Em Outro Mundo Como um Oni - Capítulo 5
Faz alguns meses desde que comecei a ajudar os tritões a “coletar alimentos”, desde “frutos do mar”, até caçar aqueles malditos peixes gigantes.
Em boas notícias, aprendi a falar a língua dos tritões. É meio difícil acompanhar as vezes, mas consigo acompanhar o que eles falam e um pouco de seus costumes.
Eles adoram provocar e zoar uns aos outros. Tem bom humor. São pessoas legais, mas é difícil fazer eles levarem algo totalmente sério. Um deles falou que meu chifre quebrou um dia desses.
Por conta disso eu pedi ao Nicolau para botar um espelho no meu quarto, após muita insistência, eu consegui.
Meus chifres… quando eu senti algo doendo na minha testa, pensei que não era nada demais, mas quando eles rasgaram meu “capuz” que usava para obviamente esconder meu rosto, revelando três chifres. Eu fiquei muito feliz! Chifres para Onis deve ser como a puberdade para os humanos, certo?
Espero que sim, Quero ficar menos feio logo! Quando me encarei no espelho no dia seguinte e vi minha testa, lá estavam três chifres inteiros, devo admitir que eu estou bem feliz.
Por alguma razão, o fato deles estarem inteiros me alegra.
Após isso eu me “olhei melhor” para ver se havia ficado menos feio, e realmente, havia ficado.
Minha pele mudou muito, em vez de um cinza escuro tinha ficado branca e rosada, tendo até um tom e textura mais saudáveis até, apesar de ainda ser dura pelo o que parece. Certas coisas não se dão para mudar. Será que a falta de melanina pode ser um problema para Onis? Eu não sei.
Meus dentes estão menos salientes e estão mais para dentro da boca. Não sei como me sentir exatamente em relação a isso, mas acho que é algo bom.
O rosto foi o que mais sofreu transformações, como ficar mais redondo, deixar de ter um tom monstruoso e sem nariz como um certo vilão, graças aos meus dentes estarem mais para dentro da minha boca, não pareço mais como um tubarão branco com uma cabeça de goblin sem nariz.
Fora as orelhas, elas aparentam ainda estarem crescendo, mas pelo o que posso dizer, elas são pontudas. Estranho, mas não inesperado ainda sim.
Pequenas placas e escamas estão crescendo em meus pulsos e nos meus pés… é, isso é como o Nicolau falou. Provavelmente estou passando para a próxima fase. Eu estou crescendo!
A única coisa que me preocupa, é o fato de eu não ter nada em minhas pernas… antes eu pensava que não era nada demais, eu era um recém nascido, mas agora, mas mesmo agora não tem nada.
Só espero que aquele anjo não tenha roubado meu “amigo”. Mas conhecendo aquele anjo… ele provavelmente me reencarnou no corpo de uma garota… bastardo. Espero que seja apenas paranoia, e que ele ainda tenha de “crescer”. Eu espero.
(3 meses depois)
—Já buscou se olhar no espelho? — O velho tritão sorria e gargalhava, vai se foder. Claro que eu tenho de ser vaidoso. Passei meses como um bicho feio, agora que estou menos feio, tenho que me cuidar, não que voltar a ser horrível. O alfaiate me fez roupas novas quando as velhas ficaram pequenas. Cara legal. Ele não é um Tritão, mas sim uma espécie de espírito da água, não sei como isso funciona, mas deve ser legal.
— Certo, certo, faz vários meses que eu não me olho no espelho, eu sei que sou feio, não precisa fazer alvoroço por isso— nem tão feio, mas ainda sim não sou bonito ao ponto de poder me gabar. Caminhei até meu quarto e me despedi para poder me “ver melhor”, ver as mudanças.
Me olhando no espelho, meus olhos ainda tinham as escleras vermelhas, porém as íris estavam diferentes. Não parecia ser algo natural, até porque eu não acho que seja natural isso. Nem no meu antigo mundo.
As íris são da cor castanha com manchas azuladas. Heterocromia era algo raro no meu antigo mundo. Não faço a mínima ideia de porquê eu tenho heterocromia.
Meus cabelos por outro lado não são tão ruins. Ele é um pouco desgrenhado e parece mais uma pequena juba, mas não é tão ruim, a cor é intrigante, é da cor “pêssego”, dando um contraste estranho com meus olhos.
Acho que normalidade vai ser algo raro nessa minha nova vida.
Apesar de tudo isso, é do que eu sou, meu rosto tem feições delicadas e grandes olhos, é um rosto bem bonito para ser sincero. Porém meu corpo é fino e minha cabeça muito grande. Isso estava completamente certo. Entretanto… como raios cinquenta anos? Só se passaram alguns meses. Porém tudo que é bom dura pouco…
— Não pode ser real— estava soando frio, isso não pode ser, não pode ser, não pode ser! Mesmo após chegar neste “estágio”, não cresceu. Pelo contrário! Meu corpo parece mais feminino! Esse anjo… Esse anjo… realmente me reencarnou como uma garota… Eu te odeio, Jarenel! O que costumava ter me reencarnado como um garoto! MALDITO ANJO!
—A hora está chegando. Mas antes. — O velho tritão entrava no quarto, me virei para ele com uma expressão de poucos amigos. Meu humor está péssimo. Anjo desgraçado.
—Eu vou fazer a mesma tatuagem que eu tenho nas costas em você, vai ser um contratempo para você falar e ninguém entender, não é? Fique em pé e com as costas retas, isso é necessário para a tatuagem.
Oh, isso é realmente legal da parte dele. Realmente, essa tatuagem vai me ajudar muito. — Considere isso a minha última ajuda antes de você ficar por si mesmo nesse mundo.
Já estava de costas para ele de qualquer forma, então apenas deixava minhas costas retas. Ele se agachava, e sentia algo tocar a minha pele, eu virava a cabeça para olhar, e Nicolau estava pintando a tatuagem com um pincel. Era estranho um pincel, pensei que seria algo como uma adaga ou… é, não vou reclamar de um pincel.
— Meu pai me ensinou a fazer essa tatuagem. Ela usa uma espécie de pinta mágica para ser feita, e permite se comunicar com seres que consigam falar de forma racional, e também ouvir suas palavras, uma forma de tradutor universal. — Seres que falam de forma racional… então pode ser usada para entender animais e outros seres sem consciência creio eu, e precisa ser falado. Então nada de escrita.
— Antigamente, o povo tritão deste mar morto, apenas vivia na água, mas algo mudou há muitos anos. Há quase 40 séculos atrás, um visitante chegou no mar afundando, ela ensinou muitas coisas aos tritões, e nos ajudou a construir a vila que você viu. — 40 séculos… isso é quatro mil anos atrás. Ooooh, isso faz tempo.
— A sala onde você estava, era uma das zonas de pesca que temos, mas não entramos lá desde que a mulher que me pagou para te levar no navio veio— ela colocou um tipo de feitiço para impedir que tritões ou qualquer outra coisa entrasse— isso é estranho, muito estranho, uma barreira. Por quê? Por qual razão fazer isso? Não tem sentido. O que raios se passa na cabeça dessa pessoa?
— Voltando a história, essa mulher veio e ensinou os tritões muitas coisas, como sair do mar afundado e ir para a superfície, e também nos ajudou a construir nosso primeiro barco, o Arachia. Muitos barcos foram feitos depois disso, até chegar nesse, Queen Mary. — Rainha Maria, em? É um bom nome para um barco. Apesar de ser estranhamente familiar.
— Essa mulher ensinou um tritão a magia que eu estou ensinando a você, essa magia foi passado de pai a filho, e assim continuou. Atualmente eu sou o último descendente, e estou passando essa magia a você— para mim, se ele está passando para mim, então ele…
— Você não tem filhos, não é? — Única explicação lógica para essa situação, ele não tem filhos. Então passa isso a viajantes que se provam acima dos outros. — O Zoologista também tem uma, não tem?
— Sim e sim. Já que não tenho filhos, então tenho que passar a tatuagem para pessoas dignas, e você, Monma Nionio, se provou digna. — Nicolau falava em um tom descontraído em uma gargalhada. Eu vou sentir falta do bom humor desse cara. Ele é gente boa. E ele me lembrou que preciso de um nome, logo.
— Finalizando o conto, essa mulher nos ajudou em muito, culturalmente, tecnologicamente, e em várias áreas. Seu nome era de fato muito estranho, mas seja como for, o nome dessa mulher era Araknophobia. — Esse nome é hilário. Espero que não exista uma Austrália fantasiosa nesse mundo, claro se essa pessoa estiver viva. Já que “lendas” em mundos de fantasia tem dificuldade em ficarem mortas.
— Após terminar seus ensinamentos, ela foi mais profundamente dentro do mar morto. Reza a lenda que ela voltou 5 séculos depois, e finalmente saiu do mar afundado, sem nunca retornar— espera… Quinhentos anos explorando as profundezas do mar morto. Merda. Ele com certeza pode estar viva ainda, mesmo que velho e decrépito.
Estranho, ele terminou a história e a tatuagem ao mesmo tempo. Será que faz parte de uma espécie de ritual ou algo do tipo contar a história?
— Creio que isso é um nunca mais, obrigado por tudo, Nicolau. — Bem, acho que Nicolau foi uma das melhores pessoas que já conheci? Acho que sim, ele fez muito por mim, espero pagar essa bondade algum dia. Eu realmente quero fazer tanto bem para alguém, tanto quanto ele fez comigo. —
O “navio” pulava para fora de um imenso lago com várias árvores e grama crescendo em sua volta, enquanto tudo à sua volta era areia. Estava em um oásis?
Uma rampa se estendia da porta, enquanto ela era aberta, ligando terra firme e o navio. Quem poderia imaginar que esse oásis seria tão fundo. Acho que foram oito meses de viagem, caramba, quanto tempo! Dando uma última olhada para trás, eu via o “Navio” Queen Mary e logo dava um pulo caindo em terra firme. Poderia ter simplesmente ido andando, mas isso não seria tão legal. Meu corpo é mais forte que o de um ser humano. Então deveria aproveitar.
Várias pessoas desembarcavam, para sumir logo após em partículas azuis, eles estavam recitando palavras. Magias de teletransporte?
Após a última pessoa sair e usar alguma magia para sumir, Queen Mary submerge, desaparecendo dentro das águas profundas.
— Creio que isso é estranho? — Olhava em volta, me sentei e olhei para o céu. Faz oito meses desde que cheguei aqui. Meu Deus, quanto tempo e em todo esse tempo eu nunca vi o céu ou o sol.
O sol brilhava alto, provavelmente estava no meio dia. Eu respirava pesado, não estava exatamente muito quente apesar de eu estar em um deserto.
Era um clima muito agradável, gostei disso. Os raios de sol tocavam meu rosto, enquanto a luz do dia atravessava meus olhos, se eu fosse um ser humano, eu provavelmente não me adaptaria tão bem ao ambiente escuro daquele Mar afundado e muito menos tão bem ao sol apesar de ter ficado oito meses na escuridão. Era tão bom ser… Livre.
Um crocodilo saia de dentro do oásis, sério. Um minuto de paz seria bom!