Isekai Corrupt - Capítulo 38
Zero
Viely pensava em silêncio, digerindo cada detalhe da figura que acabara de encontrar. Até então, ele era apenas uma sombra, o líder implacável de uma organização criminosa que operava nas entranhas da sociedade humana. Mas agora, após essa reunião, a presença de Zero parecia palpável e ainda mais intrigante. Algo nele despertava um fascínio inegável.
Mesmo que seus interesses fossem egoístas, ninguém podia negar o impacto que Zero tivera no crescimento da matilha. Sob sua influência, eles haviam se fortalecido como nunca. E a ajuda de Md, aquela ajudante habilidosa, junto do urso feroz, a segunda criatura mais temida da floresta, era crucial para que os lobos aprimorassem suas técnicas de combate.
Quando Zero deixou a sala de reuniões, seguido por seus asseclas, o silêncio se instalou, deixando apenas Viely, Solus e Aria ali, sozinhos. Não demorou para que Viely se inclinasse na direção de sua irmã, Aria, que agora ocupava o posto de líder da matilha. Seus olhos a encaravam, uma dúvida sutil estampada em seu rosto.
— O que acha, Aria? — murmurou Viely, observando a irmã com curiosidade.
Apesar de ocupar o cargo de conselheira, Viely valorizava a opinião de Aria, líder da matilha, sobre as decisões que Zero havia imposto a todos eles. Afinal, apenas alguns lobos de extrema confiança sabiam sobre o verdadeiro “tratado de paz” que mantinham com aquele homem sombrio. Um acordo, que começara sob chantagem e se arrastava até hoje, mantinha a matilha à mercê de Zero. Ele os controlava numa teia hábil e cruel, tornando Aria refém de Solus e Solus refém de Aria. Era um movimento brilhante — e ao mesmo tempo, covarde.
O objetivo atual de Zero era eliminar a cobra maligna, a criatura mais poderosa da floresta. Embora Viely desprezasse os métodos de Zero e tivesse aversão à sua presença, sentia um leve alívio ao saber que finalmente teriam a oportunidade de acabar com aquele perigo iminente. O pai de Viely, Omega Riez, jamais havia reunido coragem para enfrentar a serpente. Esse medo, em sua visão, era uma fraqueza intolerável. Ela não sentiu nada ao vê-lo estendido no chão, sem vida. Para ela, todos recebem aquilo que merecem, e se ele morreu, foi por ter deixado o orgulho ferido dominar sua alma.
— Você fala do Zero, minha irmã? — Aria a observava, com um olhar inocente, como o de uma criança diante de uma pergunta complexa.
— Sim. Esse humano não é normal — respondeu Viely, a voz quase um sussurro, como se o próprio ar pudesse traí-los.
Aria percebeu a carranca de Viely ao mencionar Zero, mas respondeu com seu sorriso habitual.
— Ele é inteligente. E, pelo que ouvimos, tem força suficiente para vencer Douglas, o urso. Então deve ter… um poder considerável.
A palavra “considerável” saiu com um cuidado especial. Aria parecia compreender bem a questão, mas via as coisas de um jeito diferente de Viely — talvez houvesse algumas semelhanças nas ideias, mas não era um reflexo perfeito.
— Se seguirmos as ordens de Zero, talvez realmente possamos derrotar a cobra maligna.
Solus, que estava próximo, interveio com uma opinião que já havia passado pela cabeça de todos ali.
— Certo, mas ele é nosso aliado? — contestou Viely. — Há poucos dias ele não estava apontando uma lâmina para Aria?
— Isso… sim, claro. Mas acho que devemos ver as coisas no todo. Se só focarmos nas partes negativas, perderemos as positivas.
As partes “positivas” existiam, e Viely as considerava. Mas a grande questão permanecia: Zero é inimigo ou aliado? Confiar era uma palavra forte; à exceção de Solus, que passara mais tempo com ele, os outros lobos ainda viam aquele homem com uma mistura de respeito e temor, mas raramente com confiança.
Solus, contudo, parecia diferente — talvez ele realmente admirasse aquele homem.
— O quão forte vocês acham que ele é?
A pergunta de Solus pairou no ar, e todos ficaram em silêncio, trocando olhares atentos. Zero ser poderoso não era novidade, mas a questão que importava era: até onde ia essa força?
Se compararmos ao nível das criaturas da floresta, Douglas, o urso, era capaz de derrotar sozinho uma equipe de até cem lobos. A matilha podia ter número, mas faltava qualidade. Douglas valia por cem lobos, talvez mais. E Zero — que já havia vencido o urso — certamente tinha um poder semelhante.
Viely lembrava bem do horror daquela luta contra Douglas, quando ele os mantinha à distância enquanto Zero discutia com Solus. Nenhum lobo sequer conseguiu tocar aquele monstro.
Depois de uma longa reflexão, Viely quebrou o silêncio, com o olhar firme.
— Forte… muito forte.