Isekai Corrupt - Capítulo 43
— Parece que está tudo indo conforme o planejado, mas eu não esperava essa reviravolta dramática — murmurei, observando os eventos se desenrolarem no olho de transmissão.
As imagens projetadas com nitidez, e uma calma forçada tomava conta de mim. Tudo seguia conforme planejado. Mas aquela reviravolta… não esperava por um imprevisto tão cruel.
Douglas, à minha esquerda, sentado na fria penumbra da caverna no coração do acampamento dos lobos, desviou o olhar para mim, atento, com uma expressão que misturava inquietação e curiosidade.
— Isso compromete o plano de alguma forma, Iv… — Ele hesitou e se corrigiu. — Quer dizer, Zero?
Dei-lhe um olhar demorado e, com um suspiro, cedi à familiaridade que raramente demonstrava.
— Douglas, quando estivermos a sós, pode me chamar de Ivan. Não vejo problema nisso.
Ele permaneceu imóvel, os olhos fixos nos meus, um olhar firme e determinado.
Suspirei, aceitando.
— Se é o que deseja.
Dentro da caverna, escondidos e protegidos, eu utilizava o olho de transmissão, um item especial que me permitia observar tudo, mesmo a distância.
Do alto, minha habilidade「Camouflage」vigiava a cobra maligna de maneira imperceptível. Para ela, os lobos ainda pareciam estar no acampamento, sem qualquer movimento suspeito que a alertasse.
No entanto, do alto, eu monitorava cada movimento dela, e para obter uma visão ainda mais detalhada, enviei MD para se esconder nos arredores da floresta. Seu corpo de madeira, frio e sem calor ou pulsação, tornava impossível ser detectada.
Além disso, meu「Gate」 estava preparado. Com ele, eu podia marcar dois pontos distantes e interligá-los com portais.
Um portal próximo à saída da floresta e outro aqui, no acampamento. Quando o momento certo chegasse, eu poderia nos mover rapidamente. Todos os passos estavam calculados, até que…
— Ivan.
Md chamou minha atenção mentalmente.
— Sim, Md? Alguma coisa que eu ainda não tenha visto?
— Hm… não. Só queria avisar que os humanos que estão lutando contra a cobra não vão durar muito. O ataque de fogo deles… não será suficiente.
Eu já desconfiava disso, mas a confirmação de Md me fez refletir.
— Imaginava algo assim. A situação deles está piorando mais rápido do que pensei. — Respirei fundo. — Quero aproveitar essa chance para descobrir mais sobre as habilidades dessa criatura. Mas, se eles morrerem, vai ser difícil tomar o crédito pela queda da cobra maligna.
— Estamos a caminho. Fique preparada.
— Entendido.
Levantei-me, esticando o corpo e me virando para Douglas.
— Vamos. Está na hora.
Douglas sorriu, a excitação estampada no rosto.
— Certo! Estou ficando animado!
Deixamos a caverna, onde um grupo de lobos estava alinhado, atento, com Aria na linha de frente, ao lado de Solus e sua conselheira, que, como eu havia descoberto, era também sua irmã.
Zerafine e seu irmão Elzer estavam encostados na parede externa da caverna. Quando me viram, se juntaram a nós, enquanto seguíamos em direção a Aria e ao restante dos lobos.
A moral estava alta, a confiança brilhava nos olhos de todos.
— Parece que a luta já começou. Já deixou todos preparados? — perguntei a Aria, que me observava de volta com determinação.
— Sim, aplicamos o「Momentary Stabilization」em todos. Não serão afetados pela aura sombria dela.
— Excelente.
Com a habilidade de estabilização mental já ativada, os lobos teriam proteção contra a densa aura da cobra. A maioria deles nunca havia enfrentado uma presença tão devastadora, e sem a habilidade, poderiam perder toda a vontade de lutar. Graças aos ensinamentos de Md, essa resistência mental agora os protegeria do pior.
— Md, me avise assim que o ataque de fogo dos humanos falhar — pensei, mantendo a comunicação mental com ela.
— Sim.
Suspirei, tentando aliviar a tensão.
— Aff… se tudo der certo, vou finalmente tirar férias.
Murmurei para mim mesmo, mas Zerafine, ao meu lado, soltou um riso abafado.
— Kukuku… não sabia que gostava de férias.
— Não gosto, é de trabalhar. — Fiz um gesto para que ela mantivesse segredo. — Não conte isso a ninguém.
— Tudo bem… eu também não gosto — respondeu ela, o sorriso evidente mesmo por baixo da máscara.
Virei-me para Solus.
— Solus, vem até aqui. Quero falar uma coisa com você.
Ela se aproximou imediatamente.
— Ah! Claro, mestre Zero.
Mestre?
Pensei, surpreso.
O que deu nesse cara pra começar a me tratar assim?
Olhei ao redor para o exército de lobos, os dois ursos da floresta — Douglas, e um outro urso de aparência ameaçadora que havia se unido a nós após perder um duelo contra ele —, e até uma raposa avermelhada, que se juntou a nossa causa depois de uma longa conversa com Douglas e Solus. Cada um ali tinha um motivo, uma vingança a cobrar, uma dívida de sangue com a serpente maligna.
⧫⧫⧫
A criatura observava, com um misto de tédio e desprezo, a resistência patética dos humanos. Os ataques desferidos contra ela eram inúteis, e a cidade que tentava proteger parecia incapaz de apresentar um desafio à altura. Com cada novo golpe, sua voz reverberava entre os destroços e os gritos dos últimos combatentes.
— Que resistência inútil… — resmungou, esmagando mais um grupo de soldados com um movimento lento e sem esforço.
Esses humanos não sabem se colocar no seu devido lugar. A esperança vazia que eles carregam é ainda mais nojenta.
Ela recordava o humano que tentara persuadir dias antes na floresta, um último gesto de misericórdia. Achou que, talvez, ele entendesse a futilidade de resistir. Mas agora era claro: os humanos eram criaturas teimosas e ingênuas, incapazes de aceitar o inevitável.
— São todos iguais… — murmurou para si mesma, enquanto seus olhos reptilianos percorriam o campo de batalha.
Matam-se, traem-se e destroem o próprio lar. Mas, ao serem confrontados com a morte, imploram por uma salvação que nem sequer acreditam merecer.
Outro ataque coordenado veio de todos os lados. Os soldados brandiam espadas e lanças, gritando em um esforço desesperado.
Ela apenas balançou sua cauda, cortando-os ao meio como papel. Os pedaços dos corpos se espalham pela planície, e a expressão de cansaço em seu rosto crescia.
Fracos. Todos vocês.
Por um momento, considerou que os guerreiros à frente poderiam ser os mais fortes que a cidade tinha a oferecer. Decepcionante. Estava claro que não encontraria desafio ali, e isso a fazia bocejar de tédio.
A alguns passos dela, um dos soldados ainda tentava comandar os companheiros em meio ao desespero.
— Continuem! Estamos causando dano! Ela está ficando mais lenta!
— Mais lenta? — a criatura inclinou a cabeça, em um misto de surpresa e irritação.
Vocês acreditam realmente… que podem me ferir?
— Sim! Eu consegui esquivar de um golpe dela! — gritou um soldado mais à frente, sua voz embriagada pela ilusão de vitória. — Estamos conseguindo!
Ela bufou, diminuindo a velocidade de seus movimentos de propósito, apenas para observar os rostos daqueles tolos se encherem de uma esperança tão falsa quanto seus sorrisos.
Isso já deu.
Atrás das linhas de defesa na cidade, mulheres e crianças começavam a ser evacuadas em carroças e a cavalo, um último esforço para salvar o que restava da população. A criatura lançou um olhar vazio na direção deles.
Fugir? Vocês acham que vão escapar da morte? Vocês ainda não conseguem sentir a diferença de poder entre nós?
Pelo canto do olho, viu conjuradores preparando uma magia grandiosa, suas mãos em uma dança ritualística enquanto invocavam uma esfera flamejante do tamanho de uma casa.
Eles realmente pensam… que isso vai adiantar?
murmurou, já cansada.
— Vocês mal conseguem sequer me arranhar.
Ela realizou um salto gracioso. No alto, observou os rostos perplexos dos humanos lá embaixo, e então, rodopiando no ar como um chicote, desceu em um golpe mortal. Sua cauda golpeou o solo repetidamente, atingindo soldados, conjuradores e todos que estivessem ao alcance. Quando aterrissou, o campo de batalha estava coberto de destroços e corpos despedaçados.
Um soldado, por milagre ou sorte, havia escapado ileso e tremia com a visão de seus companheiros caídos ao redor. Com olhos arregalados e lábios trêmulos, ele balbuciava.
— I-isso… não é possível…
A criatura o encarou, desprezo e curiosidade mesclados em seu olhar. Como ele ainda se mantinha de pé? Como não fora aniquilado junto aos demais? Talvez tivesse sido um deslize. Mas não importava. Com a tranquilidade de alguém que esmagava uma formiga, ela avançou lentamente.
Acharam mesmo que poderiam sobreviver…
Ele recuava, tropeçando em corpos dos seus companheiros, os olhos fixos nela como um cervo encurralado.
A figura colossal se erguia, imponente e cruel, observando os poucos humanos que ainda permaneciam de pé, com seus corpos exaustos e almas à beira do desespero.
— Sim, é possível, humano. — ecoou a voz sombria da criatura. — Não percebe que todo esse esforço é inútil? Morra com desgosto. Vocês não passam de meros monstros.
Com um golpe seco, ele esmagou um dos guerreiros contra o solo. O impacto foi devastador, seus ossos quebraram-se em um instante, e ele sucumbiu ao poder descomunal da criatura.
Uma expressão de desprezo cruzou o rosto do ser, enquanto seus olhos, brilhando com escárnio, deslizavam lentamente sobre os sobreviventes.
— Depois disso, vocês devem ter aprendido a lição, não? — zombou, mas ficou surpreso ao notar que, mesmo após aquele massacre, os humanos restantes ainda ostentavam um olhar desafiador.
Como? Ainda não perceberam a própria insignificância?
Um dos humanos, ferido mas com espírito inabalável, bradou para seus companheiros:
— Vamos! Sabíamos que isso poderia acontecer! Não percam a fé! Continuem lutando!
O ser ergueu uma sobrancelha, como se finalmente compreendesse algo.
Ah… esperança, não é?
— Vocês se agarram a uma coisa fictícia para continuarem lutando. Patético. Achei que fugiriam após meu último golpe, mas vejo que me enganei. — Ele suspirou, fingindo desapontamento. — Mas tudo bem, não importa. Esse pequeno discurso não mudará a sua situação.
De repente, uma voz distante cortou o ar, carregada de emoção:
— Está pronta! Igor, ela está pronta!
Os humanos haviam lançado seu último trunfo — uma bola de fogo massiva, o máximo de poder que puderam reunir. A criatura observou o orbe incandescente gigante, e um sorriso de superioridade surgiu em seu rosto.
Como devo recebê-la? Deixo que me atinja, só para mostrar que não pode sequer me arranhar? Ou desvio e mostro que todo esse esforço foi em vão? Hm… difícil escolha.
— Guerreiros, saiam da trajetória! Conjuradores, lancem agora! — gritou o humano que liderava o ataque.
Todos os conjuradores concentraram suas últimas reservas de força, resistência e mana, lançando a bola de fogo com fúria em direção ao inimigo. Era sua última esperança.
O ser observou o ataque vindo em sua direção e riu.
— Então isso é o máximo que podem reunir, <900> de potência mágica? Decepcionante… Ah! — exclamou, iluminado por uma ideia. — Já sei exatamente o que fazer com isso!
Com um movimento rápido e preciso, ele envolveu a cauda com sua energia mágica, sua mana, um controle praticamente perfeito e, com um golpe brutal, rebateu a bola de fogo de volta — agora na direção da cidade central, onde civis desesperados tentavam escapar.
O impacto foi devastador. A bola de fogo atingiu os edifícios com o triplo da velocidade, e num instante, a cidade foi tomada por chamas. Edifícios ruíram, e o pânico se espalhou.
Ele olhou de volta para os humanos, que agora encaravam a cena com desespero e impotência. Seus corpos tremiam. Satisfeito, ele concluiu:
— Entenderam agora? Tudo isso não passou de uma brincadeira para mim. Vocês nunca tiveram a chance de me derrotar. Apenas morram em silêncio, enquanto aceitam a própria fraqueza.
A criatura avançou, e a derrota parecia certa. Os humanos remanescentes pareciam vazios, com olhares de pura rendição. Suas esperanças haviam sido dizimadas, seu espírito completamente despedaçado.
Mas, de repente, um grito cortou o silêncio.
— Não! — bradou um dos humanos. Era o mesmo que ordenara o lançamento da bola de fogo. Ele olhava para a criatura, com lágrimas e ódio ardendo em seu olhar.
O monstro inclinou a cabeça, surpreso com a audácia.
— Como é que disse, humano?
— Ainda não acabei! Eu ainda não caí! — gritou ele com uma voz embargada, mas firme.
Os outros humanos olhavam para ele, atordoados. Era como se aquele único guerreiro fosse a última faísca de resistência que restava entre eles.
Um deles, ferido e segurando o braço mutilado, olhou para o companheiro e para a cidade em chamas, com os olhos marejados. Outro caiu de joelhos, derrotado, mas ainda segurando o desejo de sobreviver.
— Já acab— — começou a criatura, com uma expressão de enfado.
— Não acabou! — interrompeu o humano, seus olhos faiscando em desafio. — Eu ainda estou vivo! Meu coração ainda bate, e meu sangue ainda corre! Eu não terminei!
Ele bateu no peito, como se desafiasse a morte. A criatura riu com desprezo.
— Patético.
— Eu prometi a mim mesmo que nunca mais fraquejaria! E não vai ser aqui! Não será no meu leito de mo—
O grito de bravura foi interrompido abruptamente. Num único movimento, a criatura esmagou sua cabeça, reduzindo-a a pedaços. O corpo do guerreiro caiu ao chão, e seu sangue respingou no rosto de seus companheiros.
— I-Igor… — murmurou um deles, em choque.
— Garoto… — sussurrou o outro, com o olhar perdido.
Os humanos remanescentes não podiam mais negar a verdade. A morte os aguardava, fria e inexorável. E a criatura, triunfante, observou sua obra com um sorriso sádico.
— Isso foi por me interromper, humano insignificante.