal, aproveitou e apunhalou a lateral do corpo do lobo, assim como ele havia feito com o javali antes. Assim que o lobo pousou no chão, caiu deitado no chão. Ele não conseguia se manter firme devido ao ferimento. Mas, diferente do que Deckard pensou, ele ainda não estava morto.
Enquanto o lobo tentava tirar a capa que enrolava a sua cabeça, ele se adiantou e deu o golpe final, acertando a lateral do pescoço do animal. O lobo finalmente caiu e parou de se mexer.
— Finalmente esse maldito morreu — Deckard recolheu sua velha capa novamente e a guardou no inventário. — Minha sorte foi encontrar um tão pequeno, senão poderia ser eu no chão, sem vida.
Enquanto, pensava no que fazer, ele reparou no familiar brilho azul da tela do sistema piscando.
– EXP OBTIDA! –
– EXP ATÉ O PRÓXIMO NÍVEL: 6/10 –
— Caramba, consegui tão pouca experiência, que sistema mão de vaca — ele reclamou, realmente indignado. — Depois de todo esse perigo, só isso.
Enquanto reclamava, ele se deu conta de outra coisa.
— E o pior, eu já havia caçado o javali antes, desse jeito eu vou ter que morrer para passar de níveis.
Assim que ele leu a mensagem, ela sumiu. Então, ele se virou para o corpo do lobo outra vez.
— Acho melhor eu sair daqui logo, antes que venham outros animais — ele não estava disposto a passar outra vez pela experiência que Argenti havia lhe proporcionado.
Deckard decidiu levar o lobo morto. Já que ele precisava comer alguma coisa e já havia matado o animal, ia dar um jeito de comer a carne dele mesmo.
Chegando perto da cachoeira, ele decidiu subir numa das pedras maiores dentro da água. Assim, não precisaria se preocupar com ataques e teria acesso à água mais fácil.
Sem perder tempo, ele foi tirando a pele do lobo, tomando o máximo de cuidado para não estragar, e tirou a carne. Depois de terminar, ele jogou a carcaça na água, para não atrair outros animais. Guardou a pele no inventário, depois de descobrir que havia essa opção, e buscou pedras e galhos, para fazer uma fogueira e assar a carne.
Com uma boa dose de esforço, ele acendeu a fogueira.
As habilidades de sobrevivência de Deckard eram frutos das várias caçadas e noites que havia passado com seu pai em meio à florestas. Eram o programa favorito de pai e filho do pai deles, assim como o grupo de escoteiros do qual ele havia feito parte, por conta da insistência de seu pai.
Apesar de estar enferrujado, pois seu pai havia falecido há tempos e ele havia deixado esse passatempo de lado. Ele colocou uma pedra grande no meio do fogo e deixou a carne assando em cima, usando a velha panela que havia encontrado em seu primeiro dia, na vila.
— Enquanto isso, vou voltar ao meu treinamento — ele queria muito conseguir a habilidade que Diane havia prometido lhe ensinar.
Ele se sentou com as pernas cruzadas e voltou à tarefa de sentir a presença da mana ao seu redor, assim como antes. Tentou por algum tempo, sem resultado, então decidiu comer antes de continuar.
Como já estava anoitecendo, ele decidiu juntar mais galhos e deixar por perto, para manter o fogo aceso.
Voltou a meditar, sem ter que se preocupar com fome, sede ou com o frio. Agora era só alcançar seu objetivo e ele pretendia fazer isso durante aquela mesma noite, a todo custo.
— • — • —
No dia seguinte, ele acordou com os primeiros raios de sol. Ou, de Sóis, ele deveria dizer.
— Como é possível? — ele se sentia abismado ao ver dois sóis no céu, com seus tamanhos diminutos. — Talvez, a distância compense a questão do calor, quem sabe.
Sua curiosidade fez com que gastasse alguns minutos teorizando sobre como isso podia dar certo. Era a primeira vez que parava para reparar no céu desse novo mundo durante o dia.
Após voltar sua atenção para a tarefa de acender o fogo e esquentar a carne, que seria seu café da manhã, ele decidiu voltar ao seu treinamento. Mas, decidiu que talvez, poderia ser uma boa terminar de aumentar seu nível. Talvez, isso facilitasse o avanço no seu treinamento.
Após tomar seu café, ele guardou o restante da carne no inventário e aproveitou para equipar a faca e pegar a velha capa.
Voltou a seguir em direção ao lugar que encontrou o lobo no dia anterior.
Deckard andou pela área em busca de animais durante cerca de uma hora, antes de chegar próximo ao que parecia ser uma pequena toca de raposa. Ele se aproximou com cautela, se escondendo o melhor que podia, em meio aos arbustos.
Ele encontrou um lobo, muito parecido com o último, em questão de tamanho; apresentando apenas uma cor diferente.
Ao invés de ter pelos completamente prateados, tinha o pelo levemente avermelhado em algumas partes.
Deckard aproveitou que ele estava dormindo e se aproximou para matar ele. Pareceu que havia passado uma eternidade até ele chegar na toca, indo pelo lado direito, onde haviam mais arbustos. Temendo que ele não morresse com um golpe, ele optou por atacar diretamente no pescoço. Felizmente, o lobo não acordou enquanto era atacado.
Depois de ser acertado, o corpo do animal deu alguns espasmos. Assim que parou de se mexer, Deckard se viu encarando o leve brilho azulado, que estava se tornando familiar, pouco a pouco.
– NÍVEL 2 ATINGIDO! –
– PONTOS DE EXPERIÊNCIA ATÉ O PRÓXIMO NÍVEL: 1/20 –
– CONQUISTA OBTIDA: PRIMEIRO ABATE FURTIVO –
– CONQUISTA OBTIDA: ABATE INCOMUM –
— Caramba! — ele foi pego de surpresa por múltiplas telas do sistema. — Vamos terminar com isso aqui, antes de focar nelas.
Enquanto ignorava as telas piscantes em sua frente, ele limpou a faca e guardou a capa no inventário. Ele pensou em guardar o corpo do lobo no inventário, junto com a faca. A ideia de tentar surgiu enquanto lembrava do café da manhã e, para sua felicidade, funcionou.
Como já havia guardado suas coisas, ele decidiu voltar para perto da cachoeira e continuar a treinar o controle de mana, depois de ver as mensagens do sistema.
— Vamos ver isso aqui.
Ele abriu primeiro a mensagem de aumento de nível. Não tinha muito o que ser visto, era apenas informativa. Ele havia ganhado um ponto de status aleatório, além de mais um ponto em cada atributo.
— Cara, parece que upar de nível vai me ajudar bastante, se continuar assim.
Em seguida, abriu as conquistas para ver do que se tratava.
A primeira, era por ter conseguido matar uma fera sem ser percebido e a recompensa era mais um ponto de destreza e outro ponto de atributo aleatório. A última se tratava de uma conquista por matar uma fera mutante e a recompensa era um título que lhe dava um bônus de mais dois pontos de força, enquanto ele estivesse equipado.
Futuramente, talvez não fizesse tanta diferença, mas agora seriam pontos muito bem vindos para Deckard.
— Status!
Ele se sentia realmente feliz com a mudança na tela de status, assim que a viu.
— Antes de mais nada, vou distribuir os pontos aleatórios e tentar manter um equilíbrio nos meus atributos principais.
Ele colocou mais um ponto em destreza e um ponto em magia, esperando que fizesse alguma diferença com o treinamento de mana.
Nome: Deckard Crowford
Idade: 20
Nível: 2
Status (Saúde): Saudável
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Título: “Caçador fora do comum”
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Profissão: Não atribuído
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Atributos:
Força: 11 (+2)
Destreza: 13
Inteligência: 15
Carisma: 11
Magia: 12
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PONTOS NÃO DISTRIBUÍDOS: 0
— Quanto ao carisma, vou deixar sem mexer. Não vejo muita utilidade para isso mesmo.
Depois de terminar de organizar as mensagens do sistema e seus atributos, ele pôde finalmente voltar para seu treinamento com mana.
Ele se sentou sobre a pedra, como Diane havia lhe falado e voltou a se concentrar.
Dessa vez, sentiu maior facilidade em perceber aquela sensação que ela havia descrito antes. Estava sendo realmente muito mais fácil sentir mana, depois de subir de nível.
Conforme sua concentração crescia, ele pôde começar a sentir a energia à sua volta. A energia da água seguindo o fluxo da cachoeira; a mana presente na leve brisa que soprava; a mana presente nas plantas e árvores balançando ao vento.
Sem perder tempo, ele decidiu tentar fazer como ela falou e seguir em frente, passando a focar na mana em seu corpo.
Após algumas horas, ele começou a sentir a mana acumulada na região do seu coração. Pôde perceber que essa mana se repartia em incontáveis fios, que seguiam para cada parte do seu corpo e, quanto mais ele focava em seguir esses fios de mana, mais ele podia sentir a energia fluindo através deles e sendo distribuída pelos seus músculos e terminações nervosas.
A presença da mana no ambiente foi se intensificando. De repente, Deckard começou a sentir como se uma leve brisa se formasse à sua volta e se tornasse um pequeno tornado à sua frente.
— Vamos lá, está quase — ele estava realmente ansioso para conseguir alcançar seu objetivo.
De repente, ele sentiu um incômodo vindo pelas suas costas, que lhe tirou toda a concentração.
— Quem está aí? — perguntou para o nada, enquanto virava assustado.