Isekai Corrupt - Capítulo 34
A floresta se estendia ao nosso redor, enquanto corria ao lado de Solus. O plano estava se desdobrando diante de mim, uma tapeçaria de manipulação e ambição. Não apenas a lealdade de Solus estava em minhas mãos, mas, se tudo corresse como desejado, também obteria controle sobre os lobos que habitavam aquelas matas.
— Ivan, irei levar Aria para o ponto de encontro — a voz de MD ecoou em minha mente, serena como a superfície de um lago em um dia tranquilo, mas sob a calmaria.
— Ótimo, Md. Fique de olho para que ela não fuja ou algo do tipo — respondi mentalmente, a preocupação por tudo que poderia dar errado dançando freneticamente em minha mente.
Md havia adquirido um corpo próprio, uma obra que esculpi com a habilidade que aprendi ao longo do tempo. A capacidade de moldar objetos inanimados a partir de mana se tornará uma ferramenta essencial. Ao longo dos dias, usei troncos de árvores para experimentar e finalmente consegui criar uma boneca humana de madeira com um tamanho de uma criança. Um projeto mais elaborado demandaria mais esforço e tempo, e o tempo era um recurso escasso.
Por conta de nosso tempo juntos, moldar o corpo da boneca foi relativamente fácil. O desafio se encontrava no cabelo; as tentativas anteriores falharam em capturar a essência do que desejava. Assim, visitei uma loja de perucas e, com um simples toque, prendi os fios na cabeça da boneca. O resultado? Perfeito.
Para que Md pudesse controlar o corpo, precisei criar um núcleo de mana — uma peça crucial que poderia ser comprada em lojas, mas que era extremamente cara. O tempo não estava a meu favor, então decidi desenvolver um núcleo com a minha própria mana, criando um compartimento na boneca para inseri-lo. Dessa forma, MD poderia manipular o corpo como uma marionete. Aprendi a habilidade de manipulação e, com isso, ela se tornou quase como uma extensão de mim, utilizando a energia do núcleo que havia fabricado. O que precisava fazer era simplesmente carregá-lo após o uso, como uma bateria.
Havia, no entanto, uma diferença monumental entre a minha técnica de mana e a de Md. Ela era uma verdadeira profissional, capaz de utilizar a mana para “fortalecer” a boneca, conferindo a ela uma velocidade, força e destreza que superaram as minhas. Fisicamente, Md é uma força a ser reconhecida, mesmo que, ao usar a manipulação, ficasse limitada a uma única habilidade de cada vez.
Enquanto observamos os lobos durante as semanas, Md fez uma descoberta intrigante: o lobo chamado Solus possuía sangue de lobisomem. A cor dos olhos dele, inicialmente semelhante à de outros lobos, revela nuances diferentes conforme os dias passavam. Md, com sua atenção aguçada, desvendou essa particularidade que me escapara.
A busca pelo conhecimento sobre os lobos havia me levado a muitas leituras, mas a percepção de Md me completava de maneiras que não havia notado. Ela me auxiliou a conseguir uma nova carta para usar contra a cobra maligna, um passo importante em nosso plano. Agora, conquistar os lobos e formar uma aliança com os outros animais da floresta tornara-se imperativo para a guerra que se avizinhava.
A cada dia estamos mais próximos, não irei perder novamente para aquela cobra maldita! Irei matá-la e me tornar ainda mais forte!
Por que desejava derrotar a cobra? Após muitas conversas com Md, percebi que me deixei levar pela história de Eric e enfrentei Joe, e em seguida quis eliminar a cobra maligna. A vida é única, e não posso me valorizar o que possuía sem realmente usufruir dela. Após refletir bastante, cheguei à conclusão de que faria isso para me fortalecer e provar a mim mesmo que poderia superar o medo que me dominou naquele instante. Poderia morrer na tentativa, mas a recompensa valeria a pena.
⧫⧫⧫
O caminho até o acampamento foi relativamente tranquilo, mas a atmosfera carregada de tensão deixava claro que tudo poderia mudar a qualquer momento. Quando estavam quase chegando, um som perturbador que cortou o ar silenciou a conversa. Um urso colossal surgiu diante deles, suas garras ensanguentadas e um brilho selvagem nos olhos. A cena era de cortar o coração: vários lobos, deitados em uma posição que falava de um combate brutal, estavam feridos, mas o ômega, com um olhar vazio, jazia sem vida, a cabeça caída de maneira trágica.
Solus congelou ao avistar o corpo inerte de seu líder. Um misto de choque e dor consumiu seu ser. O urso, percebendo a presença deles, fixou o olhar em Zero, como se estivesse esperando uma ordem.
— Iv— Zero! — exclamou o urso, sua voz ecoando com a tensão do momento. — Detive todos como combinado. Infelizmente, tivemos algumas baixas. Além do ômega, três lobos… não conseguiram perceber que eram fracos demais e… então ataquei com força.
Zero, mantendo uma postura firme, respondeu com uma calma cortante:
— Não se preocupe com isso, Douglas. Eles que atacaram, não?
— Sim. Dei opções. Mas escolheram me atacar, então… tive que usar a força para mantê-los aqui.
Zero respirou fundo, sua voz ganhando um tom mais grave:
— Se estavam prontos para matar, é óbvio que também deviam estar prontos para morrer.
As palavras dele reverberam na mente dos lobos, criando um silêncio inquietante. A brutalidade da situação era palpável, e o medo começou a se espalhar como fogo em campo seco. Com um olhar penetrante, Zero se posicionou diante dos lobos atordoados pela cena que presenciaram.
— Meu nome é Zero! — proclamou ele, sua voz ressoando como um trovão. — Sou um humano e responsável por todas essas desgraças! Sequestrei Lady Aria e mandei o urso matar seu ômega caso recusasse a cooperar comigo. Agora que ele morreu, vocês têm alguém que possa falar por todos vocês?
Os lobos trocavam olhares nervosos, buscando um entre eles que tivesse coragem suficiente para se erguer e enfrentar esse humano que controlava o urso, uma criatura temida na floresta. O tio de Solus o observava, seus olhos repletos de surpresa e desconfiança. Os outros lobos também pareciam confusos, questionando a presença de Solus ao lado daquele homem.
Após longos momentos de tensão, um lobo finalmente se adiantou. Era Willer Robinson, o chefe da família Robinson, seu olhar traiçoeiro mascarando um medo crescente.
— Meu nome é Willer Robinson. Eu era o braço direito do ômega Riez.
— Entendo. Antes de prosseguir, você tem intenção de lutar comigo? — Zero perguntou, sua voz carregada de desafio. — Se ainda houver resquícios de vontade de lutar, irei matá-lo agora mesmo e procurarei outro representante.
Willer ficou visivelmente nervoso, as patas tremendo sob o peso da ameaça.
— Prometo não fazer nada imprudente.
— Então estamos de acordo. A princípio, gostaria de falar com o máximo de lobos possível. Como muitos ainda estão acordados, posso prosseguir. Seu ômega está morto, e estou em posse de duas coisas essenciais para vocês. Primeiro, detenho Lady Aria, a herdeira sucessiva do ômega Riez. Vocês perderiam muito caso ela morresse, não?
— S-sim, Lady Aria é a mais capacitada a herdar o cargo de líder da nossa matilha.
Zero continuou, o brilho de seus olhos acentuando a gravidade da situação.
— Com isso em mente, agora vem a segunda coisa que tenho em minhas mãos: os seus destinos.
Os lobos estremeceram com suas palavras, um medo palpável envolvendo-os como uma névoa densa. Até mesmo Solus, que já havia firmado um pacto com Zero, sentiu o frio na espinha.
— O senhor—
— Senhor não, Zero. — Ele interrompeu, a impaciência em sua voz clara.
— S-sim. Zero, por acaso você deseja a nossa morte?
— Não, não faria tudo isso para simplesmente matar vocês. Trago aqui e agora um aviso e uma troca.
— Uma troca? … Que tipo de troca? — Willer perguntou, engolindo a própria saliva, o medo crescendo a cada palavra.
— Quero que vocês entrem na minha aliança para matar a cobra maligna.
O clamor que se seguiu foi ensurdecedor. Os lobos ficaram atordoados, suas reações denunciando a confusão que os dominava. Era como se as palavras de Zero não fizessem sentido, ecoando sem significado. Solus, por sua vez, lembrava-se de como ele mesmo precisava de um tempo para absorver a proposta que acabara de ouvir. Ele entendia a tempestade de emoções que fervilhava entre aqueles que o cercavam.
— Antes de prosseguir — disse Zero, interrompendo o burburinho crescente —, gostaria de falar em um local privado com os lobos de mais alta patente dessa matilha. Irei explicar o restante em detalhes.
O raciocínio de Solus começou a clarear. Ele percebeu que Zero tinha um plano meticulosamente elaborado. O humano queria, primeiramente, se dirigir ao maior número de lobos possível, transmitindo apenas a parte superficial de sua proposta. Aqueles que retornassem ao acampamento espalhariam a notícia, criando um burburinho que se alastraria por todo o território. Os detalhes cruciais, no entanto, seriam revelados somente aos líderes, aqueles que detinham o poder de decisão, agora que o ômega estava morto.
— T-tudo bem! Voltaremos ao acampamento. Podemos conversar na nossa base de estratégias… Algum problema? — perguntou Willer, visivelmente nervoso.
— Nenhum, façam isso. Podem ir na frente; em uma hora, irei até vocês para discutir mais detalhes. Por favor, mantenham a mente aberta — respondeu Zero com firmeza, sua voz soando como um comando.
— Certo.
— Inclusive, gostaria de ficar com Solus por enquanto — acrescentou Zero, lançando um olhar penetrante que fez todos os presentes voltarem a atenção para o lobo.
O coração de Solus disparou, uma onda de nervosismo o invadiu, quase o sufocando. Ele sabia que as palavras de Zero teriam um peso imenso.
— O nome desse lobo é Solus. Quero que ele fique comigo de agora em diante. Ele também vai servir como meu serviçal até o término das negociações.
Os lobos trocaram olhares, o espanto pintado em seus rostos.
— Seu serviçal? — perguntou Willer, a voz hesitante.
— Algum problema com isso? — A pergunta de Zero cortou o ar, trazendo um frio na espinha de todos.
— N-não senh— Zero! — A hesitação de Willer era evidente, um pingo de desespero se infiltrando em suas palavras.
— Certo, então prossigam com o combinado até agora. Em uma hora, falarei com vocês. Vamos, Douglas. Vem também, Solus.
— Certo, Iv— Zero! — disse Douglas, tentando manter a compostura, embora seu tom denunciava sua tensão.
— Sim, Zero! — respondeu Solus, lutando contra a ansiedade que ameaçava dominá-lo.
Enquanto caminhavam de volta ao local de onde vieram, Solus refletia sobre o que estava por vir. Ele não tinha ideia das intenções de Zero, mas sabia que suas ações eram meticulosamente planejadas. Um misto de expectativa e temor pulsava em seu peito, como se estivesse prestes a cruzar um limiar do qual não havia retorno.