Isekai Corrupt - Capítulo 1
A noite envolveu a pacata cidade de Glivania em sombras, dando início a mais uma noite de sono intranquila para mim, Ivan. Em minha busca incessante por descanso, meus pensamentos tumultuavam minha mente como uma tempestade noturna. Atormentado por uma ansiedade persistente, lutava para encontrar a tranquilidade necessária para mergulhar nos braços do sono. A insônia, uma sombra constante, agravava ainda mais meu tormento noturno. No silêncio da noite, me deitava, perdido em pensamentos que teimam em desafiar o repouso que tanto buscava.
Horas se passavam, e eu permanecia, por vezes, imerso na escuridão de minha mente, incapaz de sucumbir ao abraço reparador do sono. Até que, com um esforço hercúleo, finalmente sucumbi às garras do cansaço.
Entretanto, minha jornada para o mundo dos sonhos rapidamente se transformou em um pesadelo inesperado. Uma sensação estranha percorreu meu corpo, e o conforto de minha cama deu lugar a uma desconfortável rigidez. O concreto áspero parecia moldar o leito que me acolhia, uma mudança abrupta que me fez questionar a realidade de meus sonhos.
Uma leve dor nas costas despertou-me para a percepção de que algo estava profundamente errado. Tentei abrir os olhos, mas uma barreira inexplicável me impedia, mergulhando-me em um estado de pânico silencioso. “Por que não consigo me mover?, Merda!” ecoava em minha mente, enquanto teorias aterrorizantes dançavam ao redor de mim. A morte, a droga de um sonho, um estado vegetativo: cada possibilidade sombria passava por minha mente como sombras fugazes.
Meu coração martelava contra o peito enquanto lutava contra a paralisia que me envolvia. Uma respiração profunda se tornou meu refúgio, e à medida que inalava, notei um odor estranho, ausente da familiaridade de meu quarto. “A brisa do ventilador… não sinto o vento!” Minha consciência se expandiu gradualmente, permitindo que meus sentidos captassem nuances que desafiavam a lógica.
Com um esforço árduo, consegui mover meu braço, rompendo a prisão invisível que me aprisionava. Ao abrir os olhos, deparei-me com um cenário desconhecido. “Onde estou? Que lugar é esse?!” A pergunta ecoou nos confins de minha mente, perdida e cheia de dúvidas.
Tentando me reerguer abruptamente, vi-me de joelhos diante de um trono colossal, cujo ocupante era um homem idoso de dimensões que desafiavam a natureza humana. A vastidão do trono coincidia com a imponência do ser que nele repousava. Ele emanava uma presença imponente, vestindo túnicas de seda branca que pareciam feitas de nuvens.
“Sussurrou, surpreendido por um susto repentino. Os olhos fechados e a cabeça inclinada para trás do homem no trono sugerem um sono profundo e intransponível. A sala, mergulhada na escuridão, impunha uma aura de mistério.
Com esforço, consegui me erguer, meus olhos ainda buscando compreender o inexplicável. Contudo, a curiosidade prevaleceu sobre a cautela, e me vi compelido a romper o silêncio que pairava naquele lugar enigmático.
A questão de acordar alguém tornou-se um dilema em minha mente. Será que despertar o homem seria considerado um ato maldoso? Refleti sobre minhas próprias experiências, lembrando-me de como ficava irritado quando era acordado abruptamente por meus familiares. Uma pontada de empatia cresceu dentro de mim. O homem dormia profundamente, tão entregue aos seus sonhos que senti uma conexão, quase como se compartilhássemos um vislumbre de seus sonhos favoritos. A decisão pairava no ar, entre acordar o guardião ou deixá-lo aproveitar seu repouso tranquilo.
“Será que eu deveria acordá-lo? Não quero deixá-lo puto comigo.” O dilema atormentava-me enquanto contemplava a figura imponente diante de mim. Resignado, decidi chamar pelo homem adormecido.
— Senhor? — murmurei, mas o trono permaneceu envolto em silêncio.
Ao chamar o homem uma vez sem obter resposta, hesitei por um momento, observando-o em seu sono sereno. Contudo, decidido, cerrei o punho e tentei novamente, determinado a quebrar a barreira do sono que envolvia o imponente homem à minha frente.
— Senhor?! — elevei o tom, rompendo o silêncio e surpreendendo o homem adormecido, que despertou bruscamente, fazendo o trono vibrar com a força de seu despertar. Assustado, fui ao chão por reflexo.
— Hum? — o homem murmurou, seus olhos fixando-se em mim, que permanecia sentado, temeroso. — Quem é você, meu jovem? — indagou, acariciando a longa barba branca.
A sensação de ter sido transportado para um lugar desconhecido enquanto dormia me fez observar meu entorno mais uma vez. Sentia-me pressionado a iniciar uma conversa com o homem, mas a ideia de fazê-lo me perturbava. Se o guardião desejasse, poderia me esmagar como se eu fosse um inseto, uma verdade que pairava sobre mim como uma sombra, deixando-me cauteloso em cada movimento.
— Me chamo Ivan. O senhor… o senhor sabe onde estou? — perguntei, ainda no chão, a apreensão refletida em meus olhos.
Sentindo-me perdido em um lugar desconhecido, instintivamente busquei uma abordagem comum para encontrar meu caminho. Comecei perguntando onde estava, a falta de familiaridade ao meu redor só aumentou meu desconforto. Reconhecendo a necessidade de orientação, ponderei sobre a possibilidade de pedir ajuda para chegar ao meu destino, entendendo que, ao não saber onde estava, recorrer a essas ações básicas era um passo crucial para me encontrar.
A verdade ecoou na minha mente, criando um abismo entre minha situação atual e as experiências cotidianas. Compreendi que estar perdido em um lugar desconhecido era muito diferente de se perder em uma cidade nova ou de não encontrar a casa de um amigo que me convidou para jogar videogame. Essa não era uma situação usual e qualquer pessoa em sã consciência teria percebido a singularidade do meu dilema. O desconhecido ao meu redor se tornou mais intimidante, enquanto eu ponderava sobre os próximos passos a tomar.
— Talvez, hm… — o homem ponderou, sua mão acariciando o queixo. — Talvez você seja um dos escolhidos de Aniely, mas por que foi trazido para cá?
“Escolhido? Quem é Aniely?” As dúvidas ecoavam na minha mente. A palavra “Escolhido” ecoou nos meus ouvidos, instigando uma animação palpável em relação aos eventos que se desdobraram. A ideia de ser o escolhido, talvez parte de uma profecia ou algo similar, trouxe um lampejo de entusiasmo. No entanto, por mais que essa perspectiva momentaneamente me distraísse, a sensação persistente e desconfortável de estar em um lugar completamente desconhecido ainda pairava sobre mim, como uma sombra que não se dispersava facilmente.
— Senhor! Como volto para minha casa? — exclamei, reunindo coragem para expressar diretamente minha inquietação.
— Ah, as incertezas, caro amigo… são sombras que dançam em nossas mentes. — o homem disse, seus olhos refletindo a mesma perplexidade que eu sentia. Ele fez gestos com as mãos, indicando que eu deveria me afastar um pouco. Levantando-me, cedi espaço para o homem ficar de pé. — Acompanhe-me, por favor. — Concordei com um aceno, seguindo-o pela sala.
Cada passo do homem parecia deixar para trás uma trilha de mistério, e, ao passar entre os majestosos pilares, chamas azuis surgiram como estrelas em lâmpadas côncavas presas a eles. A simples alteração na cor do fogo capturou minha atenção, revelando a natureza extraordinária do lugar.
— Este é meu lar. — o homem anunciou após uma breve caminhada, enquanto eu o seguia. — Alguns o chamam de Templo do Guardião, pois eu sou um dos protetores que resguardam a entrada entre os mundos, o grandioso Portal Paralelo.
A ideia de um guardião que protegia um portal ecoou na minha mente como se fosse retirada de um filme de ficção e aventura. Parecia um enredo cativante, algo próximo dos mangás que eu havia acompanhado alguns anos atrás. No entanto, a lembrança trazia consigo uma pontada de desapontamento, pois um dos mangás que eu apreciava teve seu desfecho estragado pelo criador.
— Não sei se compreendo… parece um filme essa merda. — respondi, expressando descrença em meu rosto.
— Compreensível! — exclamou o homem com um riso peculiar.
A risada ecoou de maneira estranha, reverberando pelos pilares que cercavam o espaço. Ao chegarmos ao fim da sala, uma tela adornada com ornamentos dourados e ondulantes, semelhantes às ondas do mar, capturou minha atenção. A tela, embora escura, exibia um símbolo intrigante: sete espadas dispostas em ângulos diferentes diante de um escudo.
— Tela, conecte-me aos aposentos de Lady Aniely. — ordenou o homem, dirigindo-se à tela.
A tela reagiu imediatamente às palavras do homem, iluminando-se com uma intensa luz branca. Em seguida, pontos pretos surgiram em sequência, como se estivesse carregando alguma informação. O ambiente ao redor de mim pareceu pulsar com uma energia desconhecida, enquanto a tela preparava-se para revelar algo.
— Sim, senhor. Conectando aos aposentos da “Guardiã Irritante”. — respondeu uma voz feminina vinda da tela.
O homem pareceu surpreso e, sem dizer uma palavra, lançou-me um olhar que parecia implorar por discrição.
— Poderia manter isso entre nós? — sugeriu o homem, que não compreendi totalmente, seu rosto adquiriu uma expressão de preocupação.
— Manter o quê? — repeti, demonstrando confusão.
O homem tossiu duas vezes e voltou sua atenção para a tela, conectando-se a outro lugar. Um quarto infantil apareceu na tela, e uma voz feminina diferente ressoou, seguida por uma garota irritada em um vestido rosa.
— Quem é essa criança? — perguntei.
— Humano insolente, mostre respeito! Sua espécie deveria estar à beira da extinção! — bradou a garota na tela, ostentando superioridade com os braços cruzados.
— Isso é sério? Quem é essa criança mimada? — indaguei, perdendo a paciência.
Entendendo a possível natureza desrespeitosa da garota, decidi adotar uma postura firme. Meu passado ao lidar com crianças desafiadoras ensinou-me a importância de estabelecer limites claros. Então, com a autoridade adquirida durante minhas experiências anteriores, agi prontamente para demonstrar que desrespeito não seria tolerado.
A visão transmitida pela tela mostrava um quarto cor de rosa, repleto de ursos de pelúcia e espelhos na mesma tonalidade.
— Não se preocupe, ela está apenas exagerando, como de costume… — murmurou o homem para mim.
A forma como o homem se referiu à garota me fez ponderar sobre a possibilidade de ela ser assim com todos, ou, pelo menos, alguém irritante o suficiente para provocar a expressão preocupada no rosto do guardião.
— O que estão cochichando? — a garota interrompeu, visivelmente irritada por ser excluída da conversa.
— Lady Aniely, esse rapaz é por acaso um de seus protegidos? Algum equívoco ocorreu ao enviá-lo ao meu domínio? — indagou o homem.
Ela parou, lançou-me um olhar de desgosto e voltou sua atenção ao homem ao lado de mim.
— Não! — ela negou com firmeza, mãos na cintura. — Descarte esse aí.
“Descartar?” Desde o primeiro momento, a garota tratou-me como algo sem valor, alimentando uma chama de desprezo em meu interior. Eu, por minha vez, passei a olhá-la com um olhar carregado de raiva.
O homem, finalmente exaurindo sua paciência, desligou a tela, interrompendo a conexão com a garota. Seu olhar, agora direcionado para mim, refletia uma expressão desconcertada diante de toda a situação. Surpreendentemente, seu rosto exalava empatia, uma característica que não esperava encontrar nesse guardião imponente. A mudança de atmosfera deixou-me perplexo e um tanto assustado, questionando as verdadeiras intenções e emoções que estavam por trás da figura grandiosa diante de mim.
Ele se agachou, ficando cara a cara comigo.
— Em resumo… seu mundo foi corrompido. — declarou o homem.
Não entendi, o que isso poderia significar? Senti algo apertando meu coração, resolvi questionar.
— Corrompido…? Como assim? — perguntei, o medo se apossando de meu corpo.
— Existe um mal que assola todos os mundos, chamado corrupção. Ele os devora de dentro para fora, apagando tudo em seu caminho. Esse mal consumiu seu mundo, mas, por algum motivo, você foi salvo. Isso não deveria ter acontecido. — A estranheza do fato de eu ter sido poupado se refletia nas palavras do homem. — Não posso enviá-lo de volta para casa, mas posso levá-lo a outro mundo e dar uma ajuda. É o máximo que posso fazer por você. — concluiu, com um semblante desanimado.
A devastação da notícia atingiu-me, fazendo minhas pernas tremerem e, sem forças, caí no chão, desanimado.
— Vou transportá-lo para outro mundo e fornecer o necessário para sua sobrevivência. Isso está de acordo?
Enquanto o homem continuava a falar, as palavras ecoavam em minha mente, e o choque da notícia se repetia incessantemente. A destruição de minha família era uma realidade difícil de aceitar. Embora tentasse negar de todas as formas, a lógica insistia em que o guardião não tinha motivos para mentir. Cada detalhe tornava-se uma confirmação de que aquilo não era um sonho.
A dura verdade da perda e do desconhecido envolvia-me, tornando-me ciente de que minha vida havia mudado irrevogavelmente naquele momento.
— Minha família… o que aconteceu com eles? — murmurei.
O homem apenas balançou a cabeça negativamente.
— Você não deveria estar aqui. Não compreendo totalmente o motivo de ter sido enviado para cá, mas espero que possa fazer bom uso desta segunda chance que lhe foi dada. — O homem se levantou.
A notícia foi um golpe duro para mim, uma torrente de emoções borbulhando dentro de mim. A raiva começou a se manifestar, mas, em um momento de autocrítica, percebi que essa emoção não deveria ser despejada indiscriminadamente. Meu ódio era uma reação à notícia devastadora, e reconheci que dirigir essa raiva a alguém que não tinha culpa não resolveria nada. Um fio de autocontrole emergiu no turbilhão de sentimentos, permitindo-me processar o impacto da perda e da mudança drástica que se desdobrava em minha vida.
— Segunda chance? Minha família… — Eu baixei a cabeça, lágrimas escorrendo. Se minha família foi apagada e eu fui o único sobrevivente, a pressão da incapacidade de ajudá-los me envolveu em uma tristeza profunda.
— Não se deixe afundar. Sua família iria querer que você tivesse outra oportunidade, não é mesmo? — sugeriu o homem.
Era uma verdade amarga, mas eu sabia que era verdade. Meus pais e minha irmã, fontes inabaláveis de apoio, moldaram-me em uma pessoa resiliente. Escolher viver, mesmo diante da dor, tornou-se a maneira de honrar os esforços de meus entes queridos.
Compreendendo que a vida é o que meus pais e minha irmã desejariam para mim, reconheci que a busca pela felicidade era uma herança deixada por minha família. Mesmo em outro mundo, em um lugar com pessoas desconhecidas, a preocupação constante de meus entes queridos com minha felicidade permanecia gravada em meu coração.
Era um lembrete de que, apesar das circunstâncias adversas, eu carregava consigo o amor e o apoio de minha família, uma força motriz que me impelia a encontrar um significado e uma nova jornada nesse mundo desconhecido.
“Eu vou viver, por mais que doa, eu vou viver…” pensei, levantando-me com determinação. Meu olhar refletia convicção, mesmo com lágrimas ainda escorrendo pelo rosto; o homem percebeu a força interior em mim.
— Tudo bem, aceito ir para outro mundo! — afirmei com firmeza.
Mesmo diante da dor avassaladora da perda, senti uma urgência em descobrir um motivo para continuar vivendo. As reviravoltas aconteceram tão rapidamente que não tive tempo adequado para lamentar a morte de meus entes queridos. Consciente dessa necessidade represada de luto, engoli a vontade de chorar e foquei em encontrar algo que reacendesse a chama da vida em meu coração. Queria descobrir algo que me motivasse a seguir em frente, algo que meus pais certamente desejariam para mim. Nesse novo mundo, nutria a esperança de encontrar esse propósito que me ajudaria a superar a tragédia e a construir uma nova vida.
— Ótimo, te desejo boa sorte, o ajudarei de algumas formas, já que ir para um novo mundo é algo muito peculiar. — respondeu o homem, um sorriso gentil iluminando seu rosto.
Uma luz branca, proveniente do alto da sala, envolveu-me, e num piscar de olhos, fui teleportado para outro mundo pelas mãos do homem. O destino aguardava, desconhecido e repleto de possibilidades.