Demônio da Escuridão - Capítulo 6
Capítulo 6: Estaca Zero
Vilarejo de Galego.
Um pequeno exército de demônios e bestas invadiram o pequeno vilarejo, até então, sem causar mal algum. Eles estavam sob comandado de uma figura monstrenga, cuja face é um cranio negro com quatro chifres expostos em sua cabeça e quatro olhos vermelhos que expressam um ódio constante. Seu corpo imponente se destacava pela altura, quatro braços musculosos e uma longa cauda que se movia de um lado para o outro.
— É aqui que nossos receptores estão captando a essência do jovem mestre? — Belial dirigiu-se ao seu assistente que é um humano possuído. Sua voz era um rosnar melancólico que gelava a alma de qualquer ser vivo que a escutava.
O assistente, ajustando nervosamente os óculos, examinou um cristal que brilhava de forma oscilante em suas mãos.
— S-só pode ser aqui, mestre. Ainda há rastros de essência.
Belial pegou um dos moradores pelo pescoço e o levantou até que ele ficasse cara a cara.
— GASP!
— Por acaso, você viu algum demônio de baixa estatura de cabelos brancos passar por aqui? — perguntou Belial, afrouxando o aperto sufocante para o morador falar com mais clareza.
— S-sim. Ele esteve aqui por algum tempo disfarçado de humano.
— Entendo. E você sabe me dizer para qual direção ele foi?
— Ao norte.
— Posso confiar em você? — Ao olhar para o fundo dos olhos de Belial, o morador se sentiu hipnotizado.
— Sim — disse o morador, como se estivesse enfeitiçado.
— ATENÇÃO, LACAIOS! VAMOS PARA O NORTE. O JOVEM MESTRE DEVE ESTAR POR LÁ — ordenou, Belial. Que em seguida, soltou o morador.
— Senhor, o que faremos com os moradores? — perguntou um dos soldados.
— Matem todos eles! — disse Belial, sem um pingo de piedade.
A ordem foi recebida com um rugido de aprovação dos demônios, e o vilarejo de Galego mergulhou em um pesadelo de gritos e sangue. Após isso, Belial e seus lacaios se preparavam para marchar em busca do jovem mestre.
Deserto Glacial.
Um grupo de caçadores de demônios galopava pelo deserto de neve. Composto por três homens e duas mulheres, todos eles vestiam roupas grossas dado o frio intenso da região e usavam capuz. Eles estavam voltando de uma missão, quando um dos membros avistou um cadáver de demônio.
— Ei pessoal, olha aquilo. — Barcímio apontou para o cadáver, seus companheiros também notaram.
Os caçadores se aproximaram do cadáver da besta demoníaca. Norman, o líder do grupo, deu um sinal com a mão para que seus companheiros esperassem. Após descer do cavalo, ele engatilhou sua besta e aproximou-se.
“O cheiro não está tão forte e o cadáver está bem conservado. Esse monstro deve ter sido morto há pouco tempo.”, Norman notou a cabeça da besta demoníaca divida ao meio e um de seus olhos com um rombo.
— Tranquilo. Já está morto. — Depois que Norman disse isso, o cadáver começou a se revirar. Ele apontou a besta e deixou o dedo mole no gatilho.
Para a surpresa de Norman e seu grupo, uma pessoa saiu de dentro do cadáver. Um jovem rapaz com roupas desgastadas e ensanguentadas, coberto de vísceras e um odor forte.
Levi estava dormindo quando sentiu leves tremores no chão, ao ouvir vozes de pessoas desconhecidas, ele transformou-se em humano e, com esforço, rasgou seu caminho para fora do cadáver. Seu corpo, encharcado de sangue espesso, sentiu o impacto do frio cortante que atravessava seu corpo como mil agulhas. Ele estremeceu, sua respiração transformava-se em névoa no ar gelado e seus olhos foram de encontro ao do grupo de Norman.
Norman estreitou os olhos, desconfiado, enquanto apontava sua besta diretamente para Levi: — Identifique-se.
Levi levantou as mãos lentamente, seus olhos fixos no líder do grupo, mas sem um pingo de hostilidade em sua expressão. — Sou apenas um andarilho perdido.
— Esse demônio… Foi você que o matou? — Bob, uma figura imponente com uma barba cheia e um olhar penetrante desceu do cavalo e deu um passo à frente, analisando Levi com interesse.
— Sim — respondeu Levi, mantendo-se calmo e sereno.
— Nada mal, hein garoto! — Bob soltou uma risada áspera, impressionado com o feito de Levi — Você também é um caçador de demônios, por acaso?
— Errr… Eu não diria isso. — Levi deu de ombros, com uma expressão indiferente em seu rosto.
— Bob, sou eu que faço as perguntas aqui! — resmungou Norman.
— Eu não acredito que esse garotinho matou essa besta sozinho. — Milena, que até então observava em silêncio, cruzou os braços e lançou um olhar crítico para Levi.
— Acreditar ou não, a escolha é sua. — Levi manteve-se firme, sem se abalar pelo julgamento de Milena. Seus olhos encontraram os dela com uma intensidade tranquila.
— HAHAHA! Esse garoto é demais! Vamos recrutar ele! — Bob divertiu-se com a reação indiferente de Levi. Seus olhos brilham com entusiasmo.
— Como vamos recrutar ele sem sabermos as habilidades dele? E para piorar, nem conhecemos ele ao certo! Barcímio, fale alguma coisa! — reclamou Milena, seu tom cheio de cautela enquanto lançava um olhar desconfiado para o jovem ensanguentado.
— Tem que vermos o que esse garoto quer. Se foi ele que realmente matou essa besta demoníaca com aquela espada, então seria uma boa recrutá-lo. Afinal, o Bob é o único do nosso grupo que luta a curta distância. — Barcímio, sempre ponderado, pareceu apoiar a ideia de seu companheiro.
— Anna…? — Milena, ainda hesitante, virou-se para sua parceira, buscando apoio.
— Para mim o que o Norman decidir está bom, ele é o líder. Eu confio no julgamento dele. — Anna ergueu os olhos, com sua expressão serena.
Todos os olhares se voltaram para Norman, que ainda mantinha a besta apontada para Levi. O silêncio pesava no ar, carregado de expectativa.
— E então, garoto. Fale a sua história e como você foi parar dentro daquele demônio. Não ouse mentir para mim. — Norman franziu os olhos, estudando cada movimento de Levi.
Levi respirou fundo, mantendo a postura firme. Ele contou a sua trajetória desde sua saída de Tristam até chegar ao momento atual, sempre omitindo a sua verdadeira identidade e os assassinatos que cometeu. O grupo pareceu acreditar na veracidade da história e passaram a ter mais confiança nele, com exceção de Milena que ainda estava cautelosa.
— Uhum, entendo. Quem diria que você seria um aprendiz de um grande ferreiro como o Paulo Oldgate. — Bob passou a olhar Levi com mais admiração.
— Você conhece esse Paulo Oldgate? — perguntou Norman.
— Claro que conheço! Todos os despertados que portam armas de punho deveriam conhecê-lo! Ele é um exímio ferreiro. Inclusive, foi o próprio que forjou meu machado de guerra. — Bob puxou o imponente machado das costas e o exibiu com orgulho. — Faz vinte anos que eu o tenho e nunca me deixou na mão. Foi o melhor investimento que eu já fiz na minha vida.
— Acho que está tudo bem confiar nele por enquanto. — Norman finalmente baixou a besta, mas seus olhos ainda estavam fixos em Levi. — Bob, já que você que teve a ideia de trazer esse garoto, deixarei ele sob sua responsabilidade.
— Entendido, líder — respondeu Bob.
— Não acredito que eles vão fazer isso… — Milena suspirou, incrédula, passando a mão pelo rosto.
— Para começar, dê alguma coisa para ele se aquecer, o moleque está quase morrendo de hipotermia — Norman guardou sua besta e subiu em seu cavalo, pronto para seguir viagem.
Fuçando sua bagagem, Bob achou o que estava procurando: Um manto. Ele o pegou e jogou para Levi, que pegou no ar com bons reflexos.
— Obrigado — Levi se cobriu com o manto.
Bob montou em seu cavalo e olhou para Levi, com um sorriso amigável no rosto. — E aí? Não vai subir? — perguntou Bob, oferecendo um espaço na garupa.
Levi hesitou por um momento, mas depois aceitou a oferta, subindo atrás de Bob. Enquanto o grupo se preparava para seguir em frente, a tensão no ar se dissipava lentamente, substituída por uma nova sensação de camaradagem e curiosidade sobre o misterioso jovem que agora fazia parte deles.