Jovem Senhorita - Capítulo 4
— Não, não tigres de papel, mas uns tigres velhos, que já perderam os dentes e as garras e ainda acham que valem alguma coisa, sem saber que cairão diante da primeira adversidade. — Uma voz soou de uma das cadeiras mais afastadas.
Ouvindo essas palavras, os presentes abriram espaço e revelaram a visão de um jovem sentado como se fosse o dono do mundo.
— Jovem mestre Huang Sui? — Ning Feng foi severo ao perguntar. “Esse maldito pirralho que ainda cheira a leitinho de mamãe acha que pode falar assim comigo? Quem ele pensa que é?”
— Velho Ning. — respondeu o rapaz, erguendo o recipiente de chá em cumprimento. — Ou devo chamá-lo de sogro?
O mais velho juntou as sobrancelhas ao ouvir as palavras debochadas do rapaz.
— Não use esse tom comigo, ouviu?
Huang Sui sorriu com um ar provocativo enquanto respondia: — Se não…?
O tratamento ridículo do jovem e o ar sombrio do salão fez com que a fugitiva Maria ficasse escondida em um canto externo para espiar o que acontecia.
“Obrigada pelas dicas, dona Fifi. Só nunca pensei que usaria elas na China antiga… Pera, Fifi é ela ou o cachorro?”, agradeceu ela, lembrando da fofoqueira do bairro que a tomou como aprendiz anos antes.
— Devo assumir meu papel de ancião e te dar uma lição, seu pirralho que não enxerga o Monte Tai!
— Eu? Eu não enxergo o Monte Tai? Você que é um sapo no fundo do poço! Seu velho decadente!
A fúria do líder da família Ning chegou a níveis inimagináveis. Com os punhos cerrados e a face vermelha como um tomate, começou a emitir uma pressão que Maria nunca tinha sentido em todos os seus anos de vida.
“É assim que um mergulhador se sente?…” se questionou, enquanto poderosa se continuava a espiar ou se saía dali.
— Você… vou te dar uma lição no lugar dos teus pais!
Huang Sui gargalhou.
— Um mero cultivador do Reino Forma Média ousa querer me dar uma lição? Isso é o que veremos!
O jovem bateu o pé direito no chão e uma força descomunal o envolveu. Os membros da família Huang se animaram, enquanto os da família Ning fecharam o semblante.
— Reino da Forja Alta… — praguejou Ning Piao, mais pálido que uma folha de papel. — Quando…?
Maria percebeu que algo estava errado ao ver as reações de todos.
— Cara, tô mesmo em um mundo alternativo. Onde fui amarrar minha égua? Já devia ter saído daqui…
Mesmo assim, continuou no canto em que se escondera.
“Mas é engraçado, essa briga toda só porque o carinha chamou o velho de sogro… Meu vizinho chamava o sogro de coroa e tava tudo certo hahaha. Como será que anda esse povo…?”
Perdida em pensamentos, não acompanhou bem o desenrolar da discussão. Quando voltou a prestar atenção, as coisas já tinham escalado para um outro nível.
— Vocês vieram chorando para nós há 20 anos e agora ousam tentar nos roubar? Não temem a ira dos céus? — gritou Ning Ho, um ancião da família Ning.
— Tentar roubá-los? — riu Huang Ho. — Estamos apenas recuperando algo que é nosso de direito.
O líder da família Ning ficou roxo de raiva. Era uma imagem difícil de imaginar em uma pessoal real, o que fez com que Maria ficasse séria pela primeira vez desde que percebeu não estar com o celular.
— Algo? Vocês vieram recuperar algo?
Huang Sui olhou para o homem com desprezo.
— Não é como se uma mulher valesse mais que os anéis que uso agora. Acha mesmo que Ning Xu é digna de ser minha primeira esposa? Você que se contente com ela sendo minha concubina.
“Agora tô entendendo essa jossa…” Maria se enfureceu. “Eles tão falando de mim! Malditos japas…”
— A promessa era de noivado! Isso pressupõe primeiro casamento!
— Você não é digno dela!
Pai e filho gritaram ao mesmo tempo, aumentando a tensão no ambiente. Quem os Huang pensavam que eram de tentar levar a princesa dos Ning como concubina?
Maria ficou comovida com as palavras de seu possível pai e talvez irmão, então, decidiu intervir. Afinal, era dela que estavam falando.
— Noivado? Que noivado? — disse ao abrir a porta, como se não tivesse escutado nada do que estava sendo discutido. — Por que tá todo mundo em pé? Quem quebrou essas vasilhas?
Um silêncio constrangedor assolou o local.
Ning e Huang, os membros das duas famílias pararam o que faziam e encararam a figura recém-chegada.
Ning Xu era uma beleza que podia derrubar nações. Naquele momento, seus olhos brilhavam como jade negro, seu cabelo longo e liso encantava quem o visse. A luz do Sol, vinda pela abertura da porta às suas costas, reluzia em sua pele leitosa.
Huang Sui, assim como outros membros da família Huang, engoliu a seco. A verdade é que ele a desejava, mas não podia transparecer.
— Vamos fazer o seguinte então — falou Huang Ping, ancião dos Huang que permaneceu sentado o tempo inteiro, enquanto olhava para Ning Xu. — Sui’er não tem interesse em desposar a pequena Xu. Mas meu filho pode se interessar nela.
— Que desparate! — gritou Ning Piao. — Entregá-la ao seu filho seria dar a carne de um cisne para um sapo.
Huang Ping ficou vermelho: — Como ousa dizer isso sobre meu filho?! Um pai tigre não tem filho cão!
— Mas o fruto não cai longe da árvore… — resmungou Maria.
A atenção de todos voltou para a garota que ainda parecia uma deusa saída de uma pintura, com seus lábios vermelhos desenhados sobre o rosto de jade.
— O que você disse, Xiao Xu? — Huang Ho indagou em tom de indignação.
— Nunca ouviram? O fruto não cai longe da árvore, filho de peixe peixinho é, a maçã não cai longe da macieira… Achei que tivessem desses ditados por aqui… Até agora só ouvi essas coisas confusas aí, tigres de papel, sapo comendo cisne…
Ning Piao foi mais rápido que os demais e tapou a boca da irmã antes que outra atitude pudesse ser tomada.
Em seguida, seu pai limpou a garganta para chamar a atenção de todos e disse:
— Bem, como estava falando, as pessoas veem valor nas coisas a partir do que elas têm ao seu redor. Então, se tua mãe não vale nada, não espero que dê valor à minha filha. Sugiro que os Huang saiam desse lugar e não olhem para trás. Vocês não são mais bem-vindos em nossas terras.
Os olhos de Maria brilharam com a resposta do pai de Ning Xu. Era claro que poderia ter respondido melhor, mas isso não a impediu de buscar os Huang com o olhar para ver a sua resposta.
Desconhecido para ela, mas sabido por todos os presentes, a mãe de Huang Sui era assunto proibido em toda a cidade.
— Você… disse o quê sobre ela? — questionou o rapaz em voz baixa, com os olhos fechados e punhos cerrados.
Ning Piao olhou para o pai, preocupado. Não sabia se o melhor seria se intrometer ainda mais na briga ou se seria continuar segurando sua irmã, que estava mais inquieta e falante que o normal.
— O que você ouviu. — respondeu o homem, impassível. — Quem trouxe a questão do valor das mulheres foi você. Não posso fazer nada se as mulheres Huang são tão… baratas. As nossas mulheres são muito valiosas para serem entregues a porcos como vocês.
Huang Ping levantou-se com um aceno da manga enquanto portava uma expressão severa.
— Seriam os Ning tigres agachados? Ou dragões escondidos? Ousam dizer que Pei Xu era uma senhora barata?!
Maria não aguentou e começou a rir, mesmo com a boca coberta. Nunca teria imaginado ouvir um nome desses em sua vida.
“Essa aí não durava uma semana lá no colégio, coitada hahahahahaha…”
O líder dos Ning deu um sorriso maroto antes de responder.
— Quem disse isso foram vocês, não eu.
Huang Sui não aguentou mais e explodiu:
— Maldito sapo no fundo do poço! O monte Tai está bem na sua frente e você é cego demais para reconhecer! Eu, o mais novo discípulo da seita Monte Hua, vou te mostrar um pouco do mundo real!
Dito isso, aumentou a força que emanava do seu corpo e avançou contra o homem à sua frente.
— Grande Palma Florida!