Isekai Corrupt - Capítulo 2
Um verdadeiro livro é aquele que te enlaça numa teia de curiosidade, compelindo-te a avançar nas páginas, mesmo que seu início, meio ou fim se revelem desafiadores. O crucial reside na capacidade de prender-te, de envolver-te em uma trama irresistível, que te arraste inexoravelmente do início ao desfecho.
Claycius, o meticuloso mordomo a serviço de uma nobre dama de Xellivia, elevava-se entre os nobres do reino com uma destreza que fazia ecoar sua influência por entre os corredores dourados da aristocracia. Sua senhora, uma figura imponente, detinha não apenas riquezas, mas também uma rede de conexões invejável, especialmente com o enigmático dono de uma das academias de relíquias mais prestigiadas do reino.
O rumor de sua relação com esse ilustre proprietário alimentava as conversas nos salões nobres, enquanto a aura de mistério que pairava sobre ela atraía a inveja dos outros nobres. Enquanto ela comandava uma legião de trabalhadores, era Claycius quem orquestrava, como maestro-chefe, os afazeres da residência.
No entanto, um chamado urgente rompeu a rotina meticulosamente organizada. Documentos de importância vital, vinculados aos meandros da nobreza, exigiam entrega imediata. A dama confiou essa tarefa a seu leal mordomo, Claycius, cujo passado como guerreiro do reino se manifestava em cada fibra de sua habilidosa essência.
A decisão de aventurar-se além dos confins do reino não foi tomada levianamente. Apesar de sua inclinação a permanecer nos domínios mais conhecidos, Claycius ansiava pelo zéfiro da estrada, que trazia consigo memórias de seus dias como guerreiro. A carruagem, agora um eco do passado, cortava o horizonte com uma elegância que apenas um veterano de inúmeras missões poderia conferir.
Assim, com a responsabilidade da casa temporariamente delegada ao seu vice-mordomo, um exímio estrategista no xadrez, Claycius partiu. Os desafios do caminho não o intimidavam; sua experiência passada em missões tanto dentro quanto fora do reino lhe garantia confiança. O eco das rodas da carruagem era uma melodia que o transportava para além das muralhas familiares.
Entre as páginas do livro sobre o prodígio do xadrez, Claycius cultivava estratagemas para desafiar oponentes mais sagazes. Seus pensamentos, uma rede intricada de movimentos e contra-movimentos, formavam um plano que ele antecipava com um sorriso astuto.
“Hm… talvez essa jogada seja a chave contra aquele homem perspicaz”, cogitou, vislumbrando futuras partidas onde a astúcia seria sua aliada.
Enquanto se aprofundava nas táticas do tabuleiro, a carruagem deslizava pela estrada, cuja limpidez parecia refletir a ausência de preocupações naquele momento. Claycius, imerso em seu mundo de xadrez e estratégias, negligenciou a visão à sua frente, entregando-se à leitura que o absorvia por completo.
Foi apenas quando um grito rasgou o ar que Claycius emergiu de seu reino mental.
— Ei! — ressoou do lado direito, onde uma densa floresta parecia ocultar segredos desconhecidos. O mordomo, despertado abruptamente, direcionou seu olhar para o ponto de origem do chamado, os olhos cintilando com uma mistura de curiosidade e prontidão.
A carruagem deslizou suavemente até parar quando os olhos atentos de Claycius captaram a visão de um jovem, vestindo trajes que desafiavam qualquer padrão que o mordomo já tivesse encontrado em sua longa vida. A excentricidade das vestimentas era tão marcante que até mesmo o experiente Claycius se encontrou perplexo diante do inusitado.
O jovem emergiu da floresta como uma figura enigmática, despertando um instante de cautela no mordomo. A incerteza pairava no ar enquanto o estranho se aproximava. Mesmo com a dúvida se instalando em sua mente, Claycius, resoluto, segurou as rédeas da carruagem, preparado para qualquer desdobramento.
A mente do mordomo, treinada para antecipar ameaças, cogitou a possibilidade de um encontro indesejado com um ladrão, embora a presença juvenil do desconhecido o fizesse hesitar. Evitar um confronto desnecessário era sua intenção, mas a necessidade de proteger os bens que transportava prevalecia.
Observando o jovem de aparência peculiar, Claycius notou a expressão inquieta que se desenhava em seu rosto. Era como se ele estivesse em busca de algo perdido, seus olhos vasculhando freneticamente o entorno.
— Jovem, está perdido? — indagou Claycius, suas palavras soando como um sussurro na atmosfera tensa que os envolvia, enquanto ele mantinha um equilíbrio delicado entre a preocupação e a prontidão para agir, caso necessário.
Os músculos de Claycius se retesaram enquanto o jovem formulava sua pergunta. Sua determinação de evitar conflitos desnecessários era evidente, e a possibilidade de ferir um jovem era algo que o mordomo rejeitava profundamente. Seus dedos cerraram as rédeas, preparados para um movimento rápido, enquanto os olhos permaneciam fixos no desconhecido.
— Sim. Por acaso o senhor sabe me dizer que país é esse? — questionou o garoto, sua voz carregando uma pitada de desorientação.
A resposta de Claycius, pronunciada com uma calma calculada, carregava consigo o peso da verdade.
— Estamos no país de Dieres, dentro do território do reino Xellivia. — revelou o mordomo, observando atentamente cada reação do jovem.
A confusão estampada no rosto do garoto fez com que Claycius se perguntasse sobre a verdadeira natureza daquele enigma ambulante. A menção ao local pareceu abalar as fundações da compreensão do jovem, e sua reação não passou despercebida pelo mordomo.
— Em que anos estamos?! — exclamou o garoto, como se temesse a resposta.
— Estamos na era 9 ano 98, está tudo bem? — respondeu Claycius, buscando dissipar a perplexidade do jovem.
Entretanto, ao invés de tranquilizar, a informação pareceu agitar ainda mais o desconhecido. Seu rosto se contorceu, como se tivesse vislumbrado algo insondável ou presenciado o início de um pesadelo. Claycius, mantendo-se firme, aguardou.
O murmúrio do garoto ecoou, revelando um estado de desorientação que não passou despercebido aos olhos perspicazes de Claycius. A oferta de ajuda pairava no ar quando o mordomo, demonstrando uma gentileza incomum, propôs um feitiço de estabilização para acalmar o jovem que se debatia com as ondas tumultuadas do desconhecido.
— Se quiser, para se sentir melhor, posso usar um feitiço de estabilização para que se acalme, que tal? — ofereceu Claycius, buscando aliviar o desconforto que afligia o estranho.
Os olhos do garoto brilharam com uma animação repentina, como se a menção de magia despertasse um fascínio intrínseco.
— Feitiço?! Tipo… magia?! — exclamou ele, sua surpresa pintada em cada sílaba.
— Sim, isso mesmo — confirmou Claycius, revelando um lampejo de um mundo oculto para o garoto que transcendia as leis da realidade conhecida.
O garoto, intrigado e curioso, assentiu consentindo ao uso do feitiço de estabilização. Diante dessa permissão, Claycius ergueu a palma da mão em direção ao jovem, como um conjurador prestes a tecer os fios do desconhecido.
O murmúrio sutil de palavras místicas pairou no ar enquanto o mordomo, iniciou o feitiço destinado a acalmar as turbulências internas do jovem forasteiro.
— 『Momentary Stabilization』. — proferiu Claycius, as palavras místicas fluindo de sua boca como um encantamento que transcendeu as fronteiras do mundano.
Pequenas partículas de luz, uma mistura cintilante de azul e vermelho, dançaram ao redor da mão estendida de Claycius, envolvendo o jovem que, por um momento, parecia envolto por uma sinfonia de cores mágicas. À medida que o feitiço se desdobrava, uma serenidade gradualmente se apoderou do garoto, acalmando as marés tumultuadas de sua mente até que, finalmente, a tranquilidade se estabeleceu.
Um sorriso brotou no rosto do jovem, iluminando seus olhos com uma faísca de contentamento. Uma energia vibrante se desprendeu dele, uma mistura de animação e alegria que transformou seu semblante. Era como se, através da magia de Claycius, ele tivesse encontrado uma nova perspectiva, um refúgio momentâneo de suas perplexidades.
O olhar do garoto exalava uma ávida vontade, uma ânsia por algo mais, como se a experiência mágica tivesse despertado uma sede por descobertas ainda maiores. O mordomo, observando a transformação diante de seus olhos, percebeu que o problema do garoto estava longe de ser resolvido.