Isekai Corrupt - Capítulo 3
Absorto em meus pensamentos, observava a paisagem que se desenrolava diante da carruagem, enquanto ao meu lado, Claycius permanecia atento às rédeas, guiando o veículo com destreza honrosa. Uma sensação de calmaria permeava o ambiente, criando uma atmosfera propícia para a reflexão.
“Me pergunto se foi coincidência ter sido teleportado para perto de alguém tão gentil como Claycius,” ponderava, reconhecendo a generosidade do mordomo que agora compartilhava o assento comigo.
A narrativa que habilmente forjei sobre minha origem e situação tornou-se o tecido que unia nossa jornada. Uma história fictícia, mas atravessada por fragmentos de verdade que, de alguma forma, justificavam a ajuda que agora recebia.
A mentira sobre o teletransporte, apesar de ser uma artimanha, encontrava ressonância na verdade mais profunda de minha repentina presença nesse mundo medieval.
Claycius, acreditando nas palavras que inventei, ofereceu-me carona e compartilhou algumas de suas próprias teorias sobre o teletransporte.
O mordomo, experiente em lidar com as complexidades da magia e das criaturas sobrenaturais, aventurou-se a explicar o fenômeno que trouxera-me até ali. A menção de uma fera de dificuldade 80, uma força formidável que surgira próximo à minha residência, tornou-se a explicação mais plausível aos olhos de Claycius.
Em um mundo onde criaturas mágicas eram uma realidade cotidiana, a ideia de que fui teletransportado devido a um ataque dessas entidades não parecia absurda.
Aos ouvidos de Claycius, essa possibilidade se mesclava harmoniosamente com os relatos de eventos similares ocorridos ao longo da década. Assim, enquanto a carruagem avançava pelos caminhos sinuosos da estrada, eu embarcava não apenas em uma viagem física, mas em uma exploração fascinante de um mundo onde a magia e o extraordinário dançavam em harmonia com a realidade.
À medida que a carruagem avançava pelos caminhos da estrada, o elo entre mim e Claycius fortalecia-se, tecendo uma conexão além das circunstâncias da jornada. A confidência do mordomo sobre sua vida pessoal, compartilhando as lutas e triunfos, despertou uma admiração crescente em mim.
Claycius revelou-se não apenas como um mordomo habilidoso, mas também como um pai dedicado. A perda de sua esposa há alguns anos o transformou em um pai solteiro de duas filhas, cujo compromisso com o trabalho árduo, empenhando-se por dez horas diárias, refletia seu desejo de proporcionar um futuro melhor para suas crianças. “Um homem de valor,” pensei, imbuído de respeito ao ouvir a história do mordomo.
Minha surpresa aumentou ao descobrir que Claycius, apesar de seus cabelos brancos e rosto marcado, tinha apenas 40 anos de idade. Essa revelação lançou-me em uma breve reflexão sobre as aparentes idades neste mundo, questionando se as pessoas pareciam mais velhas do que eram. No entanto, a explicação de Claycius dissipou minhas dúvidas.
A linhagem sanguínea de Claycius continha traços de sangue anão, revelando que algum antepassado era dessa raça. Isso explicava a aparência mais envelhecida, uma peculiaridade genética que afetava sua família. A mistura de raças diferentes, apesar de permitir a concepção de uma criança, às vezes resultava em modificações genéticas que podiam influenciar as características físicas das gerações seguintes.
Ao mergulhar nas intricadas nuances do mundo medieval em que agora me encontrava, descobri que uma multiplicidade de raças coexistiam em países distintos.
O balançar suave da carruagem, somado à cadência das palavras de Claycius, envolveu-me numa sonolência tranquila. Meus olhos se fecharam por alguns minutos, e o manto do sono caiu sobre mim. Quando despertei, as paisagens haviam mudado, indicando que havíamos chegado à cidade mais próxima, uma das cidades centrais no vasto território do reino Xellivia, conforme Claycius havia explicado.
À medida que nos aproximávamos lentamente dos imponentes portões da cidade, as muralhas de pedra surgiram no horizonte, coroadas por postos de vigia onde cavaleiros de armaduras resolutas mantinham um olhar atento sobre o perímetro. A cidade, com seus defensores robustos, era um reflexo do poder e controle do lorde local, um agente direto do rei de Xellivia.
Cada cidade central pertencia a um lorde distinto, e cada um exercia seu domínio sob a jurisdição do rei. Estes lugares agiam como centros de convergência, pulsando com comércio, lojas e uma miscelânea de habitantes.
As cidades centrais se destacavam por sua acessibilidade, uma vez que a entrada era mais fácil do que no reino em si. A taxa de entrada, mais acessível, juntamente com procedimentos de segurança rápidos e dinâmicos, faziam dessas cidades destinos atrativos para todo tipo de pessoa.
Ao nos aproximarmos dos portões, pude sentir a atmosfera movimentada que emanava do interior da cidade central, um caldeirão de atividades e oportunidades. A segurança eficaz e a agilidade nos procedimentos de entrada enfatizavam a praticidade e o dinamismo, contrastando com a burocracia mais complexa do reino.
A carruagem parou junto à entrada da cidade central, e um cavaleiro, postado próximo ao portão, se aproximou. Sua voz, abafada pelo elmo que adornava sua cabeça, ressoou enquanto ele questionava a identidade dos ocupantes da carruagem.
— Boa tarde, quem são vocês dois? — indagou o cavaleiro, seu olhar firme transmitindo uma seriedade militar.
Decidi deixar a resposta nas mãos de Claycius, virando-me na direção do mordomo, aguardando suas
palavras. Com a segurança das rédeas ainda em suas mãos, Claycius respondeu, explicando a natureza da visita.
— Eu vim apenas deixar este jovem na cidade central, estou com pressa para continuar minha viagem a trabalho. — explicou Claycius, sua voz carregando uma firmeza respeitável.
O cavaleiro, então, voltou sua atenção para mim, exigindo saber meu nome. Minha resposta, um simples “Ivan,” revelava minha hesitação diante da imponência do homem completamente armado. O cavaleiro, por sua vez, franziu a testa sob o elmo, intrigado com o nome pouco comum.
— Tá, tudo bem, pode entrar, mas é necessário pagar a taxa. — informou o cavaleiro, colocando-me em um momento de desconforto. A possibilidade de pagar a taxa estava longe de ser uma realidade para mim.
Claycius, compreendendo a situação, agiu rapidamente. — Está aqui. — disse, entregando um pequeno saco de moedas ao cavaleiro.
Com a taxa paga, o cavaleiro fez uma reverência rápida e retornou ao seu posto. Olhei para Claycius, encontrando um sorriso caloroso em seu rosto. Era evidente que, para Claycius, não era apenas uma questão de trabalho, mas também de garantir que eu fosse recebido na cidade central sem obstáculos.
— Obrigado… não sei como agradecer, Claycius. — expressava, a gratidão pairando em minha voz enquanto eu tentava encontrar as palavras certas para agradecer ao homem que me ajudara.
— Está tudo bem, não precisa se preocupar com isso. Espero que possa voltar para sua casa. — respondeu Claycius, seu tom transmitindo não apenas compreensão, mas também uma genuína preocupação pelo meu bem-estar.
Contudo, ao ouvir essas palavras, um sombrio lampejo de tristeza cruzou meu rosto. Minha casa, agora corrompida, representava um passado distante, e a ideia de voltar para lá era um lembrete cruel da perda irreparável que sofrera.
— Está tudo bem? — questionou Claycius, percebendo a melancolia em meus olhos.
— Ah… sim, desculpe. — Desci da carruagem, agradecendo novamente. — Muito obrigado mesmo pela ajuda.
Minha expressão revelava mais do que apenas gratidão; ela escondia uma complexa mistura de sentimentos. Claycius havia sido mais do que um simples benfeitor. Ele representava uma bondade que, de alguma forma, provocava um eco na consciência.
Durante toda a minha vida, trilhei caminhos sombrios, envolvendo-me com pessoas perigosas e enfrentando situações violentas. Em meu mundo anterior, cheguei ao extremo de tirar uma vida em autodefesa. A sensação de dívida, de dever, já me assombrara antes, especialmente em relação à minha família, que me apoiara em momentos difíceis.
Agora, diante da bondade de Claycius, essa sensação ressurgia, lembrando-me de um passado tumultuado e das complexidades morais que moldaram minha jornada.
— Obrigado por tudo, Claycius. — expressava novamente minha gratidão, reverenciando o homem que se tornara uma espécie de guia e protetor em terras desconhecidas.
— Não há de que, Ivan. Caso precise de ajuda com alguma coisa, vá até a loja de artefatos no final da rua, o dono da loja me deve uns favores. Se você citar meu nome, ele irá te ajudar. — Claycius ofereceu mais um gesto de generosidade, estendendo a mão em direção a mim.
Selamos a promessa com um firme aperto de mãos, e agradeci mais uma vez. — Certo, muito obrigado.
— O nome da loja é “Artefatos Fendy,” algo assim. Boa sorte. — Claycius acrescentou, compartilhando uma última informação antes de dar meia volta e partir.
A rua agitada da cidade central se estendia diante de mim, e eu me vi sozinho, carregando não apenas a sensação de dívida, mas também um novo fio de esperança. As palavras de Claycius, sua orientação e a promessa de ajuda na loja de artefatos, davam-me uma bússola para navegar pelo desconhecido que agora se estendia diante de mim. Com um suspiro profundo, comecei minha jornada.