Knight Of Chaos - Capítulo 458
Ao ouvir aquilo, a expressão de Fernando afundou. Mesmo que o Batalhão Zero não tivesse lutado diretamente na linha de frente desde o início, eles ainda haviam tido tantas perdas!
Apesar de lamentar isso, o jovem Tenente sabia que não havia nada que pudesse fazer. Ter lutado contra tantos Orcs no corredor, em seu estado de fúria, tinha seu preço.
O número de baixas parecia terrível, mas ele sabia que em comparação com outras tropas, eles praticamente saíram ilesos. Havia batalhões que foram completamente eliminados na batalha, ou sua composição foi tão fortemente danificada, que não tiveram escolha se não debandar e reformar suas tropas em outros batalhões.
Vendo o rosto de Fernando, Theodora e Ilgner entenderam que ele não parecia satisfeito com esse resultado.
“Por hoje descansem, amanhã deve ser feita a distribuição de recursos pelos Generais, quando isso acontecer, reúnam todos os Oficiais e Sargentos, vamos organizar as finanças do Batalhão.” O jovem Tenente falou. Após dizer isso, retirou-se em direção ao seu quarto.
Os Subtenentes se entreolharam, com pensamentos distintos.
“Um dia ele deve se acostumar, ter grandes perdas é algo normal em guerras.” O bárbaro loiro disse, se recostando na cama. “Se ele realmente quiser nos liderar até o topo, vai ter que entender isso.”
A expressão de Theodora era calma, enquanto retrucava, divergindo da opinião do sujeito.
“Ou podemos aumentar nossa força e das tropas, para que baixas se tornem menos comuns. Essa é nossa obrigação, como subordinados.”
Ao ouvir o comentário irracional da Medusa, o sujeito soltou uma leve risada. Ele sempre fora chamado de maluco ou lunático por toda sua vida, mas de alguma forma no Batalhão Zero sentia que era um dos mais lúcidos.
“Hah! Talvez você esteja certa…”
Indo até seu quarto, Fernando tinha um semblante complicado. As perdas em suas tropas foram muito maiores do que ele esperava e não tinha ideia de quanto tempo mais essa guerra se prolongaria. Diferente de Belai, não havia como recrutar tropas em Garância.
Pensando na cidade em que estavam, em todos os cadáveres que viu ao longo do dia, e de quantos milhares haviam morrido ali, uma sensação angustiante tomou conta de si. De repente percebeu que se tivessem falhado na batalha em Belai, esse teria sido o resultado daquela cidade.
O rapaz odiava ter que lutar a guerra dos outros, das Legiões ou de quem quer que fosse, mas tinha que admitir que era necessário. Se os Orcs invadissem as terras dos Humanos, esse seria o destino de inúmeras cidades.
Em meio a seus pensamentos, chegou ao quarto e ao abrir a porta, sob a fraca luz que iluminava o ambiente, viu a figura de sua esposa.
“Você chegou.” A mulher disse, com uma voz fraca e meiga, sorrindo.
Fernando notou que os olhos dela estavam vermelhos e marejados e que apesar de seu sorriso ao recebê-lo, seu semblante deflagrou suas emoções. Ela estava claramente chorando momentos antes.
Diferente dele próprio, Karol tinha um coração muito mais sensível, então ela com certeza tinha sido muito mais afetada por toda a barbaridade que havia visto.
Notar isso fez seu peito apertar-se, principalmente ao lembrar-se de mais cedo, quando a viu ferida no campo de batalha. O simples pensamento de saber que ela esteve em perigo, arriscando sua vida, enquanto ele estava no conforto do Quartel o encheu de raiva de si próprio. Fazê-la passar por tudo isso só demonstrava o quanto ele era fraco, o quanto era uma falha como homem.
Sem dizer nada, o jovem Tenente avançou em sua direção, envolvendo seus braços em torno de sua cintura, deixando-a surpresa.
“O que você tá fazendo?” Apesar de não o rejeitar, as ações do rapaz foram repentinas, assustando-a.
“Ainda sente dor em algum lugar?” Fernando perguntou.
Ouvindo isso, Karol desviou o olhar.
“Não se preocupe, eu estou bem.”
Vendo isso, ele teve certeza de que ela não estava nada bem. Então levou sua mão até seu rosto, fazendo-a olhar em seus olhos. Após isso, encostou sua testa na dela, fazendo seus narizes se encostarem suavemente. Ambos ficaram em silêncio, sentindo o toque suave um do outro.
“Me desculpe, hoje você precisou de mim e eu não estava lá.” Fernando disse, quebrando o silêncio e afastando um pouco seu rosto, enquanto ainda a olhava nos olhos.
Ouvindo isso, enquanto era encarada pelos olhos do rapaz pálido, os olhos de Karol começaram a marejar novamente, enchendo-se de lágrimas, quando ela não conseguiu mais segurar, desabando sobre o ombro de seu marido, chorando como uma criança.
“Eu não quero mais isso! Fernando, eu não sei se aguento outro dia como esse.” disse, em prantos. Ver tanto sangue, tanta morte, tanta violência, a fez ficar com receio do futuro. Mesmo que eles já tivessem visto muita coisa antes, nada se comparava aquilo.
Enquanto Karol chorava, Fernando a segurou com gentileza, sentindo o corpo de sua esposa tremendo.
“Sabe, hoje, quando eu fui derrubada e vi todos aqueles Orcs vindo em minha direção, eu pensei que… não poderia mais te ver de novo. Eu tive tanto medo!” A mulher disse, com sinceridade, não mais escondendo seus sentimentos.
Mesmo que Karol sempre tentasse demonstrar ser forte na frente de seus subordinados do Esquadrão Dama de Prata, em frente a Fernando, seu marido, ela abriu totalmente seu coração, chorando como uma criança pequena.
O jovem pálido sentiu-se angustiado, por não poder trazer segurança a sua esposa, ele sabia que nesse mundo violento e perigoso, onde ele não era diferente de uma mera formiga, tudo que poderia fazer era dar promessas vazias de conforto.
“Vai ficar tudo bem. Eu não vou deixar nada nem ninguém te fazer mal.”
Ouvindo isso, Karol apertou sua cabeça mais forte contra seu ombro. Mesmo ela sabia que as palavras de seu marido eram apenas palavras. Mas de alguma forma sentiu-se melhor ao ouvi-lo dizê-las.
Fernando olhou para o outro lado do quarto, em um grande espelho, o rapaz pálido viu seu reflexo e o de sua esposa abraçados. Seus olhos ficaram frios, enquanto ele jurava a si próprio que a manteria a salvo, não só Karol, como todos os que lhe eram próximos.
Entretanto, também sabia que com sua força atual ele não era nada nessa guerra. Se quisesse manter todos que eram importantes a salvo, precisava aumentar não só a força de suas tropas e sua influência, mas também o seu próprio poder!
Logo uma sensação de urgência tomou conta de seu coração, ele não queria experimentar o medo que estava sentindo naquele momento, o pavor de ter tudo que lhe era querido arrancado de si.
Naquela noite o jovem Tenente não conseguiu dormir, mergulhado em pensamentos, enquanto observava Karol em sono profundo, completamente exausta daquele dia terrível.
Na manhã seguinte, após uma noite complicada, enquanto parte do exército ficava de prontidão, esperando receber ataques noturnos, os Generais anunciaram que haviam contactado a Cidade Dourada e que tropas aliadas já haviam sido despachadas para reforçar a cidade retomada.
Isso melhorou muito o humor de todos. Com as linhas de suprimentos anteriormente deixadas para trás, os reforços chegariam a Garância em no máximo dois dias.
Apesar dessa boa notícia, um clima pesado se abateu novamente sobre todos quando o número de baixas foi anunciado.
Das mais de quarenta mil tropas que marcharam em direção a Garância, mais de 13.000 pereceram durante a batalha. Mesmo que não parecesse muito, isso representava em torno de um terço do contingente enviado.
Normalmente em batalhas um exército que perdesse mais de trinta por cento das tropas, de certo modo, poderia ser considerado derrotado e seus Generais bateriam em retirada imediatamente. Mais de cinquenta por cento seria uma derrota esmagadora e setenta por cento seria um massacre.
Isso acontecia porque o moral das tropas seria severamente afetado, com um terço de baixas um sentimento de medo se alastraria entre os Soldados, que não lutariam mais em seu melhor potencial. Com metade das tropas perdidas, começariam inevitavelmente a haver muitas deserções e com mais de dois terços, certamente haveria uma debandada generalizada.
Por isso, em circunstâncias normais, as tropas de Wayne poderiam ter sido consideradas derrotadas pelas tropas Dobats, no entanto, isso não ocorreu por um único motivo, eles haviam conquistado Garância, garantindo seu objetivo inicial.
Apesar de terem obtido a vitória em nome, na prática, tais perdas afetaram severamente todo o funcionamento do exército. Com muitos Pelotões, Batalhões e mesmo Brigadas completamente exterminados ou aleijados, devido a tropas insuficientes e desordem na cadeia de comando.
Dentre as cinco Divisões, a Quinta foi a que mais sofreu, perdendo 4.000 homens, metade de seus números iniciais, de 8.100, representando, sozinha, quase um terço de todas as perdas sofridas pelo exército inteiro.
Quando essa informação foi espalhada, muitas pessoas tiveram opiniões divergentes a respeito. Com alguns classificando isso como uma falta de habilidade do General Dimitri, enquanto outros o exaltaram por conseguir segurar o fronte direito com tamanha desvantagem.
Os rumores foram tantos, que o próprio General Comandante Wayne precisou vir a público declarar que a vitória só foi possível graças aos esforços da Quinta Divisão. Junto a isso, foi divulgado que eles enfrentaram um Lorde Urukkan e um Lorde Dobat Intermediário e mataram ambos!
“Foda-se, quem ousa criticar o General Dimitri? Com apenas uma Divisão eles derrubaram milhares de Orcs e dois Lordes! Enquanto isso, nossa Quarta Divisão, mesmo lutando com outras duas, não conseguiu nada…” Um Soldado gritou, esbravejando, visivelmente embriagado. À sua frente, outros homens estavam sentados à mesa, também bebendo e comendo.
Como a população de Garância havia sido exterminada, não tinha bares, comércios ou qualquer outra coisa, os Orcs também haviam saqueado tudo que podiam, então não restava bebidas. Felizmente alguns trouxeram seu próprio álcool, montando um bar improvisado. Como o ânimo no momento era péssimo, os alto escalões fizeram vista grossa, permitindo isso.
“Eu soube que o Major Oliver enfrentou sozinho o Lorde Intermediário, a força dele com certeza é maior que a do General Dimitri.” Outro respondeu com desdém. “Aliás, ouvi falar que um Tenente assumiu o comando da Quinta Divisão, enquanto o General lutava na linha de frente.”
“O quê? De onde você tirou esse monte de porcarias? Isso é claramente mentira.” Um sujeito de cabelos grisalhos respondeu.
“Na verdade, eu também ouvi sobre isso, um amigo meu lutou na Quinta Divisão, ele disse que esse Tenente se chama Fernando, líder do Batalhão Zero. Falaram que foi graças a ele que a Quinta não caiu.” Um dos homens falou, confirmando a história.
Enquanto os homens discutiam ali, vários outros grupos comentavam assuntos semelhantes por toda Garância. Havia vários boatos positivos em relação à Quinta Divisão, com muitos comentando sobre um suposto Tenente, que se tornou Comandante Provisório por algum tempo.
Alguns alegaram que era apenas um truque do General Dimitri, para elevar a posição do jovem Tenente, então desconsideram seus atos, enquanto outros defendiam que suas ordens haviam sido vitais para a vitória. Independente da opinião, o nome de Fernando, Oliver, Dimitri e a Quinta Divisão foram amplamente comentados.
Ao contrário da boa imagem da Quinta, a reputação da Primeira Divisão era péssima. Com a morte do General Kamal da Legião Salamandra e a deserção do General Lauren da Aurora, as tropas estrangeiras das duas Legiões estavam numa situação delicada.
Sua reputação era tão ruim, que as tropas das Guildas e outras Legiões, que antes as seguiam como líderes nessa campanha, agora evitavam misturar-se a elas, principalmente as tropas da Aurora. Os poucos Soldados da Legião que haviam sobrado eram apenas as baixas patentes, já que Lauren havia levado consigo as elites.
A situação ficou ainda pior quando o QG anunciou que já haviam enviado um relatório a Cidade Dourada informando sobre a traição de Lauren e que uma recompensa seria definida pela sua cabeça, então muito provavelmente a Legião Aurora não só não receberia lucros e benefícios dessa campanha, como sofreria represálias dos Leões Dourados. As tropas presentes em Garância também haviam sido removidas da divisão de lucros.
As tropas das Guildas e Legiões menores não só não se opuseram a essa decisão, como até comemoraram. Afinal, inicialmente as Legiões Aurora e Salamandra teriam a maior parte dos lucros, mas agora uma delas estava fora de jogo, então sua porcentagem seria relativamente maior.
Se pudessem, preferiam que a Legião Salamandra também fosse excluída da partilha de espólios, já que muitos estavam furiosos com ela. Já que Kamal havia liderado vários dos Majores de suas organizações para a morte.