Em Busca do Estrelato - Ato 1
Kate
Até o diretor dizer “corta”, por um certo tempo eles presenciam a vida de outra pessoa, vivenciando outras eras e até mundos ou uma simples vida cotidiana. Os responsáveis por essa forma de entretenimento são conhecidos como atores…
Dobro cuidadosamente o panfleto e o deslizo no bolso frontal do meu moletom. Meus olhos percorrem o amplo espaço ao redor, repleto de mulheres deslumbrantes… e uma ponta de nervosismo se insinua enquanto me encontro no meio delas.
Todas impecavelmente vestidas, em uma fila que serpenteia elegantemente um vasto salão, abrigado dentro de um edifício igualmente grandioso. Estamos no coração da colossal agência de talentos Galaxy, palco das audiências anuais que atraem mais de vinte mil pessoas de todo o país. Cada uma delas é movida por sonhos de brilhar no estrelato ou, pelo menos, de conquistar um lugar no cintilante mundo do entretenimento.
À medida que o tempo passa, meu desconforto aumenta. Este ambiente é… bem, requintado demais para mim, entende? Sou apenas uma garota comum. Não me considero a pessoa mais desajeitada do mundo, mas, em comparação com aquelas mulheres que parecem ter saído das páginas de uma revista de moda, me sinto como um gato assustado no meio de leões.
Após um tempo, uma garota loira, logo à minha frente, resmunga sarcasticamente: “Moletom? Sério?” uma onda de pequenas risadinhas escapam da boca das garotas que a rodeiam.
— Bem… sim — respondo, um tanto envergonhada, enquanto as garotas à sua frente continuam a rir.
Entendo porque riem. Todas elas estão lindas, usando vestidos e roupas deslumbrantes, enquanto eu… bem, eu continuo do jeito que sempre fui. Não tenho muitas roupas então minhas opções são limitadas. Mesmo se eu tivesse um guarda-roupa repleto, duvido que conseguiria me vestir com metade do estilo delas. Não tenho um senso de moda desenvolvido e, na verdade, me preocupo mais com meus irmãos mais novos do que comigo mesma.
Mesmo assim, é meio cruel rirem de outra pessoa só pela maneira que ela está vestida, mas parece que as coisas funcionam desse jeito para algumas pessoas.
As próximas candidatas já podem entrar
O som vindo das caixas de som presas às paredes indica que a sessão atual está prestes a terminar. Outro grupo de oito garotas sai do salão, enquanto todas na fila aguardam sua vez pacientemente. Elas seguem em direção à grande porta de vidro, e dois homens elegantemente vestidos com ternos abrem caminho para deixa-las passar. As oito garotas anteriores aguardam que as atuais entrem antes de saírem.
Se não houver nenhuma mudança mágica nos planos, eu entrarei na próxima sessão.
De repente, sinto um toque leve em meu ombro. Uma voz suave ecoa em meu ouvido:
— No final, só sua atuação importa.
Ao me virar, me deparo com uma garota tão esplêndida quanto as outras, usa um vestido que realça a intensidade de seus olhos azuis e seus cabelos cacheados. Ela sorri com gentileza, uma lufada de ar fresco em meio à hostilidade que parece permear o ambiente.
— É, você tem razão — respondo com um leve sorriso.
Logo após minha resposta, ela prossegue, com uma nota de preocupação em sua voz:
— Mas é estranho. A última sessão durou apenas dez minutos, a anterior quinze, e a primeira trinta. Parece que…
— …parece que eles não querem perder tempo com “lixo” – a personificação da empatia, que está na minha frente, interrompe.
— Eu não iria dizer isso.
— Não importa, é o que estão fazendo.
— Como você pode ter tanta certeza? E não acha que é um pouco cruel falar assim? — pergunto.
— Bem, este é o mundo do entretenimento, “amiga”. Não é como se alguém como você, que nem mesmo sei o que está fazendo aqui, fosse entender.
Recebo a resposta dela com um aperto no peito, sabendo que não pertenço a esse mundo. Fui persuadida por meu irmão, que insiste que sou uma atriz genial, destinada a isso, que não me vê fazendo qualquer outra coisa no futuro. Ele é tão gentil, e apesar de seus nove anos, tenta ser forte. Apenas espero que as situações difíceis que enfrentamos não façam com que ele e sua irmã gêmea, amadureçam rápido demais.
Baixo um pouco a cabeça e encaro o chão, com um sentimento de mágoa que não posso evitar. A garota, de certa forma, acertou em cheio, atirando em meu rosto a dura realidade que já sabia desde que pus o pé neste prédio. Só vim aqui devido à insistência do meu irmãozinho e ao fato de que fui demitida do meu último emprego. Parece que não tenho muito a perder, exceto minha pouca dignidade.
— Ignore isso — a garota no vestido azul diz enquanto coloca a mão no meu ombro mais uma vez — qual é o seu nome?
— Kate… Kate Taylor. E o seu?
— Jéssica! — ela responde com um sorriso tão contagiante que me vejo sorrindo de volta.
As próximas candidatas já podem entrar
Chegou o momento da verdade, e eu me junto às outras sete meninas, todas aparentemente um tanto nervosas. E não posso negar que me encaixo nesse grupo. Jéssica está entre elas, o que me traz um certo rompimento, mas a “senhorita empatia” também está lá, ostentando um olhar confiante, movendo-se com saltos que parecem valer mais do que o meu guarda-roupa inteiro.
À medida que passamos pela porta de vidro, ouvimos um educado “boa sorte” dos rapazes de terno. Todas, inclusive eu, respondemos com um agradecimento com a cabeça, mas a senhorita empatia simplesmente ignora e segue adiante com sua postura altiva. É notável, mesmo em um grupo de meninas que já parecem estar desfilando em uma passarela… como ela consegue se destacar de maneira irritante!
Após percorrermos um corredor relativamente longo, todos nós atravessamos outra porta que nos leva a uma sala fechada com uma imponente mesa curva de madeira ao fundo. Na mesa, algumas pessoas que aparentam ser os “juízes” estão sentadas, e um deles começa a falar.
— Bem-vindas, meninas. Em breve iniciaremos o teste. Por favor, alinhem-se aqui, à nossa frente.
No centro da sala, cinco pessoas estão sentadas à mesa, incluindo uma mulher de meia-idade com cabelos loiros presos em um coque que nos observa com um olhar penetrante e roupas que exalam elegância. Seus olhos verdes parecem vasculhar cada movimento nosso, criando um frio na minha barriga.
Outra figura que me chama a atenção é um cara na casa dos trinta com um pequeno rabo de cavalo, barba curta, olhos castanhos, pele branca ligeiramente bronzeada e sinceramente o que me surpreende é o fato dele está com o dedo no ouvido, coçando com uma certa… Convicção ?
Eu oficialmente tenho medo de um dos juízes e acho o outro estranho, os demais são mais bem encarados/normais, incluindo o que estava falando.
Quando finalmente nos alinhamos em frente a mesa, a mulher que nos encarava desde o segundo em que entramos naquela sala finalmente começa a falar, me pegando de surpresa.
— Eu quero uma expressão que demonstre tristeza.
Sua voz ecoou suavemente, mas com uma firmeza que penetrou em cada coração presente. Rapidamente, todos entenderam o pedido, mudando suas feições conforme o seu desejo. Eu, entretanto, levei um instante a mais para absorver a informação, graças ao coceirinha ali que me distraiu.
“Uma expressão de tristeza”
As palavras dela ecoaram em mim, me atingindo profundamente. Em um instante, fui transportada de volta ao dia em que minha mãe partiu, quando precisei ser forte diante dos meus irmãos, segurando as lágrimas que ameaçavam me dominar. Minha visão, embaçada, se fixou em meus irmãos, que estavam naquele mesmo estado de desamparo. Sem pensar, agachei-me e os abracei, escondendo meu rosto em seus ombros. E então, como um rio incontido, as lágrimas finalmente caíram enquanto sentia o gosto metálico do sangue em meus lábios, resultado de uma forte mordida que dei em mim mesma, naquele momento de sofrimento…
Os juízes me observam, perplexos, enquanto lágrimas escorrem pelo meu rosto e minha mão repousa sobre os lábios, fico surpresa ao notar um leve sangramento.
— Já vi o suficiente — proclama a mulher ao centro da mesa, encerrando a audição abruptamente
Todos os juízes me encaram surpresos, as demais garotas não entenderam muito bem o porque já que provavelmente estavam mais preocupadas com os próprios desempenhos.
Outro juiz intervém, anunciando que podemos nos retirar e aguardar o resultado dos testes, que chegará em breve por correspondência. Com corações acelerados, todas nós agradecemos e deixamos a sala, a cada passo nos perguntando, “o que o futuro nos reserva?”