Entre Neve e Cinzas, As Memórias Daquele Amor Doentio Permanecem - Capítulo 71
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- Capítulo 71 - Desta forma, Johann Geistmann declara guerra. (3/3)
15h19
— Por quê?! Por que está fazendo isso?!
Em pouquíssimo tempo já estou cercado por estudantes apavorados e cobrando satisfações pelo ocorrido. Entretanto, obviamente nenhum deles tem coragem para avançar contra alguém portando uma metralhadora.
Apesar da imprudência inata desta fase da juventude, eles sabem muito bem que não teriam a menor chance contra mim. E o defunto da garota ao chão faz questão de alertá-los de que não devem correr o risco de bancar os heróis.
Apenas mudar a inclinação da arma já é o suficiente para que todos recuem alguns passos.
Deveria eliminar logo esses vermes? Já estou perdendo a paciência. A minha ansiedade nunca foi um ponto forte. Quem sabe assim aquelas duas deem as caras de uma vez.
Levanto a arma em direção à multidão e eles se afastam rapidamente, alguns até saem correndo e tropeçam uns nos outros.
— Ei, calma! Não atire! — exclama um rapaz.
No entanto, quando ia puxar o gatilho, sou interrompido por uma voz familiar.
— Então foi você, seu cretino! Eu sabia! Você pegou a minha metralhadora, trate de devolver isto agora mesmo se não quiser morrer! — Ailiss surge do meio da multidão com uma expressão sombria.
Numa cena dessas, na qual estou ameaçando dezenas de jovens inocentes e com uma garota caída morta aos meus pés, a única coisa com que ela está preocupada é com a sua metralhadora? Não poderia esperar menos de você, é por isso que eu te amo tanto, Ailiss. É uma cena tão discrepante que não posso segurar a vontade de rir.
Ademais, não é como se você fosse me poupar apenas por devolvê-la, não é?
Logo atrás dela está Mikoto.
— Johann, gostaria que tu te explicasses a respeito disto — fita o horrendo ambiente em sua volta e cerra o olhar para mim — Qual é a tua desculpa por ter montado todo este teatro? O que pretendes com isso?
Diferente de Ailiss, Mikoto aparenta estar um pouco mais interessada em saber sobre este contexto.
— Vocês chegaram em boa hora, estava no seu aguardo. Vejo que todos estão presentes — observo Manabu, Shou e Miyu em meio aos estudantes.
A conclusão à qual cheguei é muito simples. Alguém precisa tornar-se o receptáculo para o ódio proveniente dos outros mundos. Da mesma forma que recebi o amor que senti infinitas vezes por cada uma delas, estou disposto a sugar todo ódio. Eu irei aceitá-las por completo, e carregarei sozinhos todos os nossos pecados.
Esta é a única forma de salvá-las. O ódio que nutriam uma pela outra será redirecionado totalmente para mim. Mesmo que tenham acesso a essas lembranças, verão-me como o único culpado por toda esta desgraça.
Mas para isso, preciso me tornar um vilão digno de tais sentimentos. Mas não um vilão qualquer, talvez um monstro, ou mais, um verdadeiro demônio na terra.
— Johann! Que porra é esta?! O que você está fazendo?! — grita Shou enquanto dá alguns passos em frente à multidão acovardada.
Eles não deixam de ser um incômodo um instante sequer. Pretendo mantê-los vivos, mas eles não param de me interromper e atrapalhar.
— Cale a boca, isto não tem a ver com vocês! — o encaro e respondo.
— Desculpe por não avisá-los antes… Ele ameaçou machucá-los caso eu contasse… O Johann-kun é o responsável pelos assassinatos, eu o vi matando a Keiko — Miyu fala chorosa.
Neste ponto a sua confissão não faz mais diferença. Contudo, ainda devo decidir o que fazer a respeito de vocês pela desobediência.
— Então era por isso que você estava abatida — vira-se para ela — Johann! Seu maldito! Você vai pagar por isso! — volta a me encarar.
— Deve haver algo de errado nesta história toda, o Jocchi não pode estar agindo desta forma, ele é nosso amigo — comenta Manabu cabisbaixo — O que aconteceu, Jocchi? Você está sendo obrigado a fazer isso?
O que eu tenho a tratar agora é com elas, não com vocês! Saiam daqui antes que sejam envolvidos nesta batalha!
Vejo que estou sendo muito tolerante com eles, mais do que deveria.
— Não irei falar duas vezes, caiam fora daqui — dou dois disparos no chão próximo a eles.
— Shoucchi, tratamos isto depois. Por hora, vamos levar a Miyucchi para um lugar seguro.
Shou cerra os punhos, mas consente com Manabu. Os três afastam-se do local e passam a observar o evento a distância.
Com estes por menores resolvidos, posso voltar ao confronto principal. Ailiss e Mikoto encaram-me com irritação e frieza no olhar. Dificilmente conseguiria me justificar sobre o ocorrido, mas isto nunca foi a minha intenção para o começo de conversa.
Tudo o que quero é que me odeiem o máximo possível, que redirecionem todo sentimento ruim que tenham uma pela outra para mim.
— Então, Mikoto, voltando a sua pergunta. Acho que não devo nenhuma explicação para alguém inteligente como você, não está mais que óbvio? — começo a rir levemente — Eu enganei vocês, somente isto.
— Bem que esta história de quarto jogador parecia estranha para mim — abaixa o rosto e suspira — No entanto, meu maior erro foi acreditar nesta estranha sensação de que poderia confiar em ti. Isto é culpa minha, não sei como me pude deixar ser influenciada assim, nunca deveria colocar uma intuição emocional na frente da razão.
— Nem tudo que eu disse a vocês pode ser descartado. A parte do quarto jogador realmente era mentira, contudo a anomalia em si é real. Eu sou o causador dela e no momento em que consegui consolidá-la vocês perderam. Em outras palavras, não resta mais nada a vocês além de desistir.
— Perdemos? Tem certeza disto? Não me faça rir, nunca eu seria derrotada por um frouxo como você — Ailiss mira o seu revólver em minha direção.
— Sim. Você pode ter até mais habilidade que eu numa disputa de desarmar o adversário sem matá-lo, mas saiba que eu não estou restrito a isso. A anomalia permite-me que eu possa matar jogadores sem ser punido, logo estou numa vantagem sem tamanho em relação a você — também aponto a metralhadora para ela.
— Mistkerl, não seja tão convencido. Seja esta sua ladainha verdadeira ou não, eu posso desarmá-lo apenas com meus punhos.
Suas reações ocorrem como o imaginado. Ailiss provavelmente é o ser de mais ferocidade que já pisou neste planeta. Contudo, esta minha ameaça não se dirige à sua preocupação com a própria vida. Além de ser uma excelente maneira de testá-la.
— Ailiss, espera. Eu confio em ti, mas se o que ele diz é verdade e há bastantes indícios ao seu favor, é um risco que prefiro não correr — Mikoto a segura pelo ombro.
— Posso acabar com ele num instante. E de qualquer forma, que risco está a preocupando? Acha que aquele pateta pode me vencer? — olha para trás.
— Sou a pessoa que está mais ciente das tuas habilidades de combate, afinal já fui uma das tuas presas. Todavia, numa situação como esta, devemos colocar a tua segurança em primeiro lugar — a encara taciturna — Não teremos como vencê-lo sem ter-te ao lado do conselho.
Isto está pendendo para o lado que eu quero, se a minha tentativa de aproximá-las deu certo, Mikoto jamais apostaria em um confronto no qual Ailiss tenha a mínima possibilidade de morrer.
Agora me resta apenas intervir para verificar a reciprocidade.
— Tudo bem, Ailiss. Assumindo que você possa desviar-se dos meus disparos, ainda posso tomar outro alvo — aponto para Mikoto e sorrio — O que fará a respeito?
— Tsc — Ailiss recua e para ao lado de Mikoto.
Deu certo… fico aliviado com isso. Mas ainda é muito cedo para comemorar. Devo então seguir para o meu próximo blefe.
— Pois bem, para que tudo ocorra conforme eu desejo, o jogo precisa durar mais um tempo até todos os preparativos estarem prontos. Então que tal deixarmos nossa disputa para outra hora? — proclamo e afasto-me ainda com a guarda levantada.
As duas se entreolham e em seguida encaram a multidão assustada atrás de si.
— E então, o que faremos? — pergunta Ailiss.
— Vamos aceitar, não temos muita escolha. Fomos pegas de surpresa no final de contas — volta seu olhar para mim — Mas não penses que acabará assim, tu irás pagar caro por tudo isso.
— Sábia decisão… porém não acredito que conseguirão manter essa palavra — respondo enquanto deixo o local.