Isekai Corrupt - Capítulo 33
Um homem sinistro, envolto em sombras, com um olhar penetrante que parecia atravessar a alma, mantinha Aria sob seu domínio. A lâmina afiada da espada pressionava o pescoço dela, e a luz da lua refletia na lâmina, criando um espetáculo sinistro. Solus, diante daquela cena aterrorizante, sentiu seu coração parar. Uma onda de impotência o paralisava, cada músculo de seu corpo clamava por ação, mas a incerteza e o medo o aprisionavam.
O homem, imperturbável, começou a falar com um tom gélido.
— Queria conversar com você. Por isso, preparei esta situação. Mas antes…
Solus mal teve tempo de processar aquelas palavras. Em um movimento rápido e inesperado, o homem guardou a espada, afastando-se de Aria, que permanecia inconsciente. Um turbilhão de incredulidade tomou conta de Solus. O que poderia justificar tanto esforço para sequestrá-la apenas para soltá-la? Seria uma armadilha diabólica?
Ele correu até Aria, seus pés quase não tocavam o chão. A visão dela desacordada, mas viva, fez seu coração disparar novamente, e um alívio incontrolável inundou seu peito.
— O que você pretende com isso? — Solus perguntou, sua voz trêmula revelando a tensão que o consumia.
— Como disse, só queria conversar. — O homem respondeu, sua voz calma como um lago em dia sem vento.
— Por que comigo? O que tenho de tão interessante? — Solus esbravejou, a frustração se transformando em raiva. — Não sou nada especial… O que te levou a se arriscar tanto só para me chamar?
O homem se sentou no chão, cruzando as pernas como se estivesse em um simples piquenique, demonstrando uma calma desconcertante. Sua presença exalava poder, como uma tempestade prestes a eclodir.
— Tenho três coisas para te dizer, e são de suma importância. Então, preste atenção.
— Espere! E Aria? O que você fez com ela? — Solus disparou, a adrenalina queimando suas veias.
— Apenas a coloquei para dormir. Não precisa se preocupar com isso.
A visão do homem parecia fria como o aço, e a raiva de Solus fervia dentro dele, uma tempestade prestes a se desencadear.
— Você bateu nela? — Ele exigiu, cada palavra, um esforço para manter a agressividade sob controle.
— Sim, apenas um golpe foi o suficiente para que ela desmaiasse. — O homem respondeu, como se falasse sobre o tempo. — Vamos com calma. Temos tempo.
— Não diria isso se fosse você! — Solus retorquiu, os músculos tensos, prontos para a batalha. — Cumpri sua exigência, mas os outros lobos podem aparecer a qualquer momento.
A confiança do homem era desconcertante, uma certeza ameaçadora que deixou Solus em alerta.
— Como eu disse, temos tempo… não se preocupe com isso.
Ele se perguntou se o homem havia preparado algo para atrasar a chegada dos outros lobos. A tensão no ar era palpável, como um fio prestes a se romper.
— Antes de prosseguirmos, deixe-me me apresentar. Chamo-me Zero.
— Eu sou… — Solus começou, mas o homem o interrompeu.
— Solus, eu sei. Não precisa se apresentar. Conheço você muito bem…
A afirmação fez o coração de Solus disparar, uma sensação de vulnerabilidade o envolveu.
— Hm… — ele hesitou, buscando as palavras.
— Estive vigiando você. — Zero continuou, sua voz carregada de uma sinceridade inquietante. — Para ser sincero, minha intenção inicial era observar Aria. Ela era meu alvo principal, mas, como vocês se encontravam às escondidas, precisei espionar você também para não deixar perguntas sem respostas.
— Isso ainda não explica por que você fez tudo isso. — Solus insistiu, sua determinação firme como uma rocha.
— Fiquei interessado em você. — Zero confessou, sua voz ganhando um tom sombrio. — Após alguns dias de vigilância, percebi que você é diferente dos outros lobos.
— Diferente? Como assim? — Solus perguntou, a curiosidade misturando-se ao medo.
— Você conhece a lenda do lobisomem?
— Lobisomem?! Sim, conheço. — A lembrança das histórias da infância veio à mente, contadas em sussurros pelos anciãos. — Nunca acreditei, mas eram histórias fascinantes…
Zero riu por trás da máscara, como se estivesse satisfeito.
— Então fica mais fácil explicar. Você tem sangue de lobisomem.
— Hm… espera, o que você está dizendo? Não entendo. — Solus balbuciou, o mundo ao seu redor começando a desmoronar.
— É exatamente isso. Não sei por que você tem, mas é certo que existe sangue de lobisomem em suas veias.
— Como você chegou a essa conclusão? — Solus questionou, uma mistura de incredulidade e confusão estampada em seu rosto. — Não tenho as características de um lobisomem! Eles andam em duas patas e têm aparência humanóide, mas com traços de lobo.
— Você está certo, mas eu disse que você tem sangue. Não que você seja um.
— Como assim? — Solus estava aturdido, a verdade começando a se formar em sua mente.
— Um lobisomem é considerado a verdadeira forma de um lobo, sua forma “pura”. Em outras palavras, é uma transformação que você pode ter ou não… e você, Solus, tem a capacidade de se transformar em um lobisomem. Por isso, vim até você.
— Isso é… — Ele começou, a realidade da revelação pesando sobre ele.
— Eu sei que é muito para digerir, mas acredite em mim. É verdade. Para ter traços de sangue de um lobisomem, é necessário ser um em mil lobos… um achado raro.
As palavras pairavam no ar, como um feitiço lançado, enquanto Solus lutava para aceitar a revelação que mudaria sua vida para sempre. O peso daquelas verdades ameaçava esmagá-lo, como se um abismo se abrisse sob seus pés.
— Essa transformação… eu conseguiria aprender a usar? — indagou ele, a voz quase um sussurro.
— Poderia — respondeu Zero, com um brilho intenso nos olhos. — Na verdade, eu anseio por ensinar você a dominar esse poder.
— Quer me ensinar?! Que tipo de maluco você é? Por que daria mais poder para mim? — Solus questionou, a desconfiança transparecendo em cada sílaba.
— Não pense que sou algum Robin Hood moderno. — A resposta de Zero veio rápida, mas envolta em um mistério. — Não farei isso de graça.
— Robin o quê? — Solus franziu a testa, confuso.
— Hm… nada. Esqueça isso. — Zero acenou a mão de forma desdenhosa. — Lobos não entendem algumas coisas. O que realmente quero é a sua cooperação.
— Com o quê? — Solus retrucou, um fio de tensão em sua voz.
— Quero que me ajude a exterminar a cobra maligna.
— MATAR A COBRA?! Todos os humanos são assim, malucos?! — Solus exclamou, indignação pulsando como um tambor em seu peito.
— Todos os lobos são xenofóbicos? Não sou todos os humanos, sou apenas um — retrucou Zero, sua voz firme como aço. — Cada ser humano é diferente do outro, assim como vocês.
— D-desculpe. Nunca conversei ou vi um humano antes… — a vulnerabilidade de Solus emergiu, como um lobo ferido.
— Deixa, não se preocupe com isso. — Zero se aproximou, o peso de sua presença reverberando ao redor de Solus. — Quero sua ajuda para acabar com a cobra maligna. E não só sua ajuda, mas a ajuda de todo o seu povo.
— Eles nunca aceitariam… não, o ômega nunca aceitaria. — A determinação de Solus se desvanecia, a horrível certeza de que estava perdendo o controle.
— Se ele não aceitar, o matarei.
— O quê?! Ele é o pai da Aria! — Solus sentiu a raiva e o desespero se entrelaçaram em seu peito.
— Ele tem poder, mas pode ser substituído por você quando dominar a transformação. Então não me importo em matá-lo. Como disse antes, a forma de lobisomem é a verdadeira raça dos lobos, mas poucos conseguem acessá-la. Não sei por quê, mas talvez eu descubra mais tarde.
— Matar o pai da Aria não irá te ajudar em nada! Os outros lobos não irão te seguir se o fizer!
— Aí que você se engana. A próxima na linha de sucessão é Lady Aria, não é mesmo? — A expressão de Zero era pura malícia.
— Você…
— Se ele não me escutar, irei matá-lo. E utilizarei Aria para controlar todos os lobos. Com ela no comando, poderei obrigá-la a liderar seu povo contra a cobra maligna.
— Você acha que ela aceitaria uma ideia dessas?
— Sim, ela aceitaria, porque a vida de seu amado estará em risco, não é?
— Humano maldito — O desdém nas palavras de Solus era apenas um reflexo de sua impotência.
— Caso ela se recuse a me ajudar a manipular seu povo, não apenas matarei seu pai. Irei torturar você, e ela será forçada a assistir cada instante de seu sofrimento, do começo ao fim. Duvido que ela não aceite depois disso.
Solus parou para pensar, o silêncio carregado de angústia e desespero. Zero havia arquitetado tudo até ali. Ele precisava ser astuto, dar um passo que o humano não tivesse previsto.
— E se eu me matar?
— Hm… — A aura de Zero se tornou contemplativa, mas não havia misericórdia em seus olhos.
— Se eu me matar aqui e agora, ela não precisará mais escolher entre mim e a matilha.
— Você é realmente exemplar. Estaria disposto a tirar sua própria vida para que a mulher que ama não sofra essa escolha difícil… estou começando a respeitá-lo ainda mais. Mas devo dizer que não seria uma ótima escolha. Deixei-a livre para você verificar se ela estava viva ou morta, mas isso ainda é um sequestro. Se você se matar, não verá, mas farei com que os últimos minutos de sua amada sejam os piores de sua vida.
— Em outras palavras, é praticamente um ciclo vicioso. Você me usa como salvaguarda para ela não o trair, e usa ela para que eu não o traia… você realmente pensou em tudo, humano— Zero.
A realidade se tornava uma armadilha a cada palavra proferida. Solus sentia-se desamparado, aprisionado na teia de um ser que não se importava com suas agonias. Zero tinha total controle sobre ele.
— Qual é a sua decisão, Solus? — A voz de Zero ressoou, implacável.
Após um longo silêncio, Solus finalmente respondeu, sua voz tremendo.
— Você pode me prometer que não vai machucá-la, mesmo que eu morra lutando contra a cobra maligna? Se puder, prometa que nunca mais vai encostar um dedo nela… eu… eu aceito.
— Entendido. Mas não quero só isso, não é tão simples assim, Solus.
— Demônio! O que mais você quer de mim? — O desespero agora era um grito dentro dele.
— Sua vida! — As palavras de Zero cortaram como uma lâmina.
— O que…? — Solus sentiu seu coração parar, um frio desesperador se espalhando por suas veias.
O corpo dele estremeceu diante da verdadeira “face” de Zero. A aura que o cercava fazia Solus tremer de terror. Ele era muito mais forte do que Solus jamais poderia imaginar. Um ataque seria suicídio.
— Desejo a sua, a dela, e a vida de todos os seus companheiros — começou Zero, sua voz profunda e autoritária ecoando no espaço como um trovão. — Em suma, vocês irão me servir até que eu decida libertá-los. Vocês são meus! Não se preocupem, pois cuido muito bem do que é meu. Vão poder continuar vivendo suas vidas miseráveis como bem entenderem. E os outros lobos nunca saberão a verdade, pois serão manipulados por mim nos bastidores. Por isso, usarei Aria.
As palavras de Zero reverberam na mente de Solus, que lutava contra a paralisia do medo.
— E-então… você deseja que nos tornemos seus escravos? — questionou ele, a hesitação visível em sua voz.
Solus respirou fundo, tentando processar a proposta insana que lhe era apresentada.
— De uma maneira… poderemos viver bem? — insistiu, sua voz trêmula e insegura.
— Sim, de certa forma, vocês irão me pertencer. Se enfrentarem problemas no futuro, virei em seu apoio. Simples assim.
Ele baixou a cabeça, um turbilhão de pensamentos atravessando sua mente, a pressão o impelia a decidir. Depois de respirar fundo uma vez mais, Solus ergueu o olhar, encarando os olhos penetrantes de Zero.
— Aceito! Pertenço a você! De agora em diante, serei seu servo leal. Por favor, aceite minha legítima lealdade!
Nunca em sua vida Solus teria imaginado que chegaria a tal ponto, mas a presença de Zero o dominava. A estratégia do homem o havia conquistado. Era difícil acreditar que poderiam derrotar a cobra maligna, mas se Zero tinha planos como aqueles, talvez houvesse uma chance de vitória.
— Kukuku, de agora em diante, você é meu Solus. Você me pertence — disse Zero, sua voz transbordando confiança, como um rei sobre seu trono.
— Sim, senhor.
— Não precisa disso. Me chame de Zero. Meu nome precisa ser usado o máximo possível.
— Poderia perguntar por quê?
— Está na hora da Corrupt sair das sombras!
— Não entendo o que quer dizer com isso…, mas se é isso que deseja… eu farei.
Zero balançou a cabeça, olhando para cima como se estivesse buscando algo no céu.
— Md.
Em um instante, outro humano surgiu, vestindo-se de forma peculiar, mas com a mesma máscara branca que ocultava seu rosto, exceto por um buraco que lembrava um sorriso humano e os furos para enxergar.
— Sim, Zero. O que deseja? — perguntou Md, sua voz reverberando com um tom de obediência.
— Leve a Lady Aria para um lugar seguro. Irei entrar em contato com você depois — disse Zero, a voz soando impositiva, como um trovão que ecoa no silêncio da floresta.
— Como assim!? Por que precisa dela? — a preocupação transparece na voz de Solus, sua expressão se contorcendo em um misto de medo e raiva. Ele mal conseguia processar a ideia de que Aria poderia ser levada para mais longe dele.
— Fique calmo, Solus. Tudo isso faz parte do plano. Prometi que não a machucaria desde que você se tornasse meu, então agora siga minhas ordens e venha comigo — Zero respondeu, um riso enigmático. A confiança dele era quase palpável, uma força que parecia se infiltrar em cada canto da floresta.
— … O-onde iremos? — Solus hesitou, um frio na espinha o lembrando do abismo que se abria à sua frente. Ele sentia como se estivesse prestes a atravessar uma linha sem retorno.
— Nós vamos até o ômega. Tenho assuntos a tratar com ele. Se ele for inteligente, talvez nem precise matá-lo. Mas se ele cometeu alguma idiotice… — a voz de Zero se arrastou, uma sombra de ameaça pairando sobre cada palavra. — Infelizmente, ele pode já estar morto a essa altura.
— Então, de fato, ele já havia planejado algo contra os lobos da matilha… — Solus murmurou, sua mente girando em torno das possibilidades.
Md, o outro humano de máscara, se aproximou, ele pegou Lady Aria, colocando-a de forma cuidadosa, mas firme, sobre os ombros. O movimento era rápido e decidido. Então, em um instante, Md saltou para uma árvore, desaparecendo entre os galhos como se fosse um espírito da floresta.
— Vamos — ordenou Zero, a firmeza de sua voz deixando claro que não havia espaço para questionamentos.
— Sim! — respondeu Solus, com a adrenalina pulsando em suas veias, como fogo em suas entranhas.
O caminho à frente se desenrolava como um labirinto de perigos e incertezas, e mesmo que o medo o engolisse, Solus estava decidido. Ele lutaria com todas as forças por aquilo que mais amava.