Em Outro Mundo Como um Oni - Capítulo 16
(Fortaleza do Deserto – Mamarom)
— Ah, eu estou cansado, ao que parece, a Garrafa da Montanha, é um ramo bem maior do que eu pensava, é realmente uma grande “organização” pelo que Kyhali me falou. Onde eu estou agora? No “meu quarto”, olhando o teto. Já está escurecendo, estou deitado na cama, não é tão macia quanto as camas no submarino de Nicolau, mas é bom o suficiente. Na verdade, vou deixar meu corpo descansar e usar meus poderes de uma forma mais interessante.
Aquelas palavras da Madame Sabbaoth me deram uma coceira. Para a minha raça, os Onis, o tempo passa cerca de sessenta vezes mais rápido do que para humanos? Algo assim. Isso me ajuda em muitas coisas, minha percepção de tempo está muito dúbia, desde que eu saí daquela câmara da caverna e viajei com Nicolau, estou assim, algumas vezes o tempo passa rápido demais, outra hora era normal, e essa sensação de não estar sozinha também… Estou com minha percepção dúbia, então é melhor eu dar um jeito de resolver isso. Sentir o tempo mais rápido é bom? É, mas isso não é tão bom por outro lado. Eu sei que não posso lutar contra isso, o tempo vai ser assim de qualquer forma.
Então eu vou usar outra coisa, me manter em um estado de grande concentração. Assim, eu posso aproveitar os momentos sem eles passarem muito rápido. Apesar de que, minha percepção de tempo vai ser acelerada de qualquer jeito, eu só vou aproveitar mais as coisas. — Para criar um feitiço… — Apesar de não ter nenhum treinamento nisso, eu não sou bom usando magia ortodoxa, mas isso deve bastar. Tento me lembrar das magias que vi, mas fora a magia não ortodoxa, acho que só a tatuagem que eu ganhei de Nicolau é uma magia de fato.
— Um símbolo, um círculo, que tal eu fazer isso? Um símbolo mental… — Lembrei de algo que estava pensando mais cedo. Sobre acessar ou criar um espaço imaginário para mim, além da minha “biblioteca mental” ou memórias. Vou acessar minhas memórias, não há nada melhor para se fazer agora mesmo, assim talvez eu consigo deixar meu corpo ter um bom descanso, esse dia foi uma merda em todos os sentidos possíveis, aaaaah. Que droga.
(Memórias)
— Aqui eu estou. — Olhando para os lados, estou tentando achar algo. Pode parecer simples, mas não é. Caminhar aqui é um inferno, tenho de pensar numa memória e “caminhar até ela”. Não era só pensar que trocava, seria tão mais fácil se fosse. — O maior espaço que eu vi… Ah, o espaço de Jarenel. — Me lembrando do espaço sideral que eu vi antes de ser reencarnado, aquele seria o melhor lugar. Pensando nele, começo a “caminhar”. Passando por algumas memórias, como quando eu fiz meu aniversário de dez anos. Muitas pessoas estavam lá. Meu avô, meu pai, minha mãe, tios e tias. Primos… muita gente. Foi divertido. Tantos rostos felizes, que nunca mais verei…
— Isso me lembrou de algo. — Mesmo aqui, meu corpo ainda é o mesmo de fora, o de um Oni, será que eu já aceitei minha nova condição, ou já aceitei desde o começo? Em comparação, essa forma era mais forte, rápida, enquanto o meu antigo “eu” não era nada impressionante. Medíocre e o normal de um Brasileiro com uma vida corrida, acho que eu era moreno? Deveria ser, normal em comparação com a minha aparência atual, com um ar frágil e meigo, porém enganoso quando se vê minha raça. Eu tinha barba por fazer? Acho que naquele dia eu não fiz a barba. O que estava usando? Não me lembro muito bem, uma calça jeans? Sapatos bege, uma camisa branca e um casaco amarelo, talvez?
— Agora tenho que ir. — Caminhando pelas memórias, a cada passo sinto uma sombra, como um intruso dentro da minha mente, algo a corrigir, caminho até a memória onde eu estou com Jarenel, onde sinto essa sombra. Ela sempre esteve lá? Desde que saí do mar morto, sinto essa sensação, algo me observando, não sei dizer se ela sempre esteve aqui, ou é algo recente… — Aqui é mais bonito do que eu me lembrava… — Olho em volta, aquele espaço estrelado onde eu conversei com aquele Anjo sacana, estrelas e planetas ao meu redor e abaixo de mim, o planeta Terra, perfeito.
Como sei que é o planeta terra e não o outro mundo? Simples, a posição dos continentes era a mesma assim como o formato deles. — Legal, simulação, não. Espaço mental criar! — Grito, tentando chamar a atenção do meu inquilino indesejado enquanto também tento criar meu palácio mental, porém nada acontecia. — Éh? De novo, ESPAÇO MENTAL, CRIAR! — Grito de novo, esperando um palácio mental baseado nesse lugar, porém nada acontecia. — Cacete! Vamos de novo. ESPAÇO MENTAL CR—
— Você pode parar de ser tão barulhento? Porra, meus ouvidos tão doendo! Caralho! — E aqui está, a sombra em minha mente… essa voz familiar, irritante, sacana e malévola. O que isso está fazendo aqui? Não… são diferentes. Encarando o Anjo gigante em minha frente, era diferente de como eu me lembrava, olhando para suas costas, quatro de suas asas eram douradas, enquanto as duas restantes eram brancas… Seja o que for isso… talvez não seja a coisa real?
— Yo… O que você está fazendo aqui? No mínimo, você não deveria estar aqui, me lembro das palavras que disse a mim, “Até nunca mais”. — Meus lábios tremem, com um sorriso nervoso se formando em meu rosto, sinto veias saltando em meu rosto, e minhas pernas começando a tremer de raiva, frente a essa coisa em formato de “Anjo”.
— Eu sou um anjo meu garoto, acha que minha presença em si não tomaria consciência quando você tenta-se acessar suas memórias? — Um sorriso macabro surge no rosto do anjo, me fazendo engolir seco e recuar um passo. Isso tinha um ponto, mas ainda sim, sinto algo errado. Muito errado. O sentimento se alastra pelo meu interior, como um verme se arrastando por dentro da minha barriga, enquanto eu e essa coisa nos encaramos nos olhos, seu rosto se distorcendo, enquanto sua boca se abre para cuspir mais palavras venenosas…