Guerra de Deuses - Capítulo 15
Agnus descansava sobre um pilar de mármore. Cabeça baixa, matinha os punhos fechados com força; tanta que as veias saltavam.
Vez ou outra olhava para Elise, a mulher que perdeu o irmão. Ela se afastou de todos. Estava agachada na borda da Clareira Branca.
Conseguia ver, de longe, ela chorar quase o tempo inteiro e, às vezes, começar a rir por alguns instantes, mas logo voltar ao choro.
“Merda… Se o irmão dela não tivesse vindo junto!” Pegou um pequeno galho no chão e ficou rabiscando no chão para ver se acalmava-se.
Ao lado dele, estavam três dos homens mais fortes que vieram parar no mesmo lugar. Um pouco à frente estava Natália.
Conheceu a menina no primeiro dia e logo trouxe-a para o lado dele.
Aquele poder de cura da menina era algo assombroso.
Levantou a cabeça e olhou-a. Ela comia um pouco de carne aos pouquinhos, como um pequeno coelho branco.
O olhar dele, porém, não era tão amigável quanto deveria parecer.
Subitamente notou pelo canto dos olhos alguém o observando. Era aquele idiota que não lhe ouvia ou seguia suas ordens.
O homem que o humilhou completamente. A singularidade que destacava-se ainda mais que ele próprio.
Percebeu brevemente que não era ele quem estava sendo observado, mas sim a garota. Como em um flash, também notou os olhos do homem trocarem de cor.
Foi algo extremamente rápido, mas poderíamos a afirmar com convicção: “Eles brilharam na cor do oceano profundo”.
Essa foi a sua visão.
— Ele também é especial — murmurou. O galho que usava para desenhar, quebrou-se em pedaços. — E-eu… quero esse poder.
Algo voltava a consumir Agnus. Um sentimento que o levou há alguns anos no passo. Sentia tudo uma outra vez retornar pelo mar de lembranças terríveis.
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Arskan terminou de analisar a garota.
“Eu me esqueci dela? Não… Eu me lembraria de tê-la visto antes. Será que ela morreu ainda no primeiro dia? O que eu mudei?”, perguntava-se.
Aquilo era uma mudança muito brusca. Uma mudança no futuro e uma mudança nos planos dele.
— Droga… — Ele reclamava, mas por dentro sentia um certo alívio. — Como será a sua reação ao ver a filha?
— Está falando do que, Arskan? — Kyler ainda estava pelos arredores.
— Nada. O que quer?
Kyler abriu um sorriso largo. Ele suspeitava que Arskan sabia de mais coisas sobre o Tutorial.
Implorou por dicas, perguntou sobre os conhecimentos e exclamou ao ser recusado.
— Não vai mudar nada eu te contar uma coisa ou outra. Apenas não me amole.
— Ah! Não tem nem uma coisinha útil? Vai!
— Entre na floresta, mate monstros e não seja um covarde. É mais que o suficiente.
Arskan não estava mentindo. Os segredos do Tutorial eram tantos que ele só precisava se esforçar e explorar um pouco.
Dar dicas poderia até atrapalhar acabar atrapalhando.
Com a expressão feia do arqueiro, ele apenas deu de ombros.
— Você é muito… Ah!
— Espera… — Arskan de repente se lembrou de algo. — Nenhum guia ensinou vocês a usar as habilidades, não é? Isso eu posso te ajudar.
Kyler olhou para Arskan com surpresa.
— É sério?
— É. Não custa nada e é algo fácil.
— Aoba!
— Nunca mais faça isso. — Arskan se arrependeu um segundo depois de ter aceitado. — Vamos para a floresta.
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— Você quer saber o nome da minha habilidade — perguntou o arqueiro.
— Não precisa. Eu descubro sozinho. Olhos Mágicos — proclamou.
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[Visualizador de Status]
Nome: Kyler Stan | Raça: Humano
Classe: Arqueiro C
Título: Nenhum
Estatísticas:
Força: 7 | Velocidade: 8 |Vigor: 6
Destreza: 9 | Inteligência: 7 | Mana: 1
Habilidades:
Especial: Nenhuma
Ativa: [Tiro Rápido]
Passiva: [Mira Apurada]
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— Interessante.
— Você consegue ver minhas habilidades?
Arskan não respondeu e cortou logo para o próximo assunto.
— Você possui duas habilidades, então tem algum talento para classe de arqueiro… — Ele foi interrompido.
— Eu era o melhor da minha turma. — Coçou o a ponta do nariz enquanto se vangloriava.
— Não me interrompa outra vez, senão dou meia-volta agora mesmo.
— Você é muito impaciente, cara. — Kyler ficou quieto após isso.
— A habilidade Passiva melhora sua taxa de acerto e precisão ao atirar. Conforme você for treinando, essa taxa vai se tornar ainda mais constante. A outra é fácil de usar.
Arskan então ensinou como se ativava habilidades ativas. Caso não tivesse algum requisito específico, era necessário apenas falar o nome da habilidade enquanto realizava uma ação.
— Mire naquela árvore e fale: Tiro Rápido. Algumas pessoas conseguem usar habilidades até sem falar nada, mas falar melhora a concentração.
Kyler pegou seu arco e despretensiosamente mirou com uma flecha. Um pouco antes de soltar, obedeceu.
— Tiro Rápido! — proclamou em alto e bom som.
Um milésimo antes de soltar a corda, uma energia percorreu-lhe da ponta do dedo, subiu até a cabeça e depois correu entre os seus dedos.
Aquela fagulha elétrica conectou o seu corpo ao arco e então ele soltou a flecha.
Ela voou em disparada, dando-lhe um coice que o fez dar um passo atrás. A velocidade dobrada cortou o ar com um som agudo e o baque contra a árvore reverberou quando a madeira foi perfurada profundamente.
Kyler ficou boquiaberto; pasmo! Nunca atirou com tanta velocidade.
— Achei que seria mais rápido. Hum… Você deve ter perdido muita energia durante o combate — comentou levianamente surpreendo ainda mais o arqueiro.
— Isso não foi rápido o suficiente?
— Não quebrou nem a barreira do som. A flecha não é muito boa e o arco também não é grande coisa. Até que foi bom para a primeira vez. Como se sente?
O arqueiro então se deu conta. As mãos tremiam, a visão dele estava turva, como se vários pontos pretos cobrissem seus olhos, e a respiração pesada batia contra o ar.
— Exausto.
— Hm. Você só tem 1 ponto de mana. Era o esperado. Deve ter usado toda a energia do seu corpo para isso.
Apesar de ficar provocando Kyler, Arskan estava realmente satisfeito com o desempenho do rapaz.
Não era assim tão fácil usar uma habilidade de primeira. Requeria experiência com a arma, um foco absurdo e um espírito poderoso.
“Talvez ajudá-lo possa me beneficiar no futuro.”
— Sua energia deve voltar em uma hora. Tente de novo depois…
Um farfalhar ressoou por detrás de Arskan. Ele instantemente puxou seu Alfange do Guerreiro e colocou contra o ser que surgia.
— Aarh! — Um gritinho feminino ressoou.
Arskan parou sua lâmina um pouco antes de tocar o pescoço da garota e ela caiu com o susto de bunda no chão.
— O que quer?
Natália olhou para cima, limpou a bunda que ficou suja na queda e deu um olhar irritado para Arskan.
— É assim que você trata uma dama?!
“Ela é estranhamente parecida com o pai.”