Isekai Corrupt - Capítulo 56
27º Dia do Oitavo Mês do Ano – 10:35
O professor daquele dia era o jovem senhor Sigurd Thanes, um homem na casa dos trinta, de cabelos loiros curtos e meticulosamente penteados para trás. Como de costume, ele entrou na sala com passos firmes, carregando uma pilha de papéis e livros contra o peito, sustentados pelo braço direito. Ao chegar à mesa, ele colocou o material com um movimento cuidadoso, ajeitou os óculos e lançou um olhar atento para a sala, onde as conversas paralelas dos alunos preenchiam o ambiente.
— Certo, certo, crianças. Vamos fazer silêncio… — disse, batendo palmas para captar a atenção de todos. Seus olhos varreram a sala de aula, detendo-se brevemente em cada rosto, até que pararam em duas figuras que se destacavam no fundo da sala. — Oh, parece que temos dois novos alunos.
As conversas cessaram imediatamente, primeiro pelas palmas do professor, depois pela súbita curiosidade sobre os mencionados “novos alunos”. As cabeças se voltaram na direção deles. Um dos recém-chegados tinha o rosto coberto por uma máscara, ocultando completamente suas feições. O outro, porém, exibia o rosto visível, e ambos irradiavam um ar de distinção incomum.
O mascarado foi o primeiro a se levantar. Seus movimentos eram precisos e graciosos, como os de alguém acostumado à etiqueta da nobreza. Apesar da máscara, sua postura exalava confiança. Ele colocou uma mão aberta sobre o peito e uma reverência elegante ao professor.
— É um prazer conhecê-lo, professor. Me chamo Mero. — Sua voz era calma e bem articulada, carregada de uma maturidade inesperada.
Sigurd piscou, ligeiramente surpreso com a formalidade e o respeito daquele jovem. Ele murmurou para si mesmo, quase sem perceber:
— Que educado…
Na Academia Real, onde a maioria dos alunos era composta por filhos da elite, a cortesia normalmente dava lugar à arrogância. Muitos tratavam os professores com desprezo, como se fossem inferiores. Mero, no entanto, destoava completamente daquele padrão.
— Ah, sim, é um prazer, Mero. — Sigurd balançou a cabeça, recompondo-se. — Sou o professor de hoje. Meu nome é Sigurd.
Mero virou o rosto mascarado para os outros alunos, os olhos brilhando com uma energia amistosa.
— É um enorme prazer conhecer a todos vocês. Espero que possamos ser bons amigos.
Embora a máscara escondesse seu rosto, o tom gentil e caloroso de sua voz quase fazia os outros alunos imaginarem um sorriso por trás dela. Seu comportamento transpirava uma maturidade quase sobrenatural, como se ele fosse um ancião disfarçado em um corpo adolescente.
A garota ao seu lado permaneceu sentada por alguns segundos, claramente desconfortável com a teatralidade de Mero. Ainda assim, ela não protestou. Pouco depois, levantou-se com calma. Tinha cabelos negros cortados acima dos ombros, sua beleza fria e altiva reforçando a aura distante que exalava.
— Meu nome é Zerafine. É um prazer conhecê-los. — Sua voz era neutra, quase apática, e combinava perfeitamente com a expressão reservada em seu rosto.
Os outros alunos a observaram com uma mistura de curiosidade e receio. Diferente de Mero, cuja apresentação havia sido envolvente e cativante, Zerafine parecia fria e impenetrável. Ainda assim, havia algo de intrigante nela, um magnetismo que prendia os olhares.
Sigurd os observava com interesse crescente. Esses dois não eram estudantes comuns. Algo naquela dupla parecia diferente.
As conversas paralelas voltaram à sala, mas desta vez com um tom diferente, focadas no jovem mascarado. Era incomum, até estranho, e suscitava curiosidade. Afinal, embora o regulamento da Academia Real não proibisse o uso de máscaras, existiam regras rígidas sobre a vestimenta. O uniforme deveria ser usado de forma impecável, sem modificações ou adereços extras.
Uma batida leve na porta interrompeu o burburinho. O professor Sigurd virou-se para encarar a entrada. A porta abriu-se lentamente, revelando um homem robusto, de cabelos loiros, que entrou com passos firmes. Seu rosto exibia um sorriso confiante que parecia dominar a sala instantaneamente.
Não era qualquer pessoa. Era o diretor da academia, dono de todo aquele prestigiado instituto. Sua reputação em Xellivia era imensa, e sua presença tinha um peso quase palpável. O efeito foi imediato: alunos e professor endireitaram suas posturas, visivelmente tensos diante daquela figura de autoridade.
— Bom dia. — O tom de sua saudação era cordial, mas carregava uma firmeza que tornava impossível ignorá-lo.
— B-Bom dia! — responderam os alunos, em uníssono nervoso, antes de se sentarem em um silêncio respeitoso.
Sigurd, por sua vez, apressou-se até o diretor, curvando-se profundamente em uma reverência quase cerimonial.
— Senhor…! É uma grande honra tê-lo em nossa sala hoje.
A visita era claramente inesperada. Não era comum que o diretor aparecesse em uma sala de aula, e a tensão no ar denunciava que havia algo importante em jogo.
— Professor Sigurd, gostaria de falar com você em particular, se possível. — O diretor fez um gesto discreto em direção à porta, indicando que saíssem para conversar.
— C-Claro! Imediatamente! — Sigurd gaguejou, ansioso, e o acompanhou até o corredor.
Lado a lado, a diferença entre os dois era evidente. O professor caminhava nervosamente, passos curtos e hesitantes. Já o diretor mantinha uma postura imponente, passos calmos e seguros, como alguém que não apenas se sentia em casa, mas que também sabia que aquele lugar lhe pertencia.
Do lado de fora, no silêncio do corredor, o diretor virou-se para Sigurd, encarando-o com firmeza.
— Preciso que você dedique atenção especial aos dois alunos novos. — Sua voz era firme, mas com um tom de confiança que fazia a instrução soar como uma ordem velada. — Além disso, autorizei que Mero use a máscara enquanto estiver aqui. É uma questão pessoal e está sob minha aprovação direta. Você pode lidar com isso?
Sigurd engoliu seco, mas assentiu prontamente.
— Sim, senhor! Pode contar comigo.
O diretor deu um leve aceno de cabeça, satisfeito, e virou-se para voltar pelo mesmo caminho. Sigurd ficou parado por um momento, ajeitando os óculos e tentando controlar a ansiedade que parecia ter tomado conta de seu corpo. Se havia uma coisa clara, era que aqueles dois novos alunos eram muito mais do que simples recém-chegados.