Imperador da Glória Eterna - Capítulo 14
4 de abril de 5997 d.E, Algum lugar do Grande Oceano
As ondas golpeavam o casco e invadiam o convés do imponente couraçado IBS Gunsway, que navegava solitário no meio do Grande Oceano durante uma tempestade furiosa. Os marinheiros lutavam para não serem arrastados pelas forças do mar. Entretanto, na ponte de comando, a situação não era tratada com a seriedade esperada para uma situação daquelas.
Dois homens conversavam com calma: o primeiro, o comandante do navio, o Vice-Almirante Sir Every, fumava um charuto, cujo aroma impregnava o cômodo. O segundo homem era o comodoro Tew, que observava apreensivo a tempestade pela escotilha.
— Acalme-se, meu velho amigo. Vai me dizer que um experiente lobo-do-mar como você nunca enfrentou um dos tufões do Mar Central? — dizia Every, tentando tranquilizar seu colega.
— Não estou nervoso pela tempestade. Estou preocupado com o que nos espera quando finalmente sairmos dela — respondeu Tew, procurando por alguma luz no horizonte.
— A capital do Império, Joia da Coroa… — Every falava com encanto. — A cidade projetada por Erobern no centro do mundo.
— Estou ansioso para conhecê-la…
— É uma cidade fantasma, seus dias de glória já se foram. Se duvidar, a única pessoa que vive na cidade é a Marechal Joana.
— Joana, a Megera — murmurou Tew em um tom baixo. — Como foi a sua visita no mês passado?
— Estavam reconstruindo boa parte da cidade, principalmente o porto e os prédios administrativos. O porto foi finalizado semana passada, senão o Gunsway não teria onde aportar.
— E os estaleiros?
— O porta-aviões Leviathan estava sendo construído lá. Parece ser um navio enorme, mas de que adianta um navio enorme sem nenhum canhão. Espero que esses “aviões” valham a pena. Eu colocaria quinhentos canhões e destruiria qualquer coisa no meu caminho.
— Avião, nome estranho — comentou Tew ao virar seu olhar para Every. — Acha mesmo que a nova tecnologia vai conseguir derrotar os cavaleiros de dragões?
— Os reinos mágicos do oeste são nossa principal preocupação no momento. Temos que tomar muito cuidado para não despertar os elfos ou os anões.
— Nações não-mágicas são tão fáceis de lidar, dois tiros de um canhão e eu consigo tomar uma cidade. Enquanto isso, no leste… Aqueles elfos malditos nos expulsam com seus arcos encantados. — Tew ficou enojado só de pensar.
— Erobern mudará tudo, não se preocupe, velho amigo. — Every descansou o charuto e caminhou até a porta da cabine.
A tempestade subitamente dissipou-se, revelando um céu claro e ensolarado que banhou todo o navio em sua luz radiante. À distância, emergiram os penhascos íngremes de uma ilha, destacando-se em contraste com o azul profundo do oceano.
No centro da paisagem, uma passagem única cortava os penhascos, guardada por duas fortalezas militares imponentes. Essas estruturas massivas erguiam-se com imponência, seus canhões apontados para o mar, prontos para repelir qualquer embarcação que se aventurasse na baía sem permissão.
— A Joia da Coroa… — exclamou Tew, admirando a grande estátua que se erguia no topo de uma colina íngreme à sua direita.
Era uma obra impressionante de mármore, concebida como um farol para orientar os navegantes em direção a um porto seguro. A estátua retratava um soldado com o seu inconfundível casaco negro do Exército da Libertação que descia até os joelhos. Os detalhes eram tão vívidos que o tecido parecia mover-se ao menor movimento do vento.
Em sua mão direita, estendida, segurava uma lanterna a óleo, originalmente destinada a iluminar o caminho dos marinheiros como um farol luminoso. Na mão esquerda, erguia uma espada, apontada diretamente para a baía, como se indicasse o curso a ser seguido.
O imponente couraçado navegou devagar para entrar na baía. O local estava vazio, considerando sua capacidade. Havia uma dúzia de navios aportados, dos quais mais da metade eram outros grandes navios de batalha.
Após o navio atracar, Tew e Every desembarcaram rapidamente. Na área das docas militares, encontraram apenas um punhado de marinheiros. A segurança parecia ser mínima; a guarita que controlava o acesso à base naval estava deserta, sem nenhum soldado para vigiar o local.
Os dois oficiais seguiram a pé pela cidade praticamente deserta, até chegarem a uma estação de monotrilho. Embarcaram e partiram em direção ao centro administrativo. A paisagem urbana era impressionante, com imponentes arranha-céus dominando o horizonte.
Entretanto, algo na paisagem chamou a atenção de Tew, um complexo de palácios que se erguia imponente na área setentrional da cidade. O estilo arquitetônico das construções era claramente oriental, destacado por um enorme portão adornado de jade e prata que servia como entrada para o complexo. Os telhados ostentavam estátuas de diversos animais, desde leões até águias e dragões, todos detalhados de forma impecável. Os prédios foram concebidos com amplas áreas abertas em seu centro, muitas vezes dispostos como belos jardins.
— Esse é o famigerado harém de Khan? — questionou Tew para o colega.
— O projeto original foi criado pela Marechal Joana para ser o grande palácio de Erobern. — Every riu ao pensar no que ia dizer. — Erobern ficou furioso ao descobrir sobre a construção do “harém”, então, no fim das contas, quem terminou de construir o palácio foi o Marechal Khan. Grande sorte a dele.
— Deve ser necessário um enorme complexo para acomodar tantos filhos.
— E não esqueça das concubinas. — Every deu uma cotovelada no ombro de Tew.
O monotrilho parou diante do maior edifício da cidade, uma estrutura imponente que se destacava sobre todos os outros. Totalmente envidraçado, o prédio refletia a luz do sol em suas janelas, espalhando um brilho radiante por toda a Joia da Coroa.
Tew e Every desembarcaram e foram prontamente abordados por dois soldados. Vestidos inteiramente de preto, os soldados usavam grandes capacetes que deixavam apenas suas bocas à mostra. Ambos armados com pesados fuzis automáticos, não hesitaram em apontá-los para os oficiais.
— Identificação! — ordenou o militar.
— Vice-Almirante Henry Every e Comodoro Thomas Tew. — Every apresentou um papel carimbado com o selo de uma coroa dourada.
Após confirmarem as identidades, os dois soldados prestaram continência.
— Marechal Joana os aguarda na sala do alto comando militar.
— Pela glória do Império! — exclamou Tew.
— Pela glória do Império! — respondeu o soldado, devolvendo a continência. — Boa reunião, senhores.
Tew e Every seguiram adiante, até chegar ao Departamento Geral das Forças Armadas do Império. A cada passo, mais soldados surgiam, sempre patrulhando em duplas. Quando os oficiais se aproximavam, todos interrompiam suas atividades para render continência.
Os primeiros andares do edifício abrigavam um vasto museu repleto de relíquias e artefatos provenientes de outras nações. Um item em particular se destacava: uma imponente armadura dourada, posicionada no centro da exposição. Esse tesouro em especial atraiu a atenção deles, deixando os dois maravilhados com a beleza e a grandiosidade da peça.
— Esta armadura é nova, não estava aqui da última vez que visitei — observou Every, examinando os detalhes.
— É ouro maciço? — indagou Tew, ao tocar na caixa de vidro que protegia a armadura.
— Senhor, por favor, não toque no vidro — repreendeu um soldado que passava pela área.
— Não vai acontecer de novo — respondeu Tew ao erguer as mãos em sinal de rendição e se afastar do vidro.
— Agradecido.
Every lançou um olhar irritado para Tew.
— Um tanto rude — murmurou Tew quando o soldado se afastou.
— Não é ouro maciço, é uma liga de ferro revestida a ouro — comentou Every para desviar o assunto da advertência de Tew. — Continua sendo uma peça linda.
— Um conjunto anti-magia de algum herói.
— Muito bonito, mas Joana vai matar a gente se atrasarmos.
Enquanto percorriam os corredores, um rosto familiar surgiu entre os soldados. Era uma jovem de vinte e poucos anos, com longos cabelos pretos lisos que lembravam o brilho de uma gema de ônix polida. Ela vestia um corpete de couro por cima de uma camisa de linho cinza, cujo generoso decote realçava seus seios volumosos. Suas calças eram apertadas, com um grande destaque para suas curvas.
— Senhor Every, é um prazer reencontrá-lo — falou ela para o Vice-almirante.
— Princesa pirata Sophie. — Every inclinou-se e beijou a mão da jovem. — A quem devo o prazer deste encontro?
— Estou aqui para assinar o pacto de amizade entre a aliança pirata e o Império. Minha mãe acredita que podemos nos beneficiar mutuamente.
— Acredito que deva conhecer meu subalterno, comodoro Thomas Tew — disse Every ao apresentar seu colega.
— Sempre a serviço de Erobern. — Tew também beijou a mão de Sophie.
— E a sua mãe? Ouvi rumores sobre a rainha pirata estar doente — questionou Every.
— Ainda não sabemos qual é a doença dela; sua saúde está se deteriorando rapidamente. Se não tomarmos medidas, ela não sobreviverá até o final do ano.
— Não se preocupe, Erobern pode salvá-la. Ela só precisa pagar o preço.
— Por isso estou aqui… Tenho outros compromissos, mas foi bom encontrar os senhores. — Sophie se despediu com um aceno e partiu pelos corredores.
— Acha que eu tenho chance? — perguntou Every para Tew quando Sophie se distanciou o bastante.
— Isso é com você, vamos logo, Joana vai matar a gente — afirmou Tew.
Ao adentrarem a sala do alto comando, foram recebidos por um silêncio pesado, enquanto todos os presentes os observavam com semblantes gélidos e impenetráveis. A sala era dominada por uma imponente mesa em formato de U, circundada por quinze assentos e três lugares centrais reservados para os oficiais de mais alto escalão.
Na sala, um total de onze pessoas ocupavam os assentos, com duas delas sentadas na mesa principal. A única mulher presente estava posicionada na ponta direita. Vestida de maneira militar, seus cabelos estavam presos em um curto rabo de cavalo, e uma cicatriz marcava seu rosto, descendo da sobrancelha direita até o nariz.
— Tomem seus lugares, iremos iniciar a reunião agora — ordenou ela, com voz firme para Tew e Every.
Assim que todos estavam devidamente acomodados, a mulher começou a falar:
— Tenho uma notícia muito importante para dar. Chegou a tão esperada hora de trazer nosso líder do exílio e provar ao mundo quem é o verdadeiro Imperador. Não haverá piedade, não haverá rendição, apenas lágrimas e sangue. Aqueles que não estão conosco estão contra nós. Que a glória do Império prevaleça! Que os deuses paguem pelos seus crimes.