Em Outro Mundo Como um Oni - Capítulo 18
Nossos olhos se encontram, uma sensação familiar permanece no meu peito… como se eu já tivesse visto essa garota antes, acho que já, vendo seu chifre quebrado, acho que sei bem quem ela é… essa sensação… — Você é a pessoa que vem me observando, não é? — Algo dentro de mim se resolvia, como um quebra cabeça que finalmente fez sentido. Tenho a ligeira sensação de que ela… também sou eu.
— Sim, de fato, sou eu quem lhe vem observando… junto a aquele parasita.
— Quem é você, exatamente? Você tem o meu chifre quebrado… o mesmo exato chifre. — Ela coloca a mão no queixo, fazendo uma expressão pensativa, desviando o olhar brevemente, antes de me encarar olho no olho, novamente. — Antes de responder isso… poderia me dizer, quem é você?
— Eu? Eu sou… Eu sou… — Um reencarnado? Com certeza, um adulto no corpo de criança? Sim… ainda, não acho que seja esse tipo de coisa que ela quer dizer. O que eu venho fazendo de fato? Correr de um lugar ao outro como uma mula sem cabeça, lutar, me ferir por descuido e ser ajudada por estranhos. Quem eu sou de fato? Até agora… eu não fiz nada, na vida anterior eu era um universitário, filho, bom samaritano, enquanto aqui… eu não sou nada… não consigo nem lembrar meu nome original… nome que Jarenel pegou. O nome gravado em minha mente é apenas Etria Saeng Lumaeri…
— Você percebeu, não é? Eu não sei seu nome humano, seu nome de antes. Somente o seu de agora. Acho que é óbvio o que eu quero dizer…
— A vida é uma vadia, ah. Normalidade não vai ser algo que vou ter muito na minha vida, não é?
Com um aceno de cabeça, ela responde tudo o que eu preciso ouvir. Abandonar o passado, aceitar meu futuro, quem eu sou… e seguir em frente. acho que é isso, quem eu fui já se foi, abraçar o que sou agora, um Demônio que praticou homicídio. Certo, eu morri atropelado no meu mundo antigo, e fui reencarnado em outro como um Oni em um oceano que afundou, chamado Mar Morto numa terra onde magia existe, fantasia e criaturas além da imaginação. Creio que o tolo sou eu por me prender ao passado.
— Creio que agora é a hora de eu dar satisfação de quem eu sou.
— Certo. — Apesar de eu ter uma ideia de quem você é. Era algo que queria falar, mas deixei quieto na minha garganta. Desviando o meu olhar para encarar fixamente essa Oni. Era uma questão de pouquíssimos centímetros, mas conseguia ver a mão dela tremendo, nervosismo? Talvez. Abrindo sua boca, e engolindo um pouco de ar, ela começa a falar.
— Sei que tem muitas perguntas, mas primeiramente, você sabe os detalhes da reencarnação? De como reencarnou no corpo que você está. Você nunca teve perguntas? — Honestamente, nunca, muito ocupada treinando, matando enguias gigantes, ou ficando revoltada em como fui tratada na superfície.
— … Sem querer ser intrusiva, mas eu consigo ler seus pensamentos, sabe?
— Oh, foi mal. Então, o que isso tem haver com a “nossa” situação aqui?
— Sobre isso, antes de você reencarnar nesse corpo, eu “fiz” um trato com aquele anjo; ele disse que se eu fosse um receptáculo para uma outra alma, eu ganharia muito poder, um poder inimaginável para mim. Para nós, Monma Nionios—
— Correção, Onis. — Com um suspiro pesado, a garota de cabelos negros olha nos meus olhos… Com uma pigarreia, ela continua o seu discurso. — Nos primeiros estágios da infância da nossa raça, poder é tudo. Nós nos matamos, devoramos por força, para provar nossa força, para sermos fortes. Aceitei sem pensar duas vezes, se é que eu realmente pensava em algo, e você virou o verdadeiro dono desse corpo. — Puta merda, eu roubei o corpo dela, caralho, porra.
— Então a razão de eu ser uma garota agora é por você, não é? Esse é o seu corpo. Mas por que aqui eu tenho apenas um chifre, e você tem dois? E além disso, você tem um chifre cortado, igual ao meu… Eu entendi o que você disse, mas essa parte, eu não consigo entender. — Por que somos tão diferentes? Se ela é a “dona” desse corpo, porque nossas aparências são tão diferentes? Questão de gosto?
— Nossas almas são diferentes, você e eu. Esse corpo, o seu corpo, respondeu ao crescimento de duas almas, a minha e a sua. O chifre no meio da testa foi o primeiro a se desenvolver, esse é o seu chifre de verdade, e os dois que se desenvolveram depois, são os meus. — Em um movimento suave, ela leva sua mão em direção ao chifre cortado… Desculpa.
— Desculpa pelo chifre… mas ainda tenho perguntas. Por que somos tão diferentes uma da outra e além disso, o que as almas têm a ver com o crescimento do corpo?
— Isso é uma conjectura minha, mas, acredito que as almas influenciam no crescimento de Mo- Onis por isso você é tão forte, resistente e rápida. O seu corpo cresceu por mim e por você, e somou nossas forças em uma coisa só. Somos diferentes porque nossas almas são diferentes. Sua alma de humano se transformou na alma de um Mo- Oni. por causa do corpo e circunstância e por minha alma compartilhar o corpo com a sua. Por isso nossos crescimentos são diferentes.
— Acho que entendi, mas isso é estranho. Ouvi que Onis são burros, e não pensam nos primeiros estágios da vida deles, então como você pode ser tão… esperta? E diferente de mim? Se você era uma recém-nascida, por que ficou tão diferente de mim? Não era para nossas almas serem quase idênticas então? Por causa da troca de informações? — Ela faz careta, talvez pensando sobre o que eu falei?
— Sim, você está certa. Teoricamente, era para eu ser um quadro em branco. Porém, quando você pegou o meu corpo, eu vim para cá, para esse reino mental, eu não liguei a princípio, mas então eu caminhei por aqui, vendo suas memórias, suas experiências de vida, às vivendo por você também, sentindo o que você sentia. Eu tive muito tempo para fazer isso. — Sua voz toma um tom monótono, não há algo a mais na voz dela, como um desejo, um… anseio.
— Ao contrário de visualizar memórias, eu estava realmente no plano mental de verdade, eu estava vendo tudo, vivendo tudo o que você passou, ou estava passando. Isso foi me moldando, como moldou você, mas eu sou uma Oni, e respondi a esses estímulos de formas diferentes. Mesmo que eu estivesse presa em uma prisão mental, incapaz de mudar algo, eu vivi através de suas memórias, as vi, cada uma delas, com um fantasma em sua mente. Assim, eu consegui alcançar uma evolução.
— Ao contrário dos meus pares naturais, consegui consciência muito mais rápido, acessando a vida de outro ser, as memórias da sua vida passada, mas sou diferente. Eu me tornei diferente de você. — Engulo seco, e se ela quiser o corpo de volta? As chances são baixas, mas não impossíveis pelo o que ela disse, ela não quer o corpo de volta, mas ainda sim, isso pode ser uma estratégia para baixar a minha guarda.
— Não se preocupe, não tenho interesse em voltar ao comando, você é o dono desse corpo agora. Eu apenas quero viver com você, ficar onde eu estou, enquanto você vive. Aprender com suas memórias, sua visão. —Ela sorri, de forma pura, o sorriso mais puro que já vi nessa vida, e na outra. Talvez ela realmente queira fazer jus a suas próprias palavras.