Imperador da Glória Eterna - Capítulo 20
Yoou abriu os olhos, caído no chão, ainda atônito pela queda. Levantou-se e averiguou o lugar, uma câmara escura, a única fonte de luz eram os LED azuis na manga de seu casaco. Pegou uma pedra do chão e a jogou para o alto, transformando-a em uma rajada de luz verde que iluminou toda a sala.
As paredes, cavadas na rocha, apresentavam uma superfície irregular. O ar era úmido, e uma brisa suave sinalizava uma possível passagem para outra câmara adjacente. Ao tocar na parede, uma luz esverdeada começou a ser emitida, capaz de iluminar todo o recinto.
— Não é nada legal. — Ele tateou as paredes, em busca da fonte da brisa. — Quer saber? Dane-se a estrutura! — Um feixe azulado cortou a pedra, em um buraco circular do tamanho exato para permitir sua passagem.
Yoou, um dos mais jovens comandantes do Exército de Libertação, foi recrutado em tenra idade e nunca envelheceu de maneira convencional. Considerado imprudente e imaturo pelos demais membros, seu único amigo é Pacificador, outro recruta jovem. Juntos, são os aficionados que passam noites no acervo de Erobern, mergulhados em videogames diversos.
Sim, videogames. Erobern coleciona tais artefatos, roubados dos heróis, guardados em uma sala abaixo do Departamento Geral das Forças Armadas do Império. Viciado nessas máquinas, Yoou incorporou muitos trejeitos de seus personagens favoritos, incluindo seu cabelo roxo, pintado semanalmente, e as luzes de LED que adornam seu uniforme.
Ele atravessou o túnel recém-criado, deparando-se com uma tênue luz de tochas do outro lado. Encontrou-se em uma sala muito mais elaborada que a anterior. De proporções amplas, suas paredes eram construídas com tijolos cinzentos, conferindo-lhe um charme rústico. No teto, candelabros imponentes, e nas paredes, tochas lançavam sua luz. Um mezanino se estendia ao redor, proporcionando uma visão privilegiada do espaço. Haviam também muitas portas, inclusive uma ao lado do buraco criado por ele.
Ao emergir do outro lado, deparou-se com a maga no centro da sala, imersa em um círculo de rituais. Concentrada na leitura de um livro e na correta movimentação de seu cajado, entoava palavras desconhecidas. Absorta em suas práticas mágicas e de costas para Yoou, ela não percebeu sua presença, tampouco o barulho da escavação do novo túnel.
— O que você está fazendo? — Yoou encarou a elfa enquanto cutucava o nariz.
— Como você escapou da cela? — Ela se virou para ele espantada.
— Modéstia à parte, não foi tão difícil. — Yoou esperou por um momento. — E então, vai me responder?
— Guardas!
— Sem resposta, madame? Devo assumir que está usando magia para reforçar seus colegas e derrotar meus amigos…
— Cale-se! — interrompeu a maga estava furiosa com aquela falha de segurança. Não era para nenhum dos aliados de Erobern chegar até ela.
Ao ver, uma dezena de guardas assustados entrar na sala, Yoou riu.
— Essa é a sua guarda? Só sobraram eles? Dragonslayer fez um belo estrago nas suas linhas defensivas.
Os elfos atacaram Yoou com suas lanças e espadas, mas o garoto era rápido para desviar deles. Golpe por golpe, ele se moveu para trás, até ser encurralado por uma parede. Um pouco aliviados, eles apontaram suas lâminas para a jugular do comandante.
— Precoces! — Yoou tirou dois discos lisos brancos de seu casaco e os jogou contra os adversários.
Os discos voaram, fatiando tudo pelo caminho como se fosse papel, pulando de um inimigo para outro com uma agilidade impressionante. Os cortes que deixavam para trás não resultavam em sangue, o material estava tão quente que cauterizava os ferimentos no momento em que os fazia. Em uma sincronia perfeita, os guardas caíram, cortados ao meio como se fossem feitos de papel.
— Curtiu? — Os discos retornaram às mãos de Yoou, que sorria cheio de orgulho.
— Silêncio! — Atordoada pelo massacre, a maga conjurou uma magia contra o comandante.
Em um clarão laranja, Yoou teleportou-se para o outro lado da sala.
— Passou perto — exclamou ele, quase batendo o rosto na parede. — Agora é minha vez! — E lançou os discos contra a maga.
A elfa não se moveu, os discos colidiram contra uma barreira invisível delimitada pelo círculo ritualístico ao redor dela.
— Valeu a tentativa. — Yoou recuperou suas armas. — Sempre vale a tentativa.
Com seus poderes, Yoou apareceu atrás da maga com um clarão laranja. Seu propósito era tentar entrar na barreira e roubar o livro. Porém, ela foi mais rápida, Yoou sentiu o tórax arder quando a magia tocou nele.
O feitiço proclamado possuía a capacidade desintegrar um humano com um simples toque. Todavia, Yoou foi apenas arremessado com a força do impacto.
— Covardia da sua parte. — Ele levantou-se, um pouco mais animado pela perspectiva da batalha.
— Como? Como? — repetia ela, sem entender como o jovem permanecia vivo.
— Ser um servo de Erobern tem suas vantagens! — Ele estendeu o braço direito e usou a mão esquerda como apoio no cotovelo para estabilizar o disparo. — Imunidade, a magia é uma delas, mas o poder dele é o melhor de tudo! Super Hiper Mega Blaster Ultra Laser!
Um raio azul explodiu da mão direita de Yoou, uma manifestação de poder avassaladora. A energia o empurrava para trás enquanto a rajada crescia em intensidade. O feixe se expandia cada vez mais, forçando a maga a concentrar todas as suas energias na ampliação de sua barreira para impedir que fosse atravessada.
Sem parar, o diâmetro do feixe aumentava, até impedir totalmente a visão da elfa, que focava todas as suas energias em sua barreira mágica. Entretanto, em um certo momento, o ataque cessou e uma luz laranja correu pela sala.
— Surprise, surprise… — Yoou surgiu atrás dela e arremessou seus discos.
Sem tempo para reação, os discos a atingiram no peito, de forma não letal. Ela desabou no chão, tossindo sangue.
— Por que não me matou? — A voz da maga soou fraca, sua visão estava turva pelo impacto repentino.
— É muito mais divertido quando você coleciona todos eles. — Ao tocar no rosto dela, transformou-a em um cubo branco, do tamanho de uma mão humana.
Agora o local estava silencioso, o círculo ritualístico se desfez na ausência de sua mestra, e as inúmeras portas desapareceram. A sala assumiu uma nova configuração, revelando duas saídas opostas: uma escadaria e uma longa porta obstruída por um robusto tronco.
— Ajudar ou não ajudar? Eis a questão. — Yoou arremessava o cubo para cima enquanto pensava na melhor decisão.
Ele sabia que os seus colegas estavam provavelmente presos do outro lado da porta, lutando contra os membros restantes da guarda real. Mas não havia nele o desejo imediato de ajudar.
— Um alvo para cada um, não é? — Ele saboreou a ideia. — Acho que vou deixá-los lidarem com os inimigos sozinhos; é o preço por me subestimarem.
Yoou esperou pacientemente em frente à porta, em aguardo para descobrir qual colega seria o primeiro a pedir que ele a abrisse.