Imperador da Glória Eterna - Capítulo 25
“No princípio, havia a escuridão, e a escuridão estava com os deuses, e a escuridão era um deus. Ele estava no início e estará no fim; por meio dele, todos existem, e por meio dele, todos perecerão. A escuridão foi invadida pela luz, mas a luz ainda não a venceu e jamais o fará. Pois quando a escuridão despertar, ela reclamará tudo.” — Livro dos Tempos, sobre Erobern.
Era a última semana de dezembro, a neve caía suavemente sobre a cadeia de montanhas gêmeas do continente norte. Escavado diretamente na rocha, um antigo templo, há muito dedicado ao falecido Deus do Submundo, repousava solitário.
Esse santuário, vestígio das eras passadas, servia agora como base de operações para os Inquisidores, também conhecidos como caçadores de magos — o braço armado da Igreja Sagrada da Santa Deusa.
Desde a proibição da magia após a nona calamidade, magos e criaturas mágicas foram implacavelmente caçados, quase levados à extinção. Contudo, ainda havia aqueles que conseguiram escapar e se esconder, ou até mesmo se unir aos inquisidores e caçar seus iguais.
O templo era composto por um grande pátio comum, cercado por uma muralha antiga de granito, extraída de uma pedreira próxima. Depois, havia diversos alojamentos de madeira e por fim chegava-se a grande porta de mármore que guardava o templo, onde em tempos antigos haviam duas estátuas de demônios, agora substituídas por imagens de anjos, armados com espada e escudo.
Três figuras encapuzadas apareceram à distância, caminhando lentamente pela trilha que levava ao templo. A neve caía silenciosamente, acumulando-se sobre seus pés. Seus uniformes revelavam sua afiliação e deixavam claro o propósito de sua visita.
— Invasores! — gritou o vigia ao avistar as silhuetas.
Imediatamente, os inquisidores se colocaram em alerta, prontos para o combate.
Herman caminhava na frente do trio, com as adagas curvas de Buhain em mãos, Yoou estava do seu lado esquerdo e Sedenta do outro lado. Quando as primeiras flechas caíram sobre eles, os três evaporaram no ar como fumaça. Os arqueiros olharam para o horizonte, procurando pelos inimigos.
Uma sombra se materializou atrás dos arqueiros, e o terror se refletiu em seus olhos ao verem Herman surgir silenciosamente. Em um instante, suas gargantas foram cortadas com precisão letal, sem tempo para reação. Ele movia-se de forma imprevisível, sua própria sombra parecia uma extensão de seu corpo, envolvendo as vítimas em um abraço mortal. A neve, antes pura, tingiu-se de vermelho com o sangue dos caídos.
— Fácil demais — comentou Yoou, surgindo ao lado de Herman em um clarão laranja.
— Concordo, eles parecem crianças sem treinamento — respondeu Sedenta, ajoelhada ao lado dos corpos. Suas mãos extraiam o sangue na neve para forjar a sua arma de batalha.
Os inquisidores restantes olharam para os corpos de seus colegas caídos, e levantaram suas espadas, prontos para revidar o ataque.
— Deixem esses comigo — falou Yoou ao retirar os seus discos brancos gêmeos do casaco.
Sedenta e Herman se entreolharam e concordaram, ambos partiram direto para a grande porta do templo. Herman se dissolveu em sua própria sombra, deslizando furtivamente em direção à grande porta do templo, enquanto Sedenta, com um salto impressionante, passou por cima dos inquisidores.
Isso deixou Yoou sozinho no vasto pátio que antecedia os alojamentos do templo, cercado pelos inquisidores de baixa patente. Com um movimento rápido, ele lançou seus discos contra os inimigos, mas os escudos feitos de uma liga anti-magia bloquearam as armas, deixando os inquisidores ilesos.
— Valeu a tentativa. — murmurou Yoou para si enquanto os discos ricocheteavam de volta para suas mãos. — Sempre vale a tentativa.
Os oponentes avançaram, mas Yoou desviou dos cortes de espada em um clarão rápido laranja. Ele apareceu no meio da fonte quase congelada, no centro do pátio.
— Droga, tenho que melhorar o meu ‘flash’ — reclamou ao sentir a água gelada em seus pés. — Talvez meus discos não funcionem, mas isso com toda certeza vai! Super Hiper Mega Blaster Ultra Laser!
O raio azul disparado pelo feixe obliterou tudo em seu caminho. A muralha de pedra derreteu sob o calor intenso do disparo, e os soldados foram completamente exterminados.
— Agora sim! — exclamou Yoou, rindo enquanto se teleportava para o telhado de um dos alojamentos.
Enquanto isso, Sedenta e Herman estavam na frente da porta do templo. O templo era escavado na rocha maciça, um símbolo arquitetônico de uma civilização antiga, agora usurpado pelos inquisidores.
Caminhando entre os corpos e a neve manchada de vermelho, os dois chegaram ao início da escadaria, prontos para subir, quando Herman deteve Sedenta com uma mão firme no tórax.
— Não confie nas estátuas… — advertiu ele.
— Guardiões mágicos. — Sedenta ergueu sua espada de sangue petrificado. — Eles são seus. Eu vou buscar o rubi.
Herman assentiu. Assim que ele colocou o pé no primeiro degrau, os dois anjos de pedra começaram a brilhar com uma luz sinistra, revelando sua verdadeira natureza. Sem hesitar, Herman guardou suas adagas e sacou sua pistola, disparando contra os golems. Os projéteis destroçaram seus rostos e criaram grandes perfurações, mas não foram suficientes. Os monstros rapidamente regeneraram as partes danificadas, como se nada tivesse acontecido.
— Boa sorte. — Sedenta olhou para Herman e saltou por cima dos guardiões de pedra, aterrissando ágil e decisivamente na frente da porta de mármore. — Espero você lá dentro.
Ela entrou sozinha no templo, iluminado por tochas e velas. O ambiente não era nada acolhedor; uma dezena de estátuas de bestas e criaturas monstruosas adornava o espaço, enquanto o teto ostentava uma pintura aterradora do inferno, um cenário que daria pesadelos até mesmo ao mais endurecido dos adultos.
A pintura gráfica retratava as mais horrendas torturas da humanidade, e a atmosfera do local emanava uma aura sinistra, distante de qualquer expectativa para uma ordem religiosa que almeja a destruição da magia. No entanto, em vez de amedrontar Sedenta, isso apenas a estimulava, despertando em ela uma fome de sangue ainda mais intensa, uma ânsia implacável por destruição.
Sentado de pernas cruzadas diante do antigo altar de sacrifícios, um senhor de cabelos brancos aguardava. Vestido com uma túnica azul feita da mais rica seda importada do Império dos Três Reinos, ele não portava armas.
— É irônico que um mestre inquisidor seja um mago tão experiente, mas que já perdeu todos os seus conhecimentos mágicos. — Observou Sedenta ao se aproximar, arrastando sua espada pelo chão e criando sulcos profundos na pedra.
— Você está rompendo uma trégua de mais de dez séculos entre a Igreja e os Filhos da Noite. Espero que Lorde Val reconheça que a Deusa não deixará isso impune.
— E quem se importa com isso? Minha família abandonou a mim e à minha mãe; os pecados deles devem ser julgados. Se a Deusa não fizer nada, então Erobern o fará! — Sedenta se enfureceu ao ouvir o nome de seu avô.
— Erobern já tentou se reerguer onze vezes, em cada calamidade ele falha. O que será diferente na décima terceira calamidade? — O senhor se levantou, irradiando uma aura divina.
— O Messias da Escuridão finalmente chegou… — Sedenta ergueu os braços e uma corrente carmesim envolveu o clérigo. — Pensei que você fosse mais forte; não houve nem mesmo uma luta. — Ela riu ao ver a facilidade com que prendera o senhor com suas correntes do caos. — Agora vamos ao que realmente importa.
Ela caminhou até o altar, onde uma enorme estátua de dragão exibida tinha um único olho feito de um rubi vermelho sangue, do tamanho de uma bola de pingue-pongue.
— É falso… — murmurou Sedenta, removendo o rubi e examinando-o com atenção. — Onde está o verdadeiro?
Ela apertou as correntes, se aproximando e fixando o olhar nos olhos do mestre da ordem.
— Conseguiu? — interrompeu Yoou, ao abrir a porta de mármore com um estrondo, seguido de perto por Herman, que recarregava sua arma.
— Estou obtendo as respostas, parece que fomos enganados — disse Sedenta, apertando ainda mais as correntes e quebrando um dos braços do refém.
— Acham mesmo que a Deusa permitiria que vocês conseguissem uma das Joias de Erobern? O rubi original está muito bem guardado no cofre da cidade celestial — respondeu o mestre da ordem, com um sorriso confiante. Seu propósito parecia cumprido.
— Então, já temos nosso próximo destino — declarou Herman, disparando sem cerimônia na cabeça do senhor.
O corpo caiu inerte no chão, e Sedenta desfez as correntes. No entanto, o novo plano não foi bem recebido por todos.
— Ficou louco? Invadir a cidade celestial? Daqui a uma semana, os heróis estarão chegando, e teremos algo como… cinquenta mil heróis — protestou Yoou.
Herman guardou sua arma e disse confiante:
— Invadiremos com todo o exército de libertação se for preciso, mas cumpriremos nossa missão…