Imperador da Glória Eterna - Capítulo 10
Otaviano, movido pela fúria, avançou sobre Sedenta com um soco cruzado de esquerda, mas a mulher brutamontes desviou de forma ágil, apesar de seu tamanho e peso. Ela segurou o braço de seu oponente no ar e o arremessou pela rua.
— Os heróis continuam os mesmos desde a última calamidade. São novos rostos, porém a forma de lutar continua a mesma — zombou Sedenta para seu adversário caído. — Já enfrentei monges como você antes, conheço suas fraquezas e vantagens. Acham que as bênçãos da deusa os protegerão de tudo e todos.
— Enfrentando uma senhora de mais de quinhentos anos? Que emocionante saber que estou lutando contra uma “velhinha” — ironizou Otaviano, erguendo-se do chão.
— Docinho… Tão jovem e prestes a morrer de forma tão agoniante na calçada gelada…
Otaviano saltou para um novo ataque, iniciando com um soco cruzado de esquerda e concluindo com um gancho rápido de direita. Sedenta não esperava a mudança de estratégia, e o segundo golpe atravessou sua guarda, acertando seu queixo com tamanha força que ela foi arremessada para trás.
— Observe e aprenda, não sou como os outros. Sou um herói de seis estrelas, classificado entre os dez mais fortes da humanidade. — Otaviano brilhava com a aura branca que cobria tanto o corpo como a alma, seus olhos estavam brancos.
Sedenta riu e avançou contra ele. Cada golpe trocado entre os dois provocava tremores no chão, e os paralelepípedos se deslocavam com o impacto. Gradualmente, o local onde ficava o mercado ia se tornando ruína, os escombros dos edifícios levantavam poeira, que subia e dificultava a visão.
Otaviano ergueu um grande pedaço de parede e o arremessou contra Sedenta. Entretanto, ela simplesmente estendeu o punho fechado, e o bloco se despedaçou ao seu redor.
— Precisa de algo mais robusto para perfurar minha couraça — provocou ela, lançando um chute certeiro no queixo de Otaviano.
Meio atordoado, Otaviano cambaleou, mas recobrou o movimento e devolveu o chute com uma cabeçada.
— Você é de carne, eu sou divino. — Ele girou os punhos e sua aura se intensificou ainda mais.
— Fala muito e luta de menos! — Sedenta olhou para os corpos dos companheiros dele, caídos no chão ao serem baleados por Herman. — Tenho um truque especial para você. — Ela o encarou com um sorriso malicioso no rosto.
Com uma expressão desafiadora, Sedenta aproximou-se dos corpos e, com um gesto rápido, fez com que o sangue deles saísse pelas narinas, envolvendo seu próprio corpo e moldando-se para si uma segunda pele. Em seguida, esticou as mãos e materializou uma espada vermelha, pronta para o confronto.
Otaviano não se admirou, e adquiriu uma arma também. Pegou um dos postes de iluminação do mercado, que ainda estava com óleo de baleia fresco da noite anterior, e o retirou no chão. Os dois colidiram suas armas no ar. O sangue cristalizado batia contra o metal, um rangido único era criado.
#22#
Zoe e as gêmeas faziam o seu melhor para destruir as marionetes, mas quanto mais elas lutavam, mais inimigos apareciam. Quando as flechas, as esferas ou a espada de Daisy destruía um dos bonecos, carne e sangue escorriam pelo chão misturado com a madeira que era a casca das criaturas.
Tudo estava conforme os planos de Vítor, naquele momento sua única preocupação era escapar das esferas mágicas de Zoe e dar tempo suficiente para Herman e Sedenta derrotarem Otaviano e Luciolla com tranquilidade. Então, algo o tirou do foco.
Uma águia negra pousou em seu ombro, era Mávros trazendo notícias.
— Como entrou na minha dimensão das sombras? — indagou Vítor ao subir ainda mais com sua névoa, tendo uma vista privilegiada da batalha.
— Fácil, tu deixou um rastro de energia, só tive que entrar — respondeu ele ao limpar as penas com o bico. — Vim aqui para o relatório, metade do mercado foi destruído.
— Só metade? Achei que Lucciola iria destruir tudo com os vaga-lumes explosivos dele.
— Quem? Está falando daquele garoto que parece ter dormido duas horas ontem? — disse Mávros um tanto confuso. — Alice tentou fugir, mas ele a perseguiu.
— E? — Vítor fechou os olhos e coçou a testa.
— Herman correu atrás deles, e depois eles entraram no subterrâneo e eu os perdi…
— Subterrâneo? — Vítor suspirou fundo depois dessa informação. — Me diga por favor que o chão não está tremendo…
— Sou uma águia, estou no ar, não no chão. Mas se estiver, qual o problema? Eles devem estar no sistema de escoamento do rio Rhein, nada para se preocupar. — Mávros deu uma pequena bicada na orelha de Vítor.
— Lucciolla tem a habilidade de fazer seus pequenos amigos insetos explodirem, horrível para locais abertos, perfeito para locais fechados.
— Ih, rapaz, já senti o cheiro da merda… —
— Ele pode ser um herói de quatro estrelas, mas no ambiente certo, ele é o pior adversário que Herman poderia ter enfrentado…
— E o que você vai fazer?
— Chegar em Alice antes dele… Mas antes, tenho que terminar alguns assuntos com essas três… — Vítor suspirou e apontou para suas oponentes, que destruíram suas marionetes. — Consegue sair daqui sozinho?
Mávros assentiu, bateu asas e desapareceu no meio da névoa.
“Ótimo… Era isso que eu precisava… Lutar contra Lucciola no meio de um canal subterrâneo”, pensava Vítor ao tentar bolar um plano.
As marionetes, que antes avançavam como hordas sanguinárias contra as três garotas, se tornaram fumaça e desapareceram. A dimensão negra de Vítor ficou silenciosa, com o único som sendo o do respirar das três. Zoe olhou para suas amigas sem entender o que acontecia.
— Vítor! — gritou ela. — Apareça! Sei que você está planejando algo.
E realmente foi isso que ele fez, Vítor saiu da névoa com o seu sorriso confiante costumeiro. Seu uniforme da guilda dos Dragões do Sol continuava impecável, sem uma única gota de sangue ou poeira, os detalhes dourados brilhavam a menor faísca de luz. Daquela distância, uns cinco metros, ele olhou para Zoe e disse.
— Você é conhecida como uma mulher de muitos homens, Zoe, mas até agora, eu e Uriel fomos os únicos a não cair nos seus encantos.
— Uriel? — Zoe questionou a afirmação dele. — Acha mesmo que ele continua…
— É, eu achei, ele já tem o harém dele… Mas pelo visto estou errado.
— Sua língua será sua ruína! Matarei você! — Zoe lançou sua esfera contra Vítor.
Quando a esfera abençoada tocou o corpo de Vítor, ele se desfez no ar. Ela olhou meio confusa, sem entender o que ocorrera.
— Mas o quê?
— Apenas uma ilusão… — Outro Vítor apareceu do outro lado da sala. — Quem ameaça demais, cumpre de menos. Não diga que você vai me matar, me mate… — Vítor deu uma pequena risada. — Isto é, se for capaz.
Uma das gêmeas lançou uma flecha contra Vítor, mas aquele não era o verdadeiro, era apenas outra ilusão. As três olhavam por todo o lugar, mas só viam escuridão, onde Vítor estaria? Zoe sentiu uma mão nas suas costas, fazendo uma pequena carícia em uma das suas duas tranças loiras. Ao se virar, recebeu um pequeno peteleco na testa.
— Esse sou eu — disse Vítor com um sorriso no rosto. — Eu poderia matar as três se eu quisesse, mas vocês ainda não chegaram no ponto de abate. Isso fica para outra hora, tenho alvos mais importantes no momento.
— Quando vai nos tirar daqui? — indagou Daisy, uma das gêmeas.
— Vocês podem sair quando quiserem. — Vítor fez um sorriso malicioso — É só achar a saída… Boa sorte. — E com essas palavras ele voltou a se camuflar nas sombras.