Imperador da Glória Eterna - Capítulo 11
Quando Etterbachen foi fundada, ela era apenas um modesto entreposto comercial entre as rotas fluviais do rio Rhein e rotas terrestres que vinham do leste, na península de Buchenau, até as cidades do oeste, com destaque para Embach.
Com o passar dos anos e o crescimento da cidade, a canalização do rio Rhein tornou-se cada vez mais urgente para conter as enchentes. Após o surgimento do Império de Hunterburg durante a Grande Guerra de Unificação Germânica, o Imperador Frederick I decretou a construção de aquedutos subterrâneos para controlar as enchentes e prover saneamento básico à população local.
Entretanto, os túneis subterrâneos acabaram por desempenhar um papel além do projeto original, transformando-se em um vasto cemitério oculto aos olhos do público. O crescimento rápido e não planejado de uma cidade como Etterbachen levou a necessidade de uma localização não convencional para os enterros, o que levou o governo local a expandir os túneis e criar um ossuário para abrigar os mortos.
Assim, Etterbachen viu-se dotada de uma vasta rede de catacumbas não mapeadas, onde até mesmo os mais experientes poderiam facilmente se perder. E Herman e Alice se encontravam perdidos no meio de uma escuridão infinita.
A única luz vinha da brasa acesa no dedo indicador da mão direita de Alice, uma chama fraca, como a de um isqueiro. As paredes de pedra se iluminavam e o único som que corria por aqueles túneis eram os passos deles.
Herman ia na frente, a passos rápidos, seus olhos se acostumaram rapidamente com a escuridão, e mesmo com aquela luz fraca, ele era capaz de se localizar rapidamente naquele labirinto.
— Você sabe para onde está indo? — indagou Alice, que seguia logo atrás dele com a respiração ofegante.
— Já andamos mais de um quilômetro desde que caímos aqui. — Herman apressou ainda mais o passo. — Estamos próximos do rio; de lá, poderemos encontrar uma saída.
— Até agora não entendi o que aconteceu — comentou Alice ao aumentar a chama que saía de sua mão.
— O ataque dele foi mal-executado, um novato com um péssimo conhecimento sobre o terreno. Acredito que ele achou que conseguiria nos prender em uma cratera, todavia não contava que cairíamos nos aquedutos. — Herman parou de caminhar quando chegou a uma bifurcação.
— Aquedutos? Até agora não vi água.
— Sim, há algo estranho acontecendo. É início da primavera, o rio costuma transbordar violentamente com o derretimento das geleiras das montanhas. E pela marcação nas paredes, este túnel costuma inundar. — Herman apontou para uma linha marcada na parede do túnel, aproximadamente na altura de seu abdômen e soltou uma pequena risada. — Não estamos indo em direção ao rio, estamos nos afastando dele. Devo ter ficado desorientado com a explosão.
— Têm certeza? — Alice encarou Herman por um longo período, queria uma resposta convincente e que os levasse para algum lugar.
— Tenho, o túnel da esquerda nos leva para uma grande galeria subterrânea embaixo do mercado e o da direita vai nos levar até as catacumbas.
— Como sabe?
— Pelas marcas nas paredes, os aquedutos são mais antigos e foram escavados a mão por trabalhadores recém-chegados a vida urbana, enquanto as catacumbas foram explodidas por pólvora. — Herman avançou sem hesitar pelo túnel mais antigo.
Alice decidiu seguir Herman, apesar do desejo de fugir. Ela sabia que suas melhores chances estavam em permanecer ao seu lado até que a situação se acalmasse. No entanto, dúvidas continuavam a perturbar sua mente inquieta.
— Catacumbas? — Um arrepio percorreu sua espinha.
— Sim, exatamente. Existe um vasto ossuário subterrâneo que guarda os corpos daqueles que viveram e morreram nesta cidade nos últimos cem anos. Nunca entrei lá, mas ouvi falar de paredes feitas de ossos e até mesmo uma capela macabra erguida em homenagem à Deusa, nas profundezas das catacumbas.
— Parece bem assustador — murmurou ao pensar na descrição dada por Herman.
— Nunca tive a chance de visitar, mas gostaria. Quando eu morava em Etterbachen, o projeto ainda estava em andamento. Levou anos para ser concluído.
Herman fechou os olhos e lembrou-se da antiga casa que vivia com sua família, o jardim de tulipas onde costumava brincar com a sua irmã. Todavia, a nostalgia foi quebrada por uma pergunta de Alice:
— Quantos anos você tem?
— Muitos, já parei de contar…
— Não sou ingênua, Herman. Você tem no máximo quarenta anos.
Herman parou e encarou Alice seriamente, soltando um pequeno suspiro antes de responder:
— Nasci no ano 5815 do calendário Imperial, e agora estamos em 5997.
— Eu quero sua certidão de nascimento! Como isso é possível? Os humanos de Testfeld vivem mais que os da Terra?
Herman soltou uma risada com o comentário de Alice.
— Ainda é uma novata neste mundo, uma recém-chegada. Ainda tem muito a aprender sobre como as coisas funcionam por aqui… Vítor viu algo que eu ainda não compreendi, mas Erobern concordou com ele, e eu confio no meu Imperador. Não nos desaponte, ou as consequências serão severas.
— Erobern isso, Erobern aquilo… No fim, quem é Erobern? Um velho de seis mil anos ressentido por perder uma guerra?
— Ele riria do seu comentário. Erobern não é apenas um nome, é um título dado ao Imperador do Mundo, aquele que unificará todos os povos, tribos e línguas sob uma única bandeira e trará a paz eterna para nosso mundo. Uma vez estabelecido, o Império nunca será derrubado. O Império é eterno, é o verdadeiro futuro, traz glória a Testfeld. Coisas que sua mente ainda é incapaz de perceber.
— Qual o seu motivo para lutar?
— Erobern cumpriu sua promessa. Recebi algo em troca da minha lealdade.
— O quê?
— Algo mais valioso que prata e ouro, sabedoria, glória ou poder.
Herman voltou a andar, dessa vez em um ritmo mais acelerado, deixando Alice um tanto atordoada com suas palavras, enquanto ela permanecia parada, absorvendo o que acabara de ouvir.
— Alice! Estou vendo luz! — gritou Herman enquanto se distanciava.
Era verdade, existia uma pequena luz cintilante no final da escuridão do subterrâneo. E quanto mais perto eles se aproximavam da saída, o barulho de água aumentava. Herman chegou primeiro e pode analisar onde estavam. Em um antigo poço de escadas, construído no início da fundação da cidade, cheio de musgo e plantas. A água verde-escura era iluminada por uma pequena abertura no teto.
— Alice! Volte! — gritou Herman ao ver um pequeno inseto brilhante no ar.
Antes que Alice pudesse processar completamente o que estava acontecendo, um clarão brilhante como o sol iluminou o túnel, seguido por uma onda de choque que fez o chão tremer. O inimigo já havia lançado seu primeiro ataque.