Herança Celestial - Capítulo 1
Sexta-feira 11 de junho de 2038
Um homem com uma feição cansada está sentado dentro do metrô, rumo a próxima parada. Embora seu rosto claramente demonstre cansaço, também era nítida a expressão de satisfação havia sido seu primeiro dia de trabalho. No peito, um crachá contendo seu nome e uma foto de identificação. Seu emprego agora era trabalhar como designer gráfico em uma das empresas de tecnologia mais renomadas da atualidade. Seus anos de esforço finalmente demonstraram resultado. Em breve ele iria se mudar, compraria uma casa, e levaria mãe e o irmão para morar junto com ele. A família era composta apenas pelos três. Ele queria demonstrar gratidão a ela. Seu pai morreu quando ele ainda era criança, e sua mãe, sozinha, cuidou dos dois filhos. Independente das circunstâncias, nunca faltou comida na mesa.
Alguns minutos depois, o metrô chegou ao seu destino. Tawen saiu da estação e andou por alguns metros. Foi um dia longo. Não via a hora de contar para a família sobre o primeiro dia de trabalho. No meio do caminho, ele encontrou seu amigo Afonso.
— Eai cara de boa? Acabei de chegar de uma raid. — disse
— Sim, hoje foi meu primeiro dia de trabalho e agora tô indo para casa.
— Mais tarde Deke e os outros vão jogar basquete, se quiser é só colar.
— Ok.
Após seu amigo ir, ele volta a andar enquanto ônibus lotados passavam. Todas aquelas pessoas, provavelmente estavam retornando de seus respectivos trabalhos. Ele ficou um tempo observando o trânsito. Seus poucos minutos de paz foram interrompidos quando um tremor começou. Nada para se assustar, afinal eles se tornaram muitos comuns ao longo do tempo. A cerca de dez anos atrás uma falha tectônica no oceano atlântico, foi descoberta. No início, o país foi reduzido a pó. As Cidades foram assoladas por catástrofes imensas. Terremotos de escalas altíssimas, tsunamis acotecendo com frequência em cidades costeiras, milhões de desaparecidos, desabrigados e mortos, e o país não tinha estrutura nenhuma para lidar com tais danos. Com o passar dos anos o Brasil se remodelou. Longe de ser um país de primeiro mundo, mas sua estrutura econômica mudou drasticamente devido aos investimentos externos, ao mesmo tempo surgiram os chamados players para combater monstros conhecidos como eques. Tawen ficou no mercado até o tremor cessar. Então ele decidiu ir embora. Andou por alguns quarteirões, até chegar à rua de sua casa. Pouco antes de se aproximar do edifício ao qual morava, o tremor retornou ele perdeu o equilíbrio, e se agarrou em um poste para se manter de pé. O tremor dessa vez havia voltado em uma escala muito maior do que o anterior. Um estouro altíssimo vindo do chão ecoou. Uma onda de choque proveniente de uma possível explosão, arremesa Tawen. Ele entra em pânico o cenário agora parecia ter saído diretamente de um filme pós-apocalíptico, não muito diferente de quando os terremotos começaram pela primeira vez.
Ele consegue chegar até entrada do edifício do qual morava. A recepção estava vazia, e obviamente os elevadores não estavam funcionando. Subiu as escadas desesperadamente, indo rumo ao segundo andar, ao chegar nos corredores sentiu a pressão do ambiente aumentar.
O tremor parecia ainda mais forte. Se apoiou na parede para não cair, e se aproximou da porta ele estendeu a mão até a maçaneta. A cena que ele presencia foge de qualquer coisa que ele poderia imaginar. Um ser translúcido, e verde flutuava no meio da sala. A anomalia chacoalhava e sugava violentamente tudo ao seu redor. A sala que antes dava lugar a diversos móveis agora estava vazia. Todos esses detalhes eram ínfimos a cena que ele processou momentos depois de adentrar o local.
Ali estava seu irmão, lutando bravamente para que sua mãe não fosse engolida. Tawen correu o mais rápido que poder ajudar o irmão a puxar a mãe daquele buraco dimensional.
Os esforços pareciam em vão, pois não importava quanta força fizessem, ela não movia um centímetro para fora daquela anomailia. Seu irmão mais novo, chorava descontroladamente, enquanto dava o máximo para evitar que a mãe fosse engolida. Tais momentos de agonia, foram transformados em completo desespero quando uma sirene foi tocada. Um alerta de risco de desmoronamento foi dado.
— Meus filhos eu quero que me deixem aqui e fujam.
— Jamais! Eu vou te tirar daqui custe o que custar!
— Não importa quanta força façam, vocês não conseguirão me tirar daqui de dentro, e o apartamento pode desmoronar a qualquer momento.
— Mas mãe eu não posso.
— Eu sei o quanto você tem tentado filho. Eu sei de todos os seus esforços não deixe que os seu sonho acabe aqui. Por favor leve o seu irmão e e se salve.
— Mãe…por favor… — ele não conseguiu conter suas lágrimas.
— Meu filho querido esse é o meu último pedido. Faça por mim. Pelo seu irmão. Pelo seu pai.
Tawen se sentiu destruído, sua mãe que o criou com tanto carinho dizia ali suas últimas palavras. Ele não podia fazer nada. Algo que nem era daquele mundo, tiraria a sua mãe, e destruiria os planos que ele construiu por anos. Seu pai ele havia sido a figura de inspiração. A sua última conversa com ele ficou gravada na sua mente. Como se ele estivesse voltando no passado, a memória da última conversa passou nitidamente em sua cabeça.
— Meu filho o papai, tá muito doente, e pode ser que a gente não possa mais conversar. Quando isso acontecer você vai virar o homem da casa. Trate de tomar conta da sua mãe e do seu irmão.
— Mas papai eu quero que o senhor volte para a casa…
— O papai não pode voltar agora. Vem cá eu vou te dar um presente. — disse o pai, retirando do pescoço um cordão com um pingente em formato de lua.
— O que é isso?
— É um colar foi o seu avô que me deu, ele disse que era para eu não sentir a falta dele quando partisse. Sempre que eu me sentia sozinho, eu apertava ess pingente bem forte. Quando eu fazia isso, me lembrava de todos os momentos que eu passei com ele. Quando você sentir a minha falta, é só fazer a mesma coisa. — disse colocando o colar nas mãos do filho.
— Eu te amo muito meu filho — carinhosamente ele abraça o filho, essa era última vez que eles conversavam.
Tawen sentiu o seu corpo ferver ele não podia abandonar sua mãe, e faria de tudo para salvá-la. Com toda sua força ele agarra o pingente, em um instante uma luz forte preenche o local. O tempo ao seu redor passa tão devagar, que aparenta ter parado. Ele percebe que tudo está mais leve, ele aproveita e agrarra os braços da mãe puxando ela para fora da anomalia. Instantes após o pingente parou de brilhar e o tempo retornou ao curso normal.
Sua mãe e seu irmão pareciam confusos. O jovem sentiu um alívio imenso. Agora eles precisavam sair do prédio antes que ele desmoronasse. Ele tentou andar, mas nenhum de seus músculos se moveram. Seu corpo foi tomado por uma fadiga intensa, e para piorar um outro eque acaba de entrar no local. A mãe e o irmão pareciam desesperados. A estrutura começou a desestabilizar e tremer ainda mais.
— Vocês corram daqui agora! — gritou Tawen.
— Mas eu não posso te deixar.
— Eu disse o mesmo para a senhora, essa foi a minha escolha se aqui é o meu fim pelo menos eu salvei vocês dois.
— Mãe eu amo a senhora e amo meu irmão. E não me arrependo de nada.
O tremor fica ainda mais forte e o prédio começou a desmoronar. A mãe então pegou o filho mais novo pelo braço, e correu o mais rápido o possível em direção a escada, Tawen é perfurado. Embora estivesse ciente que aquele poderia ser seu fim, ele não sentia medo pelo contrário estava mais calmo do que nunca. Então um sistema aparece.
— Você adquiriu o direito de receber a herança celestial. Você aceita?
— O que está acontecendo?
— Caso recuse, seu coração irá parar de bater em aproximadamente 40 segundos. Você aceita?
— Não posso morrer aqui, a minha família ainda precisa de mim.
Logo que sua resposta é dada. Um brilho azul toma todo seu corpo, e o ferimento é curado instantaneamente.