Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 70
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- Capítulo 70 - Desta forma, Johann Geistmann declara guerra. (2/3)
12h28
O horário de almoço chega e a ideia de Ailiss foi colocada em prática, todos foram para a cozinha por conta própria e estão improvisando alguma coisa para comer. Isto funcionou razoavelmente bem, e retirou a responsabilidade de cima dos membros do conselho estudantil.
No momento, o que eu mais queria era estar com elas, infelizmente não consigo deixar este meu desejo de lado. A única coisa que está prorrogando o meu suicídio são meras desculpas.
— Poxa, Miyu-chan que bicho te mordeu? Mesmo depois do discurso da Kaichou, você continua dispersa desta forma. Você não está se sentindo nem um pouco mais segura? — comenta Shou.
Miyu continua esboçando a mesma expressão anormal, o que constantemente faz com que Shou e Manabu toquem neste assunto.
— Se for pela Kobayacchi, saiba que ela certamente não gostaria de vê-la desta forma. Agora deveríamos estar apoiando o conselho estudantil a capturar quem a atacou — fala Manabu.
— Não é por isso, Shimizu-kun, Manabu-kun. Estou desta forma por causa de pessoas desonestas. Monstros com rosto de gente… É impressionante, não? Como podemos deixar más índoles como essas passarem despercebidas por tanto tempo. O que eu mais quero é que o conselho tenha sucesso em capturá-los — Miyu responde irritada e me encara.
Ora, está ficando bem desobediente. Você está mesmo insinuando que irá contá-los a respeito do que viu?
— Eh?! Do que você está falando? Não estou entendendo bulhufas do que está acontecendo — replica Shou.
— Infelizmente não posso te contar agora — pausa — Mas deveria… e como deveria…
Apesar do seu estado emocional alterado, vejo que consegue manter o mínimo de racionalidade. Está ciente do que irá acontecer se quebrar o nosso acordo, não é?
Agora que já consegui uni-las, não faz muita diferença para mim. Porém, se Miyu me revelar, não poderei desfrutar do meu último dia de vida. Queria conversar um pouco mais com elas depois do almoço, queria vê-las neste estranho bom humor mais uma vez.
Cerro meu punho e encaro-a de volta.
— Miyucchi, quem seriam estas pessoas falsas? Por favor, não diga que é uma indireta para gente — pergunta Manabu assustado.
— Não pretendo estender-me neste assunto. Se querem saber mais sobre, por que não perguntam ao Johann-kun? Caso este realmente seja o nome dele.
— O que você está insinuando? — Shou pergunta para ela e olha para mim.
Ela permanece calada e os dois prosseguem me encarando em silêncio.
A ameaça dela depende do quão longe pretender ir. Seria apenas uma ameaça sem intenção de contar ou pretende revelar a eles por meio de indiretas? A única forma de descobrir isso é ridicularizando. Caso dê certo, eu posso acabar poupando a vida deles.
— Tudo bem, eu confesso. Pedi a ela para que não comentasse com os outros sobre minha atitude, mas vejo que ela não é capaz de guardar tal rancor para si. A verdade é que estraguei as chances da Miyu tornar-se amiga da presidente. Ao perceber que eu era um conhecido de Miyu, a presidente não quis mais interagir com ela. Basicamente tudo foi culpa da minha confissão ridícula a Mikoto.
— Entendo, ela deve julgar a pessoa pelas amizades. Neste quesito se a Miyucchi continuar andando com a gente estará em maus lençóis.
Miyu volta a encarar-me transtornada e com os seus punhos cerrados. Pelo visto, ela ainda não compreendeu onde está se metendo ao me desafiar.
— Poxa, Miyu-chan. Não ligue para a Kaichou, se ela a julga por suas amizades, talvez ela que não mereça ter uma amiga tão legal quanto você — comenta Shou.
Enquanto os dois discutem sobre a minha desculpa, a fito mortalmente. Espero que ela entenda que não estou de brincadeira, não quero que minhas ações sejam reveladas agora.
Termino de almoçar e me levanto bruscamente.
— Ei, Jocchi. Já vai?
— Tenho alguns assuntos particulares a resolver — mais uma vez encaro Miyu, a qual desvia o olhar.
Imagino que ela não vá querer correr o risco de eu atacar Manabu ou Shou, então posso ir atrás das minhas amadas.
Deixo o refeitório e caminho em direção ao bloco principal. No entanto, uma forte dor de cabeça seguida por um arrepio na minha espinha faz com que eu cesse o meu trajeto. Novas informações inundam a minha mente. Nada muito concreto, mas esta abstração é o suficiente para eu entender que minha missão não acabou. Ainda não acabou.
A voz distorcida das entidades ressoa em minha mente.
“Você realmente acha que isso foi o suficiente?”
Estou sendo ingênuo de acreditar que a partir de agora tudo estará bem… A rixa entre as duas não está limitada a este passado, mas a de infinitos mundos. Todo este ódio não desaparecerá tão facilmente. Nada me garante que suas emoções negativas tenham cessado temporariamente apenas dentro deste “jogo”.
“Avance, continue avançando”
Como um conselho demoníaco, prossigo escutando os seus sussurros.
Neste caso, terei que retomar alguns procedimentos do plano que acreditei já não serem mais necessários.
Não basta apenas me suicidar, eu preciso redirecionar todo este ódio infinito para algum outro objeto.
15h04
Com minha mochila em mãos, caminho pelo pátio da escola. Estou atrás de alguém que possa gerar um impacto ainda mais forte sobre minha reputação. O nome de uma vítima veio logo em minha mente, a qual curiosamente seria o meu alvo natural baseando-me na sequência de assassinatos que venho cometendo.
Meu alvo não poderia ser outro, então não seria de se surpreender se ela já soubesse que será morta. A grande questão é como ela reagirá? Tenho leves lembranças de que ela sobre condições de estresse pode sofrer do mesmo mal de Takashi. Porém, não houve tempo o suficiente para maturar um surto psicótico, sobrando neste mundo a sua patética personalidade nominal.
Assim sendo, o que seria mais cruel do que eliminar uma pobre garota chorona e indefesa? Além do mais, se tratando da segunda tesoureira do conselho estudantil, o último membro de grande cargo fora Mikoto.
Não há escolha melhor do que esta. Precisa ser ela.
Bem, vejamos… qual é a melhor forma de abordá-la? Com uma morte sucinta assim como fiz com Keiko? Não, aquilo é muito fraco. Provavelmente algo similar ao meu ataque do Takashi seria o ideal e muito mais impactante, no entanto, para uma morte em campo aberto, talvez algo rápido seja a melhor opção mesmo.
Avisto a garota que chora no meio do pátio e me aproximo.
— Você sabe que continuar aí chorando o dia todo não os trará de volta, não sabe? É uma perda de tempo — comento.
— Quê? Por que você está dizendo isso para mim? — levanta o rosto e olha desentendida.
Pelo visto, a minha hipótese estava correta. Ela ainda está quebrada, e tratar de uma medrosa não será uma tarefa complicada.
Provavelmente ela nunca foi repreendida desta maneira por ninguém além de Mikoto. Afinal de contas, ninguém se atreveria a se provalecer para uma garotinha tão graciosa como Natsuki que parece mais um pobre animalzinho indefeso.
Infelizmente, eu não sou esse tipo de pessoa. Ela é um sacrifício em potencial para o meu objetivo e é apenas desta forma que a vejo.
— Porque vê-la chorar e ser reconfortada por outros estudantes me irrita. Não há espaço para gente fraca como você, em outras palavras, você é um estorvo para Mikoto, um estorvo para o conselho estudantil e para todo mundo a sua volta — a encaro com frieza.
— Sou um estorvo? Não, isto não é verdade…
— Por que a surpresa? A Mikoto nunca falou isto para você? Acho que ela é gentil demais para falar abertamente o quão patéticas são suas atitudes. Em vez de ajudá-la em meio a este cenário conturbado, a única coisa que você sabe fazer é sentar e chorar na espera de um milagre que a salve desta realidade tortuosa. Todos aqui estão correndo riscos de vida, porém você só parece se importar em salvar o próprio rabo, né? Acha que se mostrando inofensiva o assassino a deixará de lado?
— Eu não… — nega com a cabeça — eu nunca quis atrapalhar ninguém…
Está em choque? Acho que vou aproveitar para acabar logo com isto.
Se me lembro bem das minhas premonições, em mundos nos quais somente Keiko morreu, ela chegou a enlouquecer após alguns dias neste estado. Mas pelo visto nesta realidade jamais passará da sua fase de lamentações. A ausência de Haruki e Keiko não lhe fez muito bem.
“Mate-a.”
“Mate-a.”
Prossigo ouvindo as vozes na minha cabeça.
— Mas sabe, mesmo não simpatizando nem um pouco com você, irei ajudá-la. Você quer o Haruki e a Keiko de volta, não quer? Veja o quão generoso eu sou, além de livrá-la da própria mediocridade, irei reuni-la com seus bons e velhos amigos — pego minha mochila e a abro lentamente.
— Lógico que sim, tudo o que eu quero é ter o Haruki-senpai e Keiko de volta. Mas o que você poderi- — interrompe sua fala e arregala os olhos.
Ela não teria nenhuma chance em um jogo de sobrevivência neste estado. Caso conseguisse escapar com vida, seria meramente por capricho de seus adversários. Sem dúvidas, livrá-la desta insignificância só mostra o quão misericordioso eu sou.
— Se existe alguma possibilidade de você reencontrá-los é desta forma — aponto a metralhadora para ela.
— V-Você? — fita fixamente o cano da arma — Por todo este tempo, foi você? — diz com os olhos em lágrimas.
Tarde demais. A sua lerdeza de raciocínio no final das contas foi o seu túmulo.
— Não importa — puxo o gatilho.
Uma sequência de projéteis perfura o corpo da pequena garota.
Informá-la a respeito de qualquer coisa seria inútil, já que pretendia matá-la de qualquer forma.
O estrondo proveniente dos tiros claramente irá atrair gente de todo quanto é lado, mas este é justamente o meu objetivo. Finalmente darei um fim a este teatro. E agora está na hora de me apresentar como o grande vilão e responsável por todas as mortes.
O corpo da menina todo perfurado cai em meus pés. Devido a tantos ferimentos, o seu sangue flui com uma elevada vazão a ponto de se formar uma poça vermelha no piso do pátio e tingir a neve à sua volta.
— MEU DEUS! — grita uma garota com o rosto em pânico.
— O que está acontecendo aqui?! — exclama outro.
Como o corpo de Takashi não chegou a vir a público, esta é a primeira morte com um ferimento brutal que eles visualizaram. Portanto, acredito que este caso terá um impacto ainda maior do que os múltiplos envenenamentos e o assassinato de Haruki.
Em seguida, mais alguns alunos que estavam por perto chegam devido aos estrondos e ao grito dela. Eles não estão processando direito o que estão vislumbrando, restando apenas o choque de ver a segunda tesoureira morta aos meus pés.
Agora é só uma questão de tempo para que o pavor percorra a escola.