Isekai Corrupt - Capítulo 31
Depois de alguns dias de intensa pesquisa, finalmente estava prestes a colocar em prática todo o conhecimento que obtive. Olhei para o artefato em minhas mãos, imaginando se isso realmente me levaria a algum resultado. Foi nesse momento que ouvi a voz de Douglas, que me observava de perto.
— Você realmente é um ser humano diferente… Mesmo tendo presenciado a cobra tão de perto, ainda deseja expulsá-la — comentou ele, com uma mistura de respeito e incredulidade.
Entendo o que ele queria dizer. A visão daquela criatura assombrava qualquer um, mas me movia algo mais profundo.
— Você passou o dia mexendo nessa coisa… ainda pensa em pedir ajuda para os animais da floresta?
— Sim e não — retruquei, com um leve sorriso. — Quero a colaboração deles, mas pedir ajuda talvez soe errado, especialmente considerando o que pretendo fazer.
Douglas arqueou uma sobrancelha, curioso.
— O que pensa em fazer?
— Quero forçá-los a me ajudarem — falei, finalmente revelando a ideia. — Primeiro, pensei nos lobos. Estão em grande número e seriam uma força incrível na batalha.
Douglas parecia desconfiado.
— Como pretende forçá-los? Se está pensando em ameaçar, “me ajudem ou morram…” temo que isso não vá funcionar. Eles lutariam até o último deles vivos.
Balancei a cabeça, descartando a ideia.
— Não, isso seria uma estupidez. Como você sabe, passei dias obtendo informações sobre a matilha deles por meio desse artefato, o Olho de Transmissão. Com ele, posso ver tudo o que o olho observa. Além disso, ele flutua, e posso movê-lo com minha mente. Um investimento caro, mas valeu a pena.
— Mas como fez para eles não perceberem essa coisa flutuando? — perguntou Douglas, curioso.
— Primeiro, neutralizei o cheiro. Na loja, várias pessoas tocaram nele, então seria fácil para eles identificarem um odor estranho na floresta. Depois, usei uma habilidade que aprendi há algum tempo chamada Camuflagem. Diferente de Invisibilidade, essa habilidade permite camuflar objetos à distância. Dependendo do tamanho, o gasto de mana aumenta. Como é um olho pequeno, gasto pouca mana, e é o melhor método de espiar sem ser notado.
Douglas parecia impressionado.
— Incrível!
Olhei para ele, lembrando de minha experiência ao entrar no território da cobra.
— Tive essa ideia quando entrei no domínio daquela cobra. Quem sabe, no futuro, não terei que verificar um território antes de atravessá-lo?
Douglas balançou a cabeça, admirado.
— Isso é espetacular! Mas… o que descobriu sobre os lobos?
— Informações cruciais — murmurei, pensativo. — A princípio, queria pedir ajuda amigavelmente, e se eles recusassem, pediria um duelo contra o ômega para resolver a situação. Mas, pelo que descobri, eles poderiam recusar o pedido de qualquer maneira. Então, pensei em algo mais… agressivo.
— Isso que você está trabalhando há dias tem algo a ver com isso? — perguntou ele, apontando para o objeto em minhas mãos.
Olhei para o pequeno artefato, uma boneca de madeira de tamanho real detalhada e peculiar.
— Ah… está falando dela? Sim, ela faz parte do plano, mas não é só isso.
Douglas me encarou, curioso e impaciente.
— Então… é para quê mais, afinal?
Sorri, segurando a boneca entre os dedos.
— Deixe-me apresentar alguém, Douglas. Uma pessoa muito especial para essa missão.
⧫⧫⧫
A noite já caía sobre a floresta quando Viely, a filha do Ômega, retornava ao lar. A última discussão com seu pai ainda ecoava em sua mente – mais uma tentativa frustrada de convencê-lo a enfrentar a cobra maligna, o ser mais temido daquela mata.
— Volte logo para casa! Não fique de birra só porque não conseguiu o que queria! — gritou o Ômega, virando-se para sair.
Viely cerrou os dentes, a frustração ardendo em seu peito.
— Eu? De birra? Logo você está falando isso? Não acha melhor ver o próprio reflexo na água antes de falar algo assim?
Ele bufou, irritado.
— Tsc! Não tenho tempo para essa besteira.
— Tempo você tem, já que passa o dia todo sem fazer nada — murmurou ela.
— Viely! Não irei tolerar mais esses escrúpulos! Continue assim, e o próximo passo será remover o seu título de capitão. Lembre-se de quem é o dono dessa matilha, sua incompetente! — rosnou ele, a voz reverberando de autoridade.
Com passos pesados, o Ômega se afastou, deixando-a ali, sozinha e desgostosa. Mais uma vez, ele recusou seu pedido de unir a matilha contra a cobra maligna. Para ele, coexistir com a criatura era a única opção. Mas Viely sabia que isso era insensato – uma atitude que poderia custar a segurança de todos.
Ela saiu de casa e caminhou até a caverna onde passava as noites, buscando um pouco de paz. A vista do lago à frente era serena, com a lua cheia brilhando no céu escuro. Deitou-se perto da entrada, olhando para o reflexo da lua na água, esperando que o sono viesse.
— Viely? Ainda acordada? — disse uma voz suave atrás dela.
Ela sobressaltou-se e virou-se. Era Solus, o jovem lobo que conhecera há alguns dias. Sua presença era reconfortante; ele se tornará um dos poucos com quem ela sentia que podia realmente conversar.
— Ah, Solus… Você me assustou — sussurrou ela, relaxando.
Ele riu, com um brilho divertido nos olhos.
— Você? Com medo? Isso é difícil de acreditar — provocou ele, com um sorriso.
Ela riu de volta, sentindo-se aquecida pela presença dele. Solus era diferente dos outros. Ao contrário dos outros lobos, ele sempre a tratava com sinceridade.
— Da próxima vez, Solus, vou te morder antes de olhar! Quero ver você rir com os dentes na sua garganta!
— Assim você me faz ficar com medo de você, Viely — respondeu ele, rindo, e então entrou na caverna, deitando-se ao lado dela, próximo o bastante para que ambos vissem a lua.
A princípio, Viely sentiu-se desconfortável. Seu coração batia mais rápido e, sem saber o motivo, seu rosto corava. Em silêncio, ficou ali, cada vez mais confusa.
— Você parece nervosa. Está tudo bem? — perguntou ele, olhando-a nos olhos.
Ela desviou o olhar rapidamente, tentando disfarçar.
— A-Ah, claro. Estou ótima.
O silêncio entre eles era reconfortante, mas algo em Solus parecia diferente naquela noite. Ele suspirou, a expressão serena mudando para algo mais sombrio.
— Viely… — disse ele em tom baixo, como se estivesse ponderando as palavras. — Já se sentiu… vazia por dentro?
Viely o olhou, confusa.
— Vazia? Eu… não sei se entendi.
— Não, tudo bem. Não achei que entenderia de imediato — respondeu ele, um leve sorriso melancólico nos lábios. Olhou para a lua e suspirou. — Só tenho me sentido assim ultimamente. Como se algo importante estivesse faltando, entende? Parece idiota, mas…
Ele hesitou, e Viely viu em seus olhos algo que nunca vira antes. Uma vulnerabilidade que tocou seu coração. Ela queria dizer algo que o confortasse, mas as palavras pareciam escapulir.
— Não é besteira, Solus — disse ela, decidida. — O que você está sentindo é seu. E, mesmo que pareça estranho ou bobo, é algo real, parte de quem você é.
Solus a olhou, surpreso, e sorriu. Aquele sorriso mexeu com ela mais do que qualquer palavra poderia.
Ao lado dele, sob a luz da lua, Viely começou a compreender o que seu coração tanto tentava lhe dizer. Ela sentia algo mais por Solus – algo que não conseguia mais ignorar. Era um sentimento novo, que explodia em seu peito como a lua brilhando sobre o lago.
Ela estava apaixonada.
⧫⧫⧫
A noite era calma, até que um uivo cortou o silêncio, trazendo um pressentimento de que algo estava muito errado. Solus despertou de um sono profundo na casa de Viely, seu coração acelerado enquanto uma inquietação tomava conta de sua mente.
— Caramba, peguei no sono na casa da Viely. Depois peço desculpas, agora tenho que acordá-la! — pensou, enquanto sacudia ela.
— Viely, Viely! — chamou, quase em desespero.
— Ai, amor, só mais cinco minutos… — respondeu ela, ainda perdida em seus sonhos.
Solus franziu a testa, preocupado. Aqueles uivos soavam como um sinal de emergência, e ele precisava agir rápido. Depois de alguns segundos, Viely finalmente abriu os olhos, confusa.
— Hm… Solus? O que aconteceu?
— Uivos de emergência. Parece que aconteceu alguma coisa perto do acampamento. É melhor irmos até lá.
Ela assentiu, a expressão de preocupação tomando conta de seu rosto. Juntos, correram na direção do acampamento. Ao chegarem, a cena que encontraram era caótica: os lobos corriam de um lado para o outro, seus olhos arregalados, buscando algo que estava fora de lugar.
Solus, determinado, abordou um dos lobos.
— O que está acontecendo? Por que todo mundo está correndo desse jeito!?
O lobo, com um olhar preocupado, respondeu rapidamente.
— A Herdeira do Ômega Riez, Lady Aria, desapareceu! Todos estão procurando por ela…
O coração de Solus afundou, seu corpo paralisado por um instante de choque. Mas logo uma voz familiar o trouxe de volta à realidade.
— Solus!
— Hm… — respondeu, finalmente recobrando a consciência.
— Você está bem? Você congelou do nada.
— E-eu… sim, estou bem! Vamos!
— Aonde!? — perguntou Viely, os olhos ainda arregalados de preocupação.
— Precisamos procurar! Ela não deve ter ido longe.
— Como assim? Você a viu antes?
— Sim, a vi aqui por perto! Sigam-me!
Solus, Viely e o lobo correram na direção do ponto de encontro secreto, onde ele havia se encontrado com Aria há poucas horas. O local ficava a dez minutos do acampamento, um ponto seguro para evitar que outros os vissem voltando juntos. Chegando lá, Solus começou a farejar freneticamente o cheiro dela.
— Ela estava aqui? E muito longe do acampamento… Como você sabe disso? — perguntou o lobo.
Solus ignorou a pergunta, seu foco em encontrar o aroma delicado de Aria. Finalmente, seu olfato aguçado detectou algo.
— Capitei! Por aqui! Corre! O cheiro, por algum motivo, está se movendo!
— Não precisamos de reforço? Se for um sequestro, devemos ir em maior número!
— Não temos tempo para isso agora! Se voltarmos, pode ser tarde demais.
— Solus, vou com você. E você, volte e peça reforços. Siga nosso rastro a partir daqui. Deixarei marcas de pegadas para seguirem.
— Certo! Aguentem firme!
O lobo partiu rapidamente, e Solus virou-se para Viely.
— Obrigado, Viely.
— Eu que agradeço. Mesmo não falando muito com ela, ela ainda é da minha família. E tem o meu sangue. Vamos!
— Sim.
Os dois correram com todas as forças. Solus não pensava nas possíveis consequências, apenas em Aria. O que sentia por ela era forte o suficiente para fazer com que qualquer temor fosse irrelevante.
“Sempre tem um louco pra tudo nesse mundo, Solus. Basta um motivo que vale a pena arriscar a vida é uma pessoa perde a noção da realidade, jogando-se na boca de um vulcão”
As palavras de seu tio ecoavam em sua mente, e Solus se perguntava:
— Então isso é o que é arriscar tudo por um motivo? Nunca pensei que não sentiria medo da morte, mas sim, medo de perdê-la para sempre.
A determinação de Solus era inabalável. Ao chegarem ao ponto onde o cheiro cessará, seus olhos se arregalaram ao avistar o corpo de Aria, encostado em uma árvore. Ela parecia ilesa, mas estava desacordada.
— E ela! Aria! — gritou Solus, mas foi interrompido por uma advertência de Viely.
— Calma, Solus!
Ele parou abruptamente, percebendo uma presença próxima ao corpo. Um homem, ou algo semelhante a um humano, estava ali. Vestia roupas pretas que cobriam grande parte de seu corpo e uma máscara que ocultava seu rosto.
— Quem é você? O que fez com ela!? — exigiu Solus, a raiva fervendo em suas veias.
— Você chegou até aqui. Parabéns. Na verdade, temos uma intrusa no recinto. Você não foi convidada, por favor, saia daqui — respondeu o homem, olhando diretamente para Viely.
— Não vou embora! Você sequestrou a minha irmã! Devolva-a agora!
O homem riu com toque de malícia.
— Abusada, não é? Talvez eu deva cortar a cabeça da sua irmã na sua frente para você aprender a respeitar a pessoa no controle da situação.
Ele ergueu uma espada, colocando-a contra o pescoço de Aria.
— Covarde! Se escondendo atrás de uma refém. Esse é o pior tipo de ser que existe. Não me surpreende que você seja humano.
— Nossa, isso foi muito xenofóbico… — ele disse, a ironia evidente em seu tom. — Mudando de assunto, saia agora. Como disse, você não foi convidada. Se não sair, vou matar essa aqui e depois matar todos os outros. Você decide.
— Tsc! — Solus rangeu os dentes, a fúria borbulhando dentro dele. — Está tudo bem, Viely, deixa comigo.
— Hm?
— Volte para o acampamento e avise o pessoal para esperar. Se vierem todos juntos, ele pode acabar matando Aria.
— Mas por que…?
— Tic, tac. O tempo voa quando estamos nos divertindo, não é? Vai logo embora.
Ameaçado, o homem forçou Viely a se virar.
— Vou deixar com você então… POR FAVOR, NÃO MORRA!
— Deixa comigo. Não vou morrer aqui.
Com isso, Viely partiu, deixando Solus sozinho diante do homem mascarado, que tinha o amor de sua vida como refém.
— Então, estamos sozinhos… e agora? O que você quer? — Solus desafiou, sua determinação ardendo como fogo em seu peito.