Isekai Corrupt - Capítulo 9
A noite sombria derramava seu manto sobre a cidade central, transformando as ruas habitualmente movimentadas em uma sinfonia silenciosa de descanso e relaxamento.
Enquanto a maioria dos trabalhadores exaustos buscava repouso, a cidade se entregava à tranquilidade noturna, com apenas alguns corajosos se aventurando nas sombras.
Erick, entre essas almas noturnas, observava discretamente as pessoas que ainda se moviam pelas ruas. Esses notívagos eram aqueles que aproveitavam a escuridão para escapar das agruras diárias, buscando refúgio na alegria efêmera que a noite poderia proporcionar.
Homens bêbados, cujos risos e tropeços cortavam o silêncio, cruzavam os caminhos estreitos da cidade. Seus braços entrelaçados denunciavam uma camaradagem construída em copos de álcool, enquanto lutavam para manter o equilíbrio sob a influência da bebida.
Saíam de um estabelecimento especial, o Bar A Coruja, conhecido por sua qualidade inigualável de bebidas e petiscos, além de sua localização estratégica próxima a um bordel famoso.
O Bar A Coruja, erguido sob as ordens do próprio lorde da cidade central, tornou-se uma peça essencial no quebra-cabeça financeiro da região.
Uma escultura imponente de uma coruja, esculpida em madeira e com quase dois metros de altura, adornava o topo do estabelecimento.
Era como se fosse o mascote da noite, uma marca distintiva que guiava os sedentos pela cidade. Uma direção tão simples quanto “Procura um bar com uma coruja feiosa esculpida” levaria qualquer recém-chegado ao local em questão, quase como um ponto de referência reconhecido por todos.
Erick, determinado, iniciou sua busca pelo aventureiro que quebrará o acordo anterior. A aurora ainda pairava no horizonte quando ele começou sua jornada, guiado pelo desejo de confrontar Joe e esclarecer as sombras que obscureciam seu passado recente.
A busca de Erick o levou por caminhos intrincados.
Aos poucos, enquanto perscrutava as sombras da manhã, ele encontrou outro aventureiro, que lhe indicou o paradeiro de Joe. A explicação vinha envolta em uma aura plausível: Joe estava comemorando o sucesso de mais uma missão, brindando com sua equipe em um bar frequentado assiduamente por eles.
Erick, guiado pela sede de justiça e respostas, chegou ao lugar indicado. As pequenas portas duplas oscilaram ao serem empurradas por suas mãos decididas, revelando um cenário animado, porém permeado por uma atmosfera ameaçadora.
Olhares penetrantes se voltaram para ele assim que cruzou o limiar, transformando o ambiente em uma arena de avaliação onde a tensão se podia cortar.
Apesar da diversão em grupo que preenchia o lugar, a atenção de Erick foi imediatamente atraída para Joe. Sentado em uma mesa com seus comparsas, envolto pela risada alta e efusiva, Joe celebrava seu sucesso enquanto brindava com copos erguidos. Mulheres da noite acompanhavam a festividade, criando um quadro de celebração descompromissada.
A ira de Erick incendiou-se ao ver o sorriso descarado adornando o rosto do homem que o havia ludibriado.
A fúria pulsava em suas veias, mas ele não se permitiria recuar como um covarde. Erick avançou destemidamente, sentindo os olhares ameaçadores direcionados a ele como se fossem adagas a cortar sua determinação.
“Pensou que poderia me passar para trás e ficar impune? Filha da puta!”, murmurou Erick consigo mesmo em seus pensamentos. Não estava ali apenas para reaver sua parte do acordo; estava lá para desvendar as blasfêmias proferidas por Joe sobre sua loja de relíquias.
Erick avançou com determinação através do cenário festivo, sua mente fervilhando de indignação diante das mentiras que manchavam o nome de sua loja. Os rumores espalhados por Joe e as confirmações de sua própria boca haviam lançado uma sombra de desconfiança sobre o estabelecimento de Erick. A reputação que ele construíra com tanto esforço estava sendo corroída por uma mentira covarde.
Caminhando com passos pesados, Erick chegou ao lado da mesa onde Joe e sua turma celebravam. As duas prostitutas que flanqueavam Joe, com braços esticados ao redor de seus pescoços, dirigiram a primeira avaliação de cima a baixo a Erick. O ambiente se encheu de uma tensão palpável, os olhares se cruzando em um duelo silencioso entre o ferreiro da verdade e o tecelão de mentiras.
As mulheres, com rostos rubros devido ao excesso de álcool, sorriram maliciosamente para Erick. Os olhos brilhavam com uma mistura de diversão e malícia, revelando que estavam imersas na celebração tola havia bastante tempo.
A postura de Erick era firme, sua expressão marcada por uma mescla de fúria contida e determinação.
O barulho da comemoração ao redor parecia desvanecer à medida que ele se aproximava de Joe. Este, ocupado em seus gestos obscenos, não percebeu a chegada de Erick até que uma sombra pesada pairou sobre a mesa.
As palavras arrastadas da mulher, em meio a sua embriaguez, ecoaram pelo ambiente, criando um breve suspense antes de desencadear a atenção de Joe. Este, imerso em suas conversas obscenas com seus companheiros de equipe, só percebeu a presença de Erick quando a prostituta pronunciou suas palavras desarticuladas.
— Vem cá Joeee… você chamou outra pra brincarmos em trio hojeee? — A mulher, lutando contra a dificuldade de falar normalmente, expressou suas palavras com um toque de provocação, estendendo algumas sílabas enquanto sorria com malícia.
Joe, agora ciente da chegada de Erick, direcionou seu olhar para o ferreiro com uma expressão de desdém, mesmo enquanto mantinha o sorriso desavergonhado.
— Mm…? Caralho, Erick? O que tá fazendo aqui, porra? — questionou Joe, surpreendido, mas sua atitude desdenhosa permanecia inalterada.
— Você está de sacanagem comigo, Joe?! Eu vim para pegar o que você me deve! — O grito de Erick rompeu o ar do bar, chamando a atenção de alguns curiosos, que observavam o espetáculo se desenrolar com uma mistura de diversão e expectativa.
Ignorando a exigência de Erick, Joe voltou a se ocupar com seus colegas, relegando a um segundo plano.
— Porra, eu não tenho nada para falar contigo, cai fora daqui. — Joe desdenhou, virando-se para seus companheiros e deixando Erick no vazio.
Determinado a não ser ignorado, Erick elevou o tom.
— Você me deve! — gritou novamente, sua voz ecoando pela taverna.
A reação de Joe foi instantânea. Com um golpe forte na mesa de madeira, sua expressão séria e uma fúria contida. Joe deu um gole em seu copo, virou o rosto para Erick e, em um instante, sua expressão mudou de séria para raivosa.
— Estragou o gosto da bebida, seu puto! — exclamou Joe, enfurecido, lançando o primeiro lampejo de uma tempestade.
A atmosfera no bar se tornou pesada, permeada pela risada zombeteira de Joe e seus companheiros. A prostituta, empurrada sem cerimônia, encontrou-se sentada no chão enquanto Joe se aproximava de Erick, lançando-lhe um olhar de superioridade.
A diferença física entre os dois era notável, Joe, com seu porte imponente e tamanho exagerado, pairava sobre Erick como uma sombra ameaçadora.
Sem aviso, um soco brutal atingiu o estômago de Erick, fazendo-o gemer de dor e cair de joelhos no chão.
O impacto dificultava sua respiração, e cada segundo parecia uma eternidade enquanto ele tentava se recuperar.
— Ah! — esperneou Erick, sentindo a intensidade da dor reverberar por seu corpo.
Joe, impiedoso, começou a rir, sua risada ressoando pelo bar. Seus companheiros, ainda sentados, uniram-se ao coro de escárnio. A situação beirava o grotesco, mas ninguém parecia disposto a intervir.
— Você deveria entender a porra do seu lugar, seu filha da puta. — falou Joe, levantando o pé.
Um tremor percorreu o corpo de Erick quando Joe desferiu um chute na nuca, fazendo-o colidir violentamente com o chão de madeira. O sangue escorria, obscurecendo a visão de Erick, que permanecia prostrado e incapaz de se levantar.
Erick não esperava que a tentativa de diálogo degenerasse tão rapidamente em violência. Seu corpo frágil era vítima de uma brutalidade desenfreada, enquanto Joe justificava sua agressão com palavras carregadas de falsidade.
— Como eu disse para você e para os bostas da guilda de aventureiros, a porra da relíquia que você me deu estava quebrada, quantas vezes vou ter que repetir, caralho?! — vociferou Joe, sua voz ecoando pela taverna.
— Não estava…! — Erick grunhiu, a dor dificultando suas palavras. — Não estava quebrada!
Os gritos de Erick ressoaram pelo bar agora em completo silêncio. Todos eram testemunhas do que acontecia, mas nenhum deles se movia para interromper a escalada de violência que se desenrolava diante de seus olhos.
Um espetáculo grotesco que se desdobrava sem testemunhas dispostas a intervir.
— Repete seu merdinha… — ameaçou Joe, os dentes à mostra em uma expressão selvagem.
Erick, ainda no chão, não se deixou abalar. Com a dor pulsante e a dignidade ferida, ele desafiou Joe, despejando a verdade que carregava consigo.
— Esse artefato era um dos que o meu pai cuidava, em nenhuma circunstância ele estaria quebrado dentro da minha loja! Ele cuidava de todos eles com todo o esforço do mundo antes de falecer! E depois de morrer, eu assumi esse cargo! É impossível que ele estivesse quebrado, eu mesmo testei de noite antes de entregá-lo a você no dia seguinte, é impossível, Joe!
Erick esperava que Joe, diante da verdade exposta, recuasse, que sua raiva se transformasse em compreensão. No entanto, Joe não estava disposto a aceitar a derrota. Ele retirou o pé da cabeça de Erick, permitindo que se erguesse parcialmente, ainda segurando sua barriga dolorida.
— Então é isso que você acha? Já sei! — Joe bateu o punho cerrado na palma de sua outra mão, como se uma ideia maligna tivesse surgido. — Vai ver que seu pai era um incompetente. — Disse, inclinando a cabeça enquanto um sorriso maléfico estendia-se em seu rosto.
Uma risada sinistra emergiu atrás de Joe, seus amigos sentados nas cadeiras se uniram em uma gargalhada estridente. As palavras zombeteiras ecoavam pelo bar, provocando um coro de risos que se alastrava como uma praga.
— Hahaha! Vai ver o pai dele era burro pra cacete!
— Sim, sim, Riquelme. O papai dele agora tá cuidando dos artefatos no colo do capeta agora! Hahaha!
As gargalhadas continuavam, intensificando-se como uma tempestade de escárnio. Erick, encharcado pela humilhação, sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto machucado.
A dor física se tornava secundária diante da devastação emocional. O barulho da zombaria parecia ensurdecedor, uma cacofonia de crueldade que reverberava nas paredes do estabelecimento.
Sua alma se quebrava diante do ridículo público e da inabilidade de fazer justiça prevalecer.