Desejos de um Mercenário - Capítulo 3 - Assinatura.
Já estou viajando há duas semanas e encontramos algumas criaturas fracas pelo caminho. Consegui dicas com os mais velhos sobre noções básicas e aprendi muito durante esse tempo.
Meu primeiro tutor foi Nebor, um velho do leste, onde fica o reino dos Larios conhecido por sua cultura na doma de animais. A família dele tinha cavalos como animais de doma, e como sou um aspirante, não pude perder essa oportunidade.
Nossas três escoltas eram compostas por uma garota arqueira e dois meninos, um espadachim e um escudeiro. No início, eles tinham rostos fechados, mas ao longo da viagem, por minha insistência ou talvez por estarem entediados, começaram a interagir.
Tendo experiência da minha vida anterior não passei dos limites, eles me ensinaram foi conhecimento geral sobre as feras algumas feras e seus perigos junto da história dos dois desastres que achei bem interessante.
Os dois desastres representavam ameaças à destruição do continente: um era um dragão necromante e o outro, a guerra dos transcendentes, onde as batalhas entre celestiais e demônios estavam em seu ápice.
Essas histórias provocaram um turbilhão de contos sobre esses desastres entre nós, e como eu não sabia muito, fiquei apenas ouvindo. No entanto, isso me fez vagar pelas memórias da minha vida passada. Elas pareciam distantes e até mesmo desconexas, mas um sentimento de medo e peso estava sempre presente. O medo do desconhecido e da falta de força, além do peso de ser a esperança de alguns.
—Atalis? Atalis!
—Ah!— Saí das minhas lembranças com alguém me balançando. Era Itin a arqueira do grupo, não sabendo o nome do resto por serem muito cautelosos.
— Desculpe, eu estava perdido em meus pensamentos.
Com um suspiro, Nebor apontou para a fogueira à nossa frente, e só então percebi que minha carne de coelho estava quase queimada.
“Droga!” Tirei a carne do fogo, algumas partes ficaram queimadas, então as retirei cuidadosamente. Tinha gasto temperos bastante caros neste coelho.
Vendo a cena, Tadeu deu uma gargalhada. — Haha, garoto, você realmente não vai sobreviver sendo um viajante.
Havia vários tipos de trabalhos e pessoas que vagavam por este mundo: poderiam ser aventureiros, mercenários, cavaleiros errantes, então o termo “viajante” se tornou algo usado de maneira geral. Como quero ser um mercenário, viajar será algo do meu cotidiano.
— Não vou morrer facilmente. Tornarei alguém respeitado. — Enchi o peito e falei com uma certeza que parecia infantil para alguém com memória de trinta anos, mas sendo apenas um adolescente.
Todos riram com minha exibição. Fizemos piadas sobre meus “grandes feitos” de como me tornaria um grande mercenário. No entanto, o espadachim não pareceu gostar muito. Ele olhou na nossa direção com um olhar experiente, mesmo parecendo ter apenas vinte invernos.
— Não sonhe alto, pessoas como você morrem cedo ou ficam presas em uma classificação. No máximo, sendo um plebeu nômade, você não será nada demais, apenas um mercenário de nível médio.
Ele falava como se meu destino estivesse cravado em pedra, como se fosse um futuro imutável. Não gostei dele por causa disso. Um ninguém para mim que acredita ver o meu futuro.
— Sei que não poderei alcançar o topo das montanhas sozinho…
No meio da minha fala, o rosto do espadachim assumiu um tom de felicidade e superioridade, como o olhar arrogante de um superior para seus subordinados. Ignorei aquele olhar e continuei.
— Então, irei adquirir asas para subir, garras fortes para me sustentar e quando chegar ao topo e descansar, continuarei a subir, subir para alcançar as nuvens.
O olhar arrogante caiu e foi tomado por raiva. Parece que cutuquei uma ferida, pois ele exclamou com absurdo contínuo.
— Ah! E que asas seriam essas, as de um inseto? — Ele se virou para Lucy. — Uma égua magra e pequena, ótimas asas.
Nesse momento, tornei meu olhar sério, liberando toda minha malícia sobre o espadachim. Apesar de ter um corpo fraco e jovem, as diversas experiências da minha vida passada, mesmo que desconexas, ainda tinham peso na minha presença. Imitando o olhar que se dá para seus inimigos, carreguei toda a malícia.
“Isso me faz lembrar ‘Quando você encara alguém, seus olhos se tornam semelhantes'”. Sempre encarei a morte desde que me lembro; ela era fria, tão fria quanto este inverno.
— Hum? — Surpreso com o olhar recebido, o espadachim deu um passo para trás, percebendo seu recuo diante da criança. Estalou a língua e saiu do círculo.
Um silêncio estranho pairou sobre o lugar devido à mudança repentina de personalidade. Com a falta de mais conversa, levantei-me em direção a Lucy, que estava de guarda sobre meu saco de dormir e mochila. Adormeci sem arrependimento.
Faltava apenas um dia para chegarmos à próxima cidade. Segundo as informações de Tadeu, esta seria a cidade central da região, onde planejava ficar por um tempo e me juntar oficialmente aos mercenários.
— Woow.
Chegamos à cidade de um duque e, mesmo sendo apenas meio dia, ela era significativamente diferente da anterior. Primeiramente, notamos duas muralhas, uma claramente destinada aos plebeus, enquanto a mais interna era reservada à nobreza. Comerciantes, fazendeiros e viajantes circulavam livremente entre elas. Não pudemos seguir para a capital devido aos rumores que ouvimos pelo caminho, indicando que esta estava em estado de caos devido a invasões de monstros desconhecidos em suas fronteiras.
Quando passamos pela inspeção, perguntei aos guardas a direção da guilda dos aventureiros e, agora, me encontrava em frente à pousada. O velho Nebor veio até mim e jogou um objeto em minha direção. Era uma bolsa contendo algo quente e brilhante com uma cor alaranjada.
“Uma pedra do fogo, isso é um presente incomum.” Pedras do fogo são cristais concentrados de mana do fogo que libera calor quando contêm mana em excesso, servindo como uma maneira de aquecer objetos. Dependendo do tamanho e da qualidade, podem até ser usadas em forjas, mas eram caras, dependendo da qualidade.
— É aqui que nos separamos, moleque. Pegue isso para você. — disse Nebor.
— Obrigado pelo presente!
— Tsk, moleque, você deveria recusar pelo menos uma vez. — Nebor tentou parecer mal-humorado, mas um pequeno sorriso se formou em seus lábios.
Me despedi de Tadeu com um simples adeus, paguei pela hospedagem e deixei minhas coisas pesadas. Agora, só faltava uma coisa. A cidade estava movimentada, com carroças sendo algo comum.
Pessoas iam e vinham, muitas vestindo roupas simples de frio, mas algumas com trajes que lembravam os de padres ou couro demasiadamente robusto para ser apenas uma vestimenta. Meu objetivo era um prédio de madeira de três andares, onde se encontrava um grupo de vinte pessoas.
— Essa é a guilda. — Pensei em voz alta.
A guilda, com várias sedes em diferentes reinos graças ao seu poder conveniente e independente, é aceita por diferentes reinos, sendo um lugar onde nascem mercenários e aventureiros.
Deixando Lucy do lado de fora, entrei no salão amplo, com várias mesas e um quadro com papéis que devem ser os pedidos. Ao observar ao redor, vi diversos grupos discutindo algo e alguns solitários formando uma fila para o balcão.
No balcão, havia um homem na faixa dos vinte anos, acompanhado por uma mulher com a mesma idade aproximada. Demorou um pouco até que fosse minha vez, e quem me atendeu foi a mulher recepcionista.
— Deseja fazer um pedido? — Ela abaixou a cabeça para encontrar meu olhar.
— Não, quero me tornar um mercenário. — Respondi com empolgação na voz.
Não houve surpresa em sua expressão; ela simplesmente acenou, pegando alguns papéis. — Então, você terá que pagar um cobre pela inscrição e me fornecer algumas de suas informações… Me siga, vamos para um lugar mais privado.
— Certo.
Fui conduzido para um cômodo nos fundos. Na sala, havia uma mesa e duas cadeiras, dando a impressão de um interrogatório. Nós nos sentamos frente a frente. Meu coração batia fortemente, e percebendo minha ansiedade, a recepcionista colocou um sorriso tranquilizador.
—Irei apenas fazer uma entrevista perguntando sobre sua identidade e habilidades, depois teremos um exame prático. Não precisa ficar ansioso. — Disse ela com uma voz tranquilizadora.
— Tudo bem.
A partir daí, ela começou. Primeiro, perguntou meu nome, origem e história. Graças aos ensaios, consegui passar a história de ser de uma família nômade que fugiu devido a questões de herança, sem gaguejar uma única vez. Acredito que consegui dissipar qualquer suspeita sobre minha riqueza.
Quanto às habilidades, afirmei não ter muita experiência, apenas conhecimento básico de espada. Descrevi meu corpo como pequeno e fraco, com pouca habilidade mágica.
— Agora o exame prático… — Ela olhou para meu corpo e hesitou antes de falar.
Realmente, eu não estava em um nível para fazer um teste.
— Haha. — Ri nervosamente. — Estou bem em começar como um novato.
A recepcionista pareceu visivelmente aliviada e falou com uma voz suave e encorajadora.
— Que bom. Sempre devemos começar com pequenos passos para podermos subir. Então, não fique desanimado.
— Obrigado.
— Agora, vamos passar para os procedimentos da guilda. — Ela ergueu o punho fechado e começou a listar.
— Primeiro: Você pode aceitar qualquer pedido, mas se não conseguir concluí-lo e quiser cancelar, terá que pagar uma multa à guilda.
Segundo: Nunca perca sua identificação. Elas são vinculadas unicamente a você e só pode haver um vínculo. Se perder, terá que pagar por um caro ritual para quebrar esse vínculo.
Terceiro: Claro, se o nível for superior ao relatado, você poderá pedir uma indenização por o contratante não ser honesto, mas muitos não fazem isso.
Quarto: Aventureiros não podem aceitar missões de mercenários, mas os mercenários podem aceitar missões de aventureiros. —
Eu suspeitava da diferença entre os dois, só não sabia da existência de uma exigência como essa.
— Qual é a diferença entre mercenário e aventureiro para essa divisão?
O rosto da recepcionista endureceu por um momento, mas logo voltou a sorrir.
— Bem… A diferença fundamental está no tipo de trabalho. Aventureiros lidam mais com criaturas e têm uma certa garantia, enquanto os mercenários lidam principalmente com humanos e são contratados com base na confiança…
Ela fez uma pausa para reorganizar a resposta, com o dedo no queixo.
— Mercenários podem participar de guerras entre facções, escolhendo um lado, e a guilda não interfere no tipo de pagamento do trabalho, deixando tudo nas mãos do cliente e do mercenário. Já os aventureiros não estão envolvidos em tais questões. Seus trabalhos têm uma quantia mais definida e uma certa garantia de níveis.
— Por que há essa divisão?
— No passado, os aventureiros eram obrigados a aceitar pedidos que envolviam negociações e até mesmo o assassinato de humanos. Isso afetou gravemente a confiança na guilda, então esse sistema foi criado para corrigir isso.
— Então é uma escolha?
— Sim, é uma escolha entre se tornar apenas um matador de bestas ou lidar também com questões envolvendo humanos. Mais alguma dúvida? — Assenti negativamente.
Com um sorriso, ela tirou um pequeno cartão de metal e uma faca. — Então vamos fazer seu registro. Só precisa colocar seu sangue no metal recitando seu nome.
Peguei a adaga, cortei meu dedo e deixei uma gota cair no cartão. Não demorou muito para um brilho fraco surgir.
— Atalis. — Ao dizer meu nome, o brilho no cartão cessou. Senti uma estranha conexão, como se mesmo perdendo-o, poderia encontrá-lo em qualquer lugar.
Na aparência, o cartão não mudou muito. Continha apenas meu nome, parecendo um cartão de identidade da minha vida passada.
— Agora esse cartão é sua identidade. Não tem muita coisa agora, mas ao longo de sua jornada, ele será útil para entrar em grandes centros.
Terminando, ela estendeu a mão, e eu respondi da mesma forma, seu sorriso nunca deixando seu rosto.
—Seja bem vindo ao mundo dos viajantes Atalis.
—Obrigado.
Agora, eu estava diante de um quadro de pedidos para novatos. Entre as missões dessa categoria estavam coletar ervas, ajudar um grupo de caçadores ou lidar com monstros de baixo nível.
“Vamos pegar essas.” Escolhi duas missões: ajudar um fazendeiro a entregar uma encomenda em uma vila algumas horas de distância e coletar ervas medicinais baratas. Entreguei os cartazes juntamente com meu cartão no balcão, e o homem os reconheceu, colocando-os sob minha responsabilidade.
Quando peguei meu cartão com as inscrições das missões, meu coração batia rápido. Era a minha primeira missão oficial, e eu estava extremamente feliz. O homem, vendo minha empolgação, não conseguiu segurar o riso.
— Hahaha, agora você só precisa completar. Faça dessa experiência algo inesquecível, Atalis. — Congelei quando ele disse meu nome, só me acalmando ao lembrar do registro no cartão.
— Farei.
Saí da guilda, montei em Lucy e fui para a pousada. Era final da tarde e estava escurecendo, então preferi não andar pelas ruas à noite, pois não daria tempo para realizar as missões. Paguei duas moedas de cobre pela comida e fui dormir, ciente de que teria que acordar cedo para a viagem, aproveitando para caçar no caminho. Se não completasse essas missões, teria que dormir sob as estrelas.
No dia seguinte, ao sair da pousada, encontrei Lucy esperando perto da entrada.
“Está na hora.” Era hora de ter uma conversa séria com Lucy.
Caminhei na direção dela com uma expressão séria. Lucy, prestes a me cumprimentar, parou e começou a me encarar quando viu meu rosto.
— Lucy, precisamos conversar. — Lucy não fez nenhum barulho, mantendo seu olhar em mim.
— Quero te avisar que me tornei um mercenário. Irei viajar para muitos lugares potencialmente perigosos e, sendo sincero, posso morrer a qualquer momento.
A vida de um mercenário era instável e muito perigosa, e pelas memórias de Luke, eu podia sentir os perigos.
— Então… quero te perguntar… você ficará ao meu lado?
Nesse momento, o mundo ao nosso redor parecia ficar silencioso. A rua antes barulhenta ficou em silêncio, e tudo ao redor estava embaçado, exceto Lucy. Agora, só existíamos nós dois, em um momento de silêncio absoluto. Meu coração batia rápido, minha ansiedade atingindo o ápice. Foi nesse momento de espera que pude confirmar algo.
“Não sou mais o ‘eu passado’.” As chances de uma possessão eram pequenas, mas nunca podiam ser descartadas. E agora, com esses sentimentos e memórias mais familiares do que nunca, eu tinha uma certeza.
Sou uma reencarnação, possuo as memórias e a alma da minha vida passada, mas a vontade é completamente diferente.
“Sou Atalis desde o nascimento, e isso está gravado.” O meu antigo ‘eu’ morreu lutando, e na sua morte nasceu Atalis. Saber da minha identidade como Atalis, e não como um ladrão do corpo de outra pessoa, era um grande alívio.
Concentre-se novamente em Lucy. Enquanto eu estava tendo uma crise de identidade, ela caminhou para ficar à minha frente.
— Off — Então ela bufou no meu rosto, carregando o significado de ‘Idiota’.
Eu ia reclamar pelo insulto, mas tive que parar quando encontrei seus olhos negros. Senti uma conexão com Lucy, algo além de uma simples amizade. Era como se nós dois estivéssemos ligados no fundo de nossos seres.
Eu podia sentir o desejo dela, o desejo de me acompanhar, o desejo de estar ao meu lado como uma companheira em quem eu deveria confiar, com uma determinação de nunca vacilar não importando o quão longe seja. Eu não sabia como, mas simplesmente entendia.
— Como pude esquecer. — Uma memória veio à minha mente, nós dois concordamos em viajar e explorar todos os cantos desse mundo.
A promessa que fizemos um ao outro, uma promessa feita enquanto observávamos a lua através dos furos do estábulo, uma promessa que permanecerá independente do tempo. Enquanto relembrava essas memórias, abracei Lucy. No mundo frio onde meus pais me deixaram, finalmente me senti quente e confortável novamente.
— Obrigado. — Essa era a única coisa que podia dizer como Atalis, a criança nascida do gelo.