Isekai Corrupt - Capítulo 8
Após alguns dias de reflexão e planejamento, decidi seguir em direção à loja de relíquias mencionada por Claycius. A loja, destacada anteriormente por Claycius, revelou-se um lugar intrigante e repleto de relíquias mágicas, cada uma com efeitos distintos. Ao adentrar o estabelecimento, deparo-me com uma variedade de itens, cujos preços pareciam aumentar de maneira acentuada.
O nervosismo se instala momentaneamente em mim diante do potencial custo elevado dessas relíquias, mas minha determinação me impeliu a prosseguir. A loja, vazia no momento, destacava-se pela presença de uma atendente no balcão. Uma garota de cabelos lisos e curtos, cujo olhar afiado analisou-me com curiosidade.
— Bom dia. — cumprimento, quebrando o silêncio na loja.
— Ah. Oi, como posso ajudar? — responde a atendente, num tom seco, revelando uma abordagem direta e um tanto severa em sua fala.
— Eu gostaria de falar com o dono da loja, o senhor Fendy está?
— Eu sou o dono da loja.
O impacto da revelação faz-me congelar no lugar, emitindo apenas um som baixo de surpresa. “Ah”, escapa de meus lábios enquanto meus olhos permanecem fixos na figura diante de mim.
— Então você é Fendy? — pergunto, um tanto nervoso.
— Sim, Erick Fendy.
Minha mente parece girar em confusão. “Caralho! É um cara?! Que droga tá acontecendo? Ele parece uma garota, não importa o quanto eu olhe!” exclamo em meus pensamentos, surpreso com a disparidade entre a aparência do jovem e seu verdadeiro gênero.
O garoto, percebendo minha reação, começa a franzir as sobrancelhas, demonstrando uma percepção aguçada diante da surpresa.
— Achou que eu era uma garota? — questiona Erick, em um tom seco, como se essa situação já fosse algo recorrente.
— Desculpa! É que você é linda pra…
Interrompo minha fala ao perceber o olhar ameaçador vindo de Erick, indicando claramente que não está apreciando a direção que a frase estava tomando.
— Foi mal… — desculpo-me, retraindo-me e buscando suavizar o desconforto criado pela minha observação inicial.
Enquanto pondero sobre a possibilidade de misturas raciais explicarem as diferenças entre as expectativas e realidades, questiono se essa é uma peculiaridade comum neste mundo. Dúvidas me envolvem enquanto tento entender melhor as nuances dessa sociedade.
Erick, com seu rosto que lembra o de uma garota, desperta minha confusão. Cílios longos, boca pequena, cabelo curto e liso, e algumas curvas em seu corpo contribuem para a confusão inicial, reconhecendo que minha própria mente está me enganando e, por alguns segundos, sinto uma pontada de vergonha.
— Isso acontece direto, deixa para lá. Então… o que deseja? — Erick pergunta, mudando de assunto.
— Uma pessoa disse que você poderia me ajudar caso precisasse, ele se chama Claycius.
— Instrutor Claycius?! Você conhece o homem?
— Conheço… conheci ele há pouco tempo.
Erick faz uma careta para mim, como se duvidasse do que está ouvindo.
— Sara Von Claycius, um guarda real aposentado, realmente conhece esse homem? — ele pergunta, adotando um tom mais sério.
— B-Bom… ele não disse o nome dele completo, mas um homem chamado Claycius disse que você deve um favor para ele e que eu deveria vir falar contigo caso precisasse de alguma ajuda.
Erick relaxa o corpo.
— Entendo. Se for esse o caso, o que precisa?
O fato de Claycius ser um guarda real surpreende-me, mas consigo ocultar minha surpresa diante de Erick.
A razão pela qual vim até a loja está diretamente relacionada à compra de relíquias mágicas. No entanto, a falta de recursos financeiros é um desafio a ser superado, especialmente para adentrar locais como a caverna da missão, onde certas áreas são inacessíveis a qualquer pessoa comum.
As relíquias mágicas possuem uma utilidade diversificada, oferecendo efeitos variados que podem ser cruciais em situações específicas.
Por exemplo, em combates contra criaturas mais poderosas, uma relíquia pode equilibrar as diferenças de habilidade entre mim e meu oponente.
— Quero comprar algumas relíquias, dei uma pesquisada na biblioteca e achei algumas com efeitos interessantes.
— E quais são?
Enquanto pesquisava na biblioteca, descobri que Md podia enxergar através de meus olhos, o que se mostrou uma vantagem significativa, já que ela tinha uma capacidade de armazenar informações além da faixa humanamente possível.
Md, além de ser um guia, tornou-se uma biblioteca particular de informações. Isso significa que, mesmo que eu esqueça algo, Md me ajudará a lembrar com base no conhecimento adquirido neste mundo.
— Para começar, um <Invisible Cloak> e um conjunto de <Silent Boots>. Teria algo desse tipo por aqui?
Esses itens não são relíquias extremamente poderosas, o que torna o preço acessível. Além disso, os efeitos desses itens serão de grande utilidade em explorações que exigem furtividade.
O Invisible Cloak era um item que me permitia usar três feitiços diários embutidos, tornando-me invisível por 30 minutos. Existiam versões aprimoradas, como o Superior Invisibility Cloak, que oferecia mais tempo de invisibilidade e um maior número de cargas diárias.
As Silent Boots eram botas que reduziam o som dos meus passos por 4 horas consecutivas, mas podiam ser usadas apenas uma vez por dia.
— Itens interessantes, você parece saber o que está pedindo, para um aventureiro novato. — Erick disse, analisando meu cordão de aventureiro.
— Começar como aventureiro a pouco tempo não dita a quantidade de conhecimento que tenho. — retruquei.
— É verdade. Eu tenho os itens que procura, mas nem de longe são baratos; ambos são itens de classe ouro, por mais que não sejam tão cobiçados.
Erick se afastou e continuou falando.
— Se quiser, podemos negociar um preço.
— Não vai ser preciso, eu não tenho dinheiro para comprar mesmo que o preço abaixe.
— ! — Erick virou com os olhos arregalados, sem emitir som algum.
— Então, por que veio até aqui? O que é tudo isso? — ele questionou, irritado.
— Eu tenho uma proposta para você, Erick Fendy. Que tal ouvi-la?
— Ahhhh… — ele grunhiu. — Você só pode estar de brincadeira comigo.
Me aproximei do balcão, colocando ambas as mãos sobre a mesa.
— Já que você deve ao senhor Claycius e ele me mandou até aqui, só peço que me escute, apenas isso.
A expressão de Erick mudou; ele relaxou e cruzou os braços, esperando para ouvir o que eu tinha a dizer.
— Quero que você me ajude com um empréstimo, ouvi dizer por aí que você já fez isso antes.
O rosto de Erick mudou completamente; ele demonstrou completa hostilidade para comigo e me agarrou pela camisa de trás do balcão.
— Calma, Erick, vamos conversar. — disse, permanecendo completamente calmo.
— Empréstimo, é? Se você ouviu falar que já fiz essa merda, deve ter ouvido falar do que aconteceu depois, não? Seu merda, o que você quer? — Erick disse, completamente alterado.
Permaneci imperturbável diante da reação irascível de Erick, mantendo meu olhar firme como se desafiasse a tempestade que se formava diante de seus olhos. Meus lábios esboçavam um sorriso sagaz enquanto as palavras fluíam de minha boca, cada uma delas como uma peça estratégica em um jogo complexo.
— Você iria me fornecer esses dois itens de rank ouro, e eu compraria alguns outros artefatos de rank menor com você. Quando minha fama e popularidade como aventureiro subirem, isso por consequência lançará uma luz sobre sua loja. E, caso isso não seja suficiente, podemos fazer um acordo. Cinquenta por cento de todo o tesouro que eu encontrar em minhas expedições será seu. Em teoria, você ganharia mais artefatos para vender, e a popularidade da sua loja subiria. — a proposta pairava no ar, como uma promessa tentadora que aguardava a resposta do destino.
Enquanto eu desfiava minha proposta, Erick, aos poucos, sentiu a raiva que o consumia diminuir. Quando as palavras cessaram, ele soltou minha camisa, mas o brilho desconfiado ainda permanecia em seus olhos.
— O que te faz pensar que eu aceitaria um acordo desses? Para começar, você é um aventureiro novato. Por mais que isso não revele verdadeiramente suas habilidades, não posso me dar ao luxo de apostar o meu futuro em alguém que mal conheço. Não há garantia de que meus itens retornarão intactos, e pode muito bem acontecer de você não retornar com vida. Deixe de ser ingênuo. — Erick pronunciou suas palavras com um desdém palpável, desafiando-me a contradizê-lo.
Compreendi o ponto de vista de Erick, mas ainda tinha as cartas certas para jogar.
— Faz alguns dias que moro nesta cidade central, não é mesmo? Sua loja não está indo muito bem, percebi. — provoquei, adotando um tom de deboche que foi o suficiente para inflamar novamente a ira em Erick.
— Filho da…
— Observei que sua loja não recebe clientes adequadamente. Com uma rápida pesquisa e perguntas nas outras lojas, descobri que você teve alguns desentendimentos com um aventureiro. Isso resultou na diminuição do fluxo de clientes para sua loja. — continuei, com um sorriso sutil brincando em meus lábios.
Erick sorriu nervosamente, percebendo que eu havia feito minha lição de casa.
— Parece que você fez sua pesquisa, não é mesmo? — provocou ele.
Percebi que as palavras de Erick eram carregadas de um peso emocional considerável. A situação delicada entre nós se desvendava lentamente, revelando camadas de desconfiança e desilusão. Mesmo sem saber todos os detalhes, intuí que algo significativo acontecera, algo que deixou uma mancha indelével na reputação de Erick na cidade.
A expressão de Erick permanecia sombria, seus olhos fixados no chão como se estivesse buscando respostas em suas próprias pegadas. A raiva que emanava dele não parecia ser dirigida a mim ou a qualquer outra pessoa; era uma cólera autocentrada, um conflito interno que se desdobrava diante dos meus olhos.
— Há alguns meses, eu fechei um negócio com um aventureiro. Iria emprestar a ele uma relíquia de visão noturna que tinha no estoque, para que pudesse explorar uma caverna com seu grupo. — Erick começou a desvendar a história, sua voz carregada de desapontamento. — Tínhamos um acordo: todo ouro, joias e peças raras seriam dele e de seu grupo caso encontrassem, e todos os artefatos seriam meus, para que eu pudesse vendê-los em minha loja.
Minha expressão permanecia inabalável, meu olhar penetrante reflet
indo uma melancolia sutil.
— Parece que não fui o único a ter essa ideia. — comentei, minhas palavras pairando no ar como uma confirmação silenciosa da complexidade do mundo em que estávamos envolvidos.
Erick suspirou profundamente antes de prosseguir com sua narrativa, revelando o cerne do conflito que levou ao declínio de sua reputação.
— Ele encontrou uma relíquia que, após analisarmos, descobrimos ser de rank diamante.
— Diamante?! Sério…? — não pude deixar de expressar minha surpresa diante da revelação, compreendendo instantaneamente a magnitude da descoberta. O brilho do diamante não só simbolizava riqueza, mas também a ascensão meteórica de um aventureiro, enquanto mergulhava nas profundezas desconhecidas da escuridão. O tom de incredulidade na minha voz ressoava, ecoando o dilema diante de nós.
Meu espanto vinha das informações adquiridas durante meu tempo de estudo.
Absorvia cada palavra de Erick, compreendendo agora a profundidade da traição que o afligira.
Relíquias, artefatos antigamente criados em eras milenares, permaneciam como testemunhas silenciosas do passado, com suas origens perdidas nas brumas do tempo.
— Relíquias são artefatos antigos, forjados há milênios, cujos criadores e propósitos se perderam nas névoas do tempo. Mesmo que as pessoas hoje possam criar algumas delas, os efeitos são notavelmente mais fracos em comparação com as relíquias originais. Esse mercado de relíquias modernas tornou-se, de certa forma, obsoleto. — acrescentei um breve comentário, contextualizando a importância e raridade das relíquias.
A revelação de que uma relíquia rank diamante estava envolvida nesse dilema ampliou a gravidade da situação. Relíquias dessa magnitude eram tesouros inestimáveis, capazes de transformar a vida de quem as possuísse. A perspectiva de uma relíquia rank diamante no mercado era suficiente para atrair atenção e riqueza sem precedentes.
— O maldito mentiu. Quando fui reclamar minha parte do acordo, ele afirmou que a relíquia cedida por mim estava quebrada. Alegou que não a usou na caverna e que, por mérito próprio, encontrou a outra sem a minha ajuda. Disse que meus serviços foram inúteis e, assim, o acordo estava cancelado. — a amargura nas palavras de Erick transbordava, sua frustração oscilando entre momentos de tristeza e ira.
A injustiça se desdobrava diante de mim, agora ciente de que Erick não apenas enfrentava uma crise financeira, mas também uma batalha por sua integridade e reputação.
— Em outras palavras, ele ficou com a sua parte. — repeti as palavras, solidificando a compreensão do ato traiçoeiro cometido pelo aventureiro inescrupuloso.
Um silêncio tenso se estabeleceu enquanto Erick pausava, buscando a serenidade necessária para prosseguir com sua narrativa. Uma respiração profunda e então, com uma voz que revelava a carga emocional que carregava, ele continuou.
— Depois do choque inicial, decidi confrontá-lo novamente… porque eu sabia que meu artefato não estava quebrado.
Avançou na história. As emoções oscilavam na voz de Erick, uma sinfonia de indignação, mágoa e determinação.