Isekai Corrupt - Capítulo 46
Os animais da floresta de Uruan haviam, contra todas as expectativas, selado uma aliança para enfrentar a cobra maligna. Para ela, essa coalizão de criaturas antes acovardadas era tão inusitada que quase lhe pareceu uma piada.
Nunca imaginara que eles pudessem reunir a coragem necessária para desafiar alguém como ela. Porém, longe de irritá-la, o plano dos animais a deixou… animada.
A animação dela era palpável a cada golpe, cada esquiva e cada guinada de seu corpo. Os movimentos eram fluidos, quase dançantes, bem diferentes da letargia fria com que massacrava aqueles humanos patéticos mais cedo.
Agora, sim, era uma luta de verdade. Os lobos, ferozes e coordenados, atacavam-na com habilidades que pareciam se entrelaçar, criando uma harmonia letal, que lhe causava ferimentos reais e ardentes.
Hmm… Os lobos ficaram mais fortes.
Ela pensava, serpenteando entre eles.
Interessante… Parece que aprenderam a manipular a mana em um nível superior. Sua técnica evoluiu. Algo como… nível D?
Era intrigante. Eles realmente haviam evoluído – e em tempo recorde, aparentemente.
No entanto, por mais que ela se deixasse envolver pela batalha, seus olhos atentos não deixavam de observar os humanos mascarados ao fundo. Eram quatro, imóveis, com os braços cruzados.
Eles murmuravam algo aos humanos caídos e apavorados que ela havia deixado para trás, quase como se tecessem um plano de última hora. E era evidente: aqueles mascarados tinham algo a ver com a súbita ousadia dos animais. Aquela ideia a irritava.
Ah… então, no fim, os verdadeiros orquestradores são vocês… humanos miseráveis.
No entanto, um detalhe a perturbava. Em meio aos aliados dos lobos, faltava uma figura – o ômega, o lobo que, ao lado dela e do urso ferido, formava a tríade mais poderosa da floresta de Uruan.
Onde ele está?
Entre os animais da floresta, havia um consenso tácito sobre a hierarquia de forças. E o terceiro lugar nesse ranking era ocupado pelo ômega.
Mesmo os mais ferozes da floresta tinham suas histórias sobre ele. Em segundo, vinha o urso mutilado, um monstro colossal que agora se encontrava lutando ao lado dos lobos.
Duas patas…?
A cobra refletia, com surpresa crescente, ao encará-lo mais de perto.
Eu arranquei… duas patas dele?
Ela franzia o olhar, perplexa, enquanto recobrava a lembrança da batalha passada. Havia arrancado uma de suas patas com um golpe violento.
O rosto dele, depois, fora atingido por seu veneno. Era uma lembrança vívida, que ela saboreava – o jato venenoso que havia atingido o urso. E, no entanto, agora, ele estava sem outra pata.
Ele teria perdido a pata… ao lutar com essas criaturas fracas?
A cobra maligna sentiu uma onda de incredulidade.
Aquela era uma hipótese que não queria, não podia aceitar.
Será que os danos causados por mim no nosso combate o feriram ao ponto de que ele ficasse fraco nesse nível?
A cobra maligna ponderou, sentindo a empolgação minguar em seu peito. No fundo, desejava enfrentá-lo novamente, mas, se o urso estava agora reduzido a uma sombra do que fora, a luta perderia todo o sabor que ela tanto apreciava.
Na hierarquia de forças da floresta de Uruan, o terceiro lugar pertencia ao Ômega Riez e sua matilha. Os lobos, ao contrário de qualquer outra criatura, eram uma unidade.
Sozinhos, talvez fossem presas fáceis, mas juntos, sob o comando de Riez, formavam uma potência temida. O poder dele não residia apenas na sua força individual, mas em cada lobo que lutava ao seu lado. Notar sua ausência naquela luta – a ausência do próprio Ômega – era um vazio que ela não conseguia ignorar.
Então ele não veio… Talvez não me julgue digna de sua presença?
Um leve toque de amargura se misturava ao riso da cobra.
Atrás dos lobos, o restante do ranking de Uruan aguardava.
Em quarto lugar estava outro urso, uma versão menos imponente do que ocupava a segunda posição – jovem, inexperiente, mas ainda assim, uma força a ser considerada. A seu lado, uma raposa vermelha de reflexos rápidos e movimentos ágeis. De todos, talvez fosse a mais veloz, capaz até de rivalizar com o próprio Riez em uma disputa de velocidade.
Mas até agora, apenas os lobos atacavam. Os humanos mascarados observavam de longe, imóveis, enquanto os demais ocupantes do ranking assistiam em silêncio, seus olhos fixos na batalha.
O exército de lobos avançava, mas mesmo com sua harmonia de ataques, começavam a cair. As baixas se acumulavam. No entanto, de repente, tudo mudou.
Os Lobos, mesmo feridos e exaustos, recuaram de imediato, como se guiados por uma ordem inquebrável. O número de lobos feridos era significativo, e a perda de cada membro da matilha os enfraquecia. Nos olhos da cobra, o cenário mudava, e ela percebia o plano que se desdobrava.
Então é isso… Estão poupando suas forças?
No lugar dos lobos exauridos, um grupo selecionado avançou. Seis figuras, e cada uma delas era uma ameaça singular.
À frente, os ocupantes do ranking: o urso mutilado, o urso inexperiente, a raposa ágil, ao lado deles, dois humanos mascarados e um lobo imponente que os acompanhava de perto.
A cobra, ao observar o grupo que agora a cercava, sentiu algo que não experimentava há tempos: uma felicidade quase cruel.
Então, vão deixar o melhor para o final?
Com um sorriso contorcendo seus lábios. Não havia mais um exército de números; havia qualidade, precisão. Se antes ela sentira algum cansaço na batalha, agora uma nova onda de energia a percorria.
Os lobos, embora aprimorados, ainda não eram páreo para ela. Por mais que seu trabalho em equipe tivesse elevado seu poder, individualmente eram frágeis demais para romper sua carapaça.
No fim, se a batalha se resumisse a quantidades, ela teria apenas que resistir até que caíssem, um a um. Contudo, agora, aquele grupo de seis oponentes à sua frente era de outra estirpe. Eram, de fato, adversários dignos, unidos pela qualidade de suas forças.
Então essa é a sua estratégia?
Lançou um olhar afiado para o humano mascarado ao longe, aquele que parecia orquestrar cada movimento do grupo.
— Cobra Maligna!
A voz grave reverberou pela clareira, fazendo o ar pesar.
Era o urso. Aquele mesmo urso, marcado pela última batalha que quase o tirou de cena, mas agora de pé, enfrentando-a com uma expressão que beirava a reverência.
A cobra ergueu sua cabeça lentamente, seus olhos estreitos transbordando desdém, observando-o de cima como se ele fosse apenas mais um pedaço de carne oferecido em sacrifício.
O urso, por sua vez, a encarava com uma admiração inesperada, quase como se estivesse aguardando por esse momento há muito tempo.
— Lembra de mim? — A voz dele soou cheia de uma determinação antiga.
E então, um leve sorriso atravessou seu rosto, carregado de uma confiança teimosa, uma chama que nunca se apagou.
A cobra soltou uma risada baixa, seca.
Esse miserável… com que direito ousa dirigir-se a mim desse jeito?
Como se quisesse humilhá-lo ainda mais, ela deixou que uma expressão de fingida dúvida se estampasse em seu rosto.
— Oi? Quem é você, seu fraco?
O olhar ferino e venenoso a acompanhava. Ela podia sentir a raiva dele crescer, mas ele permaneceu imóvel.
— Hm… — ele murmurou, claramente esperando outra resposta.
— Sinto muito, eu não me lembro de—
Nesse instante, tudo se transformou em um borrão. Dois vultos mascarados surgiram como sombras, movendo-se em perfeita sincronia.
O ar foi cortado por um sibilo e, antes que pudesse reagir, dois golpes rápidos atravessaram sua pele.
O sangue escorreu, o vermelho contrastando contra suas escamas, e uma dor cortante a atravessou como um raio.
Eles haviam realmente a ferido.
Não era um ferimento letal, mas o bastante para alertá-la. Estes humanos não eram simples mortais; eram algo mais. Lutando em conjunto é como se fossem equivalentes aos próprios animais do ranking da floresta.
Recuperando o equilíbrio, a cobra revidou com um golpe instintivo, um movimento rápido e letal.
Mas um dos mascarados desviou com precisão, ele parou a lâmina apontando para ela.
— Se continuar se distraindo, vou aproveitar para cortar de verdade. — A voz era feminina, mas densa, carregada de uma frieza quase ameaçadora.
— Minha vez! 「Burst Of Fire」
Uma rajada de fogo saída da boca do urso foi disparada na direção da cobra.
Idiota, vai sofrer o proprio do proprio ataque!
A cobra maligna observava os oponentes com desprezo, sua cauda já imbuída de uma energia escura, pronta para rebater o próximo ataque. Para ela, usar mana para fortalecer o corpo era algo trivial.
Naquele momento, porém, ela recorria a um nível mais avançado de manipulação mágica.
A técnica que estava usando chamava-se Cobrir — uma habilidade rara e extremamente difícil de dominar, reservada para aqueles com um controle impecável sobre sua própria energia.
A essência da técnica consistia em envolver uma parte específica do corpo com uma camada de mana.
Era uma habilidade precisa, delicada e extremamente extenuante para a maioria das criaturas, pois exigia um nível constante de concentração e controle.
Contudo, para a cobra, este processo era tão natural quanto respirar, um reflexo da sua superioridade sobre as criaturas inferiores que desprezava.
Diante dela, o imenso urso encheu o peito, preparando-se para disparar uma rajada de fogo.
Com um rugido, liberou o ataque em direção à cobra, o calor ficando no ar. A energia flamejante carregava mana em uma circulação específica, seu fluxo único girando em camadas turbulentas. Para a cobra, o segredo de rebater este ataque residia em sincronizar o fluxo de sua própria mana com o ritmo exato da magia adversária.
Para a maioria das criaturas, humanos em particular, tal precisão seria praticamente impossível, mas para a cobra, ajustar seu fluxo de mana e cobrir a cauda no momento exato não passava de uma mera formalidade.
Calmamente, ela canalizou sua energia, moldando-a com precisão. Em um movimento sutil e calculado, sua cauda cortou o ar, chocando-se contra a rajada flamejante.
A explosão de chamas se dissipou instantaneamente, sendo repelida pela camada protetora de mana da cobra como se tivesse atingido um escudo invisível.
Insignificantes…
A chama rebatida zuniu pelo ar, indo direto em direção ao urso. Ele arregalou os olhos, incapaz de reagir a tempo; aquele ataque poderoso estava prestes a acertá-lo em cheio. Porém, antes que o fogo o alcançasse, um dos humanos mascarados deu um passo à frente, estendendo a mão na direção das chamas.
— 「Greater Protection」— proclamou o humano, sua voz firme e decidida.
Um escudo quadrado de mana, brilhando em um azul profundo, materializou-se diante dele. A barreira absorveu o impacto das chamas, protegendo tanto o humano quanto o urso atrás dele.
Quando o ataque finalmente se dissipou contra o escudo, o urso respirou aliviado.
— O-obrigado… — murmurou o urso, ainda recuperando o fôlego após a visão aterradora do ataque.
— Nada… só que agora…
O humano abaixou a mão, seu corpo oscilando. Ele caiu de joelhos, exausto; parecia que aquela habilidade tinha drenado quase toda a sua mana.
— Elz—… Levanta e se afasta! — ordenou o outro humano mascarado, que se aproximava com a espada desembainhada, os olhos atentos ao campo de batalha.
Ao lado do humano mascarado, a raposa avermelhada e o segundo urso avançaram em conjunto, seus movimentos rápidos e coordenados.
Os três se lançaram na direção da cobra maligna, prontos para atacá-la de diferentes ângulos. Mas a criatura, observando-os, ergueu a cauda num arco devastador, pronta para interceptá-los num único movimento, seu olhar repleto de desprezo.
—「Eject」— gritou a raposa, e, num lampejo vermelho, seu corpo brilhou e sumiu do campo de visão por um instante.
Não, não era um desaparecimento; ela havia se deslocado em velocidade extrema, indo parar ao lado da base da cobra, longe do alcance da cauda.
Os outros dois, porém, perceberam que não conseguiriam desviar a tempo. O humano mascarado ergueu rapidamente uma mão e murmurou:
— 「Minor Protection」.
Um escudo de mana, menor e mais frágil, apareceu diante dele, tremeluzindo. Ao mesmo tempo, o urso se preparou, fechando os olhos e concentrando sua energia:
— 「Increase Resistance」 — bradou ele, e seu corpo brilhou, tornando-se resistente como pedra.
O golpe da cobra os atingiu com força brutal, mas o urso, agora endurecido, aguentou o impacto. Eles foram lançados alguns metros para trás, mas aterrissaram com apenas ferimentos leves.
A cobra maligna observava, perplexa.
Eles sobreviveram. Não apenas isso, sofreram apenas alguns arranhões!
Ao contrário dos lobos, que sucumbiam com um único golpe, essas criaturas resistiam, protegendo-se e adaptando-se.
Com um sibilar de fúria, ela bateu a cauda contra o chão, o olhar transbordando de desprezo e raiva. Esses adversários eram mais formidáveis do que ela havia antecipado.