Em Outro Mundo Como um Oni - Capítulo 4
— Isso é uma pergunta bem específica, mas eu quero sim. — Wow, ele sabe que raça eu sou, isso me ajuda muito. QUE EU NÃO SEJA UM GOBLIN SUJO.
Isso pode ser muito útil! Bônus se eu não for um Goblin!
Mas ainda sim, sentar numa cadeira estando nu era estranho. Mas eu não me sentia incomodado, será isso a fisionomia e instintos de um Oni colidindo com a minha mente humana? Quem sabe?
— Bem. — Nicolau soltava uma pigarreia, enquanto encarava me encarava olho no olho. — Não me interrompa, e quando terminar, vou perguntar se tem alguma pergunta. Fechado?
— Pois bem, fechado. — Termos simples, bem, pelo menos não são termos complicados, específicos e insanos, não é? — Estou todo a ouvidos, o quanto você sabe sobre mim? Sobre minha raça?
— Pois bem, você é um Monma Nionio. Uma espécie de “demônio”— ele se levantou e foi até o que parecia ser uma estante pegando um livro, e logo voltou a se sentar. Abrindo o livro, o folheando rapidamente em busca de um capítulo. Wow. Eles têm uma enciclopédia, ou melhor, um bestiário?
Já são melhores que boa parte dos mundos de fantasia. Só precisa ter carros mágicos criados e teorias da evolução como Darwin fez.
Era um pouco surpreendente o quão rápido ele estava folheando esse livro, mas ele é um capitão de um “Navio”. Claro que ele sabe ler.
Parando em uma página, Nicolau tomava um gole de ar. Irônico visto que ele era um tritão. Eu acho.
— Sua raça é conhecida como uma raça perene. Uma raça de longevidade longa, mesmo a infância da sua raça, poderá durar cerca de 150 anos, fora o período até atingir a maturidade. Vocês são uma raça que bem… na infância são feios desse jeito. — Ele falava enquanto folheava o livro. Ouch. Atacar o ego não vale.
— Eu ganhei esse livro de alguém que quis vir até a boca da caverna, onde estamos agora. Não se preocupe, quando você fizer 50 anos, você vai ficar mais bonito. — Ele ria… Filho da puta. Você sabe o quanto são cinquenta anos na vida de alguém!? Além disso… vai precisar passar 50 anos para eu ficar menos feio… Anjo filho da puta. — Alguma pergunta?
— Não, não realmente. — Isso era bom e ruim. Eu não sou um Goblin. Ótimo ponto. Eu sou um Monma Nionio, seja lá o que for, mas pelas letras, a segunda parte é OniOni ao contrário. Será que tenho projeção astral como poder racial? Depois penso nisso.
— Pois bem, continuando. Os Monma Nionio tem uma força, resistência e agilidade sobre-humanas, sendo capazes de dilacerar carne, ossos e até mesmo armaduras leves apenas com suas garras e dentes. — Até armaduras leves? O que raios é uma armadura leve? Carne e ossos? Eu sou uma espécie de Casuar por algum acaso?
— São extremamente perigosos, cuidado com eles. Poucos Monma Nionio chegam a fase adulta devido a uma falta de inteligência e pensamento em sua fase infante, por isso morrem cedo ainda na infância. Alguma pergunta?
— Eu provavelmente estava fazendo algumas caretas quando minha raça era chamada de burra, apesar de não ser para mim, ainda era parte dessa raça, e era ofensivo ser chamado de burro descaradamente. Mal cheguei e já sou vítima de racismo.
— Como sabe como eu sou Monma Nionio? — Para verificar, eu queria saber como ele tinha tanta certeza de que eu era um Monma Nionio, não tinha como ele ter uma descrição tão boa sobre mim-
— Aqui, olhe. — O velho tritão virava o livro para mim, não pude evitar de fazer uma careta. Quem não faria após ser chamado de imbecil, qualquer um ficaria após ouvir que sua raça era imbecil.
A página tinha uma ilustração dos “Monma Nionio” em sua infância, ou melhor… eu acho. Não consigo ler.
Pele que parecia quase totalmente colada nos ossos e músculos, sem gordura praticamente, barriga inchada. Dentes salientes quase saltados, olhos grandes, sem ouvidos ou nariz. Era exatamente o que ele era agora. Filho da puta.
— Continuando, os Monma Nionio quando são recém-nascidos, não têm ouvidos ou mesmo nariz, e tem a pele puxada, barriga inchada, garras afiadas nos pés e mãos, fora dentes grandes, afiados e salientados. Uma aparência horrenda.
Hey. Eu entendi que sou feio. Não precisa me humilhar ainda mais. Já vi a imagem
— Seus músculos são como metal extremamente duro, sendo diferente dos músculos humanos, junto a uma pele extremamente resistente. Um Monma Nionio pode ser tão resistente ao ponto de poder ser atingido por uma espada sem receber dano, ou mesmo entortando, quebrando ou deformando totalmente a lâmina. — Espere. Resistir a um golpe é uma coisa. Quebrar uma lâmina é outra… até onde sei uma espada não quebra fácil, e a minha pele pode quebrar uma? O quão forte foi a mordida daquele peixe para quase arrancar minha mão?
— Ao longo de seus primeiros 50 anos, eles vão crescendo gradualmente, e sua pele pode tomar vários tons diferentes, ficando semelhante ou igual a pele humana e até um pouco em textura, apesar de ser extremamente resistente. — Graças a Deus. Vou ficar menos feio e mais parecido com um ser humano, mas daqui só cinquenta anos.
— Eles também crescem cabelos, ouvidos e nariz. Ficando mais parecidos com seres humanos em aparência, com exceção de três detalhes. Desde o nascimento eles já tem chifres em crescimento em suas cabeças e quando atingem o próximo estágio de sua infância esses chifres já estão crescidos e aparentes.
— O segundo é uma cabeça grande e corpo fino, suas cabeças são grandes em comparação ao corpo que tem as proporções do corpo de uma criança humana apesar da cabeça claramente maior. Finalizando, suas mãos e pés tem uma pele escamosa e grossa, como um revestimento ou armadura.
— Outra propriedade curiosa sobre eles, é que eles possuem corpos extremamente elásticos e flexíveis e uma mandíbula que pode se expandir junto a garganta para poder engolir humanos adultos inteiros— uma mandíbula que se expande a esse ponto é basicamente como ser uma cobra. Isso é ainda mais assustador.
— A principal forma de eliminar sua presa nessa forma é a engolindo inteira. Outra habilidade assustadora é que por dentro eles são tão resistentes quanto por fora e que suas mandíbulas e gargantas podem se contrair novamente mesmo com a presa dentro delas… Isso é mais assustador do que me lembrava. — Não sei se devo ficar feliz, ou terrificado em saber que sou assustador.
— Sendo sua principal forma de eliminar suas presas, esmagando elas dentro de suas gargantas e bocas, e as engolindo. Seus estômagos têm uma propriedade muito curiosa, eles podem se expandir para armazenar ainda mais comida, permitindo os Monma Nionio comerem presas muito maiores que eles na infância, como seres humanos sem se preocuparem, ou comerem presas várias vezes seu tamanho. — Tá, isso é nightmare fuel em seu mais puro estado. Anjo desgraçado, de tantas raças para me reencarnar, você me reencarnou um casuar com habilidades de cobra e forma de goblin com chifres?
— A última e mais assustadora propriedade vem de seu ácido estomacal, esse ácido é tão poderoso que pode mesmo derreter couro, pano, carne, ossos, e até mesmo metais quase completamente. — … Por alguma caso isso é ácido nítrico?
— Acabei, os registros de Monma Nionios acabam aqui… E isso é apenas dos Monma Nionio, o Zoologista é uma pessoa estranha. Enfim, alguma pergunta? — Ele me encarava, era estranho saber que eu era o filho profano de um Casuar, uma cobra e um oni que tem ácido nítrico no estômago.
— N-não. — Sinceramente, após isso eu só quero deitar e repensar minha vida.
— Senhor, me perdoe a intromissão, mas eu quero te perguntar, quem te deu isso? Esse livro — Quero saber quem deu esse livro para ele, seria muito interessante se essa pessoa ainda estivesse por aqui. E zoologista não é um título que eu espero que alguém em um mundo de fantasia use.
— Foi um ser humano, apesar de fazer viagens para fora; eu também faço viagens de volta para cá e trago seres humanos ou outras raças para cá as vezes. Foi em uma dessas viagens que um ser humano que se chamava de “O Zoologista” me deu esse livro como pagamento para poder vir ao interior da caverna, além de me ensinar a como ler a escrita da nação dele.
Nicolau gargalhava alto, acho que ele e aquele humano devem ser amigos, ou algo do tipo.
— Certo, eu gostaria de perguntar uma coisa, como você entende o que eu falo? — Essa era uma questão importante, só agora eu me toquei que logicamente falando, não era normal alguém entender bulhufas do que eu falo, e ele entender me parecia muito conveniente, muito bom para ser verdade.
— Isso, pois bem. — Nicolau se virava de costas para mim e tirava sua camisa. Mostrando uma espécie de tatuagem em suas costas, ela era estranha, parecia um círculo com várias linhas onduladas saindo dele, era algo bizarro.
— Eu não vou entrar em detalhes, mas isso é uma runa que permite que desde que as palavras por um ser tenham sentido, eu possa entendê-las, legal, não é garoto? E também me permite comunicar com essas pessoas. — O velho sorria orgulhoso. Isso é extremamente conveniente. Será que ele pode fazer uma runa dessas em mim? Pedido para mais tarde.
— Eu sei que é rude o que eu vou te pedir, mas poderia me dar algumas espécies de panos para eu me cobrir? É vergonhoso e humilhante andar por aqui, me sentar estando totalmente nu. — Eu tinha que mostrar que eu era diferente dos Monma Nionio normais! Eu tinha que mostrar que eu era especial! Eu não sou um burro! Não muito…
— Sinceramente, a mulher que te pagou para eu te trazer até aqui me pagou uma alta quantia, muito mais do que deveria. Certo, vou te prover uma roupa, temos um alfaiate. Vamos conversar com ele e você vai pedir sua roupa.
Isso! Andar pelado não mais! — Certo, você é muito fraco e esguio para durar no mundo de fora, eu vou te treinar, eu não vou deixar a mulher que me pagou ter jogado o dinheiro dela fora!
WOW! Que virada! Ele vai me treinar! Ele realmente vai me treinar! Esse Velho é muito gente boa! Nossa, eu não esperava por essa virada de eventos! Que foda! Espere, foco, foco, ele te treinar é bom, mas tem algo mais importante, uma mulher pagou para me deixar aqui, ou melhor, para ele me esperar e me levar aqui dentro, para daí sim zarpar. Será que… isso envolvia mesmo me confinar? Assustador! Mas isso é uma coisa muito boa, eu vou ser treinado e terei roupas! Viva!
(2 meses depois)
Faz alguns dias que eu estou nesse navio, Nicolau me deu uma espécie de pena-caneta e um livro para eu escrever meus pensamentos. Bem, posso fazer isso mentalmente, mas o que vale é a intenção. Uns dois meses atrás ele me levou ao alfaiate para me fazer roupas. Bem, as roupas que ganhei eram bem legais, uma camisa, um sobretudo, calças feitas de couro de algum peixe, e sapato, fora o sobretudo ter um capuz!
O único ruim é que as roupas tinham todas um tom azul escuro. Gostaria de mais cor mas tudo bem. Meu quarto era mais afastado dos outros, acho que é por conta de eu ser uma Monma Nionio, ou como eu chamo: Oni. Até que faz sentido se parar para pensar.
Nicolau começou a me treinar também, no uso de armas como lanças — que mais pareciam arpões — e redes. Ele tentou me treinar no uso de magia, mas falou que eu sou uma droga é melhor desistir. Hmph, nem queria ser um mago mesmo. Pelo o que ele disse, existem três tipos de magias “normais” ou “ortodoxas”. Os cânticos, que são como rezas cujo aqueles que são alinhados, ou adoram um deus usam para usar magias e feitiços.
Os encantamentos, que são palavras, discursos, poemas e textos mágicos que ao serem conjurados fazem efeitos mágicos. Ele não me falou muito sobre as magias de rituais, então não tenho ideia de como usar elas ou o que fazem.
Em boas notícias, ele me falou que eu sou bom em magia não ortodoxa. Ele falou que é usar sua mana para fortalecer seu corpo, e puxar o elemento da alma e o manifestar. No meu caso, era fogo. E o melhor de tudo, elas não precisam de cânticos ou encantamentos para serem usadas. Hooray. Ele também falou que a “visão da alma torna mais forte” a magia não ortodoxa. Mas não sei o que isso significa. Por enquanto, só consigo usar fogo.
Em não tão boas notícias, eu consegui ir bem com arpões, apesar da minha magia não ortodoxa não funcionar debaixo d’água por razões óbvias. Por conta disso e da minha força natural, ele me mandou caçar peixes gigantes junto de outros caçadores. O problema é que esses peixes são gigantes, tão grandes ou até maiores que a enguia. Sempre é assustador enfrentar esses monstros marinhos imensos.
Não é uma experiência que quero repetir, mas o dever chama. Infelizmente.