Em Outro Mundo Como um Oni - Capítulo 11
— … — Não podia evitar de encarar a criança, ela parecia solitária, deve estar se sentindo abandonada, ela está sendo evitada desde que completou seu cadastro na guilda. Não era a obra de arquitetura mais legal que eu já vi, mas era boa. Colunas diagonais seguram o segundo andar, era um prédio muito bom, apesar de parecer algo qualquer do lado de fora, por dentro era muito bom, incluindo chão feito de tijolos de pedra. O bar tem cerca de umas oito mesas redondas, cada uma com umas quatro ou seis cadeiras.
Estou em um dos bancos no balcão do bar, encarando a criança de soslaio. Era simples ir de um lugar ao outro. O balcão da recepcionista, assim como quem “registra” os aventureiros, ficava na parte da frente, e atrás dela ficava a sala de informações, missões abandonadas ou de muito tempo atrás, fora o banco, e a sala de funcionários. Mais para o fundo do lado direito do primeiro andar, estava o bar, só de entrar, você poderia ver o balcão de recepção e as salas e pessoas do outro lado, o bar, e as escadarias que levavam ao segundo andar.
Sinceramente era bem bonito os móveis, feitos de madeira marrom, no hall principal, tinha alguns sofás e bancos para as pessoas se sentarem. De fato, esse era o Salão de Aventureiros e não o Salão de Clientes, por isso era tão “distinto” do que se esperaria de uma grande companhia. — Tsc, cansei de esperar. Vou ir falar com ela. — Me levantando do banco, eu caminho até a criança. Cansei de esperar. Sua expressão era um pouco vazia, sem emoção. O que se passa na cabeça dela?
(…)
Estou parado, sentado em um banco, com um olhar vazio em meu rosto, pensando se me tornar um aventureiro foi a escolha correta. Geralmente as coisas estão na língua da terra natal do reencarnado em tenseis ou isekais. No meu caso, isso não ocorreu, são símbolos estranhos. O que eu estou fazendo? No meu palácio mental, fazendo simulações. Eu tenho uma ideia, se eu posso modificar esse “palácio” e fazer ele de “fato um plano mental”, atualmente, só serve para eu rever memórias e fazer simulações com base no que vi ou estou presenciando.
Não sei se fiz a escolha certa em me tornar um aventureiro. Devo primeiro dar um jeito de aprender a ler. Vi todo o quadro daqui de missões, tentando ver se alguma simulação consegue desvendar os símbolos desse mundo. Só espero que seja alfabeto fônico e não ideográfico.
— Ei, garoto. — Alguém me chama, me tirando a concentração, basicamente me forçando a sair do meu palácio mental. Olhei para cima, e lá estava parada o que eu assumo ser uma elfa. Um rosto bonito, não era lindo, mas bonito, trajando cota de malha, placas de metal que protegia o peito, joelhos e uma calça de couro, fora sapatos provavelmente de couro também, todos da cor areia. Por incrível que pareça, sua roupa-armadura não tem mangas, em seu pescoço, um cachecol que mais parece uma cobra amarela. Me chame de idiota, mas ela parece uma espécie de ninja do deserto.
Rosto era particularmente oval e com olhos pequenos e puxados com a íris cor de avelã, cabelos bem cuidados castanho-loiro cortados na altura dos ombros e uma pele alva em contraste de alguém que estava em um deserto. Que merda é essa? É alguma regra escrita que toda mulher desse mundo tem que ser 7/10? Na verdade… eu não vi homens feios também… o que raios está de errado nesse lugar? Pessoas feias são proibidas por aqui?
— Você está um pouco solitário, está tudo bem? Sei que você não é humano, mas não é normal uma criança fazer expressões tão vazias. — Ela me olha olho no olho. É a primeira vez desde que saí do mar morto — apesar de ter sido a poucas horas atrás — que alguém nessa maldita superfície me olha como um igual. Como eu sei disso? Simples, eu consigo ver no olhar. Sem medo, apreensão ou mesmo ganância, alguém me olhando por quem eu sou.
— Sim. Eu estou bem, e bem, eu sou uma garota. — Apesar de não gostar disso, uma hora vou ter que aceitar que o corpo que eu tenho não é mais de um homem, mas sim de uma garota, quanto mais rápido eu aceitar, creio que mais rápido será para me acostumar, apesar de ser estranho pensar nisso dessa forma. Essa mulher tinha um cheiro bem mais doce que as mulheres normais. Se eu tivesse que comparar, era como um doce natural, quase como mel para ser exato. Aquela mulher, Erica eu acho, tinha um cheiro doce também, mas o dela fedia mais como o cheiro de maquiagem, essa mulher na minha frente tinha um cheiro de mel.
— Então por que está com uma expressão tão vazia? — Duh… não precisa ser tão direta, sabia? Tenho emoções, olhando para a cara dela, não havia expressão alguma de piedade ou… pena, apenas curiosidade? Que pessoa estranha, muitos aqui me olham com nojo, medo ou raiva, mas não curiosidade.
— Eu pensei que me tornar uma aventureira seria uma boa escolha, sabe? Posso conseguir conversar com todas as pessoas de forma fluente, mas não sei ler. Estou pensando em como contar esse problema, sem me constranger. — Sussurrei, pela primeira vez eu acho que minha voz soou feminina, como uma criança da “idade” que eu deveria ter, uns oito ou dez anos de idade, ao menos fisicamente. É estranho pensar que meu corpo tinha uma voz tão “feminina” e aguda, quando a minha voz, a voz da minha mente tinha uma voz, bem, a minha voz que era mais rouca e grossa que a voz do meu corpo. Eu não sentia esse problema quando era um monstro feio, mas creio que seja uma troca justa, uma voz de garota, por um corpo menos feio.
—Você não sabe ler? Entendo, isso não é tão problemático, muitos aventureiros de Ranque baixo não sabem ler, e isso no caso é um problema menor mas que pode ser ignorado. Não se preocupe, todos temos um ponto que não somos fortes. — A mulher acenava com a mão, fechando os olhos, tentando me tranquilizar, finalmente, alguém percebeu que sou a porra de uma criança. Hallelujah!
Ainda sim, eu sinto como se fosse chorar se pensasse nisso um pouco mais. Sem casa, parentes, amigos, dinheiro, analfabeta e sem conhecimento sobre como esse mundo funciona. Maldita sorte… Droga, acho que magoei ela. Ela é muito mais racional do que parece, tem um ego tão forte e avançado que entende o fato dela ser burra, e eu ter tocado na ferida… A Elfa me encara, como se estivesse pensando em algo? — Desculpe, fui muito indelicada. Se importa se eu conversar com você um pouco? — Uma pessoa sensível, finalmente. Aceno com a minha cabeça, indo um pouco para o lado, dando espaço para ela sentar.
— Me chamo Kyhali Nuirla, sou uma elfo. — Com um sorriso gentil, ela aproxima sua mão direita ao topo da minha cabeça e logo a movia… fazendo um headpat. Heheh, isso é bem vindo, obrigado. Os olhos dela se arregalam, mas ela não recua e continua fazendo os headpats. Ela confia muito fácil… ou apenas não viu que eu tinha intenções hostis… Provável que seja a segunda opção, me impressiona uma Monma Nionio ser tão… inocente. Os cafunés continuavam por alguns segundos, quando ela tira suas mãos, talvez por reflexo, ou por querer atenção, talvez ambos, agarro a mão dela e a coloca novamente em minha cabeça.
Essa moça é muito legal. Sinceramente, ser tratada como uma pessoa após o que aconteceu é tão bom… se eu soubesse que seria assim, talvez nunca teria saído do mar morto. — Então, o que gostaria de conversar? — Fazendo meu sorriso mais meigo e inocente, olho para a mulher, que apenas fica com suas bochechas um pouco rosadas. — Desculpe, acho que você não ouviu meu nome, eu sou Etria Saeng Lumaeri. — De alguma forma, sinto que logo esse momento de paz vai ser arruinado, além dessa sensação de ter alguém me observando…