Em Outro Mundo Como um Oni - Capítulo 3
Eu sigo aquele homem tritão estranho. É como se a passagem, as algas… tudo foi feito para me esperar, ele sabia que eu viria? É realmente muito estranho isso. Provavelmente não devo confiar nele, mas não é como se eu tivesse alguma outra escolha.
Inconscientemente deixo minhas garras em posição como se fossem uma espada— isso realmente não foi intencional. Há alguns minutos atrás percebi que meu corpo tem ações inconscientes como essa, será algo da minha herança Oni? Eu não sou um Goblin. Não tenho certeza sobre a parte da ação subconscientes, mas se essas ações forem realmente inconscientes, tem haver com instintos de sobrevivência e combate.
— Não precisa se preocupar, pequenino. A pessoa que me contratou e me pagou para te esperar e zarpar com você, também me pagou para a sua segurança e bem-estar — ele fala com um suspiro, acho que está aborrecido com minha falta de fé — Nope, ele com certeza está.
Enquanto estivesse com ele eu estaria seguro, provavelmente. Olho em volta, é normal ser curioso, afinal eu sou uma criança da… seja lá qual for a minha espécie.
As construções do local são feitas de uma estranha madeira — eu acho que é madeira — e pedras negras. Rochas e pedras para construção são as últimas coisas que faltam aqui.
O que mais me surpreende é que aqui tem barracas de comida… ah, o cheiro de comida que não é crua… Infelizmente dinheiro é algo que eu não tenho. Que merda.
Seria muita falta de respeito minha ir explorar a cidade. Esse velho tritão já fez muito me esperando, então o mínimo que eu poderia fazer, seria seguir ele até o Navio sem reclamar. Pensava olhando para baixo, vendo meus pés com garras afiadas. É surpreendente que pernas finas como as minhas tinham tanta força para se impulsionar debaixo d’água e a força que eu tenho apesar desse corpo pequeno.
As pessoas tritões me encaram com olhares de lado, afiados, me analisando como se fosse uma aberração ou criatura, se não fosse pelo velho tritão eu provavelmente teria sido capturado ou quem sabe morto.
Bem, não posso culpá-los visto que não sou o filhote mais bonito da ninhada. Já cansei de repetir que não sou um goblin. Tenho de agradecer ao velho Tritão, obrigado Nicolau. Se não fosse você eu teria sido aberto igual um alien é aberto diariamente na área 51.
As ruas dessa estranha vila estão cheias de pessoas, se posso chamá-las assim. Elas são grandes, tendo em volta dos 1,8 metros de altura, na maioria das vezes. Ou eu sou muito baixo, uma das duas. Após andar um pouco, nós finalmente chegamos no “porto”, e claro, no barco do Velho Tritão. Apesar de ser um “barco”, ele era mais como um submarino do que qualquer barco que vi.
Não tinha semelhança em nada com os barcos que estava acostumado a ver em mídias, filmes e essas coisas. Ele não tinha velas, e nem o formato de um barco. Um formato oval quase perfeito, e algumas espécies de hélices e turbinas. Isso era um submarino! Como raios isso navega por aqui? Ah, espere, Jarenel havia dito disso ser uma espécie de oceano afundando ou algo do tipo, faz sentido ser um submarino agora.
— Isso é… incrível… — Quem diria que as pessoas desse mundo teriam um nível de engenharia tão grande ao ponto de fazer submarinos. Apesar disso, ainda tenho um sentimento estranho na minha cabeça. Quando eu estava sozinho, só tinha que me preocupar comigo mesmo, quando ficava entediado? Era só usar a minha sala mental para evitar ficar louco e me manter sempre são. Poder me focar facilmente em fazer as lanças.
Algumas coisas pareciam estranhas para mim, era como se o tempo estivesse passando mais rápido, a cada vez mais rápido. Era como se tivesse um fantasma me observando. Méh, bobagem minha. Certo, tenho que tomar cuidado com as minhas palavras, apesar de ser de outro mundo, não posso de jeito nenhum falar de coisas de outro mundo, seria estranho, e dependendo do que eu falar, até mesmo preso e morto. Eu quase chamei isso de submarino.
— Sim, de fato, uma ótima obra de engenharia e metalurgia. De fato, de fato. — O velho se gabava um enquanto dava um longo sorriso. Olhando ele mais de perto, era como se um tubarão tivesse ganhado pernas e um corpo de pessoa. — Ele era grande, tinha um tronco grande, quase tão largo quanto o de um body builder, e braços com a grossura de coxas. Deus, o que esse cara fez para ser tão forte? Mas suas pernas eram pequenas e um pouco grossas, chegava a ser um pouco cômico.
Corpo grande, braços fortes e pernas pequenas. Será que ele também malhava para impressionar garotas? Sua cabeça tem o formato de uma cabeça humana, mas com um focinho de tubarão e os dentes de um também. Ele tinha uma barbatana nas costas… será que eles são fu… Não. Pense nisso depois. Não agora, nem nunca. Nope. Ele usa uma camisa larga e aberta, junto a calças de pano grosso. Bem, um bom gosto para roupas, eu acho. Além dele ser velho, então ele deveria usar uma bermuda e não uma calça, mas dá para relevar.
— Entendo. — Com um aceno de cabeça, concordo e logo uma espécie de ponte se abre, se inclinando para frente e fazendo uma rampa, como um navio? Eu acho? Ele subia na rampa e logo eu o segui, entrando junto dele no navio-submarino fantasioso. Estamos numa espécie de sala de recepção, mas o capitão não fala nada com ninguém, apenas cumprimentava seus prováveis marujos e segue em frente.
Eu… fiquei parado. Era estranho, muitos dos prováveis marujos olham para mim com olhos curiosos, enquanto o que parecia “pessoas normais” me olham com terror. Isso era humilhante. Não pude evitar de abaixar a cabeça em vergonha. Eu não sei fazer roupa alguma! Não tenho habilidade alguma em alfaiataria e nem ao menos consegui cozinhar a carne que eu como! Se eu não fosse um oni, eu provavelmente nem conseguiria comer aquela carne a princípio…
Viva a fisionomia de um oni? De qualquer jeito, Nicolau se vira para mim com uma carranca. Um sentimento de terror se estende pela minha espinha, ruim, isso era ruim. Esse sentimento era ruim, pior do que do peixe que quase comeu minha mão. Usei a minha simulação naquele momento, se tenho alguma chance de ganhar, é através desse poder. Atacando, defendendo ou o enganando com fintas. Todos os resultados que eu vi naquele curto espaço de tempo terminavam com uma coisa. Morte. Arrivederci, novo mundo… foi um inferno te conhecer.
— O que está esperando? Me siga, eu te levarei até seu quarto. — Nicolau volta a andar. Senti como se meu coração fosse escapar do meu peito. Sério… não me assuste assim, tenho um coração fraco! Ou ao menos, eu tinha um. Agora eu não tenho certeza. Voltando aos meus sentidos, o velho já estava muito em minha frente. Com um gole de ar, corri para o alcançar. Eu estou um pouco molhado, isso não deve ser problema, certo? Eles são tritões. Isso soou muito mal…
Eu e o Velho continuamos a caminhar por alguns minutos. Quando chegamos ao meu “quarto”, ele tinha uma sala com diversos peixes empalhados, uma cadeira feita de madeira, e algumas armas e varas de pescas também estavam em armações nas paredes. — Incrível. — É uma bela sala, decorada com móveis feitos de… eu acho que é carvalho, e outras madeiras, e com armações em bronze. Seria uma sala de luxo no meu antigo mundo. Decorado com móveis e ornamentos barrocos.
Por alguma razão tenho a sensação de que essa não era a minha sala. Talvez os peixes, as varas de pesca, e a porra de uma escrivaninha com um.. abajur? Sério… eu estou em um mundo de fantasia ou nos anos 30? Ainda estava molhado e nu… no meio de uma sala como essa. Tenho vontade de voltar para aquele buraco e me encolher de vergonha.
Ainda estou molhado, realmente preciso de roupas, e uma toalha. Não aguento mais ficar pelado, antes eu nem percebia por estar sozinho e focado em matar uma enguia, mas agora que regressei a uma sociedade, isso é bem humilhante, mas bem, a sala ainda era incrível.
— Porém essa sala realmente não me parece como um quarto. Por algum acaso, essa é a sua sala, Capitão? — Não conseguia ler os símbolos que havia em placas abaixo dos peixes empalhados, das armas e varas de pesca. Estavam escritas em uma língua que desconheço. Os símbolos não eram nada como o alfabeto Latino, Hiragana, Katakana, ou Kanji. Se tivesse que adivinhar, diria que é o fruto do amor do Alfabeto Grego com as runas nórdicas.
— Sim, essa é a minha sala, sente-se, temos assuntos a tratar.. — Há uma cadeira em frente a mesa do capitão, e uma atrás, o capitão obviamente se sentava na cadeira atrás da mesa. Virando meus olhos, deixo a minha “trouxa” no chão, e caminho para me sentar na cadeira de frente para a mesa. — Você quer aprender sobre o que você é, sua raça?