Imperador da Glória Eterna - Capítulo 39
Vítor lutava para afastar aquela criatura estranha de tentar abocanhar o seu rosto. Segundos atrás, ele lutava contra Alexandra naquele apertado corredor da prisão. Agora, uma dúzia estranhas criaturas humanoides com cabeças de insetos saiam da cela e corriam para atacá-lo.
Eram criaturas nojentas, de braços alongados e finos, cujas unhas afiadas se curvaram pelo tamanho. Seus rostos estavam cobertos por uma espécie de aranha que havia grudado em seus rostos. Eles não pareciam tentar remover aquela espécie de parasita presos às suas cabeças, em vez disso, focavam em tentar atacar qualquer outra criatura ainda não infectada próxima.
Ele forjou uma lâmina de névoa, e decepou a cabeça de uma das criaturas que se aproximou demais dele. O inseto saiu da cabeça de sua vítima, e se dissolveu em um líquido viscoso no chão, apenas o cadáver do hospedeiro ficou para trás.
— Temos que sair daqui, temos que chegar no cofre celestial — Vítor gritou para Lótus, enquanto girava a espada negra e cortava outra criatura ao meio.
— Sério? E quando você chegou a essa conclusão? — respondeu ela com desdém. — Como quer sair daqui? Temos que tirar essas coisas do caminho, e depois ainda tem aquelas valquírias no final do corredor.
Era verdade, a guarda da prisão havia se enfileirado na entrada do corredor, e também lutavam contra as criaturas. Parecia não haver saída sem uma luta, e a situação parecia piorar a cada instante. Os cadáveres dos hospedeiros caídos começaram a inflar como um balão, e explodiram, sangue e pus se espalharam pelas paredes.
Uma nova forma de vida se levantou, metade homem, metade inseto. Braços encurvados, com uma espécie de lâmina que ia do pulso até o antebraço, como patas raptoriais de um louva-deus. Seu rosto se abria como uma flor, e revelava uma sequência de dentes curvados que arrancavam a carne de suas vítimas.
— Calamidade… — sussurrou Lótus ao reconhecer aquelas criaturas. — Calamidade, Judas Imortal…
— Como? Judas Imortal, calamidade de nível B, não era para ela aparecer aqui! — Vítor lutava contra as criaturas, que avançavam brutais, e demonstraram boas habilidades de luta, e desviam dos golpes desferidos pela lâmina de névoa.
— O ovo? Onde está o ovo do “Olho de Tigre”? — gritou Lótus ao perceber que Vítor não tinha nenhum controle da situação.
— Por que acha que eu a matei? — Vítor apontou para o cabeça caída de Lília no chão.
— Idiota… — murmurou ao escutar a confirmação do que temia. — Não vejo nenhum valor em você, agora concordo com Herman, terei que resolver tudo sozinha.
Lótus virou os olhos e abriu os braços, e uma luz começou a irradiar do corpo dela. Assim que a luz perfurou a densa névoa de Vítor, vinhas começaram a crescer nas paredes, se espalhando com uma fina camada de pólen no ar.
Vítor manteve uma expressão neutra, sem se impressionar com a demonstração de poder.
— Então? Como pretende nos tirar daqui?
Lótus o ignorou, focada somente em afastar os monstros que se aproximavam demais dela. Em um instante, ele respirou fundo, e logo após, um enorme estrondo se espalhou pelo corredor, seguido por uma forte onde de choque. Tanto a guarda das valquírias, como os monstros foram lançados pela explosão, alguns caindo pelo enorme buraco na parede.
— Ótima solução — elogiou Vítor ao correr e se jogar pela fenda. Ele aterrissou perfeitamente no pátio, com uma cambalhota para diminuir o impacto nas pernas.
Ao aterrissar, ele sentiu um peso no bolso do casaco. Colocou a mão e se surpreendeu, o ovo negro ainda estava ali, no bolso dele. Se o ovo ainda estava no bolso dele, o que Lilia havia arremessado no rosto dele?
— Continuo com o “Olho de Tigre” — falou para Lótus assim que ele pulou da torre e caiu no pátio.
— Como? Então explica aquela coisa? — Ela apontou para a fenda, onde uma das criaturas parecia avaliar se iria pular ou não. — Tenho certeza que é um Judas Imortal, ou pelo menos um dos lacaios que ele cria.
— Pode ser qualquer coisa, algum invocador, necromante, até mesmo um devorador de mentes. — Ele estendeu a mão e revelou o ovo negro, intacto, sem nenhum defeito, pelo contrário, ele parecia refletir um pouco melhor a luz, e estava um pouco quente.
— O pecador não ficará impune! — Uma voz feminina aguda gritou atrás.
Vítor se virou, e encarou Alexandra.
— Acho que não. — O sorriso sarcástico de Vítor retornou. — Afinal, todos querem ser um astronauta…
A lâmina nem chegou a tocá-lo, a valquíria simplesmente se transformou em uma bola amassada de carne e sangue.
— Isso é forte para um caramba. — Ele riu ao ver o efeito da habilidade recém-adquirida durante sua última batalha.
— Idiota, podia ter me matado. — Lótus deu um empurrão nele com o ombro.
Para não ser puxada pela força gravitacional da habilidade, ela havia se prendido na terra com as suas vinhas.
— Não se preocupe, você se virou bem. Vamos, temos que chegar até o cofre celestial. Acho que esse tal de Judas será distração suficiente. Mas apenas para o caso de não ser…
Ele pegou o ovo negro e o lançou no ar, instantaneamente, o ovo se dissolveu, e um enorme rugido pode ser ouvido no ar.
— Vocês estão aí… — Uma águia de pelagem escura desceu dos céus, era Mávros. — Herman me enviou para procurá-los, mas acho que ele se precipitou, o plano está indo nos conformes. — A quimera metamorfa pousou no ante-braço de Vítor, que havia estendido a mão como um poleiro.
— Claro que está, chegaremos no cofre em breve — Vítor falou tranquilamente, ao acariciar as penas de Mávros
— Não está não, tem uma segunda calamidade, mais especificamente um Judas Imortal. — Lótus, ao contrário de Vítor, demonstrava uma preocupação alarmante sobre a suposta calamidade que havia criado as criaturas na prisão.
— Vamos lá, qual seria a pior coisa que poderia ocorrer? — Vítor tentou a acalmar.
Tão logo ele soltou as famigeradas palavras, o chão começou a tremer. Era como um terremoto, impossível de ocorrer em uma ilha flutuante na qual a Cidade Celestial fora fundada. Era algo pior.
O chão se abriu sobre os pés dele, revelando um verme anelídeo de dimensões titânicas emergiu. Possuia uma carapaça semelhante a placas de metal, assim permitiam a criatura flexionar seu corpo e manter a dureza de uma armadura.
— Judas Imortal, quem o invocou? Isso é ruim… péssimo… Tenho que avisar os outros — Mávros bateu as assas, e partiu em voo pelo horizonte, para encontrar o restante do exército de libertação que esperava o sinal para o ataque.
Foi logo seguido por outro, e mais um que surgia no horizonte, em poucos instantes, o horizonte estava tomado por mais de uma dezena de vermes que começavam a se enrolar na terra.
— Quantos deles são? — questionou Vítor, perplexo por aquela demonstração de poder.
— Um só… — Lótus o respondeu seca.
— Um só? E o que são esses vermes gigantes?
— Os tentáculos dele…
— Qual o tamanho dessa calamidade?
— Do tamanho da cidade, Judas vai cavar túneis e mais túneis até que a cidade inteira desmorone, e os seus lacaios conhecem a coletar hospedeiros para reprodução.
— Uma pena — zombou Vítor. — Mas quem realmente se importa com a cidade celestial? Nossa missão é simples, pegar o artefato e dar o fora daqui o mais rápido possível.
— Antes, temos que matar Judas — Lótus estava determinada, sua voz doce e meiga, como a de uma criança, era substituída por uma aparência séria, de tom pesado e frio.
— Como? Primeiro, nem sabemos quem o invocou, pode ter sido algum membro da guarda celestial para proteger a cidade, ou para nos atrapalhar. Segundo, o ‘Olho de Tigre’ vai lutar contra ele em breve, são duas calamidades muito próximas uma da outra, não tem erro.
— Duvido muito…
— Vamos lá, qual seria a pior coisa que poderia ocorrer? — Ele repetiu aquela frase novamente, e a resposta veio logo em sequência.
Um dos tentáculos saiu do chão, logo abaixo dele. A ponta dos tentáculos se abriu em quatro partes, como uma boca. Vítor apenas sorriu, sem acreditar em sua sina. Em dois instantes, o tentáculo puxou seu casaco para dentro da terra, e uma grande poça de sangue alaranjado se espalhou pelo pátio da prisão.
— Idiota… — sussurrou Lótus ao ver o destino do colega.