Isekai Corrupt - Capítulo 48
À frente da cobra maligna, o lobo exalava uma presença totalmente nova. Sua aura, agora palpável e densa, era algo que ela não percebera até segundos atrás.
— Solus… é esse o seu nome? — A cobra o questionou, a voz fria, ainda carregada de um ódio contido.
— Isso mesmo. Sou eu quem vai dar o golpe de misericórdia.
Com um rosnado, ela investiu em sua direção, rápida como uma lâmina no escuro, determinada a acabar com aquilo de uma vez.
Algo naquela declaração dela havia a enfurecido, mas não era apenas a afronta.
Era o medo que havia sentido, um relance daquele sentimento visceral que há muito evitava. Medo de um humano… era impensável. Fracos, patéticos, monstros fúteis que não merecem sequer o esforço do ódio. Esse pensamento alimentava seu desprezo.
Era por isso que buscava incessantemente mais poder: para dizimar aquela raça desprezível, para que nem suas cinzas restassem.
Mas quando a poeira baixou após seu golpe devastador, o corpo do lobo não estava lá.
Ele desaparecerá.
Num piscar de olhos, ela o viu novamente, mas desta vez, era o punho dele, cerrado e implacável, avançando direto para o seu rosto. Ela tentou erguer a cauda, um reflexo instintivo, mas…
Eu não tenho cauda!
Sentiu o impacto do soco em cheio, e ele a lançou para trás, seu corpo girando até finalmente colidir com o solo. Estonteada, piscou, e percebeu uma sensação estranha na testa. Algo quente e úmido escorria. Sangue.
Seu próprio sangue.
Isso… não.
Outro golpe veio como um relâmpago.
Não havia como bloquear; a única chance seria esquivar. Mas ela hesitou, desafiando o instinto. Não, ela se recusava a fugir. Quando o soco seguinte atingiu o lado direito de sua face, o impacto quase a derrubou de novo. Ela reagiu com fúria, lançando o corpo contra a criatura.
O lobo voou alto, foi arremessado como uma folha ao vento, aterrissando longe. Ela o observou com olhos entrecerrados, incrédula. Não era um lobo comum; ele estava sobre duas patas, cada movimento carregado de uma aura brutal. Ele era…
Um lobisomem.
Uma transformação rara, quase lendária. Somente um em milhares de lobos possui o sangue para isso. Nem mesmo os descendentes de um lobisomem carregam a garantia de herdar esse poder; era como desafiar a sorte, uma chance minúscula, inferior a 1%.
— Não… não é possível! Você… é o mesmo lobo?! — sua voz saiu fraca, entre o choque e a compreensão.
Ela finalmente entendeu.
Aquele lobo, que a princípio parecia uma presa fácil, havia se transformado numa criatura de força incomensurável, uma presença que transcendia o que ele fora antes.
Ele agora exalava a aura de uma criatura de elite, um monstro com um potencial destrutivo que os humanos temiam e denominavam “Besta de Raid”.
Apenas seres de poder incomparável, com um nível de ameaça elevado, recebem tal classificação, criaturas que demandam exércitos para serem subjugadas. Até os humanos, com toda sua soberba, reconheciam o risco em enfrentar um desses monstros sem planejamento e número adequados.
E ela sabia que havia atingido um desses patamares.
Como cobra maligna, era reconhecida entre os humanos por ataques antigos a aldeias e vilarejos; sua fama como uma ameaça viva a colocava no nível 275, um patamar que indicava a necessidade de batalhas prolongadas para vencê-la.
Ela havia recuado para a floresta de Uruan, guardando suas forças e planejando o golpe definitivo contra os humanos. Sabia que sua melhor oportunidade viria ao atacar uma cidade central, um símbolo da segurança humana, um ponto de orgulho da sociedade deles.
Destruir uma cidade assim sozinha não apenas firmaria seu domínio, mas abriria as portas para a aniquilação que ela tanto desejava.
Mas o lobo… aquele lobo destruíram todas as suas previsões, todas as suas expectativas. Em sua forma inicial, ele era fraco, um ser insignificante que teria morrido com um único golpe. Agora, como lobisomem, sua força supera a lógica.
Ele se erguerá ao nível dela, uma fera no mesmo patamar de uma Besta de Raid. Inacreditável, impossível… e ainda assim, ali estava ele, irradiando um poder que rivalizava com o dela.
Não, Não é possível…
— Está com medo? — rosnou o lobisomem, a voz rouca, um tanto áspera, como se cada palavra custasse a sair.
— Medo? Medo?! — A cobra maligna cuspiu veneno em sua direção com um silvo odioso.
Ele esquivou-se num movimento abrupto, impulsionando o corpo para o lado com um salto quase selvagem. Mas antes que pudesse pousar, a cobra havia estendido seu corpo em uma investida impiedosa, um borrão veloz que o arremessou aos céus.
Enquanto ele alcançava o ápice do salto, uma chuva de veneno emergiu dos dentes da cobra maligna. Era um ataque meticuloso e implacável; no ar, ele não tinha como escapar.
Não havia onde se esconder, e, acima de tudo, ele não podia voar.
O veneno o atingiu em cheio, banhando seu corpo num líquido corrosivo que logo deveria devorar carne e ossos. Mas então, algo incomum aconteceu.
Mesmo coberto de veneno, ele começou a cair com uma velocidade impressionante. Quando tocou o solo, o impacto partiu o chão sob seus pés, rachando a terra ao redor.
Ele ergueu os olhos, o olhar feroz e indomado de uma fera.
— Esse veneno… não é nada.
A cobra recuou, incrédula.
— O quê?!
Ela conhecia muito bem o poder de seu veneno. Era uma substância corrosiva capaz de dissolver carne e madeira, de rasgar qualquer criatura em pedaços ao menor contato.
Se o veneno fosse absorvido, mesmo que por um único poro ou orifício, os estragos seriam devastadores. Era quase impossível escapar de sua influência, um golpe mortal para qualquer criatura que ousasse desafiá-la.
Contudo, havia certas coisas que seu veneno não podia destruir, substâncias raras e inquebrantáveis, minérios densos que ela encontrara em suas andanças. Mas para que esse lobo – não, esse monstro – resistisse ao veneno, ele teria que ter uma resistência comparável a esses materiais mais duros.
Não, isso é impossível. Não é possível que um simples lobo—
Seus pensamentos foram interrompidos. Ele já estava em movimento. Assim que recuperou o equilíbrio, disparou em sua direção com uma explosão de força, tão rápida que a cobra teve apenas um segundo para reagir.
Ela lançou seu corpo ao ar, girando como um chicote, tentando atingi-lo com um golpe esmagador.
O primeiro ataque falhou. Ele esquivou com agilidade, seu corpo uma sombra escura que se movia em curvas irregulares, quase em zigue-zague, enquanto corria com os braços estendidos para trás. Sua velocidade aumentava a cada segundo, como se ainda estivesse se adaptando ao imenso poder que sua transformação concederia.
Muito rápido!
O segundo golpe também foi evitado. Cada troca de ataques transformava o campo de batalha em um cenário devastado, irreconhecível em relação àquelas planícies que uma vez haviam sido calmas.
O solo agora era marcado por crateras profundas e pedras enormes que haviam sido arrancadas pela violência dos impactos. Era como se o próprio terreno tivesse cedido diante da fúria dos dois.
O terceiro golpe da cobra passou a um fio do lobisomem.
Quase!
A cauda dela explodiu contra o chão, levantando uma onda de destroços, mas, de alguma forma, ele já havia previsto o ataque. No instante em que a cauda atingiu a terra e criou mais uma cratera, ele se lançou sobre o corpo da cobra, correndo por sua superfície escamosa como se fosse um caminho esculpido para ele.
Rápido demais.
Tão rápido, que era quase impossível segui-lo com os olhos.
—「Werewolf Punch」— ele rosnou.
O lobisomem cerrava os punhos, agora envolvidos por uma aura densa e obscura, que se torcia ao redor deles como sombras vivas. Com o poder e a precisão de uma bala de canhão, ele se lançou diretamente contra o rosto da cobra maligna.
O impacto foi brutal.
O punho dele colidiu com uma força esmagadora, desferindo o golpe bem no centro do rosto da cobra. Uma onda de choque se espalhou com o impacto, rasgando o ar e mandando a cobra para trás, seu enorme corpo sendo arremessado como uma simples folha ao vento. Ela voou por vários metros, até que seu corpo finalmente desabou, criando uma última cratera ao atingir o chão.
E então, silêncio.
Pela primeira vez em mais de trinta anos, a cobra maligna cedeu à escuridão da inconsciência.