Em Outro Mundo Como um Oni - Capítulo 2
— … — Já faz alguns dias que estou aqui, e ainda não enlouqueci, atualmente estou afiando pedras, meu corpo cresceu alguns centímetros eu acho.
Minha teoria é que eu estou na fase infantil seja lá do que eu for. Estou afiando pedras para fazer uma lança.
Sinceramente, está difícil fazer lanças, eu só consigo fazer três até agora, ter uma mão quase inutilizada é um porre, mas estou me virando. Ontem eu consegui descobrir meu poder: posso criar um espaço mental, fazer análises e simulações lá dentro. O anjo não decepcionou nesse quesito.
O melhor para impedir de ficar insano, é rever minhas memórias. Isso é muito bom. Eu consegui com sorte rever as memórias daquela hora com o anjo, e descobrir como funciona melhor meu poder.
Mesmo assim, sinto sempre como se estivesse algo em minha cabeça, observando… esperando por alguma coisa. Acho que é apenas paranoia e solidão. Com certeza.
(Dois dias depois)
Já faz alguns dias desde que cheguei até aqui, fiz mais algumas lanças, e agora o que eu estou fazendo? Encarando a água. Por que? Simples, eu estou observando as silhuetas na água.
Minha visão é levemente melhor que a do ser humano padrão, sei disto pois nenhuma pessoa iria conseguir ver no breu quase total de uma caverna na mesma claridade que o dia, ou quase.
Parece que o peixe que eu peguei naquela vez era um dos grandes— só que tem um maior que ele. A carne dele ficou podre? Não, realmente parece que o corpo vicioso de um oni é capaz de comer carne estragada sem nem sentir o gosto ruim.
Sim, Oni. Me recuso a ser um Goblin. Eu não sou um Goblin.
Por quê eu estou vendo as silhuetas então? Para ver o maior predador. Uma coisa é certa desde os tempos primitivos, se você mata o maior predador as pequenas fritas dão no pé. Eu já vi o maior predador há algumas horas: ele é uma enguia enorme.
Preciso traçar uma estratégia. Me afasto do laguinho, e entro em meu buraco, fecho os olhos e logo começo a usar meu plano mental para bolar simulações de batalha. —
— Quanto mais eu atacar, mais fácil vai ser ela se enrolar em mim e me matar. Eu não posso atacar. Nos tempos antigos, uma forma de atacar predadores era deixar eles atacarem, e os enganar e espetar com uma lança, eu vou fazer simulações nesse cenário enquanto faço com outros também… —
Começava a pensar em várias simulações, em algumas decidi atacar primeiro. Outras era apenas melhor começar na defensiva.
A mais efetiva para mim era aplicar uma finta, jogar uma lança na enguia e apunhalar ela com a outra. Ficar horas aqui dentro, imaginando, pensando, simulando o que fazer, das diversas estratégias que posso fazer… é chato.
Muitas terminaram na minha morte. Eletrocutado, esmagado, asfixiado, afogado, dilacerado e etc.
A mais efetiva e certa vitória seria aplicar uma finta na criatura, a deixar atacar primeiro e a furar com as lanças enquanto atacava com a guarda aberta. Saía da minha casinha, e me espreguiçava. Minha mão ainda estava horrível, era assustador não sentir nada com isso— a ferida era muito mais mental do que física, apesar de não doer.
Ia até minhas lanças, e pegava duas delas, uma vou jogar na enguia, e a outra vou usar para apunhalar diretamente.
Vou esperar o predador sair de sua toca… Está demorando, isso é chato, apareça logo.
Após alguns minutos, ou horas, não sei. Os outros peixes do lago começaram a se esconder, para minha sorte nenhum animal tolo ia ousar interferir com o manda chuva do pedaço.
Eu dava alguns passos para trás e logo corria em direção ao lago mergulhando de cabeça, segurando minhas lanças fortemente. Não sentir dor ou nada do tipo ajuda pois posso usar duas lanças sem me preocupar com a dor ou performance… isso é assustador.
A enguia sentia o cheiro, meu cheiro na água e do cheiro de carniça do segundo maior predador do lago— que eu acabei devorando, e vinha em minha direção com tudo.
Por ser um animal selvagem, e o maior predador, ela não tinha como adivinhar minhas estratégias traiçoeiras, as estratégias traiçoeiras do ser que não tinha cauda venenosa, dentes poderosos, ou mesmo guelras.
O oni via a Enguia avançar com tudo e com a lança em sua mão sadia: ele a arremessou com toda sua força. Ferindo em cheio a “barriga” da Enguia, a fazendo parar e contorcia de dor devido a lança alojada em sua “barriga”.
Ele sentia algo errado dentro de si, um sentimento estranho e com suas pernas ele se impulsionava na água como um nadador olímpico.
O oni disparava em direção a Enguia, apontando sua mão sadia para frente como uma lâmina. Acertando a barriga da enguia sua mão passava pela enguia como uma faca passava a barriga de um peixe para arrancar suas tripas, dilacerando a barriga da enguia a abrindo.
Em um movimento inconsciente ele a mordia e arrancava um pedaço da enguia— a mordendo e digerindo.
— Wow, eu me sinto uma nova pessoa, será que isso é autossatisfação? Eu não sei, mas me faz me sentir bem! — Eu nadava até o corpo do predador caído tentando o segurar e estranhamente, eu conseguia.
Ela parecia muito mais leve! Será que a consigo levar para a caverna? Eu consigo sim! A puxava e com um empurrão a mandava para a borda da caverna. Deixando-a ficar lá e nadava rapidamente até a borda, me apoiando em seu corpo para subir de volta.
O quão grande ela era? Ela tinha pelo menos seis metros de comprimento, meu estômago roncava novamente, não vou me deixar ficar com tanta fome de novo!
Logo comecei a me empanturrar de carne de enguia. Sua aparência? Ela era uma enguia normal, com exceção de ter dentes afiados e grandes e ser tão grande.
Existiam enguias assim no meu antigo mundo? Não sei, mas eu estou comendo isso de qualquer forma.
Após alguns minutos finalmente estava cheio. Caminhei até a borda da caverna e me olhava banhado a sangue novamente, e minhas mãos… ESPERA! MINHA MÃO ESQUERDA! ELA ESTÁ CURADA?! — Eu estou curado! CURADO! —
A ferida na minha mão havia desaparecido. Não sei por quê, mas estava curado! Será que essa carne tem alguma propriedade especial? Não faço ideia, mas eu estou curado! Eu vou ficar aqui mais uns dias, e me preparar para partir!
(Alguns dias depois)
Olhava para trás, havia desmontado a casa e pegado a rede; havia prendido partes de carne da enguia e três lanças. Então eu me jogava no lago. O olhando agora, ele era bem grande.
Provavelmente tinha uns trinta metros de profundidade e era muito largo.
Com o cheiro de sangue da enguia, nenhum peixe quis vir em mim— consegui facilmente ver uma passagem e nadei até ela.
Era um túnel bem largo, mas era o único lugar que dava para alguma outra sala. Badei pelo túnel, até ser puxado por uma grande corrente de ar e água, PORRA!
Era enviado como um torpedo para cima! Logo caia em cima de uma pilha de algas, enquanto encarava as pessoas ao meu redor… eles eram bem… homens-peixe.
— Então o garoto veio em tempo. — Suspirava pesado vendo um garoto com um chifre crescendo em sua testa. Antes de ir embora uma mulher apareceu e me falou para segurar o barco por pelo menos três semanas, e o garoto chegou antes do prazo final.
Então vou o levar. — Garoto! Você mesmo aí! — Ia até ele, o encarando. Essa criança era bem feia para ser sincero, ouvidos pequenos em formação, sem nariz, dentes afiados e salientes.
Pele cinza mórbida, uma barriga inchada. Ele é pequeno, tendo pelo menos uns 70 centímetros no MÁXIMO— além de mãos com quatro dedos, olhos com escleras e íris vermelhas junto a pupilas negras. Que criança horrível. — Você quer sair da caverna, garoto?
— Hmnmm. Certo, quem é você? — O Monma Nionio perguntava, me encarando nos olhos. Esse daqui tinha potencial nele. Conseguia ver isso no fundo de seus olhos.
— Eu me chamo Nicolau. E tu garoto? — Sorria para o garoto, estendendo minha mão. O Monma Nionio segurava minha mão, apesar de hesitante.
— Desculpe Sr. Nicolau, eu realmente não tenho um nome, o senhor pode me chamar apenas de “oni”. — Ele falou com suspiro pesado. Não tem nome, que pobre alma. Porém não é meu lugar decidir um para ele.
Eu o puxava para cima, o erguendo para limpar seus ombros. Não pude evitar de sorrir ao ver a “mochila”. Preparado, ele é diferente. Essa vai ser uma viagem bem exótica. Assim como todas as outras.
— Precavido em garoto, gostei de você, vamos! Meu barco o aguarda! — Gargalhava alto, enquanto começava a caminhar até meu barco.