Imperador da Glória Eterna - Capítulo 22
Em outra parte dos túneis, o som de mastigação se misturava com os passos pesados de um jovem que perambulava. Ele era um dos comandantes do exército de libertação, um garoto acima do peso que usava óculos. A iluminação era boa, proporcionada por grandes lamparinas a óleo no teto. Ele se encontrava em uma ampla sala que dava acesso a uma escada em espiral à sua frente.
— E então? Quando vai atacar? — gritou ele, sem se virar, para alguém atrás dele.
Um jovem elfo, de cabelos loiros e olhos verdes, o encarava com a espada apontada. O elfo parecia hesitante, seus olhos traindo uma mistura de desconfiança e curiosidade. Ele vestia uma pesada armadura élfica ornamentada com fios de ouro, uma obra-prima artesanal, e estava armado com uma espada e um grande escudo redondo com o brasão da família real.
— O que está esperando? Estou bem aqui, na sua frente! — Ele se virou, tirou a última jujuba do pacote e a guardou no bolso.
— Você parece inofensivo, não impõe medo, não parece um guerreiro. — O elfo se aproximou, baixando a guarda.
— Então é só atacar e ganhar as honras de derrotar um comandante de Erobern. — O jovem ajustou os óculos com um gesto rápido.
O elfo avançou, apesar de toda a sua armadura, ele era muito rápido e móvel. O fio da espada tocou a garganta do comandante, que em um instante se transformou. Sua pele pareceu ondular e se expandir, pelos grossos e escuros surgiram rapidamente, seus ossos estalaram e se rearranjaram com um som assustador. Em segundos, o jovem comandante era agora um enorme cachorro humanoide de dois metros. A espada foi segurada com uma das mãos do animal, que deixou uma gota de sangue escorrer.
— Afiada — comentou a besta, sua voz agora mais grave. Ele deu um salto para trás com uma agilidade impressionante, desviando dos golpes do elfo com facilidade.
O garoto gordo havia se transformado em uma enorme criatura de pelos escuros, sua forma lembrava a de um doberman. Seus músculos pareciam ter triplicado de tamanho, distorcendo o uniforme que antes vestia. Agora, ajustado ao seu novo corpo poderoso, o uniforme revelava a verdadeira imponência da besta.
— Um selvagem? Devíamos ter imagino que sua raça se juntaria novamente à vingança de Erobern. — O elfo girou a espada em sua mão, analisando seu novo oponente.
A besta rosnou baixinho, seus olhos amarelos estavam focados no inimigo, acompanhando cada passo e movimento.
— Minha raça faz mais do que simplesmente se transformar em bestas. Com nosso glorioso líder, mostraremos nosso verdadeiro potencial. Não precisaremos mais nos esconder, seremos todos livres! — A criatura avançou com socos e chutes, cada golpe carregado com uma força devastadora, todavia todos eram habilmente bloqueados pelo escudo do elfo.
— Sou Mirthal, da família real do sul. Quem é você, selvagem? — questionou o elfo, após aparar os golpes.
— Meu nome imperial é Pacificador. — O animal freou o ataque e se colocou em posição de batalha, afastando-se do adversário.
— Não parece ser um nome adequado para um selvagem, nem para um guerreiro do exército de Erobern.
— Sou a linha de frente do exército, aquele que pacifica um campo de batalha, martelando os inimigos e destruindo sua moral até que se rendam.
— Ainda lhe falta muito poder para chegar a esse ponto. — Mirthal girou sua espada, em um corte rápido e preciso que passou a centímetros do pescoço de Pacificador, que pulou de forma rápida para trás.
— Venha para mim! — Um forte rugido ecoou pela câmara, tremendo o teto e balançando as lamparinas.
Mirthal mostrou indiferença à expressão de força adversária, mantendo a distância enquanto girava a espada na mão. Ele estudava a besta, procurando uma brecha para atacar. O canino humanoide, agora uma massa de músculos pesados, contrastava fortemente com sua forma humana, que exibia mais gordura do que robustez.
— Você tem força física, posso afirmar… — Mirthal olhou para o escudo, intacto apesar dos socos e pontapés, e soltou uma risada. — Porém, o que se pode fazer contra magia? — O escudo brilhou com uma aura alaranjada.
— Mate a magia. — Pacificador balançou o casaco negro do exército de libertação.
Quando sua mão emergiu debaixo do casaco, revelou um pequeno canhão de assalto portátil, uma arma que poderia facilmente ser montada em um tanque leve. Apesar de pesada, Pacificador a ergueu sem dificuldades e, com o dedo no gatilho, disparou.
O elfo foi ágil ao bloquear o projétil com seu escudo, mas a explosão que se seguiu o derrubou e o lançou para longe. A fuligem sujou o belo escudo, ocultando o brasão brilhante de prata da família real.
— Que tipo de arma mágica é essa? — Mirthal se levantou, mantendo distância do oponente. O cartucho ainda fumegante estava no chão.
— Ultraviolence, armadura imperial desenvolvida para combate, o protótipo da arma de matar. O tiro de supremacia! — respondeu Pacificador, enquanto avançava e disparava uma segunda vez.
Mirthal bloqueou o disparo e gritou:
— Isso não parece uma armadura!
— Apenas uma parte dela. — Pacificador guardou a arma em seu casaco, apesar de parecer impossível que coubesse ali, e começou a rosnar.
A forma selvagem de Pacificador tomou o controle de seu corpo. Suas características antropomórficas desapareceram, e ele se transformou em um grande doberman negro. Até mesmo o uniforme se fundiu à sua nova aparência.
Ele avançou contra o elfo, que teve que se esquivar com o escudo e brandir sua espada para afastar o animal. O doberman rosnava e circulava o inimigo, procurando a menor brecha para cravar suas presas no pescoço de Mirthal.
Pacificador pulou contra ele e, no meio do golpe, surpreendeu seu inimigo ao voltar à sua forma meio-humana, golpeando o elfo no estômago e lançando-o contra a parede. Agora, o casaco havia sido substituído por uma armadura negra estranha, que parecia leve e construída como uma peça única, cobrindo todo o corpo do selvagem.
— Um alvo para cada, e você é o meu alvo… — Ele sorriu, enquanto um pequeno lançador de mísseis surgia em suas costas, interligado à armadura.
O míssil foi disparado, passou rente ao teto e caiu com toda a força sobre Mirthal. O chão e as paredes tremeram, uma cratera se abriu no meio da sala, e a poeira subiu, ocultando Mirthal.
Quando a poeira se dissipou, o elfo não estava mais lá, ele havia desaparecido. Pacificador olhou cauteloso ao redor, mas logo sentiu o cheiro do oponente e se virou, recebendo um golpe de espada nas costas.
— Acha que é capaz? — gritou ao segurar o pescoço do elfo.
Mirthal olhou incrédulo para sua espada quebrada, surpreso com a resistência da armadura de Pacificador.
— Tem razão, você é muito forte para mim! — Mirthal girou o braço esquerdo e feriu o rosto de Pacificador com o escudo.
A besta gritou de dor e soltou Mirthal, que aproveitou a oportunidade para fugir pelos túneis.
— Considere-se morto! — Pacificador colocou a mão no rosto e viu sangue. A ponta afiada do escudo havia cortado sua face.
Ele se transformou em sua forma animal e começou a perseguir o elfo pelos túneis apertados. Se não fossem as curvas e esquinas, teria-o alcançado rapidamente, todavia era forçado a diminuir sua velocidade para virar, deslizando ocasionalmente no chão frio de pedra.
A perseguição continuou até chegarem a uma escadaria que levava aos túneis superiores. Mirthal subiu os degraus com agilidade, enquanto Pacificador, em sua forma bestial, era mais lento.
Ainda assim, não foi o suficiente. Com um salto poderoso, o doberman tentou cravar suas presas na jugular do inimigo. Mirthal, ainda com o escudo em mãos, desviava das investidas repetidas, sentindo o peso do animal sobre seu corpo.
Percebendo que não conseguiria matar o elfo naquela forma, Pacificador voltou à sua forma meio-humana. Ele agarrou o pescoço de Mirthal, seus olhos amarelos encontrando o olhar assustado do elfo, que já via os portões da morte.
Em um movimento brutal, Pacificador separou o corpo de Mirthal em dois, suas entranhas e sangue escorrendo sobre o meio-humano. Pacificador jogou o corpo partido, que rolou pelas escadas, e voltou seu foco para a nova sala.
Na parede, havia um enorme buraco circular escavado perfeitamente. No chão, um círculo de rituais cercado por diversos corpos de elfos fatiados. Uma flecha voou na direção dele, mas Pacificador a segurou no ar sem nem olhar. Um novo inimigo havia aparecido.