Isekai Corrupt - Capítulo 47
— Escutem, todos vocês, recuem! — gritou o humano mascarado, sua voz cortando o ar com autoridade.
Esse humano, sem dúvida o líder do grupo organizado, havia se mantido à parte até agora, limitando-se a observar e a dar ordens rápidas. Mas alguma coisa havia mudado. Com um movimento controlado, ele desembainhou duas espadas. Ele avançou, passo a passo, em direção à cobra maligna, aguardando até que todos os outros recuassem conforme instruído.
Parou a alguns metros da criatura, mantendo-se firme. A tensão era palpável, enquanto ele e a cobra se encaravam, prontos para o confronto.
As duas espadas empunhadas pelo humano tinham algo peculiar.
Era possível ver um rubor reluzente, uma leve dança de luz escarlate percorrendo cada lâmina, como se a própria arma estivesse viva. Esse brilho não era mera ornamentação; tratava-se de um encantamento.
Encantamentos, afinal, servem para aprimorar um atributo específico de uma arma ou até mesmo conceder-lhe habilidades especiais. No caso desse humano, o brilho carmesim indicava que se tratava de um encantamento voltado para fortalecer ou acrescentar uma propriedade à arma.
Era um detalhe sutil, mas claro para aqueles que conheciam as nuances da magia: armas com esse tom vermelho resplandecente quer dizer um encantamento de propriedade.
— Humano, você é o líder dessa pataquada? — sibilou a cobra maligna, desprezo em sua voz.
— E se eu for? — respondeu ele, com um tom arrogante que fez os olhos da criatura estreitarem de fúria.
— Não acha que é burrice me atacar de frente? Você não é tão inteligente quanto pensei, humano.
— Estou aqui para fazer um teste — disse ele, girando as espadas com um movimento fluido, quase como se brincasse com elas, antes de parar de súbito. — Vamos brincar?
E então, como se tivesse desaparecido, ele se lançou na direção da cobra. Para os espectadores, parecia que ele havia sumido completamente. Mas não para a cobra maligna, que acompanhou o humano avançando pelo chão com passos largos e brutais, rachando o solo sob seus pés. Em um salto feroz, ele se lançou em pleno ar, desferindo um corte em arco contra a cabeça da criatura.
A cobra maligna moveu a cauda para se defender, bloqueando o golpe que pretendia atingir seu rosto. Mas o impacto abriu uma ferida, e sangue começou a jorrar pela escama cortada, embora fosse insuficiente para pará-la.
— O que foi? Não tem força o suficiente para me cortar?! — zombou ela, antes de arremessar a cauda em um ataque brutal de cima para baixo, tentando esmagá-lo.
— 「Eject」— murmurou o humano.
Como se puxado por uma força invisível, ele foi arremessado para a direita, esquivando-se da cauda que desceu com violência e se chocou contra o solo, abrindo uma pequena cratera.
— Minha habilidade…?! — A raposa vermelha, que observava a luta, mal podia acreditar no que via.
Aterrissando suavemente, o humano cruzou as espadas no ar, executando um movimento cortante que conjurou uma nova habilidade.
— 「Long Distance Grip」.
Um poder da raça dos lobos, agora usado por um humano. Os lobos presentes ficaram em choque, com olhos arregalados; isso não deveria ser possível. Até a cobra maligna esboçou um sorriso distorcido, fascinada pela cena.
Um humano usando uma habilidade racial de outra raça?! Esplêndido!
O 「Long Distance Grip」transformou os movimentos do humano em feixes de vento cortante, que avançaram na direção da cobra, traçando a trajetória dos cortes que ele havia feito. Ao invés de garras, ele usava as lâminas duplas para ativar a habilidade com o mesmo efeito.
Um humano assim nunca existira, pelo menos não que a cobra maligna tivesse ouvido falar. Na verdade, isso ia além de qualquer coisa imaginável: um ser capaz de usar habilidades de outras raças.
Impossível.
Os feixes de vento o envolviam em lâminas cortantes enquanto ele avançava, e, uma vez mais, a cobra maligna ergueu a cauda para se defender. No entanto, o impacto deixou novos ferimentos em seu corpo escamado.
Diferente de outras criaturas que portavam armaduras ou armas, a cobra maligna não tinha opção de bloquear ataques com nada além de seu próprio corpo. Ela só se defendia de golpes que ameaçavam suas partes vitais — o rosto e os órgãos internos — deixando o restante exposto. E este humano percebeu essa fraqueza.
Ele está atacando de propósito meus pontos vitais, forçando-me a defender e acumular feridas…
Movendo-se com rapidez, a cobra maligna se lançou contra o humano mascarado que esperava em posição de combate com suas duas espadas. Num movimento brusco, ela atacou com uma investida de veneno. Mas ele a leu em um instante e saltou para o lado.
Exatamente como ela queria.
Ao contrário dos adversários anteriores, a cobra possuía um controle monstruoso sobre a flexibilidade do próprio corpo, algo que agora usava para virar o jogo.
Ainda em pleno ataque com a cabeça, ela torceu o corpo em uma reviravolta que fez a cauda voar em um golpe imprevisível, desferindo com uma força brutal. A cauda atingiu o chão, rachando o solo e criando uma cratera tão profunda que alguns lobos saltaram para evitar cair no abismo.
Acertei!
A visão do humano mascarado sendo lançado para dentro da cratera parecia uma vitória certa.
— Zero!
— Como?!
Exclamaram os dois companheiros mascarados, com vozes trêmulas de preocupação.
— Agora sabem seu lugar, não é? — disse a cobra maligna, satisfeita.
— Maldita…
Um som seco e compacto ecoou da cratera. A cobra virou-se com surpresa, olhos arregalados ao ver o impossível: o humano mascarado, vivo, a poucos metros de seu rosto, já pronto para atacar.
Num reflexo de pura sobrevivência, a cobra ergueu a cauda para proteger a cabeça e recuou após o golpe. Mas, ao fazê-lo, percebeu algo errado.
Sua cauda… estava no chão. Decepada.
— O que…? — murmurou a cobra, incrédula, observando o pedaço ensanguentado do próprio corpo, caído ao lado do humano mascarado, coberto de terra e sangue escorrendo de seu abdômen.
— Você é forte, cobra maligna… forte demais para mim, pelo menos por enquanto. Que pena… — disse Zero, o líder mascarado, visivelmente ferido, respirando com dificuldade.
O golpe o atingiu.
Ela usou toda sua força, abriu uma cratera enorme sob o impacto — e ainda assim, este humano estava de pé.
Como?! Que droga é essa?
Em combate contra os lobos, um único golpe de sua cauda esmagava ossos e partia espinhas.
Os poucos que sobreviveram só conseguiam por ela ter poupado parte de sua força; no fundo, gostava da “brincadeira” de fazer esses tolos sofrerem um pouco antes de acabar com tudo.
Mas aquele líder mascarado, Zero, teve a audácia de atacá-la sozinho. Um desrespeito absoluto ao ser mais poderoso deste lugar. Gradualmente, ela aumentará a força dos golpes para esmagar sua resistência e seu orgulho — e ainda assim ele sobreviveu.
Ela tentará destruí-lo com força total, para que seus seguidores assistissem e fossem tomados pelo desespero.
E, mesmo assim, ele está de pé. Ferido e manchado de sangue, sim, mas vivo. E aquele detalhe fez algo inusitado surgir nela por um curto segundo: uma pontada de medo.
— Você… — sibilou a cobra, a voz carregada de ódio e incredulidade. — Tem que morrer…
Zero a encarava, mas antes que pudesse responder, um segundo mascarado se aproximou e apoiou seu braço ao redor dos ombros de Zero, ajudando-o a se equilibrar.
— Fique quieto, já fez sua parte — sussurrou o outro mascarado. — Agora é com nossa arma secreta.
A cobra maligna estreitou os olhos, queimando de raiva.
Outro humano para enfrentar!?
Não. Quem deu um passo à frente foi um lobo, um simples lobo, que ousou se colocar entre ela e o líder ferido.
— O que acha que está fazendo? — disse ela, a voz tingida de uma fúria contida.
O lobo sorriu, confiante, como se estivesse no auge de sua força.
— Agora é minha vez. Hora do grande final!
— Vai lá, Solus. — Zero murmurou, olhando para a cobra maligna. — Acaba com ela.
— Certo!