Hino da Criação: A Reencarnação da Deusa - Projeto_K
Após atravessarem um último lance de escadas, as duas garotas se depararam com a visão da catedral. E apesar de sua aparência majestosa, ao seu redor, contrastando com a beleza angelical daquela área; um conflito em larga escala, conduzida pelas forças humanas, se esforçavam para repelir um ataque alienígena massivo.
Tanques blindados disparavam projéteis de energia contra uma criatura alienígena imensa. Soldados mecanizados combatiam milhares de inimigos que se esgueiravam pelo chão. Metralhadoras de plasma abatiam centenas de naves que cruzavam céus, e, por fim, estacionado acima da catedral; uma fragata aliada, equipada com um robusto escudo de energia, defendia, com o seu próprio corpo, os aliados em terra de um intenso bombardeio orbital.
Hordas de criaturas se lançavam contra as fileiras humanas, fatiando e mutilando tudo o que viam pela frente, com o propósito de romper suas defesas e quebrar sua formação. Porém, apesar de suas inúmeras baixas — e imensa desvantagem numérica — os soldados humanos permaneciam firmes em suas posições.
Até que eles avistaram a silhueta de sua soberana, e uma onda de gritos, comemorando a sua chegada, ecoou em todas as direções. E a moral que já estava alta, se tornou ainda mais intensa.
Em uma fração de segundo, dezenas de guerreiros — que portavam armaduras balísticas e escudos de energia — se lançaram na frente de seus inimigos, e criaram, temporariamente, um caminho livre em linha reta.
Permitindo, que tanto a sua soberana, quanto a Sacerdotisa da Luz; pudessem chegar até a catedral em segurança.
Levou menos de um minuto para que as duas alcançassem o seu objetivo, e no instante em que a Representante da Vontade Maior forçou a sua mão na porta; o rangido do ferrolho, do aço e da madeira, anunciaram, de maneira nada sutil, a presença de sua convidada.
Na frente dela, seguindo a sua linha de visão, havia uma criatura, no formato de uma cobra imensa, aprisionada no centro do salão por várias camadas de magia antiga, que neutralizavam, de maneira objetiva, parte do seu imenso poder.
Seu longo corpo esguio, adornado por diversas escamas triangulares, concediam, à criatura, uma aparência ameaçadora e majestosa. E combinado às suas presas afiadas, pupilas em fenda vertical e aura assassina; a sua presença, que já era esmagadora, se tornava ainda mais aterradora.
Abaixo da serpente, contida por inúmeras correntes de energia mística; havia uma mulher, de cabelos prateados e orelhas pontudas, que mantinha — apesar de inconsciente — o selo da magia ativo.
Com os seus olhos frios e penetrantes, voltados para a mulher de cabelos escuros; a entidade no formato de cobra abriu a sua boca, colocou a língua para fora e sibilou:
— Falso deus! Falso deus! Saia da minha história, falso deus!
E no instante em que ela se preparou para dar o bote, a Representante da Vontade Maior deu um passo para frente, sacou a sua espada de energia das costas, e numa fração de segundo, exclamou para a Sacerdotisa:
— Vá, pequenina! Toque nas correntes que aprisionam sua mãe! Até que você possa libertá-la, farei de tudo para manter o seu caminho livre!
E com um estalo de seus dedos, ela acrescentou:
— A Vontade dos Criadores! — disse, com os seus cor-de-rosa brilhando como luzes de neon. — Terceira Melodia do Hino: O Caminho para a Realeza!
Flores congeladas brotaram do chão, e a densa névoa escura — que cobria o salão — logo foi sendo dispersada com o seu comando.
E conforme ela media forças com a criatura — fatiando o seu corpo e repelindo a energia escura que emanava de seus ataques — a pequena Sacerdotisa cruzou a distância que a separava de seu objetivo, e como se fosse uma flecha disparada em linha reta; ela estendeu o seu corpo, esticou o braço e encostou, com as pontas de seus dedos, as correntes mágicas que aprisionavam sua mãe.
Dispersando a energia escura que a envolvia, e preenchendo o grande salão com uma imensa explosão de luz.
— Muito bem, súdita minha! — disse uma voz feminina, ecoando em seus ouvidos. — Como prometido, irei interferir na conclusão desta história! E apesar do seu final já ter sido decidido, ao menos, no epílogo, você será capaz de sentir o calor de sua mãe!
De repente, o som de várias badaladas de um sino pôde ser ouvido, e ela sentiu — com os seus olhos cheios de lágrimas — a sua mãe lhe abraçando com bastante força.
— Aliceteria! — disse a mulher, sorrindo, enquanto chorava de alegria. — Você está viva. Viva! Ainda bem… Estou tão feliz que você esteja bem, minha filha!
Enquanto as duas se abraçavam — em meio à uma sala vazia e completamente branca — a Representante da Vontade Maior deu um passo para frente, curvou o seu corpo, e de maneira respeitosa, fez uma reverência.
— Nobre Késia — disse ela, em um tom gentil. — Obrigada por ter salvado a vida de meu súdito! Obrigada por ter ficado ao lado dele, quando mais ninguém pôde fazer o mesmo. Obrigada por ter abençoado os seus dias, com a alegria de formar uma família!
Ela soltou a barra de seu vestido e completou:
— Eu te agradeço, do fundo do meu coração!
Nesse momento, a mulher de cabelos prateados — que até então chorava de alívio — arregalou os olhos, esboçou um sorriso gentil e respondeu:
— O meu marido ficaria muito feliz, em saber, que no final, tivemos a aprovação e a bênção de seu deus!
Com o fim dessa declaração, o seu corpo começou a se desfazer em milhares de partículas de luz, e à medida em que ela desaparecia; a pequena Sacerdotisa —tomada pelo desespero — tentou, a todo custo, abraçar o corpo de sua mãe com ainda mais intensidade.
— Não chore, filha minha — disse ela, acariciando a cabeça da primeira. — Tudo o que fizemos, foi feito apenas para proteger a ti! Não me arrependo de nenhuma das nossas escolhas!
E com o que restava de suas forças, a mulher de cabelos prateados envolveu o corpo da pequena Sacerdotisa, e enquanto a abraçava, sussurrou em seus ouvidos:
— Viva e cresça, Aliceteria. Que você tenha saúde, e encontre a felicidade!
Desaparecendo logo em seguida.
Por vários minutos, a Sacerdotisa da Luz chorou, e quando os seus olhos se tornaram incapazes de derramar mais lágrimas; ela ergueu o seu corpo, pegou na mão esquerda da Representante da Vontade Maior, e seguiu, ao lado dela, até a porta da Catedral.
Onde um Cruzador aliado estava a sua espera.
— Imperatriz! — disse uma mulher, de cabelos curtos e pele clara, enquanto se curvava em sinal de devoção.
— General da Terceira Legião! — exclamou a segunda, em um tom gentil. — Por gentileza, escolte a minha súdita até o nosso planeta natal. Lá, ela poderá encontrar a irmã de seu pai. Esta criança ainda possui uma família esperando por ela!
— Como desejar, minha Senhora!
E com os seus olhos voltados para a garotinha, a Representante da Vontade Maior acrescentou:
— Vamos nos encontrar novamente, Aliceteria! — disse ela, pegando em sua mão. — Em meu Império, você será capaz de voltar a falar e a cantar! E quando estiver se sentindo triste e solitária, basta me procurar! Tenho muitas histórias a respeito do seu pai que gostaria de compartilhar, e também, adoraria saber mais a respeito de sua mãe!
Ela abraçou a pequena Sacerdotisa e completou:
— Eu me chamo Lycoris… Lycoris Étoile! A Deusa Imperatriz da Humanidade!
E após uma breve despedida, a Sacerdotisa da Luz olhou uma última vez para a Representante da Vontade Maior; depois para a sua cidade em ruínas, e, por fim, entrou no Cruzador Espacial com a cabeça erguida. E seguiu, junto da Terceira Legião, para a sua nova casa em outro mar de estrelas.
Assim que a nave partiu, uma figura misteriosa — que se escondia nas sombras — dispersou a sua camuflagem e se aproximou de Lycoris.
— Minha Senhora, aqui. — disse o soldado, enquanto entregava um comunicador para sua soberana.
— Obrigada! — respondeu ela, pegando o aparelho e colocando em seu ouvido.
Enquanto caminhava pelos jardins congelados da catedral, uma memória passou pela sua mente, e ela vislumbrou, mesmo que momentaneamente, a última transmissão de seu súdito:
“Imperatriz, nós fomos traídos! Traídos pelos Servos do Antigo Imperador! Durante a nossa campanha contra as Máquinas, os Traidores atacaram a Frota da Quarta Legião pela retaguarda! Junto deles, estavam os Deuses Antigos e os Infernais! Fomos encurralados, divididos e dizimados! E numa tentativa desesperada de escapar dos nossos perseguidores, saltamos com as nossas naves avariadas em pontos aleatórios do espaço-sideral.
A minha nave acabou caindo em um planeta de um universo desconhecido, infelizmente, fui o único sobrevivente dela. Acabei sendo resgatado pelos nativos do planeta, e passei a viver no meio deles! Em dado momento, acabei me apaixonando por uma mulher, me casei e virei pai! Porém, a minha felicidade não durou muito tempo, e outro de nossos inimigos, os Xenos; classificados como Devoradores de Mundos, descobriram este planeta e lançaram a sua invasão.
Neste momento, estou dentro de uma de suas Naves-Rainha. E para que eu pudesse enviar esta mensagem a ti, conectei o meu cérebro em um de seus terminais! Após encerrar a minha transmissão, pretendo destruí-la com uma das bombas que carrego! Neste planeta, descobri uma substância química que pode matar os Alienígenas! Os dados da Bomba Viral estão escondidas em meu laboratório, dentro de um santuário onde a minha filha repousa.
Por favor, Imperatriz. Eu te peço, não… suplico! Salve a minha família, salve a minha filha! E puna os Traidores do Império Humano!
Foi uma honra servi-la, meu deus!”
Após abrir os seus olhos mais uma vez, Lycoris contemplou a lua cheia, ativou o dispositivo que estava em seu ouvido e, em seguida, enviou uma mensagem para todos os seus súditos:
— Este é um aviso para todas as forças estacionadas neste sistema solar. A operação de resgate foi um sucesso! Repito, a operação de resgate foi um sucesso! Número de sobreviventes: Um. A partir de agora, o nosso objetivo é retomar o planeta!
E com apenas um comando, ela completou:
— Iniciem a invasão!