Imperador da Glória Eterna - Capítulo 30

— Acha que é capaz de me derrotar? — gritou o jovem a plenos pulmões, de braços abertos, como se oferecesse o corpo para o primeiro golpe de Vítor.

— Quem é você? — Vítor se aproximava lentamente, a névoa negra o rodeava.

— Chame-me de Sergei Speed. — Ele girou as mãos e fez um carro surgir nas costas de Vítor.

— Um golpe não funciona duas vezes em um lutador experiente.

Antes que o carro o atropelasse, Vítor criou uma rampa de névoa atrás de si, o veículo por cima dele e capotou com a subsequente queda e desapareceu como se nunca tivesse existido. “Se as criações dele forem danificadas, elas desaparecem. Isso é perfeito”, pensou Vítor ao formular um novo plano para a ameaça.

— “Caminhada Temporal!” — Vítor exclamou, e tudo ficou estático por um momento.

Baseado em como Alexandra lutara contra ele antes, deduziu que o tempo continuava a correr normalmente para os outros enquanto ele estava em uma dimensão separada. Aproximou-se de um inofensivo e paralisado Sergei, e preparou seu golpe. Quando o tempo retornasse, ele desferiria o golpe fatal em seu oponente.

O tempo voltou e tudo aconteceu em fração de segundos. Para surpresa de Vítor, Sergei não estava mais lá. “Como? Como ele sabia?” Vítor murmurou para si, enquanto um caminhão acelerava em sua direção.

— “Caminhada Temporal!” — Vítor tentou novamente e para sua grande felicidade, nada aconteceu. — Merda, tempo de recarga. — Ele teve apenas um instante para raciocinar e desviar do caminhão com sua névoa.

Seu inimigo estava em uma moto, e havia acelerado longe o suficiente para que Vítor não tivesse alcance de ataque. Vítor não podia deixá-lo escapar e precisava agir imediatamente. Contudo, novos carros começaram a aparecer, todos avançaram sobre juntos, prontos para sobrecarregá-lo com ataques simultâneos. Vítor não tinha como criar rampas de névoa para desviar de todos.

— Marionetes, levantem-se e protejam seu mestre! — ordenou Vítor, e uma dezena delas se lançou na frente dos carros, impedindo que Vítor se ferisse.

“Não posso desperdiçar minhas marionetes assim; são recursos valiosos. Não posso ser pego de novo. Como ele sabia como minha habilidade funcionava?” Vítor olhou para a calamidade, com a cabeça de leopardo o observando à distância. “Ela! Ela sabia e passou a informação para seu lacaio. Deve conhecer todas as minhas fraquezas. Esses veículos são feitos de magia pura. Não consigo desviar deles com meu corpo de névoa. Alguém normal conseguiria materializar apenas um desses veículos de cada vez e com controle limitado. Esse cara não está sozinho. A calamidade o alimenta e o torna extremamente forte.”

Sergei, após tomar uma boa distância, gritou para o seu adversário.

— Minha técnica era forte antes, e agora com o “Olho do Tigre” ao meu lado, nada pode me deter! Eu irei me tornar o novo rei desse mundo! Erobern não poderá me deter! Eu sou maior do que ele, eu sou maior do que você!

— Você nem mesmo conhece Erobern, é muita confiança para um sujeitinho como você — zombou Vítor, ele analisava a situação e procurava qualquer brecha para contra-atacar.

— E quem é você? O diferentão? O único que não reconhece a sabedoria do “Olho do Tigre”? Ele me deu ordem, e a ordem dele é lei! 

— Mostre-me então o presente que o seu “Olho do Tigre” lhe deu, tenho certeza que é inferior ao que o meu empregador me forneceu.

— Patético! Acha que suas marionetes conseguem derrotar minha habilidade evoluída com o poder do “Olho do Tigre”? Sinta o meu poder! Sinta a minha “Rodovia do Inferno”!

Sergei concentrou todas as forças para criar algo novo, algo que derrotasse Vítor e o colocasse em seu lugar. Até mesmo Vítor, que já tinha visto e lutado anteriormente contra as maiores aberrações que Testfeld havia criado, se surpreendeu com a solução de Sergei.

— E lá vamos nós… — murmurou Vítor, incrédulo.

Do chão, começou a emergir uma colossal aeronave, que rapidamente o engoliu em seu interior. Era um gigantesco avião comercial, equipado com seis turbinas e quase oitocentos assentos.

— Senhoras e senhores passageiros, apertem os cintos, esta é sua passagem só de ida, diretamente para o inferno! — A voz de Sergei ressoou pela cabine, como se fosse a do piloto.

Vítor foi arremessado contra o chão gelado quando o avião ganhou altitude. Em um esforço desesperado, tentou quebrar as janelas com suas marionetes e foi tudo em vão. A estrutura parecia indestrutível, não importava a força Vítor . Aos poucos, sua consciência começou a se esvair; o avião estava despressurizando ao deixar a Cidade Celestial, onde, apesar das ilhas flutuantes estarem nas nuvens, a pressão era igual à do nível do mar.

“Isso já ultrapassou o limite da ilusão; tornou-se real! Esse desgraçado quer me lançar ao mar e me matar com o impacto”, pensou Vítor enquanto rearranjava a pressão do ar ao seu redor com sua névoa, para evitar para não desmaiar.

Cambaleante e ainda com dificuldades, ele caminhou pelo corredor até encontrar uma porta de emergência. O pensamento imediato dele era abrir a porta e ser sugado para fora do avião, onde poderia rearranjar a sua névoa em segurança e se proteger do impacto.

Todavia, ele ainda não podia agir. Primeiro, precisava derrotar Sergei e impedir sua interferência em sua futura luta contra a calamidade. “Não posso deixar o avião cair. O desgraçado está aqui comigo…” Vítor observava os corredores vazios e mesmo assim sentia uma presença no avião. “Sua habilidade pode ter um alcance grande, mas ele precisa estar perto. Quando eu chegar até ele, e eu vou chegar, não haverá como se proteger de mim.” Um sorriso cruel se formou em seu rosto.

— Marionetes, avancem e procurem nosso inimigo!

As marionetes avançaram pelos corredores, até que as portas se abriram violentamente e Vítor lutou para não ser sugado para fora. Ele se agarrou a uma poltrona enquanto via suas criações sendo arrastadas para o lado de fora. Com um pensamento rápido, direcionou-as contra as turbinas do avião. Houve uma grande explosão seguida por uma bola de fogo e ele foi  lançado direto para fora.

Tudo girou e sua visão ficou turva. Quando abriu os olhos, viu apenas uma imensidão azul, ainda desorientado pela explosão. Ao recobrar a consciência, percebeu a realidade e o impacto subsequente que teria com o oceano.

— Alexandra! — Ele invocou sua adversária absorvida momentos antes, sua grande esperança para prevenir a queda mortal.

A valquíria retornou à vida, agarrando os braços de seu mestre e evitando que ele caísse.

— E eu ainda pensei que derrubar o avião seria uma má ideia… — suspirou Vítor, observando o avião cair à distância, diretamente no mar. — Deveria ter sido minha primeira ação naquela lata voadora.

De repente, um grande clarão branco cegou Vítor por um instante, e ele se viu novamente no avião, no momento da explosão.

— Cassandra! Sua maldita! Eu já tinha derrotado ele! — esbravejou, percebendo que a valquíria havia ativado sua técnica especial.

Dessa vez, Vítor conseguiu se manter no avião, sem ser arrastado para fora. Com a destruição dos motores, a aeronave perdia altitude rapidamente.

“Ele está na cabine, o único local seguro. Preciso chegar até lá, roubar a habilidade e voltar para a Cidade Celestial. Matar a calamidade é meu objetivo, e esse desgraçado está me afastando dela; matar-me é apenas um bônus.” Vítor se jogou pelo buraco na aeronave e começou a usar sua névoa para se prender à estrutura do avião, avançando em direção à cabine pelo lado de fora.

Sergei mal podia acreditar que Vítor era insano o suficiente para atacá-lo pelo lado de fora do avião. Seu espanto aumentou ao ver a névoa endurecer, colidir com o vidro e criar um buraco grande o suficiente para um braço entrar e agarrar o piloto.

— Como conseguiu? — questionou Sergei, quase dissolvido em névoa negra.

— Devia ter ficado no solo; essa era sua vantagem natural. Sua técnica é uma rodovia, não um aeroporto.

Sergei foi consumido pela névoa negra, e o avião desapareceu junto com ele. Vítor se viu novamente em queda, pronto para estrear sua nova habilidade.

— “Rodovia da Morte”! — gritou, materializando um pequeno monomotor. — É o melhor que consigo criar? O “Olho de Tigre” deve ter multiplicado seu poder em pelo menos dez vezes. Que dia para confiar no Herman… Preciso voltar para a Cidade Celestial e consertar a bagunça, o mais rápido possível. Agora… para que lado fica a Cidade Celestial?