Deckard - Histórias de outro mundo - Prólogo
Me pego pensando sobre tudo novamente…
Sobre tudo que deu errado, todas as coisas que poderiam ter sido diferentes e como eu queria que fossem. Enquanto isso, encaro a paisagem. Ela nunca decepciona. Nunca deixo de me encantar com a beleza que cerca todas as nossas misérias.
O céu resplandece em um azul tão claro, que ainda tenho a impressão de que, caso me esforce, vou ver a redoma de vidro que cobre o mundo e seus mistérios; mas sei que é apenas mais um dos meus delírios infantis.
Abaixo do céu, consigo ver uma cadeia de montanhas ao longe, rasgando a paisagem de forma imponente, como se quisessem que todos vissem a sua própria insignificância perante elas. E, no sopé dessas mesmas montanhas, um amontoado de pobres infelizes; abandonados à própria sorte. Pessoas honestas, trabalhadoras, mas azaradas. Ah, como são azaradas.
A única mancha na bela paisagem. Uma vila chamada de Nullus. Um nome triste para um povo triste. Um amontoado de casebres de palha, com pessoas pobres.
Pensando assim, até parece que somos miseráveis. No entanto, essa não é a (completa) verdade.
Somos um pequeno povo isolado do resto do mundo, isso é verdade. Nos mantemos, alimentamos uns aos outros e nos ajudamos. Sem luxos. Mas ainda assim, conseguimos manter todos alimentados com nossa própria produção e nossos poucos animais.
Porém, eu desejo mais, como todo coração jovem poderia desejar.
Desejo alcançar as nuvens e conquistar o mundo.
E isso tem me deixado inquieto nos últimos dias.
Por conta dessa inquietação, venho até a Floresta Fracti, sento nas bordas dela e imagino como seria se tudo fosse diferente.
Sinto que as coisas vão ser diferentes…
Só não poderia imaginar o quanto e como seriam bem mais do que esperava.
Sinto no ar a adrenalina, a emoção. Quase como se fosse uma descarga elétrica correndo pelas minhas veias, saltando pela pele. Talvez, por isso, eu demore a perceber a energia correndo em minha pele. Só percebo quando o raio me atinge e tudo se torna um breu.