Isekai Corrupt - Capítulo 51
Enquanto a jovem Viely andava pelo acampamento, seu olhar se perdia na felicidade dos lobos, que celebravam a vitória após uma batalha incrível. A serpente maligna, aquela ameaça que parecia indestrutível, finalmente havia sido derrotada.
Não era um sonho, nem uma fantasia. Era real, e eles, de fato, haviam vencido.
Enquanto seus passos a conduziam pela campina, a jovem não podia evitar as lembranças de um tempo distante, das discussões ásperas que teve com seu falecido pai.
Discussões sobre o que era possível e o que era impossível, sobre aquilo que nunca poderia ser conquistado.
Seu pai sempre dizia que não tinham a mínima chance contra a cobra, mas ela não desistirá.
Com a ajuda de Zero, ela e os outros descobriram uma força inédita dentro de si mesmos, uma força que estava ali o tempo todo, esperando para ser libertada. A evolução da matilha a deixava feliz, mas ao mesmo tempo… uma sombra de dúvida surgia em seu coração.
Sim, todos se esforçaram bastante
Ela continuou seu caminho, indo em direção ao quarto de Aria.
Chegando à porta do quarto, ouviu murmúrios do lado de dentro. Algo a fez parar, hesitar. O que se passava ali? A voz suave de Aria se elevava, clara e nítida, como se falasse com carinho para alguém muito querido.
— Eu te amo, Solus.
O-que…?
Seu coração disparou.
Seus olhos se arregalaram ao ouvir aquelas palavras. Era como se tudo ao seu redor tivesse parado, o ar ficou pesado, denso.
Dentro daquele quarto, ela ouvia mais, algo que a fazia se perder nas próprias emoções. O som de um riso tímido, o jeito doce de Solus respondendo a Aria.
— Eu também te amo, Aria, mas que tudo neste mundo.
E então, uma confissão ainda mais íntima, quase surreal.
— Quando pudermos ficar juntos num futuro próximo, eu desejo muitos filhos, Solus!
Ela não queria ouvir mais.
A mente girava em um turbilhão de raiva, ciúmes e confusão. Por que Aria? Por que não ela? Será que nunca teve chance alguma? Sentiu uma dor forte no peito, algo que rasgava por dentro. As lágrimas começaram a cair, sem que ela pudesse controlar.
Porque meu peito dói tanto…?
Enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto, correu. A dor era tão grande que parecia sufocá-la, e uma infinidade de perguntas sem respostas preenchia sua mente.
Como lidar com aquilo? Como aceitar que quem mais amava não a escolheria?
A jovem não queria mais ouvir, não conseguia mais lidar com os próprios sentimentos.
E, sem pensar, correu, fugindo do acampamento, das palavras que a torturavam.
Correu até sua antiga casa, o lugar onde tantas vezes se refugiara quando a dor se tornava insuportável. E ali, deitada no chão frio, se permitiu chorar. O peso da frustração a esmagava, o vazio de não poder ter o que mais desejava, e ao mesmo tempo a vergonha de sentir tudo aquilo.
Mas ela não estava sozinha. No silêncio da noite, uma voz familiar a chamou, interrompendo o turbilhão em sua mente.
— Viely, o que você está fazendo aqui? – a voz de Md soou calma e curiosa.
Ela olhou, surpresa, esperando ver Solus, mas quem estava ali era Md, com aquela máscara enigmática e um tom de voz discreto.
— Md? … D-Desculpa… eu… — ela balbuciou, tentando enxugar as lágrimas.
Md, com sua habitual calma, entrou na caverna e se sentou na parede oposta, olhando-a sem pressa, como se já soubesse o que estava acontecendo.
— Está cansada? — perguntou com um tom baixo e compreensivo.
— Um pouco… sabe… às vezes acontecem coisas… kukuku. — ela tentou desviar, mas a dor ainda estava ali.
Md a observava, compreensiva, mas sem pressa de intervir.
Ela sabia que, às vezes, era necessário ficar sozinha, que o silêncio poderia ser um refúgio. Como se estivesse compartilhando algo que só alguém como ela poderia entender.
— Eu entendo. — Md respondeu, com uma tranquilidade desconcertante.
Viely a olhou, surpresa. Não esperava que MD, uma pessoa tão reservada, fosse tão perceptiva.
— Você ama o Solus, não é? — Md perguntou, de forma direta, quase sem rodeios.
— O-que!? … Como…? — a surpresa foi instantânea, o choque estampado em seu rosto.
— Como eu sei? É bem fácil de perceber quando uma mulher está apaixonada, kukuku.
Viely tentou se recompor, a vergonha a fazendo ruborizar. Mas Md não parecia se importar.
— Você também está apaixonada por alguém?” — ela perguntou, agora curiosa, mas ao mesmo tempo um pouco aliviada por não ser a única com o coração em conflito.
— Sim, mas nunca daria certo. — Md falou com uma honestidade brutal.
— Sinto muito… — Viely murmurou, sem saber como reagir.
Md não parecia perturbada com aquilo.
⧫⧫⧫
Já se passaram dois dias desde a última batalha, e o acampamento, agora mais tranquilo, estava repleto de atividade. Aria, a líder da matilha, havia anunciado que faria um importante comunicado para todos os lobos naquele dia.
Mas não era só isso – ela também tinha se juntado a Zero em uma missão de última hora.
O que exatamente estavam fazendo ainda era um mistério, mas rumores corriam pelo acampamento de que Zero pretendia conversar com os humanos da cidade central, talvez buscar algum tipo de paz ou aliança.
Enquanto isso, Solus estava no campo de treinamento, imerso em seus exercícios.
Ao seu lado, Douglas descansava, estirado no chão, uma postura relaxada que contrastava com a energia de Solus. Douglas, que havia se mostrado imbatível nas últimas batalhas, parecia ter alcançado seus limites, pelo menos por agora.
Ele, com seu jeito preguiçoso, tinha decidido tirar uma semana inteira de descanso. Solus, um pouco frustrado, tentou insistir para que continuasse treinando, mas foi interrompido pela resposta de Douglas.
— Saber quando descansar também faz parte do treinamento de um guerreiro.
Solus, sem argumentos, se resignou e seguiu com seu treino. Os jovens lobos que haviam se desenvolvido de maneira impressionante também continuavam se esforçando, alimentados pelo medo de que seus irmãos os superassem.
Cada um, em seu próprio ritmo, tentava se manter à frente na busca por força.
Foi então que, de repente, Ryue apareceu. Solus, surpreso, parou o que estava fazendo e olhou para o velho amigo. Já fazia semanas que não viam um ao outro. Desde que Zero apareceu e o trabalho dentro do acampamento aumentou, não havia sido possível encontrar tempo para aqueles momentos de descontração.
— Solus, quanto tempo! — Ryue exclamou, sua expressão radiante, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros.
Solus sorriu e correu até ele, abraçando-o com força. Não sabia o que esperar, mas a energia de Ryue sempre foi única.
— Ryue! Caramba, cara, como você está? — perguntou, surpreso com o brilho nos olhos de seu amigo.
— Estou bem! Na verdade, super bem… kukuku. — Ryue respondeu, quase saltando de felicidade.
Solus, agora curioso, franziu as sobrancelhas.
— Super bem? Do que você está falando?*
Ryue deu uma risada leve, parecendo quase gabar-se, como se tivesse algo grandioso para revelar.
— Eu finalmente tenho uma esposa! — Ele anunciou com um sorriso largo.
Solus ficou sem palavras por um momento, seu olhar passando de incredulidade para pura surpresa.
— O QUÊ!?… V-Você!? Uma esposa!? Quem é a maluca… quer dizer, a sortuda? — Solus gaguejou, sem conseguir esconder o choque.
Ryue, ainda sorrindo de orelha a orelha, respirou fundo antes de responder.
— O nome dela é Nina. Ela é super fofa e linda! O tipo que eu gosto!
Solus, agora mais calmo, sorriu e deu um tapinha nas costas de Ryue.
— Entendi… bom, fico feliz por você, cara.
Depois de um breve momento de silêncio, Ryue, com um brilho nos olhos, fez uma pergunta que não surpreendeu, mas fez Solus hesitar.
— E… como está indo sua relação com a Lady Aria?
Solus bufou, virando os olhos com um sorriso tímido.
— Ah, estava demorando para você perguntar…
Ryue soltou uma risadinha, observando seu amigo com interesse.
— Kukuku…
— Aria e eu estamos indo bem… ainda não podemos oficializar nada, mas no meio disso tudo, consegui me aproximar muito dela. Já é algo para se comemorar.
— Entendo, entendo. Mas você deseja ela como sua esposa?
Solus, agora mais sério, respondeu com convicção.
— Claro! Só que ainda é complicado…
Ryue, com sua energia descontraída, deu um suspiro pensativo.
— Olha… se tem uma coisa que aprendi nesses dias, é que tudo se acerta com o tempo. Claro, não é motivo para deixar tudo à mercê da sorte, mas é uma maneira de ver as coisas sem pressa. O que é para ser, será.
Solus o olhou com um olhar desconcertado, não sabia exatamente como reagir.
— Que estranho… — Solus comentou, meio perplexo. — Você… só foi arrumar uma esposa e agora sai por aí dando conselhos? Caramba, quem é você e o que fez com o meu amigo?
Ryue riu, o brilho em seus olhos nunca desapareceu.
— Hahah, é muito engraçado. Sabe… eu devo dizer que ela realmente fez bem para mim. Ela foi uma razão a mais para eu querer me tornar uma versão melhor de mim mesmo… ou algo assim.
Ele deu um sorriso genuíno, um sorriso tão verdadeiro que parecia iluminar o ambiente ao redor de Solus.
Havia algo de radiante em seu amigo, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. Esse sorriso simples, mas imenso, tocou Solus de uma forma que ele não conseguia explicar.
— Eu… eu fico feliz por você, amigo.
Nesse momento, Douglas, deitado no chão e se espreguiçando, interrompeu a conversa.
— Ué, Solus, não ia treinar? Só estou vendo você de conversinha.
Solus, olhando para Douglas com um sorriso travesso, respondeu sem hesitar.
— Olha quem fala, Douglas… olha quem fala…
E assim, entre risos e trocas de palavras, a amizade deles se renovava, mais forte do que nunca, enquanto o dia seguia seu curso, levando consigo as esperanças de novos desafios e vitórias.
⧫⧫⧫
— Zero… você é o Zero, não é?
A voz trêmula de um homem aterrorizado rompeu o silêncio enquanto ele se aproximava hesitante do portão da cidade central, onde eu aguardava ao lado de Lady Aria, sua irmã, Md, Zerafine e Elzer.
Vestíamos nossas máscaras, e ele parecia confuso, como se lutasse para distinguir quem éramos, embora nossas roupas não fossem diferentes.
Observei-o por um momento, uma curiosidade crescendo em mim.
Será que ele não consegue me reconhecer? Usei este mesmo conjunto durante a batalha contra a cobra maligna…
Talvez ele fosse um dos que permaneceram dentro da cidade, isolados e nervosos. E agora, tomado pelo pavor, sua mente parecia embaralhada.
Sim, deve ser isso!
— Zero, vou à frente verificar se há alguma armadilha ou qualquer coisa suspeita — disse Md em alto e bom som, interrompendo minha linha de pensamento.
O homem recuou ao ouvir a voz dela, o medo estampado em seus olhos. Pelo que parece, as histórias sobre nós já haviam se espalhado, e nosso grupo mascarado causava temor nos moradores e guardas da cidade central. Tanto que apenas um único homem se arriscou a vir nos buscar para a reunião.
— Tudo bem, MD. Vá pelos telhados — assenti.
Num instante, ela saltou, desaparecendo sobre os prédios.
Eu e o restante do grupo seguimos em frente, atravessando as ruas da cidade.
As construções ao redor estavam surpreendentemente intactas, considerando a batalha feroz contra a cobra maligna. Nosso combate foi travado em campo aberto, distante da cidade, então as casas sofreram apenas com danos esparsos de projéteis que voaram longe demais.
Finalmente, chegamos ao edifício da sede dos guardas da cidade central. Assim que adentramos o salão, senti o peso dos olhares dos guardas, que recaiam sobre nós com uma mistura de curiosidade e receio.
Não era todo dia que se viam pessoas acompanhadas de lobos, e a presença de um grupo mascarado que havia salvado a cidade de uma criatura ameaçadora era difícil de ignorar.
Avançamos até uma sala onde nos disseram que encontraríamos o novo capitão da guarda. Ele havia sido promovido após o antigo capitão desistir de seu posto e abandonar a cidade.
Eu ainda não sabia quem havia assumido o cargo, mas logo descobriria.
Md permanecera do lado de fora, saltando de telhado em telhado, sempre alerta para nos avisar caso algo fora do comum ocorresse.
Eu precisava manter minha atenção ao máximo, cuidando da segurança do meu grupo com meticulosidade. Em um ambiente assim, qualquer erro podia ser fatal, e eu tinha que me antecipar aos perigos, desde as armadilhas mais tolas até as ameaças mais imprevisíveis.
Quando finalmente entrei na sala e vi o homem sentado à mesa do capitão, um lampejo de reconhecimento surgiu em minha mente. Era ele. Eu já o havia encontrado antes, ao lado do antigo capitão…
Um homem que se levantou de trás de uma mesa. Seu semblante era cansado, marcado pela responsabilidade recente que pesava em seus ombros. Ele nos olhou com uma expressão grave, mas o respeito era evidente em seu tom.
— Muito obrigado por virem até aqui. Meu nome é Leny — ele se apresentou, tentando manter a voz firme. — Sou o capitão temporário da guarda da cidade central…
Observei-o por um instante.
Era notável a tensão em suas palavras, o peso de comandar uma cidade após o antigo capitão ter desistido e partido, deixando-o no comando sem aviso. Leny parecia hesitar, os olhos movendo-se nervosos entre mim e meus companheiros, talvez ainda tentando se acostumar com a presença intimidadora do grupo mascarado que havia enfrentado a ameaça da cobra maligna.