Isekai Corrupt - Capítulo 36
O ponto de encontro não havia sido marcado em lugar algum, mas andei pela cidade central com os olhos atentos, procurando duas pessoas que prometi encontrar. Já fazia alguns dias que deviam ter aparecido. Parei na esquina de uma rua movimentada, suspirando impaciente.
— Será que hoje eles aparecem? — murmurei para mim mesmo, a ponta de irritação visível. — Talvez tenham me dado um perdido e nem se deram ao trabalho de vir até aqui.
— Acho difícil, querido — respondeu uma voz familiar em minha mente. Md sempre tinha uma opinião pronta. — Correr o risco de enfurecer uma organização criminosa assim… Duvido que fossem idiotas a esse ponto.
Sorri, quase sentindo o calor de seu sarcasmo à distância.
— E você? O que está fazendo com o seu corpo?
Md era uma presença curiosa; conseguia comunicar-se comigo através da minha mente e controlar seu corpo onde quer que estivesse, uma habilidade muito além do que eu, com minha técnica de mana, poderia imaginar conseguir fazer algum dia.
— Já iniciei a incitação.
— Sério? Achei que fosse demorar mais… Falando nisso, como o Solus está indo no treinamento?
Após firmar uma aliança com os Lobos, retornei à minha vida e identidade originais como Ivan o aventureiro. Com o tempo, acumulei uma boa quantia de dinheiro trabalhando como aventureiro e, finalmente, atingi o rank cinco. Agora, na cidade central, o nome Ivan circulava entre as pessoas; me tornara famoso por subir ao rank 5 mais rápido do que qualquer aventureiro desta cidade central. Minha habilidade única fazia tudo acontecer de forma veloz e precisa — um dom raro dado a mim que me permitiu evoluir mais rápido que os outros.
— O treinamento está indo como o previsto. Ele progrediu bastante nesses últimos dias… vai ser uma arma excelente.
— Md, mostre meus status, por favor.
— Claro.
[Estatísticas Gerais]
Físico
Força – B+
Velocidade – B
Resistência – C
Arte Espiritual
Mana – D
Técnica – D
Percepção – C
Habilidades
1 – [FAST LEARNING] (Única – Nível E – Raridade SS) COOLDOWN – 78 Horas
2 – [MASTER OF WEAPONS] (Ativável – Nível E – Raridade C) COOLDOWN – 0 Horas
3 – [BEST TRACKER] (Ativável – Nível D – Raridade F) COOLDOWN – 0 Horas
4 – [QUICK CURE] (Ativável – Nível C – Raridade C) COOLDOWN – 0 Horas
5 – [BODILY ILLUSION] (Ativável – Nível C – Raridade D) COOLDOWN – 0 Horas
6 – [MODEL OBJECT] (Ativável – Nível B – Raridade F) COOLDOWN – 0 Horas
7 – [GATE] (Ativável – Nível B – Raridade B) COOLDOWN – 0 Horas
8 – [ELETRICAL CONTROL] (Ativável – Nível D – Raridade C) COOLDOWN – 0 Horas
9 – [FLAMING CONTROL] (Ativável – Nível D – Raridade C) COOLDOWN – 0 Horas
10 – [DIMENSIONAL BACKPACK] (Ativável – Nível F – Raridade C) COOLDOWN – 0 Horas
11 – [MIND CONTROL] (Ativável – Nível E – Raridade B+) COOLDOWN – 0 Horas
12 – [MAJOR EARTHQUAKE] (Ativável – Nível E – Raridade A) COOLDOWN – 0 Horas
13 – [MINOR EARTHQUAKE] (Ativável – Nível E – Raridade C) COOLDOWN – 0 Horas
14 – [ABSORB] (Ativável – Nível E – Raridade B) COOLDOWN – 0 Horas
15 – [DEATH] (Ativável – Nível E – Raridade S) COOLDOWN – 0 Horas
16 – [CAMOUFLAGE] (Ativável – Nível E – Raridade F) COOLDOWN – 0 Horas
Uma coleção de habilidades que me tomaram semanas para aperfeiçoar. Treiná-las, algumas raras e difíceis de dominar, exigiu persistência. Mas era algo que conseguia fazer bem. Enquanto os humanos deste mundo se focavam em um aspecto específico — fosse aprimorar a força física, o controle de elementos ou o desenvolvimento de habilidades de cura e suporte —, eu podia aprender de tudo. Minha habilidade única não apenas acelerava meu aprendizado, mas me permitia treinar várias áreas ao mesmo tempo sem a perda de eficiência.
Olhei ao redor enquanto refletia sobre o sistema que regia o treinamento dos aventureiros num panfleto. Existem categorias bem definidas entre nós: guerreiros, conjuradores, ampliadores e os não classificados, ou nulos.
Os guerreiros são os mais comuns; focam em treinar o físico e aprender habilidades de combate direto, usando a força e a velocidade a seu favor. Conjuradores, por outro lado, especializam-se em manipular elementos e objetos, como faço de vez em quando com minhas habilidades Electrical Control e Flaming Control. E os ampliadores, que dominam o suporte, habilidades de cura e aumento da eficácia alheia, sempre foram vistos como essenciais para qualquer equipe de aventureiros.
Por fim, há os nulos, como eu. São considerados estranhos neste mundo, pois não seguem um único caminho; aprendem o que quiserem, quando bem entendem. São raros, principalmente por causa do custo e do tempo de treino — um recurso valioso que, para muitos, não compensa. Imagine que uma estudante do ensino médio decidiu focar toda sua energia no curso de natação; agora pense em outra garota que tenta natação, vôlei, futebol e basquete ao mesmo tempo. Nossos caminhos seriam diferentes, e nosso progresso também.
Sou da classe Nula, um status que poderia ser considerado quase insignificante, não fosse pela minha habilidade única. Graças a ela, posso aprender múltiplas técnicas ao mesmo tempo e em um ritmo que beira o impossível. Uma habilidade de rank F, que para muitos levaria de quatro a seis meses para dominar, aprendo em apenas dois dias. Essa velocidade de aprendizado é, para dizer o mínimo, assustadora.
— Realmente… — murmurei para mim mesmo, admirando o poder que tinha em mãos. — Essa habilidade é eficiente de um jeito que nunca deixa de me surpreender. Com ela, as oportunidades parecem infinitas.
Apesar das possibilidades, sempre mantive uma postura cautelosa. Mesmo frequentando a guilda de aventureiros e pegando diversas missões, jamais aceitei entrar em um time. Não queria que pessoas aleatórias descobrissem minhas habilidades — isso seria como colocar um alvo em minhas costas. A classe Nula é rara, e se a minha força fosse conhecida, não demoraria para que meu nome se espalhasse. Eu precisava me manter discreto.
Adotei então uma expressão severa, quase carrancuda, e me empenhei em passar a imagem de alguém pouco sociável. Irônico, talvez, mas essa fachada aparentemente “inacessível” acabou atraindo ainda mais atenção. Os pedidos para me juntar às equipes foram se acumulando, e o que tanto temia aconteceu: virei alvo dos olhares da guilda. E, embora eu tente evitar os holofotes, subir tão rápido para o rank cinco acabou me denunciando.
Agora, todos querem que me junte ao time deles
Desviei dos olhares de um grupo de guerreiros que cochichavam.
Os dias foram passando, e aquelas duas figuras que esperava não apareceram. Decidi, então, ocupar a mente com outra coisa e fui pegar uma nova missão. Algo para me distrair do nervosismo que a iminente batalha contra a Cobra Maligna trazia.
Desde que vim parar nesse mundo, me meto em uma confusão atrás da outra… Nem tirei um único dia de descanso!
Suspirei, praticamente falando com o vazio enquanto caminhava em direção à guilda.
Quando essa guerra contra a Cobra Maligna acabar, vou tirar férias. Já fiz uma bela quantia com esses trabalhos, e posso me dar ao luxo de ficar um tempo sem aventuras.
Assim que entrei na guilda, percebi os olhares. Alguns mais discretos, outros descaradamente curiosos.
— Não é aquele o aventureiro Ivan? — ouvi um comentário sussurrado.
— Sim, é ele. Como alguém tão jovem subiu no ranking tão rápido? — alguém respondeu.
— Deve ser de família rica, com certeza!
Era uma teoria comum. Muitos aventureiros talentosos vêm de berços de ouro, onde recursos e poções caras podem acelerar o treinamento. Lembro-me de Joe, outro jovem prodígio que chegou ao rank cinco aos vinte e três anos — um feito que poucos conseguem.
Enquanto planejava matá-lo, minha companheira, Md, levantou uma hipótese de que ele poderia ser filho de alguém influente. Com dinheiro, é possível adquirir itens e poções, facilitando muito o treinamento. Mas, observando Joe de perto, Md percebeu que ele não parecia ter tantos recursos assim, quanto talvez um verdadeiro nobre teria, o que a fez duvidar da própria teoria.
Para proteger minha identidade e me manter longe dos problemas, criei uma organização falsa, a “Corrupt”. Nessa trama, Zero seria o criminoso, não Ivan. Mas essa organização está se tornando algo que jamais imaginei. Depois de enfrentar o poder imenso da Cobra Maligna, percebi que, até que esteja forte o suficiente para me proteger sozinho, vou precisar de aliados. Criar essa organização criminosa é meu primeiro passo para alcançar o poder absoluto que tanto desejo.
Desejo ter um poder absoluto. Um poder tão imenso que ninguém ousaria me enfrentar, mesmo que estivesse em desvantagem.
Assassinar pessoas nunca foi algo que me agradou, mas aprendi que força e medo são meios eficazes para se alcançar o que se deseja. E, ao olhar para trás, percebo um certo tom de hipocrisia em mim. Julguei Joe pelas suas ações contra Erick porque era ingênuo. Neste mundo, vencer significa sobreviver, e todos têm que definir até onde estão dispostos a ir para alcançar seus objetivos.
Decidi. Não vou mais ser aquele garoto que era quando cheguei aqui.
⧫⧫⧫
Zerafine e seu irmão haviam finalmente chegado à cidade central. Depois de semanas de viagem, enfrentando todo tipo de obstáculo, lá estavam eles, como combinado, prontos para reencontrar um homem misterioso conhecido como Zero.
— Irmã, você acha que ele ainda vai estar aqui? — perguntou seu irmão, visivelmente preocupado. — Demoramos muito para chegar… Aquela última missão foi mais complicada do que esperávamos.
— Espero que sim — respondeu Zerafine, com os olhos fixos no horizonte. — Se não, podemos ter irritado uma pessoa bastante perigosa.
Um trabalho de três dias se estendeu por quase um mês. Estradas antes seguras estavam agora infestadas de bandidos e feras. A maioria não era um problema, mas alguns dos encontros tinham sido mais desafiadores do que ela gostaria de admitir.
— Para onde vamos? — ele perguntou.
— Vá até o hotel em que ficamos da última vez e consiga um quarto para nós. Vou até o bar Coruja e vejo se encontro o Zero… — Ela fez uma pausa e suspirou. — Tomara que ele não esteja irritado por causa do atraso.
Ele assentiu e partiu, deixando-a sozinha com seus pensamentos.
Primeiro, Zerafine seguiu para a guilda secreta de mercenários desta cidade central para coletar a recompensa pela missão. Com isso feito, rumou para o bar Coruja. Ao entrar, o ambiente ruidoso e esfumaçado a envolve, mas seu foco estava em outra coisa. Sentou-se em uma mesa discreta e ficou esperando, observando cada rosto que passava.
Vinte minutos se passaram, e nada de Zero aparecer. Ela suspirou, frustrada, e pousou a cabeça na mesa.
— O fiz esperar demais… — murmurou para si mesma, a mente atormentada pelo remorso. — Talvez não devêssemos ter sido gananciosos. Achei que terminaríamos rápido…
— Bom dia.
O cumprimento soou ao seu lado, e ela sobressaltou-se, quase caindo da cadeira. Ao se virar, viu uma figura diante dela.
— Zero? — perguntou, surpresa.
A pessoa não respondeu, mas usava uma máscara idêntica à de Zero, e Zerafine sentiu uma onda de alívio misturada com desconfiança.
— Meu nome é Md. Zero é meu mestre.
Uma… membra da Corrupt? Será que o Zero a deixou aqui para o caso de eu chegar atrasada?
— Siga-me.
Sem mais palavras, Md virou-se e saiu do bar, e Zerafine não hesitou em seguir, tentando acompanhar a figura misteriosa.
Elas caminharam pela cidade e logo deixaram a área urbana, entrando na vasta floresta que margeia a cidade central. Árvores imensas bloqueiam a luz, e a trilha parecia cada vez mais sombria e difícil de seguir.
Pra onde ela está me levando? Será uma armadilha? Será que o Zero está irritado?
Md parou de repente e virou-se.
— Ele já está vindo. Vamos esperar aqui.
Zerafine assentiu, ainda cautelosa.
— Por acaso você é um membro da Corrupt? — perguntou.
— Sim. Mestre Zero está me ajudando a ganhar experiência. Você foi convidada a se juntar a nós temporariamente, não foi?
— Fui, sim… Ele me convidou e deu um tempo para decidir — respondeu Zerafine, a mente girando com as possibilidades.
Antes que pudesse dizer mais, ouviu passos. Zero surgiu entre as árvores, vestido com o mesmo conjunto de roupas de sempre. Ao vê-la, acenou levemente.
— Bom dia, Zerafine.
— B-bom dia, Zero! — Ela respirou fundo. — Gostaria de me desculpar pelo atraso. Estava em um trabalho como mercenário e… não imaginei que demoraria tanto.
Zero ergueu a mão, interrompendo seu pedido de desculpas.
— Não há necessidade de se desculpar. Você está aqui, e isso é o que importa.
Ela sentiu um alívio intenso ao ouvir aquelas palavras e tocou o peito, respirando fundo.
— Obrigada, Zero!
— Vejo que retornou com uma resposta. Você e seu irmão aceitaram a proposta?
— Sim, decidimos nos unir à sua organização.
Zero fez um breve movimento de cabeça, como se estivesse satisfeito.
— Ótimo. Confesso que esperava que recusassem. Mas estou feliz em ver que escolheu o contrário.
Zerafine assentiu, com determinação nos olhos.
— Para nossa sobrevivência, percebi que precisamos de novos desafios. — E pensou consigo mesma: Talvez seja hora de experimentar algo diferente.
Zero observou-a por um momento, mas sua expressão continuava escondida pela máscara.
— Então, de agora em diante, estarão sob minha tutela por um tempo. Ainda precisamos acertar alguns detalhes, mas nada que deva se preocupar. Formalidades, apenas.
Ela assentiu.
— Entendo.
— Agora me diga, desde que voltou, alguém entrou em contato com você sobre… aquele incidente?
— Incidente? Você quer dizer o aventureiro que matamos?
— Sim.
— Não, ninguém me procurou.
Zero parecia aliviado com a resposta.
— Bom. Então, para começar, saiba que não sou o líder da Corrupt.
— Você… não é? — Zerafine franziu o cenho, confusa.
— Não. Disse aquilo apenas por precaução. Caso alguém capturasse vocês para arrancar informações, queria desviar a atenção.
— Estratégia impressionante, devo dizer — ela murmurou.
— Precisamos ser cautelosos para evitar que informações da organização vazem.
Zerafine refletiu sobre isso. No passado, sempre imaginava Zero como o líder sombrio e oculto, mas agora entendia a profundidade das precauções da Corrupt.
— Mas então, por que revelou tanto sobre a organização naquela ocasião?
— Uma forma de plantar informações, misturando verdades com mentiras para confundir os inimigos.
Ela assentiu.
— Agora que estou ao lado de vocês, tudo faz mais sentido.
Zero acenou, satisfeito.
— Logo a Corrupt deixará de ser uma organização nas sombras. O líder planeja nossa exposição.
— Exposição? Quer dizer que… pretendem se revelar?
— Exato. “Temos esgotado muitos recursos mantendo sigilo. É hora de nos firmarmos de outra maneira.” Foram ordens do líder.
Zerafine inclinou a cabeça, intrigada.
— E esse líder… como ele é?
Zero manteve-se firme, sua voz calma e precisa.
— Uma pessoa poderosa… Mas você conhecerá mais, a seu tempo.
O ar ficou tenso, mas carregado de expectativa.
— Agora, chame seu irmão e volte até aqui — disse Zero. — Tenho coisas a mostrar a vocês e precisarei de sua ajuda para uma tarefa.
O coração de Zerafine acelerou com a perspectiva. Será uma missão? Ou apenas um teste para ver do que somos capazes? Ela se afastou, acenando.
— Vou buscá-lo agora.