Heaven's Sons - Capítulo 2
— Finalmente!
Uma voz aguda estrondou, tão alta que as paredes da casa tremeram. Com o barulho, Huli Jing acordou assustado.
— Qu Queem é ? — Huli Jing perguntou gaguejando.
Não deveria haver ninguém em casa, além dele e sua empregada Mei. Seus pais, nesse período, estavam tão cheios de deveres que acabavam dormindo em seus escritórios.
Logo, Huli Jing notou uma sombra enorme na parede. Uma luz vermelha estava iluminando o quarto e dando origem aquela sombra.
— Você é mesmo um lixo, como aqueles jovens falavam!
A voz insultava diretamente Huli Jing, que estava atordoado por ainda não ter conseguido encontrar quem estava no quarto.
Mesmo que estivesse com medo e aquilo fosse verdade, Huli Jing não deixava ninguém o insultá-lo sem dar uma resposta.
— Pelo menos o lixo não é uma galinha de uma perna só. Saia das sombras frangote, e apareça!
— Quem você está chamando de covarde? Você além de inútil é um cego por acaso? Estou bem na sua frente, seu tapado!
Huli Jing não estava em seu estado normal. Sua mente e corpo ainda estavam exaustos. Estava vendo coisas que nunca tinha visto antes e como reflexo, sua mente recusava a acreditar naquilo e tratava apenas como um sonho.
O som daquela voz, não saía e passava pelo ar, não, a voz assim que falava ressoava bem em sua mente. Então, não havia como localizar a direção de quem estava falando. A luz vermelha deixava seus olhos confusos, as sombras assumiam figuras assustadoras e cenas de mortes.
Porém, havia uma sombra que se destacava entre as outras, tinha o tamanho da parede do quarto chegando até o teto. Tinha ombros largos, orelhas pontudas e um par de chifres.
Slap!
Huli Jing sentiu o lado direito do seu rosto ficar quente. Após alguns segundos recobrou-se e entendeu que tinha levado um tapa, ao virar para ver quem havia lhe atingido, o segundo tapa veio, agora no lado esquerdo.
Slap!
— É para você se recobrar garoto, o segundo foi apenas por capricho, não havia necessidade.
A risada aguda e maliciosa fez Huli Jing acordar de seu transe. A figura na sua frente tinha dois palmos de altura, um riso malicioso cheio de dentes pontudos e um olhar afiado que parecia ler todos os seus pensamentos.
— Ei inútil, não se preocupe com o que eu sou. Você é muito fraco… pode me chamar de … Vejamos… Mestre Supremo de Todo o Universo.
Após rir um pouco daquela cena, Huli Jing decidiu entrar na brincadeira. Em sua mente, aquilo ainda não passava de um sonho.
— Óh duende supremo do universo, peço perdão por não ter visto sua grandeza anteriormente.
— Tudo bem inútil, não se preocupe. Eu lhe perdoo, em troca vou pegar seu corpo emprestado, pelo menos será melhor usado — falou rindo.
Em um clarão vermelho a figura foi em direção ao topo da cabeça de Huli Jing, em segundos desapareceu. Dentro da sua mente, Huli Jing estava mais surpreso que quando viu aquela figura no seu quarto. O duende que antes tinha dois palmos de altura agora tinha 10 metros, por onde andava o fogo se alastrava.
— Sabe garoto, como forma de retribuição, você terá a honra de saber meu nome. Quem sabe na sua próxima reencarnação você não tem uma vantagem. Meu nome é Shaytan, diga meu nome no reino dos fantasmas ou dos demônios que você terá boa sorte.
Apenas a gargalhada fez Huli Jing se curvar, a pressão em seus ouvidos era imensa, estavam prestes a estourar.
— Duende maldito! — Huli Jing gritou com todas as suas forças.
Então, numa atitude impensada, Huli Jing correu na direção de Shaytan para socá-lo. Antes de chegar perto do gigante, a perna do mesmo já estava esmagando-o, afundando mais de 2 metros chão abaixo.
Seu corpo já estava bastante quebrado, ainda sim com sua força de vontade, levantou do buraco se arrastando e cuspiu sangue no chão.
— Não me diga que o mestre do universo, só consegue fazer isso com um garoto de 15 anos — Huli Jing pronunciou como um louco rindo, após cuspir mais sangue — patético!
— Garoto, você abusou da minha misericórdia — Shaytan falou.
Shaytan, que antes tinha 10 metros de altura, agora estava no tamanho do garoto. Em suas mãos carregava uma pequena faca e um sorriso sádico no rosto.
Shaytan tinha uma forma intrigante de diversão, a cada corte que infligia no corpo de Huli Jing, parecia mais feliz. Não parou de rir até o corpo do garoto ser só linhas vermelhas.
A tortura que não parecia acabar diversificou, a faca se transformou numa agulha. A agulha entrava no corpo de Huli Jing, mas não saia uma gota de sangue, apenas gritos de dor.
Sempre dizem que o tempo é relativo, naquele dia Huli Jing teve essa afirmação testada em seu próprio corpo.
— Está vendo garoto? Como sou forte e isso é apenas um milésimo de minha força.
— Claro que não estou vendo! Você me deixou cego, seu duende idiota, além de pequeno é burro!
— Eu já estava com pena de você, vamos iniciar o terceiro tempo, aí talvez você tenha mais respeito.
O céu estava cheio de estrelas, a lua cheia no alto tratava de iluminar as partes na escuridão, as ruas estavam enfeitadas de lanternas e mais lanternas.
Havia gritos de multidões e músicas por todo o lado, o cheiro de bebida e comida preenchia todo o local. Num grande salão, estava Huli Jing vestido de branco, sem nenhuma marca em seu corpo.
O poder preenchia o seu corpo, mas ali não era o momento de demonstrá-lo, simplesmente havia gente demais e nenhuma necessidade. Então, uma jovem entrou pela porta, acompanhada de um velho.
“É meu casamento?!”
A noiva chegou com o pai no altar e ao retirar o véu Huli Jing não acreditou em quem era. Se tratava de Meng Qingyan, uma amiga de infância de seu irmão que ele viu poucas vezes.
Meng Qingyan era uma garota linda. Agora na idade adulta mostrava uma beleza ainda maior, ao ponto de Deuses terem inveja. Com cabelos longos e dourados, seus olhos brilhavam na mesma intensidade.
O vestido branco que usava não era capaz de ocultar toda sua silhueta. Huli Jing, não olhou muito para seu corpo esculpido, e sim para sua boca. Era pequena, os lábios vermelhos tornavam-se convidativos.
Huli Jing estava totalmente distraído com a cerimônia, não sabia como, mas todos ali eram grandes imortais. Quando o realizador perguntou se tinha alguém que impedisse aquele casamento até o vento parou para não atrapalhar.
Nesse momento, as portas do salão bateram, um homem bêbado entrou. Ninguém acreditava que aquilo era possível, era muito desrespeito.
Ao ver o cabelo do intruso Huli Jing espantou-se.
“Eu nem tinha me lembrado dele estar na platéia.”
— Você é um traidor covarde! Não convidou seu próprio irmão! Ou você não me considera mais como tal? Até roubou meu amor de infância — Huli Feng gritava.
A multidão vendo aquela cena, começou a falar sobre silenciar o bêbado.
— Óh pelos deuses, tirem esse bêbado falando asneiras daqui.
— Chutem esse otário, não deixem que ele atrapalhe o casamento de um imortal prestigiado como Huli Jing.
— Não encostem nele, ele é meu irmão — Huli Jing pronunciou.
Os convidados ficaram chocados. Meng Qingyan não estava mais tranquila, estava aflita, uma pequena lágrima escorreu sobre seu rosto.
— Não sabia que um imortal tinha um irmão lixo e bêbado como esse daí.
— Dizem que ele trabalha com prostitutas e ladrões.
Os convidados fofocavam sobre a origem de seu irmão. Isso deixou a face de Huli Jing envergonhada.
Huli Jing chegou próximo de Huli Feng e o levantou, abraçando seu irmão. Huli Feng socava seu peito, porém não fazia nem cócegas devido ao seu nível de cultivo.
— Como você pôde? Como você pôde? — Huli Feng perguntava aos choros.
— Tudo bem, vai ficar tudo bem. — Huli Jing tentava acalmar o irmão.
— Você mata seus próprios pais para ter o controle do Clã, me tortura — Huli Feng falou ao tirar a parte superior do robe — mata todas as crianças do Clã Meng apenas para ela se casar com você. Você virou um desgraçado!
A cada frase de Huli Feng os atos de Huli Jing foram enviados para sua mente. Ele matando os próprios pais, depois torturando o irmão, o massacre de crianças. Tudo isso passou em sua mente.
Seu rosto estava em choque, Meng Qingyan desabou no choro logo atrás, Huli Feng não tinha mais lágrimas para chorar.
— Eu, eu, eu não sei o que fiz. Não fui eu, irmão. Me desculpe, não fui eu. — Huli Jing falava sem saber direito como tudo aquilo aconteceu.
Huli Jing não encontrava as palavras certas. Huli Feng então sacou uma faca e cortou a garganta na frente de seu irmão, o sangue sujou toda sua roupa branca. Os convidados pareciam não ligar para aquela morte, muito pelo contrário, pareciam se deliciar com aquilo.
Ao olhar para Meng Qingyan agora notou que havia algemas em suas mãos, e uma espécie de coleira em seu pescoço. Huli Jing desabou ao ver a morte de seu amado irmão, tentou pegar a mesma faca e se matar mas não conseguia.
Sua dor era sentida em todo o seu corpo, seu choro trazia uma angústia, daquelas de lutar contra o mundo e dizer: “Não leve ele, me leve! Ele não merece morrer”. Era algo difícil de pôr em palavras.
Quando parecia que seu choro ia acabar, as cenas se repetiam na sua mente e todo o sentimento voltava junto com as lágrimas.
Depois de horas, quem sabe dias chorando, a platéia que não saiu começou a rir. Começou o riso aos poucos, quase não dava para notar, mas depois foi se intensificando até ficar maior que o choro de Huli Jing.
Quando ele levantou a cabeça para ver o motivo de estarem rindo, arrepiou-se. Toda a plateia tinha o rosto parecido com o de Shaytan.
— NÃO! ISSO NÃO É REAL! NÃO É! SAIA DAQUI! — Huli Jing gritava tapando os ouvidos para não escutar as risadas.
— Eu vou fazer essa ilusão se tornar verdade garoto, e vou deixar uma parte da sua mente intacta até lá para ver isso, que tal? — a plateia falou em coro ressoando bem na mente de Huli Jing.
— Não por favor, eu imploro, por favor não faça isso. Ele não lhe fizeram nada de mal, apenas eu, me mate.
— Agora está pedindo por misericórdia garoto? Eu disse que você iria conhecer o próprio inferno. Assim que eu sair da sua cabeça isso vai se tornar realidade.
Toda a plateia desapareceu, restando apenas Shaytan, que seguia andando calmamente até Meng Qingyan. Ao chegar nela, levantou seu rosto pelo queixo.
— Eu ainda não tinha decidido o que fazer com ela, é bem bonita para uma humana, talvez eu a use por um tempo — Shaytan falou e caminhou em direção a saída.
— Não! Não! Não! Eu não vou deixar isso acontecer.
— Não pode me impedir, garoto. Você já viu minha força, é melhor aceitar.
— Hunf! Você não passa de um duende.
Shaytan então correu até a direção de Huli Jing para socá-lo, quando estava a apenas alguns passos de acertá-lo, Huli Jing levantou do chão e deu um de seus chutes da técnica que tanto treinava.
O chute acertou em cheio o rosto de Shaytan. Que só parou ao destruir um pilar do salão.
— Droga garoto, você quer mais tortura? Você não vai me vencer.
— Duende idiota — Huli Jing falou ao enxugar as lágrimas do rosto e pegar a faca que estava no chão.
Shaytan e Huli Jing travaram uma luta árdua, Shaytan com socos e palmas que fizeram Huli Jing voar pelo salão. Enquanto Huli Jing usava um bom trabalho de pés para chutar Shaytan em seus pontos cegos. Huli Jing usava a faca como um blefe, porém conforme a luta foi progredindo sua habilidade com ela também avançava.
Numa sequência rápida, Huli Jing conseguiu uma abertura com a faca, estava mirando a cabeça de Shaytan. No último segundo, Shaytan conseguiu desviar, mas não havia muito tempo para manobras, apenas botando a faca numa posição não letal.
A faca cortou uma das orelhas do duende, em contrapartida Huli Jing levou um soco na barriga que o fez cuspir sangue.
— Chega garoto, já brinquei demais com você aqui.
Assim que falou, surgiram bolas de fogo na mão do demônio.
— Então você vai apelar para essas bolinhas de fogo.
Shaytan não se preocupou em responder às provocações de Huli Jing e logo começou seu bombardeio.
As bolas de fogo vinham numa velocidade enorme, Huli Jing estava muito mais rápido que elas e conseguiu desviar da primeira. Porém, não pensou que aquilo ia explodir bem nas suas costas.
“Droga, se eu perder aqui é o fim de tudo, meus pais e meu irmão irão sofrer. Tenho que ganhar.”
Rapidamente levantou-se, não parecia haver nenhum dano em seu corpo. Quanto mais caia pelas bolas de fogo, mais rápido Huli Jing levantava e partia para a luta.
— Ei Shaytan, já entendi como fazer essa bola de fogo.
— Impossível, teria que entender o Qi para isso.
— Vamos ver.
Na mão de Huli Jing então surgiu uma bola de fogo. Ao jogar sua primeira bola de fogo para Shaytan ela explodiu bem antes de chegar nele.
— Eu sabia, não tem como você consegu.— Antes de Shayta terminar a frase, Huli Jing estava nas suas costas.
— Agora será a sua primeira rodada.
Click! Click!
Duas correntes foram travadas nas mãos de Shaytan.
— Levou um tempo até eu me lembrar que estávamos na minha mente. Neste local, não há ninguém mais forte que eu. O que eu imaginar pode se tornar realidade.
Então seu irmão Huli Feng levantou-se, pegou a faca e enfiou no peito de Shaytan. Depois foi a vez de seus pais fazerem o mesmo. Um por um das vítimas que Shaytan tinha mostrado para Huli Jing, enfiaram uma faca no peito de Shaytan.
— Preparado para o segundo round? Ainda não defini quantos vão ser…
Shaytan não gritava como Huli Jing fez quando foi sua vez. Pelo contrário, seu rosto demonstrava tédio e um pouco de raiva.
Após incontáveis rodadas de torturas, insultos e provocações, Shaytan abriu sua boca.
— Ok, garoto, vamos fazer um trato?
— E o que você pode me oferecer? Não, melhor ainda, o que é que você quer? Saiba que eu não irei deixar você fazer nada daquilo que me mostrou antes.
— Bem, eu lhe ajudo, e você me ajuda que tal? Parece um bom termo, não?
— Tudo bem, e como você pode me ajudar?
— Eu vou lhe torturar pela última vez.
— Você acha que eu fiquei louco né? Ou você ficou louco depois de tanta tortura?
— Escute, garoto, eu posso reconstruir seu Dantian.
— E em troco o que você quer? — Huli Jing perguntou desconfiado com aquela afirmação.
— Pra reconstruir seu Dantian será um processo difícil, será uma tortura, mil vezes pior pela qual passou. Então se você sobreviver você tem que ficar forte para me ajudar a reconstruir minha glória.
— Tudo bem, porém tem mais termos. Caso eu morra você não pode machucar minha família, nem nada daquelas visões, certo?
— Certo, eu concordo. Faremos um pacto sanguíneo, para os dois estarem vinculados pelo sangue a cumprir sua parte na promessa.
“Um corpo fraco e inútil como o seu, uma linhagem fraca de alguma besta de baixo escalão haha você não vai durar segundos no processo” Shaytan se deliciava nos pensamentos.