Isekai Corrupt - Capítulo 35
Dois meses haviam se passado desde o sequestro de Aria. O peso da liderança, antes sob os ombros de seu falecido pai, agora repousava sobre os dela. A matilha, que por tanto tempo fora liderada pelo ômega Riez, aguardava com apreensão as primeiras ordens de sua nova líder. Uma aliança com Zero estava em curso — fruto de uma conversa tensa e decisiva entre os líderes e o enigmático homem mascarado, bastando agora a aprovação final de Aria.
Desde o retorno ao acampamento, Aria assumiu a responsabilidade de fortalecer a matilha. Ela organizou patrulhas e intensificou a coleta de recursos, sempre em busca de assegurar a sobrevivência e estabilidade do grupo. Zero, com seu conhecimento peculiar, trouxe relíquias que aprimoram a comunicação entre os membros, permitindo que alertas de intrusos fossem transmitidos com ainda mais rapidez. Esses pequenos avanços elevaram a moral, mas o rancor persistia: muitos lobos ainda carregavam o ressentimento pela morte de Riez e olhavam Zero com desconfiança.
No entanto, a força de Aria sobrepuja os temores. Em um rito de aceitação, ela confirmou a aliança com Zero e reivindica sua posição como herdeira legítima. Naquele dia, enquanto o sol desaparecia por trás das montanhas, Solus a observava em silêncio, encantado pela firmeza de sua expressão e pela beleza severa que ela emanava, mesmo enquanto descansava em seus aposentos, onde eles se encontravam a sós.
— Você é incrível, Lady Aria — murmurou ele, admirando-a.
Aria ergueu os olhos para ele, surpreendida, e suas bochechas tomaram um leve tom rosado.
— O-o que você está dizendo, Solus? — ela perguntou, desviando o olhar, o que apenas acentuou sua vulnerabilidade.
— Fofa… — brincou ele com um sorriso de canto, enquanto ela se encolhia de vergonha.
Ela franziu o cenho, forçando uma expressão severa, mas era impossível esconder o leve sorriso que lhe escapava.
— Eu já disse para não me chamar assim! — replicou ela, tentando parecer séria. — Esse é o problema! — ela acrescentou com mais intensidade.
— O quê? — ele perguntou, realmente confuso.
— Quando estamos sozinhos, você pode me chamar de Aria! Não “Lady”. Certo?
Solus soltou uma risada suave.
— Ah, então você está me ameaçando? Que fofo — provocou ele, mas agora seu sorriso trazia um tom mais genuíno.
— Solus! — ela retrucou, emburrada, mas logo desfez o semblante, os olhos brilhando com algo mais profundo. Desviou o olhar, e suas palavras vieram como um sussurro.
— Eu te amo.
A declaração tomou Solus de surpresa, cada sílaba tocando seu coração como uma brisa gentil. Ele a encarou por um instante antes de responder, igualmente suave.
— Eu também te amo, Aria.
O instante de ternura foi abruptamente interrompido quando Viely entrou no aposento, um pouco atrapalhada. Ela acabara de ser promovida a conselheira real, uma posição que Solus, de forma perspicaz, sugeria a Aria que ela ocupasse para fortalecer o vínculo entre as duas.
— VIELY! — Aria saltou em direção a ela, sorrindo de uma forma que parecia um ataque.
— P-para, Aria! Não faça essas coisas com o Solus aqui! — Viely se desvencilhou com esforço, mas não conseguia disfarçar o sorriso de contentamento.
— Ah, deixa disso, vocês são irmãs, não são? — riu Solus.
Aria sorriu ainda mais, olhando com carinho para sua amiga.
— Parecem filhotes brincando no chão — comentou ele.
— Solus! N-não diga essas coisas! — Viely replicou, corada.
— Calma, Viely, é um elogio! — Aria riu, abraçando a irmã com seu corpo.
Depois de alguns momentos, Aria voltou seu olhar para Solus, o semblante mudando rapidamente para algo mais sério.
— Já está na hora do seu treinamento, não é? — perguntou ela.
— Ah, sim! Acabei me distraindo.
— Vá, Solus. Viely e eu vamos ficar bem por aqui, certo, irmãzinha?
Viely pareceu surpresa, mas sorriu, concordando.
Quando ele deixou os aposentos, o ambiente mudou. Agora era o momento de enfrentar o desafio do treinamento — e Solus sabia que nada seria fácil. Ele caminhou até a área designada para os exercícios, onde os lobos mais jovens estavam sob a orientação de Md, um humano misterioso de máscara, e Douglas, o imponente urso de segundo rank. Nos últimos tempos, o estilo rigoroso e técnico de Md, combinado à força bruta e à orientação gentil de Douglas, moldaram um novo nível de habilidade entre os lobos.
— Md, Douglas. Como está indo o treinamento? — Solus os cumprimentou.
Douglas sorriu com entusiasmo.
— Ah, Solus! Chegou em boa hora! — anunciou, batendo suas enormes patas no chão com um estrondo.
— Boa hora? — ele franziu a testa.
— Você e eu, garoto. Vamos lutar agora! — exclamou Douglas, já se posicionando para o combate.
— Espera… o quê?
Douglas olhou seriamente para Solus, que olhou para Md, que riu suavemente por trás da máscara.
— Md acha que você já me ultrapassou no poder. Vamos às provas? — Douglas sorriu com um brilho desafiador nos olhos.
Solus respirou fundo, a tensão crescendo. Sabia que Douglas era um guerreiro formidável.
— Tudo bem, se é para o bem do treinamento… — ele respondeu, tentando conter um sorriso.
— Vamos ver se realmente você é um guerreiro, Solus — Md murmurou.
A multidão de lobos ao redor murmurava em antecipação, e todos recuaram, dando espaço para o confronto. Douglas abriu um largo sorriso, e antes que Solus tivesse chance de responder, ele atacou com força.
— [BURST OF FIRE!] — gritou Douglas, e uma rajada de chamas avançou na direção de Solus.
Solus arregalou os olhos.
Quando foi que ele aprendeu isso?
Ele ativou sua própria habilidade, esquivando-se no último instante.
Caramba! Um segundo a mais e eu teria virado carvão!
Douglas não perdeu tempo e, aproveitando a distração de Solus, ativou sua própria habilidade que amplia velocidade.
— [INCREASE SPEED!] — Ele se lançou como um projétil, colidindo seu corpo com Solus e o lançando a metros de distância.
Solus se levantou, sentindo o peso do golpe reverberar pelo corpo, mas determinado a não ceder.
— Você é durão, garoto! Venha, me mostre do que é feito! — rugiu Douglas, enquanto Md o incentivava com um sorriso.
Solus entrou em posição de combate novamente e, com uma expressão de puro foco, ativou sua transformação.
— [FIRST STAGE!] — Ele rugiu, seu corpo mudando até adquirir uma forma semi-humana, os músculos ondulando com força renovada.
Os jovens lobos ao redor assistiam, impressionados, enquanto Douglas batia as garras em aprovação.
— Vai, Solus! — gritavam eles.
Sentindo o poder se expandir dentro de si, Solus respirou fundo, ajustando sua postura. Seu olhar se fixou em Douglas.
— Vou. Ir. Com. TUDO!
Douglas apenas sorriu, a expressão orgulhosa de quem aceitaria o desafio de peito aberto.
A floresta estava silenciosa, exceto pelo som de folhas secas sendo esmagadas sob os pés de uma figura imponente. A transformação havia trazido uma nova intensidade àquele corpo, e, em contrapartida, a fala, antes ágil, agora era lenta e grave, como se carregasse o peso da força bruta que residia em cada fibra muscular. Ele sentia-se mais veloz, mais forte — um predador à espreita.
Sem hesitar, ele avançou contra Douglas, rasgando o ar com velocidade sobrenatural. Em um instante, surgiu diante dele, uma presença que parecia ter atravessado o espaço em questão de segundos. Douglas, atordoado, arregalou os olhos.
— O quê?! — balbuciou, incrédulo ao ver o adversário tão próximo.
Com um salto, Douglas tentou se afastar, mas a movimentação do oponente era feroz e implacável. Ele antecipava cada movimento, cada hesitação, cada tentativa de defesa. Em um momento de puro instinto, deslocou-se para trás de Douglas, que, ainda no ar, se virou desesperado ao perceber que estava encurralado.
— Werewolf Punch! — murmurou a fera, enquanto concentrava a energia para um golpe devastador.
O soco, fortalecido pela transformação, atingiu Douglas como uma marreta, a descarga de mana explodindo como um relâmpago. O impacto trazia a força de inúmeros ataques combinados, desferidos em um único golpe.
Douglas, com os olhos arregalados de horror, lançou sua habilidade no último segundo.
— Stimulate Defense! — gritou, e seu corpo brilhou intensamente, envolvido por uma camada de energia protetora.
Mas mesmo essa defesa não foi suficiente para deter o poder do ataque. O punho da criatura atingiu-o no estômago, e Douglas, sufocado pela dor, cuspiu sangue enquanto era arremessado pelo ar. Ele voou entre as árvores, derrubando galhos e troncos, até ser lançado contra uma caverna próxima, onde uma família de lobos habitava. O impacto ressoou pela floresta como um trovão.
A transformação começou a se dissipar, e ele voltou à sua forma humana, com os olhos preocupados e o coração acelerado.
— Caramba, Douglas! — exclamou Solus, sentindo a culpa pesar em seu golpe.
— Não se preocupe, você recuou no último instante, não foi? Ele deve estar bem — comentou Md, tentando tranquilizá-lo.
Mas a preocupação não o deixava. Ele correu em direção à caverna onde Douglas havia colidido, ignorando os dois lobos que o observavam, desconfiados e protetores, os olhos brilhando na escuridão da caverna.
Ao encontrar Douglas entre as pedras, ainda respirando, ele soltou o ar em alívio. Douglas, recuperando-se aos poucos, olhou para ele com um sorriso cansado e o rosto marcado de hematomas.
— Caramba, garoto… você é realmente forte. — Douglas tossiu, um riso escapando de seus lábios apesar da dor.
— Eu… eu sinto muito, Douglas. Me empolguei demais — ele murmurou, a voz embargada pela culpa.
Douglas, cambaleante, ergueu-se com esforço e pousou uma mão firme em seu ombro, rindo baixinho.
— Não se preocupe… eu já esperava por isso.
Ele respirou fundo, encarando o amigo com uma expressão de desafio.
— E aí? Que tal um segundo round? — brincou Douglas, os olhos brilhando com uma chama inabalável.
Surpreso, ele não pôde deixar de sorrir. Douglas e Md, após esses dois meses não eram apenas companheiros de treinamento; eram amigos, aliados, talvez até parte de algo maior. Ali, entre árvores e pedras, ele sentiu que aqueles laços eram tão fortes quanto uma matilha — ou talvez algo que ele ainda estivesse descobrindo.